06 Perguntas Para Zhema Rodeiro – VULCANO

“Eu deixarei minha impressão digital no mundo, sem uma mácula se quer”

Entrevista

Entrevistar o VULCANO sempre me deixa apreensivo, dado o grau de reverência que eu tenho pela banda. Tive a honra de redigir a pauta para a primeira entrevista no extinto canal Power Thrashing Death e de realizar uma entrevista para a NOCTUM MAGAZINE, também extinta.

Zhema Rodero é uma personalidade impar: Dada sua importância histórica no metal nacional e o seu nível de conhecimento de ocultismo, era de se esperar uma pessoa mais, digamos, formal. No entanto, parece que tanto quanto de fazer música e tocar música, o mestre gosta de falar da sua obra”

E neste momento em que a banda está lançando seu 16° Full-Lenght, hoje no “06 perguntas para”, tenho novamente a oportunidade de conversar rapidamente com o lendário guitarrista do VULCANO, Zhema Rodero, que nos dá mais informações sobre o lançamento do álbum “Epilogue” e sobre a atualidade do VULCANO!

1 – Salve mestre Zhema, novamente uma grande honra poder falar com você! Dois anos depois do sensacional “Stone Orange“, o VULCANO nos surpreende com “Epilogue“. Como é essa história de que esse álbum nasceu de uma turnê que acabou não acontecendo? Isso se refere à todo o conceito e composições? Já pegando um gancho, você revezou baixo e guitarra com o mais novo membro do VULCANO, o Cleiton Nunes. Em que medida isso influenciou as novas composições?

Zhema: Com o cancelamento da turnê Americana por conta dos vistos de trabalho que não chegaram em tempo, eu propus ao pessoal do VULCANO aproveitar esse tempo e terminar em definitivo o álbum. Porque terminar? Por que eu já havia iniciado as composições com o Claiton um tempo antes. Quando o Cleiton chegou na banda eu percebi imediatamente que o talento dele se alinhava ao meu e ele também já havia produzido o álbum do Necrológico.

Começamos a fazer “riffs” juntos e comecei a enviar para ele modificar determinadas frases musicais viciadas, aqueles que todos guitarristas tem e é difícil de escapar delas e assim com o tempo fomos moldando o que viria a ser o “Epilogue”. O Claiton é um fã do VULCANO de muitos anos, inclusive já gravou “covers”, já teve uma banda “Ready to Exoplode” que pelo nome já diz muito, e então foi fácil essa parceria.

O Gerson Fajardo já havia optado por deixar a banda logo após a turnê e então eu me preparei para continuar como um “power trio” de cordas onde Eu e o Claiton dividiríamos as guitarras e o baixo, ora em uma música ora em outra e eu estava gostando disso e então fizemos isso no álbum. Ah! Sim, fui convencido de continuar com duas guitarras foi quando após a gravação com Eu, Gerson, Claiton, Bruno e Luiz Carlos convidei o Ivan Pellicciotti para retornar.

2 – Continuando a falar sobre o “Epilogue“, eu senti que o VULCANO parece encerrar um livro com esse álbum. Epilogo, aliás é isso. Me pareceu, realmente, que o VULCANO está revivendo toda a sua história neste álbum e a contando em forma de aforismos, primeiro como profecia e depois como legado. Consegui entender a temática? Se trata realmente de um álbum conceitual? Se sim, você pode nos dar a sua perspectiva? Se não, qual foi o objetivo da narrativa proposta?

Zhema: Você esta certo, percebeu a lírica que permeia o álbum. Eu costumava dizer, lá nos primórdios jurássicos da banda que o VULCANO era mais uma obra literária do que uma banda musical propriamente dita. Eu tinha, e mantive a opinião, de que, se Eu escrevesse um livro ninguém se importaria e passaria desapercebido, porém se escrevesse os mesmos textos e os colocasse em uma música muitos iriam ler e perceber.

Aprendi a sintetizar as ideias contidas nos textos e fiz isso a vida inteira. Evidente que era necessário mesclar outros temas para não tornar algo aborrecido. Tenho feito isso há muito tempo, mas por outro lado, Eu compreendi a mudança radical nas características dos fã de Metal, suas percepções com relação à lírica, produção gráfica, masterizações e igualização de áudio, afinações mais densas, essa pasteurização toda em volta da produção e conclui que o VULCANO não faz mais parte disso, assim resolvi escrever o Último Livro.

3 – Eu realmente achei o “Epilogue” um álbum sensacional! Entrou direto no meu “Top 5 ” do VULCANO. Até porque eu achei que ele ficou com uma cara mais underground, mais orgânico. Em suma, um álbum pra arrebentar. Porém parece que a banda teve um problema de lançamento e o álbum apareceu em uma plataforma de streaming, antes do planejado. Você pode nos contar o que aconteceu? E você acha que, de alguma maneira isso pode prejudicar a repercussão do álbum?

Zhema: Não houve nada intencional, é que Eu sou “prego” nessas coisas de “streaming”, plataformas de músicas, etc. E programei a estreia disso tudo para 30 de abril, porém subi no Bandcamp antes, como sempre fiz nos lançamentos anteriores. Eu só não sabia que o negócio é instantâneo, não deu minutos e já estavam compartilhando. Ah! Recebi uma bronca de um “reviewer” dizendo que não é assim que se faz, etc… caramba!!! O álbum é meu (rs) !!!!!!

4 – Eu gostaria de saber mais a respeito da capa do álbum. Tudo no álbum remete a uma história, desde o titulo até as narrativas, que me parecem seguir uma cronologia. O fundo da capa mostra vários relógios, numa imagem bem Salvador Dali. Além disso vemos elementos clássicos da história do VULCANO e dos temas desse álbum, como a harpia, o livro, o espelho e a serpente Oroboros. Qual o significado dessa arte?

Zhema: A arte da capa remete aos capítulos que vão se desenrolar na estória. Ali está o mago indeciso, a escolha após viagem nas asas do tempo, o achado e o despertar, o confronto com espelho, a palavra perdida, a hora do encontro com a atualidade terrena, a normalidade do indivíduo e por fim, o epílogo, representado por aquele ser alado com assas rugosas e calda anfíbia.

5 – Logo no inicio eu disse que esse álbum, aparentemente, surgiu de uma turnê que acabou não se realizando. Falando então em turnê, merchand, etc., quais os planos do VULCANO pra divulgação desse novo trabalho? Vem algum turne por ai? E quanto ao merchand, vai sair em material físico? Pelo seu selo, a Renegados? Camisetas, o que mais vem por ai? E como ter acesso a estes materiais?

Zhema: Não temos nenhuma turnê em vista para os próximos tempo, um show aqui e outro ali e assim vamos caminhando em passos mais lentos. Efetivamente, temos show no Kool Metal Fest em 09 junho, show em Santiago do Chile com o Sinister, em 13 julho e o Be Magick Fest, no Rio de Janeiro, em 25 agosto. Com relação ao álbum Epilogue eu não tenho nada em vista, apenas uma ideia de que gostaria de lançá-lo no formato vinil, porque a arte da capa pede isso. Nada mais!

6 – Por ultimo, eu costumo trazer uma pergunta padrão para os entrevistados. Zhema Rodero, você viu o Metal Extremo nascer. Não só isso, foi um dos pais da música extrema mundial. Guiou a primeira banda de metal extremo da América Latina desde os anos 80 até os dias atuais. E ainda se manteve fiel à sua proposta e a si mesmo. A pergunta de sempre é: Depois de mais de 40 anos dedicados à musica extrema, qual a sua reflexão sobre isso? Valeu a pena?

Zhema: Claro! Uma vez que Eu iniciei e fiz tudo que fiz por amor desse estilo de viver, escrevi cada canção com o único objetivo de agradar a mim e aos iguais a mim, passei por altos e baixos, coloquei muito tempo nessa maravilhosa jornada do “Rock’n’roll ao “Metal”, tive decepções e alegrias durante todos esses 43 anos, sem sair do meu caminho, nunca correndo atrás da fama, do sucesso, do dinheiro, então valeu muito a pena!!!!!!!! “Eu deixarei minha impressão digital no mundo, sem uma mácula se quer”