O MAL QUE NOS HABITA – Filme

2023 ‧ Terror/Suspense ‧ 1h 40m

Cinema

Por: Ivan Rios (*)

TÍTULO ORIGINAL: Cuando Acecha la Maldad | Ano de Produção 2023 | Argentina, EUA
DIREÇÃO: 
Demián Rugna
ELENCO: Ezequiel Rodríguez, Demián Salomón, Silvina Sabater, Luis Ziembrowski, Marcelo Michinaux, Isabel Quinteros, Virginia Garófalo
ROTEIRO: Demián Rugna
DURAÇÃO: 99 minutos
DISTRIBUIÇÃO: Paris Filmes

SINOPSE: A trama se passa em uma pacata cidade do interior cujos moradores recebem uma notícia alarmante: Um homem infectado pelo diabo está prestes a dar à luz a um demônio real. Desesperados, os habitantes tentam escapar do local antes que o ser maligno venha à terra, mas o tempo e as circunstâncias parecem não estar a seu favor.

RESENHA (**) :

Confesso que esse foi um daqueles filmes no qual fiz um esforço para não me “embriagar” com os sugestionamentos da mídia. Já afamado aos quatro cantos como o filme de terror mais “apavorante” de 2023, conferi a cabine de imprensa de “O Mal que nos Habita” como um cético que assiste a uma sessão de exorcismo, buscando prestar atenção nas mínimas falhas. E elas existiram, obviamente, e não foram poucas…

Mas afinal, o filme é bom?! A resposta taxativa é, SIM! É um tremendo filme, acima da média. e em que pese os possíveis sugestionamentos e expectativas, é uma obra que se mostra suficiente aos fãs do gênero. Consegue contemplar satisfatoriamente os principais elementos (que costumo chamar da tríade: temorterror e pavor), além da abordagem inovadora e uma construção eficaz e crescente do suspense dentro da narrativa.

Poderia citar inúmeros filmes lançados em 2023 dos quais tive a oportunidade/privilégio de resenhar criticamente, mas por equiparação “Fale Comigo” foi um desses no qual o componente sugestionamento/expectativa de alguma forma falou alto, sobretudo, e diferente desse, pelo apelo midiático decorrente da propaganda em torno da obra. Ao final, o que pude constatar foi que “a montanha pariu um rato”, ou seja, o que era para ser um filme de terror se mostrou um dramão com suspense psicológico refinado. Ao contrário, aqui em “O Mal que nos Habita”, o que se vê é TERROR RAIZ, sem firulas ou transversalidades, entregando de fato o que se propõe.

O Diretor e roteirista, Demián Rugna, acerta precisamente ao estabelecer uma narrativa na qual associa o mal como sendo algo contagioso. Em tempos em que a humanidade mal acaba de sair de uma crise pandêmica tal foco narrativo potencializa e torna ainda mais realista, crível e apavorante tal perspectiva do maligno.

As atuações são sinceras e realistas, potencializadas pela narrativa coesa, objetiva e a quase inexistência de efeitos especiais, o que inegavelmente sublinha o talento dos atores, realçando ainda mais a complexidade dos personagens envolvidos, desde as crianças aos personagens centrais da trama.

Obviamente, como dito, a obra apresenta algumas lacunas na sua narrativa, como por exemplo, a efetiva origem do mal que acometeu o Uriel logo no início do filme. Os motivos que faz com que o personagem central, Pedro, não seja acometido pela ameaça, apesar de estar diretamente exposto a ela. E outras tantas lacunas que talvez não caiba aqui expor para não dar “spoiler”, mas que certamente o público mais atento perceberá.

Mas essas lacunas, afinal, comprometem o resultado da obra? Definitivamente, não. No fio crítico da balança, as virtudes e qualidades emanadas em seu conjunto acabam superando quaisquer das falhas apontadas. E sinceramente, o que provoca grande admiração é vermos um filme produzido na América do Sul, pelos nossos hermanos argentinos, com tamanho grau de excelência, superando até mesmo grandes produções, para quem é legitimamente fã do gênero, que conhece, prestigia e apoia o underground como nós da equipe do CINE HORROR, isso não tem preço.

Mesmo com algumas imperfeições, a qualidade do filme é inegável. A trama, repleta de suspense e terror, cativa os espectadores. Sua abordagem crua, única e a construção progressiva do suspense são pontos fortes.

Por fim, é notável a habilidade em entregar um terror autêntico, sem desvios ou subterfúgios. A construção é precisa e a narrativa é inovadora, tornando a trama ainda mais assustadora. Apesar de algumas questões não resolvidas, o filme é um triunfo, superando suas falhas com suas qualidades inegáveis e cativantes. Como dito, é admirável ver uma produção genuinamente underground alcançar tal nível de excelência. Para os verdadeiros fãs do gênero, que valorizam e apoiam o cinema independente, essa é uma obra inestimável.

*Ivan Rios: O Mago Supremo é sindicalista, historiador, crítico de cinema, escritor e graduando em Direito. Ivan é um militante cultural ativo no Estado da Bahia. Além disso, ele é membro do Comitê Baiano de Solidariedade ao Povo da Palestina. Em 4 de dezembro, a Câmara Municipal de Santo Antônio de Jesus (BA) homenageou-o com a Medalha Pedro Kilkerry, reconhecendo seu compromisso com a cultura, justiça e solidariedade. Inspirado pelo poeta simbolista Pedro Militão Kilkerry, Ivan Rios continua a contribuir para a sociedade compaixão e dedicação.

Instagram: @ivansouzarios

** Resenha originalmente publicada no site Cine Horror.