TRIUMPH – Imperium Lucifer

CD 2023 - Hammer of Damnation

Álbum

Quando a Hammer of Damnation me enviou, há algumas semanas , “Imperium Lucifer “ , novo álbum da horda paulistana TRIUMPH eu me surpreendi em diversos níveis.  A primeira surpresa foi poder receber completamente sem aviso o novo lançamento de uma banda que eu sempre admirei tanto musicalmente quanto ideologicamente e que imaginava extinta há anos, afinal quase vinte anos se passaram desde que o autointitulado segundo álbum da banda foi lançado. A segunda e melhor surpresa foi colocar esse álbum pra tocar e descobrir estupefado que “Imperium Lucifer” é o melhor álbum que a banda já lançou em toda a sua história; eu gosto demais dos dois primeiros álbuns da banda, então acreditem que para eu dizer isso é porque realmente o material aqui apresentado realmente me impressionou muito.

A começar pelo extremo bom gosto das composições feitas por alguém que, percebe-se, entende realmente que criar uma música não é simplesmente amontoar um monte de riffs , mas mais uma comunhão, um diálogo da própria alma com o instrumento musical visando contar uma verdade interior. No caso “Imperium Lúcifer” conta a verdade pessoal do vocalista, guitarrista e responsável pelas composições Ares  e a julgar pelas seis faixas aqui apresentadas esse universo interior de seu idealizador é extremamente impiedoso, denso, trágico e obscuro.  O álbum se inicia com a faixa que dá titulo à obra e é uma intro  com o sombrio tema principal executado ao piano permeado com alguns barulhos e sons dissonantes  que, do meu ponto de vista,  traduzem em forma de música a desolação mental que antecede ao batismo de fogo do primeiro combate. Digo isso porque a impiedosa brutalidade e a intensidade arrebatadora da faixa que vem a seguir “Black Sun” é assustadora, as guitarras de Ares nessa música são o casamento químico  perfeito entre a violência desenfreada e a melancolia mais asfixiante que um ser humano poderia conceber e toda essa atmosfera selvagem  e triste se torna ainda mais tétrica com a ambiência atmosférica criada pela forma como as guitarras foram arranjadas. A atordoante bateria de Soulreaper  nessa canção parece uma rajada de metralhadora do começo ao fim  e o excelente trabalho de baixo de Rvist tanto nessa quanto nas demais  faixas está muito acima da média  da maior parte das bandas de Black Metal atuais. Os fraseados de guitarra e detalhes melódicos que encerram essa opus a tornam até o momento,  a melhor composição que eu ouvi em 2023.  Na sequencia temos a curta e acústica “passagem”, um oásis de calmaria que separa duas frentes de batalha, mas mal temos tempo de tomar folego e somos apresentados a “Whispering Darkness”, um  rápido frenesi  que segue a mesma premissa da já citada “Black Sun”, porém com menos ênfase na parte melancólica ; essa composição segue uma direção mais odiosa nas guitarras e com um elemento, de certa forma, mais caótico. Eu não tive acesso às letras desse álbum ,mas me pergunto se a parte lírica dessa faixa teria alguma relação com o conto “The Whisperer in Darkness “ do mestre Lovecraft… Aqui temos também a participação especial do guitarrista Vekum da banda Black Achemoth.  Aliás, ainda falando de convidados, também temos que citar a participação de Lord Mephyr das bandas Spellforest e Cruor Cultum na composição da faixa titulo.  Na sequencia vem a  instrumental “Outro – Deep Abyss of Coldness” e não sei se a principio essa faixa deveria encerrar “Imperium Lucifer” , porém se assim o fosse, tanto pelo titulo da faixa quanto  pela música em sí com sua paisagem sonora sem esperanças, desoladora já seriam perfeitas, mas eis que ainda somos surpreendidos mais uma vez com a faixa bônus “Warlust” que parece ter um tom mais belicoso em sua agressividade e em algumas partes possui um andamento um pouco mais cadenciado do que as composições anteriores, mas não me entendam errado, porque nem de longe essa é uma faixa lenta.

Pra mim  “Imperium Lucifer” talvez seja o álbum de retorno mais bombástico dos últimos tempos e minha única ressalva é quanto ao tempo de duração do mesmo que poderia ser um pouco mais longo, principalmente por que o alto nível das memoráveis composições aqui apresentadas são o grande destaque desse trabalho, porém se esse for a porta de entrada para mais lançamentos da banda vindo em um futuro próximo , então eu com certeza posso conviver com isso. Mais um tiro de sniper na cabeça que a Hammer of Damnation nos proporciona. Sem livre arbítrio aqui, totalmente obrigatório.