Seu nome é Momo. Seu aspecto é sujo… vil. Malditos sejam todos vocês por adorarem um rei tão imundo quanto comilão. Parem! Parem já de venerar a criatura de banha! Cessem estes aplausos e mutilamos a aberração de gordura e suor! Parem com este barulho e esta algazarra porque a celebração do carnaval não passa de agonia enrustida mascarada de folia!
Não fui ouvido. Mas não foi necessário visto que minhas palavras já estavam dentro de todos. E tentando atravessar o caminho envolto de tantos rostos disfarçados senti que não era o único a estar sozinho em meio ao ensurdecedor tumulto. Cantavam o samba-enredo numa tentativa de livrarem-se da melancolia que os assolava, mas a falha dessa tentativa apenas os magoava cada vez mais.
Estávamos todos em uma mesma massa humana extremamente compactada, mas nunca fomos um só. Éramos cada um, um relato de dor e de tristeza e muitas lágrimas rolavam por de trás de tantas máscaras. Eram milhares de homens suplicando por amor a milhares de mulheres incapazes de amar, e à medida que as pessoas sentiam a humilhação e o ridículo que estavam passando e o tamanho extraordinário da verdade, a música cessava. A serpentina já não voava. As fantasias e as penas caem no chão deixando-nos todos desnudos pouco a pouco. Estávamos nus. Nossas genitálias estavam tão à mostra quanto nossa vergonha.
Um instante de silêncio. Uma lágrima. Outra lágrima seguida de um soluço. E em pouco tempo toda a multidão chorava em conjunto incessantemente. Desesperados pois é justamente o desespero o segundo sentimento que assola quem se aventura pelo carnaval. O primeiro é a solidão. O terceiro é a dramática conformidade.
Aquele horrendo homem obeso continuava a dançar e a pular, mas já era tarde para que déssemos atenção à vulgaridade de suas brincadeiras. Insistia em tentar passar sua alegria para a multidão despida, mas nosso egoísmo não permitia que nada além da dor preenchesse o espaço dentro de nós. É um profundo buraco onde nada se sente além do desapontamento de ser apenas você mesmo. É a aflição que se sente quando não se tem perspectivas. Aos poucos todos compreendiam que seguiam um carro de som animado por um homem que morreria cedo por doenças cardiovasculares. Não passava de um palhaço gordo e fétido. Agora suas bobagens já não os incentivava a rir. Sentiam todos, enfim, toda a banalidade do carnaval.
Momo não percebia, mas estava acenando e chacoalhando sua enorme e suada barriga para fazer-nos sorrir, mas estava tão sozinho quanto qualquer um de nós, celebrando o carnaval da melancolia, do desencontro e da dor.
Por: Infragalaxia