PROMETHEAN GATE – “queremos passar adiante a visão e o conhecimento luciferiano”

“O cinema, a meu ver, é a forma de arte definitiva, pois ela é a combinação de todas as formas de arte que vieram antes e sempre será algo mutável que irá crescer...”

Entrevista

Promethean Gate é uma banda brasileira que surgiu em 2016, das experiencias pessoais de Promethean P. Priest, que decidiu formar essa potestade com algumas influências um tanto incomuns. Estes sete anos de underground pode lega à banda alguns lançamentos importantes e uma aliança com um dos selos de Black Metal mais importantes e profissionais que o Brasil possui atualmente. Foi com esse intuito, principalmente de conhecermos mais sobre as atividades, ideologia e projetos da banda que realizamos essa entrevista com seu mentor, falamos de diversos assuntos que cercam o histórico da banda e isso faz da entrevista uma conversa recheada de esclarecimentos.

Salve meu nobre, é com muita satisfação que vos trago a estas páginas sangrentas da Lúcifer Rex Magazine, seja bem-vindo. Para iniciar, nos conte sobre a trajetória da banda da sua formação até hoje, se houve algum histórico de seus integrantes anteriormente e o que mais houver a dizer.

Promethean P. Priest: A formação do Promethean Gate ocorreu em 2016, mas apenas em 2017 que concluímos o lançamento da Architecture and Concepts of the New God, a princípio a formação do se deu como uma “one-man band”, mas logo foram adentrando mais músicos para contribuir com o enriquecimento musical. Hoje a formação é constituída apenas de Prometheus e Sepherus.

Prometeu, um mito grego, de forma interessante é o que compõe o nome da banda, você em uma entrevista declarou que o nome da banda surgiu a partir de um livro escrito por Adriano Camargo Monteiro “Revolução Luciferiana”, como se dá essa fusão entre estes dois arquétipos retirados destes escritos?

Promethean P. Priest: O livro “A Revolução Luciferiana” foi o primeiro livro de ocultismo que chegou até a mim, então foi natural que eu voltasse a ele depois de tantos anos, mesmo hoje eu tento uma visão muito diferente de alguns pontos ali descritos pelo A. Monteiro.

Na visão trazida deste escrito, Lúcifer nunca “caiu” (como afirmado pelos ignorantes e ignóbils), mas sim desceu ao nosso plano para trazer a chama do conhecimento e nela os segredos para o aprimoramento mental do homem, assim como nos contos gregos, Prometeu trouxe a humanidade a fagulha do “fogo divino”.

Essa revolução prometeica é uma associação direta do mesmo ato, feito pela mesma entidade, mas em eras – e por tanto – visões diferentes.

A escolha desse conceito para o nome do projeto é simples como parece ser: através de nossas letras, melodias e imagens queremos passar adiante a visão e o conhecimento luciferiano.

Na sua primeira demo, lançada no ano de 2017, a música que abre o registro “The Tales of the Modern Prometheus” traz à tona a ideia do Frankenstein, personagem da literatura gótica criado por Mary Shelley. Isso posto, o direcionamento inicial da banda estava para estes contos de horror ou na literatura trágica?

Promethean P. Priest: A figura do Monstro de Frankenstein é algo extremamente interessante, pois ele foi rejeitado por seu criador, foi deposto sem ao menos provar o seu valor e mesmo após tudo isso, ele ainda quem é chamado de Monstro.

Contudo, conforme você adentra ao livro, o leitor percebe que ele era na verdade um produto do mundo que fora lançado e quem o lançou era o verdadeiro monstro.

Esse é conceito que podemos aplicar em diversos pontos do nosso mundo e quando olhamos por uma ótica mais oculto-religiosa, sabemos exatamente quem é o “chamado de Monstro” e quem é o “verdadeiro Monstro/criador”.

A banda tem um histórico voltado para lançamentos de demos e splits, o mais recente se trata de uma coletânea que reúne essas demos chamado “Shahar”, o que tem dificultado a produção e lançamento de um álbum completo?

Promethean P. Priest: Não há dificuldade alguma, apenas estamos preparando o material certo. Para nós, não poderá haver falhas neste processo, por isso não estamos apressando ele em nada.

Não será um álbum que irá agradar a todos, na verdade, será um álbum excludente por trazer elementos que tendem a afastar muitos ouvintes, mas será o álbum certo para nós.

Atualmente estamos finalizando as últimas composições para terminamos a pré-produção dele, após este processo, começamos a gravar os instrumentos e fazer as experimentações com elementos não-ortdoxos da música extrema.

Já pude perceber, em algum momento, você dizer que o álbum “Ma-IoN (Formulas of Reptilian Unification)” da grega Acherontas, foi um divisor de águas na sua percepção sobre o Black Metal, isso atingiu diretamente nas composições da Promethean Gate?

Promethean P. Priest: Quando eu ouvi esse álbum pela primeira vez, ele trouxe para mim exatamente os sentimentos que estava querendo passar com minha música, mas não estava conseguindo achar o caminho. O álbum não influenciou nas composições da primeira demo, pois os instrumentos já estavam gravados, mas com certeza influenciou na timbragem, como deveria posicionar a voz dentro da obra e na capa da primeira demo. Para os materiais seguintes, acabamos nos afastando de alguns elementos que nos influenciaram nessa época, pois trouxemos novos elementos e novas maneiras de composição, mas ele nunca deixou de ser uma influência, assim como outros álbuns do Acherontas.

Tive a oportunidade de assistir à um vídeo de vocês em que se apresentam ao vivo cercados de uma esmerada produção. Tal apelo visual nos remete, basicamente, a uma tradição mais próxima do Luciferianismo/Satanismo, como essa junção se dá interiormente nas construções sonoras e literárias da Promethean Gate?

Promethean P. Priest: De uma maneira natural, pois como trilhamos o caminho da mão esquerda, vivemos isso e não seria diferente na hora que fizemos um vídeo que mostrasse a entidade a um público maior.

Trazer imagens do filme Haxän foi algo muito curioso, pois ele parece que foi feito para ser usado em obras como a live que você se refere, chamada Gnoses Ex Plagae. Mesmo sendo um filme com mais de 100 anos, o diretor realmente capturou uma essência diferenciada, algo realmente profano em um dos países mais enraizados no cristianismo e judaísmo, isso por si só agrega um valor diferenciado ao vídeo.

As letras da banda foram muito voltadas para a língua inglesa, o que condiz com uma “tradição” da maioria das bandas de Metal. Você já declarou que suas composições serão exclusivamente em português, o que o motivou a mudar a forma de expressão lírica da Promethean Gate?

Promethean P. Priest: Eu havia dito em uma entrevista com o Luiz Lozano que o Full seria inteiro em português, mas abandonei essa ideia pois não queria ficar preso a uma necessidade de fazer algo de um jeito ou de outro, compondo nosso novo material vi que há músicas que jamais funcionariam em português e há aquelas que tem um apelo diferente no português, então o Full será um misto.

Contudo, a ideia de ter mais músicas em português é que: 1. a mensagem seja perpetuada de maneira mais concisa aos que mais nos ouvem; 2. que nos diferencie de outras entidades que estão enraizadas nessa vertente chamada “Orthodox Black Metal” (termo esse que não me agrada 100%).

A literatura ocultista possui várias vertentes, muitas delas coadunam com o Luciferianismo/Satanismo, outra gama delas, não! Como você se relaciona com essa literatura ocultista, quais correntes te atravessam?

Promethean P. Priest: Há apenas duas únicas correntes que me “atravessam”.

A primeira são as que perpetuam besteiras, mentiras e ideias arcaicas que já se provaram falsas ou ineficientes, há uma gama gigante de livros sensacionalistas de ocultismo que “guiam” pessoas por caminhos vazios.

A segunda é qualquer coisa que se ligue de maneira direta e indireta ao culto de ideias e de seitas abraâmicas, que perpetue o caminho da mão direita como uma “virtude definitiva” e que se sobressai o demais.

Fora esses dois pontos, não há algo que me venha a cabeça que me repugne mais. Posso não concordar com todas, mas não será algo que me “atravesse”.

Falando sobre as questões de cultura em geral, o Metal sempre foi muito influenciado pelo cinema, a Promethean Gate também sofre essa influência? Caso sim, quais seriam esses filmes ou estilos/gêneros e diretores que lhes transmitem inspiração para elaboração de suas músicas ou mesmo na percepção intelectual e de mundo?

Promethean P. Priest: O cinema, a meu ver, é a forma de arte definitiva, pois ela é a combinação de todas as formas de arte que vieram antes e sempre será algo mutável que irá crescer (nem sempre isso sendo um fato positivo, pois tal crescimento pode estar edificado em uma ganância, o que mata a essência da arte).

O cinema nos influenciou muito na criação do vídeo que citou acima, chamado de Gnoses Ex Plagae, utilizamos diversos take do antigo filme polonês Häxan – A Feitiçaria Através dos Tempos, do diretor e historiador Benjamin Christensen, uma livre adaptação do infame livro Malleus Maleficarum.

O cinema também influenciou nas composições das cenas e como faríamos a edição dos cortes, como nós mesmos fizemos o trabalho de edição, assistimos diversas vezes o filme italiano Il buono, il brutto, il cattivo, dirigido por Sérgio Leone, principalmente a cena do cemitério e o trielo que a segue.

Fora isso que foi dito, posso ressaltar uma influência direta do compositor italiano Ennio Morricone na maneira que compomos e como arranjamos algumas linhas de teclado, mas acredito a influência definitiva do cinema no Promethean Gate está na junção do áudio e do visual e como voltaremos a fazer isso no futuro.

Em termos de cenário underground, você se considera assim como sua banda, um(a) integrante de uma cena? Visto que as características que permeiam esse nicho se desfizeram durante estes últimos anos, vocês ainda enxergam uma cena ou uma diluição e individualização de ações dissipadas?

Promethean P. Priest: Acredito que no momento que você faça uma música com a ideia de atingir um nicho específico do público, você faz parte de uma cena (queira ou não), o fato de eu estar escrevendo essas tortas palavras para um zine voltado a música extrema e que haverá uma pessoa lendo, já caracteriza uma cena. Então sim, fazemos parte.

Sobre a diluição e do que está acontecendo, ela não é movida, por uma individualização, isso seria algo respeitável.

Ela está se diluindo por ter em sua constituição pessoas de mente fraca e que nunca entenderam o que é a música extrema, pessoas que em sua maioria são turistas que acham que vão criar maravilhas, mas que tem o foco de uma barata e logo somem, isso apenas intensifica essa percepção que ela está se diluindo.

Esses assim referidos como “turistas” tendem a ser cômicos e triste ao mesmo tempo, pois eles quem são sempre os primeiros a “cancelarem” alguém, mas nunca estão apoiando nada, apenas seguem uma vida baseada em diluir.

Nos últimos meses tem se intensificado uma grande intervenção de pessoas de fora do underground taxando bandas sem nenhuma ou pouca relação com aspectos políticos mundanos em suas obras. A questão que nos traz aqui é sobre a importância de nos posicionar diante de tamanha intervenção que pode ruir inteiramente algo que anda mal das pernas, como você vê essa intensa vigilância e tentativa de arruinar uma cultura tão hermética que poucas pessoas têm compreensão, até mesmo os que estão dentro dela? (a pergunta tem uma relação direta com um movimento que se ordenou a fim de cancelar um show do Mayhem que aconteceria no Rio Grande do Sul que foi acusado por um suposto filósofo brasileiro que a partir de indícios duvidosos propagou a ideia de que a banda Mayhem fazia apologia ao Nazismo e, por isso, não era aceitável que tal manifestação pudesse se apresentar em território nacional)

Promethean P. Priest: Eu realmente não acredito que a cena como um todo irá ruir, pois só as coisas só caem quando seus alicerces caem e como você mesmo deixou claro, essa gente não faz parte da cena que estamos.

Por isso acredito que por mais escandaloso que sejam os  gritos virtuais que eles possam ter, por mais extravagante que sejam seus vídeos, a cena permanecerá.

Se ela voltar ainda mais ao underground, ela apenas será mais forte, pois é ali que está o real sentimento da música extrema.

Com relação em específico ao Mayhem, é trágico e hilário ao mesmo tempo, que eles tenham se preocupado com o Mayhem, que por mais que tenha um passado criminoso, hoje é tão inofensivo quanto um cão que apenas ladra e que seu membro fundador foi, em algum momento de sua vida, filiado a partidos da esquerda norueguesa.

Ainda sobre a cultura do metal e mais especificamente do Black Metal, de uns anos para cá é possível perceber que as bandas têm agregado outros (novos) valores as suas concepções visuais e musicais, por outro lado outras vem assumindo postos que contradizem com o que seria a fonte destes conceitos obscuros, ligados à mão esquerda. Qual seria o posicionamento da Promethean Gate sobre estes aspectos estéticos da atualidade, diria que de uns bons 10 anos?

Promethean P. Priest: Eu acredito na evolução musical e que certos limites devam ser empurrados, foi assim que nasceram grandes álbuns e grandes bandas.

Acredito que também certos conceitos (como uma sub-cultura) que devam ser desafiados, como uma forma de filosofar sobre eles e através deste estudo ter um fortalecimento da cena.

Dito isso, há “aberrações musicais” (para a maioria seria um elogio ter o termo “musical” atrelados aos seus nomes, mas que seja…) que usam de meios de prostituir a imagem deles, por uma mera visualização ou um like, que realmente servem para desestruturar e (essas sim) ruir a cena. Não tenho problemas em dar nomes aos bois, “bandas” como Carniçal e O cara do metal, entre muitas outras.

Mas como toda tendência, logo eles passaram e viram novos problemas, no final essa cena é mesmo composta apenas para os fortes.

Por fim, quero agradecer muito sua participação no nosso portal e o espaço é totalmente seu para expor o que desejar, desde uma simples mensagem aos seus asseclas ou mesmo um manifesto…

Promethean P. Priest: Agradeço a ti, Anton Naberius e ao portal Lucifer Rex pelas possibilidades de espalhar aqui nossas ideias e nossas causas.