Abraded é mais uma de várias bandas novas de Death Metal lançadas no Brasil pelo selo gaúcho “Nihil Productions” que trouxe ao mercado nacional trabalhos de bandas como Phobophilic, Pissrot, Fetid, Cerebral Rot, Noxis e tantas outras. Vale destacar aqui o trabalho do selo em licenciar e lançar no Brasil boa parte dessas bandas dessa novíssima onda do Old School Death Metal, representado principalmente por bandas dos EUA, mas não apenas, pois temos importantes referências dessa onda no Canadá (Tomb Mold) e na Europa (VomitRot). E todos os lançamentos da Nihil Productions trazem um pôster e um Obi (minifilipeta) com informações relevantes, além de revelar grande esmero e valorizar a aquisição da mídia física. Em 2022 o selo lançou uma coletânea chamada “Pathological Primitivism” contendo o primeiro álbum da banda, autointitulado “Abraded” de 2021 e a primeira demo de 2018 chamada “Descendants of the Swamp”. Esse primeiro lançamento trazia uma banda focada no Death Metal à moda antiga, com grande influência do Goregrind de bandas como o primeiro Carcass, Repulsion, Pungent Stench, mas já com algumas levadas de Death Metal mais cadenciado como o Autopsy. A temática das letras não poderia ser outra que o gore e o splatter, com irônia e bom-humor. Já “Unadulterated Perversity” parece seguir um outro direcionamento, pois se ainda temos aqui um trabalho fincado no Death Metal e no Grindcore, as letras e os arranjos parecem encaminhar a banda para algo mais diversificado e até mais “refinado”, ainda que não menos grotesco. As letras ainda exploram as entranhas da podridão e da perversidade, como bem ilustradas na ótima arte da capa. Mas temos aqui um passo mais ousado na representação dos horrores e prazeres da perversão.
Vale dizer que o título faz referência ao fato de que a banda volta depois de dois anos do lançamento do seu primeiro full-lenght (assim apresentado, embora com a duração de um EP) com a mesma “perversidade inalterada”, a despeito da grande mudança em sua formação, uma vez que os membros originais, Anthony Allen, guitarra e Nick Nedley, baixo e vocais, deixaram a banda para dedicar-se integralmente à banda Inoculation, restando o baterista Patric Pariano como único membro original. Além dele, Mark Gallon, no baixo, Evan Crouse na guitarra e Jon Gonzalez nos vocais completam a atual formação da banda presente neste seu segundo trabalho.
“Unadulterated Perversity” apresenta pouco mais de 30 minutos de um Deathgrind caótico, perturbador e inebriante, em 10 faixas intrigantes e grotescas. Certamente aqueles que esperam uma repetição do primeiro trabalho se desapontarão, pois se trata de algo realmente diverso. O disco abre com as palavras: “Eu quero ouvir alguma música perversa!” E o que temos é isso, do início ao fim. A faixa título abre o álbum dando início ao pesadelo sonoro. “Nothing left to lose” é a seguinte e, de fato, já não se tem nada a perder, uma vez que a dignidade já foi para o espaço depois de tanta perversão, ainda mais depois da faixa seguinte, “Putrefying Cunnilunguis”. De todas as faixas destaco especialmente a quinta “Noxious Fumes”, postada não por acaso no meio do trabalho, oferecendo aquela pausa em que praticamente se sente o cheiro daquela inconfundível erva, aqui apresentada como sagrada em meio a uma viagem surpreendente que remete a Sepultura da última fase com Max e o Soulfly, referência presente também nas letras com as palavras: “Noxious fumes / Have consumed / Inner Self / I’m in Hell”. A faixa “Hide” também merece destaque por conta de seus solos caóticos e a cativante levada Punk, uma mistura bastante característica nos dois trabalhos da banda. “Ontologically Recapitulated Phylogenesis” é tão intrincada na sonoridade quanto no título. E por fim, “Forced Inoculation” é uma trilha sonora perfeita para a cena de horror ali representada, com direito a efeitos de teclado dignos de filme trash de terror, extremamente divertidos.
Enfim, um trabalho estranho, bizarro, caótico e grotesco. E por isso tudo, absolutamente recomendável!