“Uma casa má e velha, do tipo que algumas pessoas chamam de assombrada. É como um país não descoberto esperando ser explorado. Hill House se manteve por 90 anos e poderá se manter por mais 90. O silêncio cobre sólido a madeira e a pedra de Hill House, e seja o que for que andou lá, andou sozinho”.
Esse é o prólogo de “Desafio ao Além” (The Haunting, Inglaterra / EUA, 1963), produção em preto e branco dirigida por Robert Wise, o mesmo cineasta de “O Túmulo Vazio” (45), “O Dia Em Que a Terra Parou” (51) e “O Enigma de Andrômeda” (71), entre outros. O roteiro de Nelson Gidding é baseado no livro “Assombração na Casa da Colina” (The Haunting of Hill House), escrito em 1959 por Shirley Jackson.
O antropólogo Dr. John Markway (Richard Johnson) aluga uma misteriosa e imensa mansão chamada “Hill House” por alguns dias, com o objetivo de realizar estudos e pesquisas sobre os estranhos fenômenos que dão fama de assombrada para a casa. Ele convida duas mulheres para participar da missão, Eleanor Lance (Julie Harris), que tem alguns distúrbios psicológicos decorrentes de muitos anos de sofrimento ao cuidar de sua mãe doente, e Theodora (Claire Bloom), que possui poderes extra-sensoriais. Completa o time o herdeiro da mansão, o jovem Luke Sanderson (Russ Tamblyn), cético e piadista, cujo único interesse é conhecer melhor o imóvel que fará parte de seu patrimônio. A ideia do cientista é coletar informações e provas da existência do sobrenatural, mas não imaginava que o grupo teria que lutar para manter a sanidade no ambiente sombrio da mansão, conhecida por sua história de tragédias, mortes e loucura.
Não falta o casal de sinistros caseiros, o Sr. Dudley (Valentine Dyall) e esposa (Rosalie Crutchley), que alerta os visitantes do perigo noturno de Hill House, algo que se transformaria num clichê muito explorado posteriormente. As hipóteses que poderiam explicar as perturbações da casa como o movimento de águas subterrâneas, eletricidade, pressão do ar, manchas solares, tremores de terra, foram substituídas por batidas grotescas e aterradoras nas paredes e portas, gritos e sussurros, além de ambientes misteriosamente frios e tétricos.
“Desafio ao Além” é um exercício de puro horror insinuado, onde não se vê os fantasmas ou uma única gota de sangue, mas os efeitos de luz e sombra, sons sinistros e a cena da “porta.que respira”, que tornou-se famosa, promovem um perturbador estado de desconforto, acentuado pela ótima performance do elenco aterrorizado, principalmente a dupla de mulheres convidadas pelo cientista.
Curiosamente, tivemos uma refilmagem em 1999 com Liam Neeson, Catherine Zeta-Jones e Owen Wilson, que recebeu o título nacional de “A Casa Amaldiçoada”. Sua história abandonou o horror psicológico e sugerido do clássico de 1963, priorizando as cenas gráficas com mortes violentas e sangue. E em 1973 foi lançada a preciosidade “A Casa da Noite Eterna” (The Legend of Hell House), com roteiro do especialista Richard Matheson baseado em sua obra homônima, e com Roddy McDowall liderando o elenco. A história é bem similar à obra-prima de Robert Wise, porém com um horror mais explícito. Mas, o resultado é igualmente interessante e recomendável, juntando-se ao clássico dos anos 60 e situando-se entre os mais representativos filmes do sub-gênero de casas assombradas de todos os tempos.
(RR – 03/01/15)
Editor do fanzine de horror “Juvenatrix”, publicado desde 1991. Colaborador com textos sobre cinema de horror e ficção científica nos sites “Boca do Inferno” e “Gore Boulevard”.
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