O livro BLACKHEART ANTHOLOGY conta com os 10 números da BlackHeart Magazine em um único volume e trata-se de uma obra destinada principalmente para as bibliotecas das escolas de ensino público da cidade goiana de Formosa, no entorno do Distrito Federal, cidade que sedia as Edições BlackHeart.
“A BlackHeart Magazine iniciou-se durante os primeiros anos da pandemia mundial de COVID-19 e documentou de certa forma a história desse árduo momento da cultura do metal extremo mundial, onde eu, Weder Ferreira, editor da BlackHeart voltei a minha cidade natal devido a todas as problemáticas que envolviam a pandemia. Como peça embrionária do underground dessa cidade, onde fiz meus primeiros fanzines ainda no início da década de 90, passando por todo o processo conhecido por muitos que vivenciaram o underground nesses anos, vivi toda a dificuldade de informação e desenvolvimento dessa cultura, e essa é a forma que encontro de retribuir a nova geração e, ao mesmo tempo, contribuir para a formação dela, viabilizando uma parte de nossa história.”
“O livro faz parte de uma contemplação do Ministério da Cultura a nós, através da Lei Paulo Gustavo, direcionada aos promotores da cultura durante a pandemia. Ficamos honrados por fazer parte disso e continuar contribuindo com a história do metal extremo mundial.”
Tivemos uma rápida conversa com Weder Ferreira para saber sobre essa inédita empreitada no underground nacional:
Como e quando você percebeu que seu trabalho underground poderia participar de uma lei federal para o incentivo à cultura?
– Eu, na verdade, nunca fui ligado a esses projetos ou lei federal para o incentivo à cultura, sempre vi acontecer e olhava como algo distante, burocrático e talvez até uma certa impossibilidade para uma obra literária underground, e que principalmente esteja envolvido o Metal Extremo. Nossa participação nesse caso foi em uma lei federal não de fomento, mas de premiação ao serviço prestado à cultura durante anos e que tenha enfrentado a pandemia e sofrido com ela. Um amigo nos falou sobre e disse que tínhamos chance, que era só apresentar o projeto e foi para mim uma surpresa, pois tivemos uma nota máxima dentro do que a mesa julgadora considerou como relevante.
Houve alguma dificuldade de apresentar o conteúdo de seu trabalho, à primeira vista satânico, anti-cristão, rebelde, subversivo…?
Cara, esse era o meu receio de não passar, mas o edital era claro em respeito ao preconceito de raça, cor, regionalidade ou sexualidade. E eu, como agente cultural, temos desde o início de nossa história, lá nos primórdios da década de 90, uma luta pela liberdade religiosa, que de certa forma entra em conflito com os conceitos cristãos e a luta contra o racismo. Acredito que, devido à liberdade religiosa que passamos, já que a Black Heart é uma publicação que propaga a mão esquerda e suas vertentes, acredito que seria intolerância religiosa contra nós, nos proibindo de participar dessa premiação.
Você consegue imaginar como será o impacto dessa edição disponível nas bibliotecas dessas escolas?
Isso foi o que inicialmente pensei, como gerar um impacto em uma criança, adolescente, principalmente naqueles que enfrentam a desinformação a respeito de nossa cultura underground e também para aqueles que sofrem pela sua escolha de vida que em uma cidade de interior é considerada subversiva, marginal ou mal vista! Espero que esse material possa fortalecer uma nova onda do underground nos próximos anos, e que isso possa também favorecer para que tudo que construímos no passado e no agora, continue no futuro.
O Metal Extremo Nacional é composto por artistas de grande capacidade. Há trabalhos com música, pintura, letras que podem ser considerados grandes obras de arte. O que falta para esse pessoal se auto enxergar dessa forma e buscar reconhecimento de sua arte, participando de projetos como esse, onde o incentivo financeiro pode alavancar ainda mais seus trabalhos?
Eu vejo uma desinformação muito grande a respeito dessas leis e projetos. Primeiro, que tem um caminho burocrático para você conseguir. E outra coisa, existe também uma contrapartida que te compromete com a lei e o incentivo cultural. Pessoas acreditam que você pega um dinheiro e faz o que bem entende com ele, negativo. Você deve incentivar e se comprometer com a cultura local e principalmente nas periferias, comunidades distantes e você acaba se envolvendo e se comprometendo durante alguns anos como agente cultural para falar em palestras, eventos comunitários ou onde for convocado para ir. Ou seja, ainda que você faça algo que é extremamente underground, você torna-se inserido com o seu projeto na cultura local… ou seja, não é bem assim como as pessoas desinformadas falam por aí… então eu acredito o que falta mesmo é uma quebra de radicalismo, pois ajudaria bastante a classe artística do meio, e fortaleceria mais nossa cultura underground. Pois é só fazer o projeto e participar, pois temos muitas pessoas que seriam contempladas com certeza. Existe uma má informação, e um conceito muito errôneo do que significa a cultura, pois todos somos consumidores dela direta ou indiretamente.