PANCREATITE NOISE – Explosão Craniano por Distorção Barulhenta Infernal

Entrevista

A pancreatite é uma inflamação grave do pâncreas que acontece quando as enzimas digestivas produzidas pelo próprio órgão são liberadas em seu interior, promovendo destruição progressiva e levando ao aparecimento de sinais e sintomas como dor abdominal forte, enjoos e vômitos, febre e hipotensão. E, essa definição cai muito bem ao tipo de som que a banda se propõe a fazer, GrindNoiseCore, as derivações musicais bem distintas e marginalizadas, muitas vezes definidos como “barulho”; aqui o PANCREATITE NOISE executa (literalmente) um som dosado de letras diretas e viscerais… de cunho acusatório, e doa a quem doer, In Grind We Trust!

Batemos um papo com o Pedro Hewitt e Hallyson, confiram a barulheira…

Falaaaa Pedro Fioti. Mah, a PANCREATITE NOISE já pugna na cena há um bom tempo, e sempre se mantendo barulhenta, e não deixando o Grind cair, mesmo com as constantes mudanças na formação, mas, com é tocar Grind na terra de 2 sois? (rs).

Pedro Hewitt – Salve meu querido papito, sempre é um prazer ter dois dedos de prosa com você. Sabes que temos um carinho super especial a sua pessoa e a Anaites Records. Vamos lá; as duas palavras mais difíceis de dizer sobre como é tocar aqui se resume em, EXTREMAMENTE DIFÍCIL. São 8 anos de existência, de derrotas, poucas vitórias e grandes conquistas, ainda mais quando se fala de material lançado, onde arrisco dizer que estamos entre as bandas que mais lançam material em pouco tempo.

Ha quantas anda essa formação? Aliás, ao vivo vocês sempre chamam uns amigos pra fazer umas jams, e até uma dessas virou outro projeto, misturando a PN com esse outro.

Pedro Hewitt – Essa formação foi um sonho realizado, principalmente quando se trata de sonoridade. Hoje tenho o Infektor como o filho mais novo, e a Pancreatite Noise é como o mais velho botando pressão e almejando sempre o melhor para todos. Hallyson é um lunático por Grind, apaixonado por tudo aquilo que ninguém gosta, sempre me mostrou bandas pro lado Europeu e Asiático, o que faz tudo melhorar, o Anderson nem se fala, começou recentemente a tocar e já tem uma cozinha cheia de materiais. E se reparar bem, eles estão anarquizando essa cidade, ambos já possuem em torno de mais 4 bandas, goste ou não. Esses convites que volta e meia acontecem são bem gratificantes, neles já houveram split, conhecimento e outros pontos bem positivos, dentre eles, temos em mente um festival bem parecido com o que vai ser no Masters of Noise. Só imaginem aí, todas as nossas bandas e uma morte digna de extremo cansaço (risos).

E esse “Nasum: A Brazilian Tribute To Nasum: Mieszko Lives” que vocês e mais 39 bandas participaram, como surgiu a ideia e como é conciliar um CD com tantas bandas?

Pedro Hewitt – Sendo bem sincero, nós (e aposto que boa parte do pessoal envolvido) não sabemos absolutamente de nada como está, de verdade. Reconhecemos que é algo fabuloso, gigante e importante pra gente, logo, foi no período onde fechamos o split com Agathocles (Um salve ao Nils, esse cara representa demais, esperamos um dia dividir palco) e ser convidado pra prestar essa homenagem pra banda que entortou minha vida fod*d*mente foi e sempre será uma grande vitória.

Essa ideia está permeando desde 2018 (aproximadamente), até fizemos uma remaster de um som, porque não gostamos da primeira versão gravada, porém estamos observando o desenrolar disso tudo, é um trampo que deverá ter uma ótima visibilidade. Eu não soube ao certo como funcionou toda a curadoria, mas pela experiência de montar coletânea sei que não é fácil. Em meio a pandemia organizei 3 edições do The Iguana’s Attäck, e foi muito doido, fora alguns estresses.

Em uma linha atemporal, como avaliam o retorno das bandas aos palcos, digo, os shows estão voltando, aos poucos, mas estão, e também em se tratando que você, Pedro Hewitt também organiza eventos.

Pedro Hewitt – Se for levar em conta a gente, não faz muita diferença, nunca somos chamados pra tocar mesmo (risos), fazemos nossos próprios rolês em 90% dos casos aqui. Existe uma espécie de preconceito (é forte a palavra, mas é uma realidade) que roda por aqui na cidade há muitos anos, ou então você precisa fazer parte de um determinado centro e praticar algum ato que não é muito do nosso agrado.

Levando essa mesma linha de raciocínio, ficar em um hiato de logos e imensos meses foi uma experiência que nunca imaginava. Passamos e vimos amigos morrendo, bandas acabando, espaços e bares falindo, oportunidades que tínhamos indo pelo ralo e simplesmente tendo que recriar um sistema logístico, seja de lado pessoal, social e de banda, e ainda estamos montando o quebra cabeça do Underground, que já sofria e que está sofrendo mais ainda. E sendo bem sincero, nunca pensei em desistir fortemente, mesmo com pandemia.

Hallyson – Aqui na cidade, o preconceito que a gente se refere é ao gênero que nós tocamos, pra te falar a verdade essa cidade não tem um cidadão ‘roqueragi’ que escuta nosso gênero, a não ser nós mesmos (risos), então não é novidade ficar de fora de eventos de “Metal” de outros organizadores.

Falemos um pouco do Infektor Self, que era um zine e após veio a ser o nome do seu principal projeto de shows, e já vamos para a oitava edição do fest, a ser realizada agora em setembro! E, tem também o Mosh or Die né?

Pedro Hewitt – A história é engraçada e até bonita; o Infektor Self era pra ser o nome da minha primeira banda, pra lá dos meus 15 anos junto a outros indivíduos que infelizmente não continuaram no meio e outros que sumiram do mapa, foi uma experiência boa, até ter uma revolta sobre os shows por aqui e nunca ver atrações ”diferentes”. A criação inicialmente era pra ter apenas uma única edição, mas tudo ocorreu ao inverso que imaginei, e tive uma visão empreendedora em cima de tudo aquilo, e sempre pensando em detalhes, estamos comemorando 8 anos de existência em setembro.

Hoje em dia o Infektor Self é uma junção de ações que unificam o Underground. É um zine, é um foco, é uma força de vontade, é uma organização que é tratada como empresa, vai além de um simples nome. Não é um bicho de sete cabeças, mas não é brincadeira de criança.

O Mosh or Die não foi diferente, é uma empreitada que foca 100% no Underground, mas que conta com estratégias diferentes. Dentro da equipe procuramos abrir caminhos para as bandas, alinhar esses caminhos ao propósito do evento que é fomentar o cenário da música pesada de forma acessível, porém em cada edição subindo o nível de produção. Tivemos um hiato de 5 anos para realizar uma das coisas mais lindas de se ver em um complexo cultural. Temos grande planos para o futuro, apenas aguardem.

Diego Dourado – O Mosh or Die começou com uma ideia simples de fazer um show simples com um som reduzido e estrutura DIY para podermos cobrar um ingresso simbólico, fazendo da primeira versão algo que funcionou como uma gasolina para nós, porém nesse tempo de hiato, sentei várias vezes com o Pedro, aconteceram muitos debates pensando em estratégias, levantando ideias e viabilidade de subir um pouco o patamar da produção, para conseguirmos fazer um evento bacana cobrando preço baixo, e com brindes. Ao meu ver foi sensacional, apesar dos contratempos. Na próxima edição, iremos ousar mais ainda, porém, tentando estudar a melhor possibilidade para adiantar qualquer problema que possa vir a surgir, reavendo erros da edição passada.

Algo que sempre incomodou os organizadores de eventos, ainda mais sendo um evento “zuadento” (no bom sentido, hehe) é o local, digo, nem sempre apropriado ou com condições mínimas para poder suportar um evento descente. Como você tem desenrolado esse pequeno detalhe incomodo por aí?

Pedro Hewitt – Esse é o defeito de praticamente todos que indagam tais indignações; NÃO PROCURAR. Atualmente aqui em Teresina nós temos em média 10 espaços que são essenciais para realizar shows de pequeno, médio e grande porte, seja com bandas locais ou não. Para mim nunca foi uma dificuldade, tiro sempre um tempinho para pesquisar novos locais e levar para o público novas experiências que despertam novos olhares, principalmente quando se trata do centro da cidade. Atualmente fazemos shows no Espaço Cultural Trilhos, berço de muitos acontecimentos e surgimentos, mas antes nosso local era o extinto Espaço DCar, uma ocupação feita junto a um estacionamento que permeou durante ótimos anos. O que posso dizer é simplesmente pesquisar, usar a criatividade, movimentar e fazer acontecer.

Não teria como deixar de falar das capas do Singles/CDs da PANCREATITE NOISE, sempre com bom humor e pisando na moral política social! Stiligrind… é uma das melhores.

Pedro Hewitt – Temos um profundo ódio com capas de extremas cores, com paletas exageradas e que no final das contas não mostram nada. Sabe quando vê fogo, caveira, morte, satanás e o caramba a quatro?! Exatamente, evitamos de usar. Gostamos do simples e de algumas metáforas, como o Condenado e o Stiligrind. Esse primeiro CD possui inúmeros easter eggs e sinônimos de como ser uma banda com crítica ácida, o segundo foi uma brincadeira feita pelo nosso antigo guitarrista que resultou nessa capa, ficou uma bela imagem para sujos sons. A propósito, nosso guitarrista Anderson está no meio das anti arte.

Tentei fazer uma lista do que a PANCREATITE NOISE lançou ou participou e não consegui ajustar, mas, contei uns 21, entre singles, comps, cds e eps.

Pedro Hewitt – Desde quando começamos a banda, sempre foi um dos maiores focos ter o máximo de lançamento possível e principalmente quando se fala em split. Deve ser algum tipo de ‘coisa certa’ no Grind. Não temos muito costume em pensar em um full, mas EP, single, tudo isso sempre é citado em reuniões e pós shows. O que mais curtimos até hoje foi o Stiligrind, mas nossa alma é totalmente carregada com o ‘Cranial Explosion by Infernal Noise Distortion’.

“Cranial Explosion by Infernal Noise Distortion” pode ser considerado o trampo completo mais recente da P.N.? Os sons contidos no CD, são inéditos ou regravações?!

Pedro Hewitt – Sim, após inúmeros splits, singles e atrasos, lançamos esse material incrível. Ele é uma sequência absurda de sons inspirados nas piores menisquências existentes de forma inédita. Saiu como queríamos e tivemos ótima aceitação, sendo lançado no Ceará em formato adesivo QRCode, em andamento na Bélgica e Itália. Piauí e Bahia ainda não houve um lançamento decente.

O single Boca de Quem? É um recado à indústria da cultura fonográfica? Quase sai pornográfica oh, kkk!

Pedro Hewitt – Esse single soou com uma simplicidade de revolta e um estresse carregado em cima de situações super normais aqui na cidade. O Grindcore nunca foi bem visto em meio nenhum, e onde deveria ser, é bem pior. Agora você imagina a situação de ter um edital em específico na cidade, você atende TODOS OS REQUISITOS, e se duvidar é uma que possui lançamentos acima do esperado e com ótima aceitação na mídia, mas aí te excluem, fingem que não existem, nem sequer dão bola, acabam dando essa vaga para alguém que não lança nada há anos, ou que simplesmente só ”nasceu pra participar do edital”. Pois bem, é isso. Nosso próprio estado nos odeia, a cultura nos odeia e simplesmente ficamos de lado. A faixa é basicamente isso, interpretem como acharem melhor.

O GrindCore sempre música de protesto (apesar que eu acho o MinceCore e o MiniCore estranhos, mas aí questão de gosto mesmo), mas, em alguns casos, é confundido com o Splatter em termos de som/barulheira sonora, o que difere um do outro é justamente a questão das letras. Fazendo um resumo do que o PANCREATITE NOISE expressa nas letras, continua sendo as mesmas diretrizes do início da banda? “Condenado”, eu acho um trampo mais direto, esse pode ser considerado o primeiro trampo oficial da banda?

Pedro Hewitt – Às vezes pequenos detalhes acabam deixando a ideia dos relacionados ao Grind bem flexíveis, fora que letras ajudam a facilitar as diferenças, mas nós somos 100% Grind. Em contexto histórico, sim, Condenado foi o primeiro trampo completo da banda, mas em contexto de ideia, programação e se entregar de alma e sangue, é o Cranial Explosion by Infernal Noise Distortion. Quando eu passei as notas, folhas e canetas para o Hallyson e Anderson, reformularam tudo por completo na banda, justamente para não ter de faltar nada. Vejo algumas bandas tentando fazer estruturas parecidas, sonoridades aproximadas, mas não adianta você ser um ativista em palco e fora dele ser um c*zão. Grindcore vai além de um simples acorde tocado. Respeitem as mina, respeitem os animais, respeitem a humanidade, respeitem tudo aquilo que é o certo. Imagina você tocar uma parada que fala de igualdade, crítica social e ao chegar em casa bate na mina, isso é ridículo.

Hallyson – E aliás, Grindcore apesar de ser “BARULHO” não quer dizer que seja só isso, não é só gritaria como muitos falam, muitos que eu digo é geral daqui da cidade, ok?! Nós fazemos realmente “ZUADA” mas é pra incomodar quem não gosta (risos), agora quem dá valor a antimusica extrema e riffs simples com blast beat truando é um prato cheio. Querendo ou não vão ter que escutar, se a gente tiver em um evento que tenha os “críticos do metal” pa* no c* deles, simplesmente isso!

É isso aí filharada zuadenta, muito obrigado pela atenção, mantenha o grind nas terras quentes de PI, e, deixo o espaço aí pra vocês explanarem algo mais que desejem…

Pedro Hewitt – Nós é que agradecemos pelo espaço e por sempre estar conosco nos dado esse suporte, é de extrema importância, já que nossa própria cidade nos despreza e pouco se faz para ter a união que realmente pregam. Seguimos firmes e independente de tudo e todos, estamos na luta, e assim continuemos. Que se faça o caos!

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