HORROR TALES – Conto XIV: O último relato inevitável: Um conto sobre a nossa extinção

Horror Tales

Num mundo à beira do abismo, onde o caos reinava e os céus permaneciam mudos aos clamores dos fiéis, os sinais anunciados na antiga mitologia suméria se materializavam. O primeiro sinal veio com o aparecimento dos demônios Asag e Usumgallu, que sussurravam aos ouvidos dos líderes mundiais, instigando-os à guerra. A tensão entre nações crescia, e os tambores da destruição ressoavam na Terra.

Enquanto isso, os demônios Pazuzu e Lamashtu sopravam ventos impiedosos sobre as grandes cidades americanas, trazendo consigo a desolação e a morte. Nova York, outrora o epicentro da prosperidade, transformou-se em ruínas fumegantes, enquanto Washington D.C. ardia em chamas, refletindo a fúria dos deuses esquecidos.

No ápice do conflito, os demônios Nergal e Ereshkigal influenciaram os líderes a desencadear o horror nuclear. Mísseis transatlânticos foram lançados, marcando o início do inverno nuclear que engolfaria a Terra. As explosões rasgaram o céu, transformando continentes inteiros em desertos radioativos.

Enquanto isso, os demônios Mamitu e Humbaba desencadeavam tempestades de chuva ácida sobre as Américas, corroendo tudo em seu caminho. O Rio Amazonas, outrora pulsante com vida, evaporava em meio a uma paisagem desolada, suas águas se tornando lágrimas ácidas que queimavam a terra.

No Brasil, as florestas exuberantes se tornaram cinzentas e negras, testemunhando o último suspiro da natureza agonizante. Os demônios Erra e Namtaru dançavam entre os escombros, celebrando o fim de um ciclo marcado pela ganância e pela destruição.

Enquanto os últimos sobreviventes clamavam por misericórdia, os céus permaneciam em silêncio, indiferentes ao destino da humanidade. Sem Deuses caricatos, mostrando que os homens cultuaram imagens inertes, frutos de suas próprias imaginações. Já os demônios, bem reais, testemunhas do desfecho trágico, contemplavam o mundo em ruínas, sabendo que nada poderia deter a inevitável extinção daqueles seres frágeis, fracos e que viveram nas últimas décadas como uma enorme praga ao meio ambiente, que de fato era o único algo sagrado que existia para a raça humana, sua algoz mais cruel.

Assim, conforme profetizado nas antigas tábuas sumérias, a Terra sucumbiu ao caos e à escuridão, enquanto os últimos ecos da humanidade se desvaneciam no vácuo do esquecimento. O fim dos tempos chegara, e nenhum poder celestial se ergueu para salvar a humanidade do abismo que ela mesma criara. Homens e mulheres, em desespero de fé cega, sacrificaram seus pequenos filhos para deuses que nunca existiram e talvez se existissem, jamais se importaram com sacrifícios tão cruéis e desumanos. Suicídios em massa ocorriam em centenas de partes do planeta. Religiões radicais, baseadas no Cristianismo capitalista, promoviam rituais patéticos, onde a morte brutal era cultuada da mesma forma frenética, hipnótica e vulgar que em dias de “paz” de um passado recente, expressaram sua fé, repleta de ódio, de mentiras e farsas arquitetadas para objetivos pessoais de poder e enriquecimento.

Além das forças terrenas em conflito, uma aliança sombria se formou entre Rússia, Coreia do Norte, Irã e outros países anti-América, incitados pelos demônios Aeshma e Belial, que agora se erguiam como novos arquitetos do caos. Essa aliança, motivada por interesses escuros e vingativos, lançou sua fúria contra as potências ocidentais, contribuindo para a escalada da destruição.

Enquanto os humanos se debatiam em meio ao horror da guerra, uma nova ameaça surgia dos céus. Entidades extraterrestres, por anos aprisionadas em instalações secretas, incluindo a infame Área 51, emergiram para cobrar um preço sangrento pela interferência dos Estados Unidos em seus assuntos interplanetários. Para os desesperados sobreviventes, a chegada desses seres alienígenas foi inicialmente recebida com esperança, confundindo-os como anjos salvadores. No entanto, logo se tornou claro que esses visitantes não traziam salvação, mas sim mais tormento e vingança.

Enquanto o mundo mergulhava na escuridão final, os demônios e os seres extraterrestres observavam, testemunhando o colapso de uma civilização que havia se perdido em sua própria arrogância e ganância. Não havia redenção nem escape, apenas o eco de um mundo agonizante, condenado pelo peso de seus próprios pecados.

E assim, o fim se fez: sem ar, sem água, sem luz, sem tecnologia, sem nações soberanas, sem armas de destruição em massa, sem deuses protetores, sem nenhuma vida e sem paisagens exuberantes, que em tempos não muito distantes, ilustraram os pensamentos de esperança e superação dos humanos, mas também foram negligenciadas pelos mesmos e pelo dito avanço da modernidade, alimentado pelo capitalismo escravagista desejado, e também a ganância de líderes mundiais e religiões controladoras de mentes, castradoras de hábitos, geradoras de costumes e motivadoras de uma fé em inverdades, que culminou na fragilidade da terra e motivação deste desfecho.

Do espaço, os seres responsáveis por esse capítulo final da já extinta humanidade observam uma enorme rocha cinza, se deformando com fragmentos de chamas que começam a congelar com a ausência da camada de ozônio e da proteção atmosférica que durante séculos foram cultuadas como milagres, merecidos e repletos de fé egoísta e hipócrita de uma raça que mereceu sua extinção.

EPÍLOGO:

 – Mas mestre…A humanidade não foi criada “à imagem e semelhança de Deus”? A civilização não caminhava, inexoravelmente rumo ao socialismo? A sobrevivência das especies não é fruto da evolução dos mais aptos? O que aconteceu?

 – A resposta é simples, pequeno gafanhoto…Mas, ao mesmo tempo,é complexa.Você sabe o que é uma egrégora?

 – Sei sim, mestre,são forças ou seres espirituais criados à partir de uma soma de energias coletivas de pensamentos e sentimentos…Acho que comecei a compreender…

 – Exatamente, pequeno Zoroastra: Cada povo deste, cada cultura desta criou seus próprios demônios.Projetando e externando seus medos ou seus desejos mais íntimos de vingança, ódio e destruição, foram os próprios povos que forjaram, que plasmaram as entidades que os destruiram. Esses demônios todos eram a manifestação da sombra que habitava o inconsciente coletivo de cada povo.Entendeu, pequeno deus?

 – Sim, quanto aos demônios sim…Mas e quanto aos extra-terrestres? Por que eles odiavam a humanidade?

 – Pequeno Zoroastra, assim como gentileza gera gentileza, ódio gera ódio…E assim como a gentileza pode surgir na dor, o ódio pode surgir do amor. Esses extra-terrestres nada mais eram que a manifestação da egrégora das divindades desses povos.

 – Dividades, como assim? As divindades não são boas?

 – A bondade e a maldade, assim como a justiça e a crueldade são relativas, pequeno deus. Quando você cria uma verdade, um dogma ou religião e quer impor este dogma como verdade universal, surge o ódio por todos que não compartilhem dessa verdade. E esse povo que veio dos céus, simplesmente, salvou o planeta de seu pior inimigo, segundo todas essas religiões: O outro, o diferente.

 – Mestre, então quem destruiu o mundo foram os próprios pensamentos e sentimentos da humanidade?

 – Exatamente, pequeno Zorastra. Vamos tentar de novo? Quem sabe você tenha mais sorte na próxima criação!

*Nota do Autor: O epílogo acima, é uma colaboração de M. Prophanator, um dos editores do portal Lucifer Rex, uma contribuição relevante ao conto que apesar de fictício, é recheado de possíveis verdades e possibilidades presentes no consciente coletivo dos terráqueos contemporâneos, que habitam, consomem de forma compulsiva, poluem a água ideal para sua sobrevivência, odeiam, matam e travam guerras entre  sua própria espécie e extinguem outras consideradas inferiores ou inadequadas, escravizam seus semelhantes e devastam de forma definitiva seu próprio habitat.

*As imagens/ilustrações foram criadas com IA via Bing By Microsoft.

Por: Alexandre Chakal.

Alexandre Chakal é carioca, pai, publicitário, designer, músico, escritor, poeta, locutor, zineiro e editor do blog Metal Reunion Zine há mais de 15 anos.

Aqui, ele se arrisca pela segunda vez a construir um conto de horror.