“Eles vieram de 250 milhões de milhas distantes no espaço… para parar o mundo fascinado com novas e assustadoras forças de um outro planeta!”
– reprodução de uma frase de divulgação do trailer original
Normalmente quando o assunto é a citação de uma listagem com os melhores e mais importantes filmes de Ficção Científica de todos os tempos, o clássico absoluto “O Dia Em Que a Terra Parou” (The Day the Earth Stood Still, 1951), de Robert Wise (“Desafio ao Além”, 63), sempre está presente entre os primeiros a serem mencionados. Filmado em preto e branco poucos anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, e explorando com maestria a instabilidade política gerada pela Guerra Fria que se instalou entre as mais influentes nações do planeta, o filme é o principal representante do cinema de FC abordando o tema de invasão alienígena com propostas pacíficas.
Após os mais expressivos países do mundo descobrirem através de seus radares rastreadores que um objeto voador não identificado está viajando nas proximidades da Terra numa velocidade anormal de 6.000 Km/h, a capital dos Estados Unidos, Washington, é a escolhida para receber a visita da misteriosa nave espacial com o formato típico de um disco voador. À bordo estão um humanóide chamado Klaatu (Michael Rennie, de “O Mundo Perdido”, 60) e um enorme robô de três metros de altura conhecido como Gort (Lock Martin). O alienígena se apresenta para a humanidade, sendo recebido com cautela por uma legião de soldados fortemente armados do exército americano, em meio a tanques de guerra e metralhadoras especiais.
Sua missão é pacífica, ele veio para informar os dirigentes das mais poderosas nações do mundo, para que interrompam as hostilidades e conflitos armados evitando que as guerras possam propiciar um desenvolvimento bélico capaz de levar a violência da humanidade para além das fronteiras do espaço, passando a ameaçar num futuro a paz em outros planetas similares. Ao encontrar resistência e intolerância entre os homens da Terra, Klaatu é obrigado a demonstrar seu poder parando literalmente a Terra através de uma pane elétrica, por trinta minutos (exceto os hospitais e aviões em vôo), informando que se não houvesse paz e harmonia entre as nações nosso planeta teria que ser destruído.
Porém, para dificultar ainda mais a missão do humanóide de outro planeta, ele é alvejado pelo exército e foge ferido assumindo a identidade de um homem normal, Sr. Carpenter, e se abrigando numa pensão para conhecer os costumes humanos, onde faz amizade com uma bela viúva que perdeu o marido na guerra, Helen Benson (Patricia Neal), e seu filho adolescente Bobby (Billy Gray). Eles o ajudam a entrar em contato com um importante cientista, no melhor estilo de Albert Einstein, o Prof. Jacob Barnhardt (Sam Jaffe), na esperança que o inteligente homem da ciência pudesse auxiliá-lo em sua missão reunindo e convencendo os governantes das mais importantes nações do mundo da necessidade da paz.
A Guerra Fria, que por algumas décadas ameaçou perigosamente o destino de nosso planeta com a possibilidade de um confronto nuclear entre os Estados Unidos e a antiga União Soviética, foi durante sua existência uma fonte inspiradora para argumentos de filmes de Ficção Científica. A maioria explorou o tema investindo exageradamente na paranóia política como “O Monstro do Ártico” (51), de Howard Hawks e Christian Nyby, “Vampiros de Almas” (56), de Don Siegel, e “Dr. Fantástico” (64), de Stanley Kubrick, entre outros. Mas, o filme que melhor utilizou a Guerra Fria para evidenciar uma crítica social e principalmente um alerta pacifista sobre o perigo causado pelos rumos dos conflitos bélicos na humanidade foi “O Dia Em Que a Terra Parou”, que por sua vez teve o roteiro baseado em algumas idéias da história “Adeus ao Mestre” (Farewell to the Master), de Harry Bates, publicada originalmente em 1940.
O filme tem uma importância extremamente significativa para a história do cinema de Ficção Científica. O poderoso e temível robô Gort tornou-se um dos mais conhecidos e populares do gênero, juntamente com a Maria de “Metrópolis” (26), o simpático Robby de “Planeta Proibido” (56) e o divertido robô da série de TV dos anos 60 “Perdidos nos Espaço”. A famosa frase “Klaatu barada nikto”, que tinha que ser transmitida por Helen para Gort para impedir que o robô destruísse a Terra, ficou eternamente gravada na memória dos fãs e transformou-se numa referência para o cinema fantástico. O momento da chegada da nave espacial de Klaatu aterrissando em Washington é considerada uma das mais antológicas e fascinantes cenas ao longo de mais de um século de cinema. Entre as curiosidades, vale mencionar que devido à intenção dos produtores em tornar a história do filme a mais realista e convincente possível para os espectadores, alguns dos principais jornalistas da época realmente participaram interpretando eles próprios, como foram o caso de H. V. Kaltenborn, Drew Pearson e Gabriel Heatter.
“O Dia Em Que a Terra Parou” já foi exibido várias vezes na televisão aberta, tanto na versão original em preto e branco quanto numa versão colorizada por computador, e nunca havia sido lançado em nosso mercado de vídeo VHS. Portanto, a única forma dos colecionadores obterem uma cópia, seja dublada em português ou legendada, era através da gravação diretamente da TV. Mas finalmente e para a satisfação dos fãs, o filme foi também lançado em DVD pela “Fox” em Agosto de 2005, trazendo como material extra a opção de ver o filme com os comentários do diretor Robert Wise (que faleceu em 14/09/05) e Nicholas Meyer, além de “Movietone News”, um trailer original da época de lançamento e cenas comparando a restauração do filme. Acompanha ainda junto ao DVD um pôster, no tamanho da capa do estojo. Porém, o fato negativo é que todos os extras estão disponíveis apenas na versão em inglês, sem a opção de legendas em português.
Em 2008 foi lançada uma nova versão do filme (que chegou aos cinemas brasileiros em 09/01/09), com direção de Scott Derrickson e elenco formado por Keanu Reeves (como Klaatu), Jennifer Connely (Helen Benson) e John Cleese (no papel do cientista Prof. Barnhardt). Algumas idéias originais foram mantidas, mas houve muita liberdade de criação artística na história, e um exagero nos efeitos especiais, característica sempre presente nas grandes produções do cinema do século XXI. Vale como uma diversão passageira e por trazer de volta o tema do filme original para as platéias que ainda não conheciam a história, mas o clássico de 1951 é infinitamente melhor, um filme insuperável e eterno. Já a refilmagem, é apenas mais um entre tantos outros produzidos todos os anos, e que priorizam os efeitos especiais. (parágrafo acrescentado em 10/01/09).
“Em breve uma de suas nações aplicará a energia atômica em foguetes. Até o momento nós não estamos interessados em como vocês tem resolvido suas brigas mesquinhas. Mas se vocês ameaçarem expandir sua violência, esta Terra de vocês será reduzida a cinzas queimadas. Sua escolha é simples. Juntem-se a nós e vivam em paz. Ou prossigam seu curso atual e encarem a destruição. Nós estaremos aguardando sua resposta. A decisão está com vocês.”
– discurso ameaçador de Klaatu para os governantes das principais nações da Terra, exigindo a paz ou a inevitável aniquilação de nosso mundo repleto de desentendimentos políticos e guerras
O Dia Em Que a Terra Parou (The Day the Earth Stood Still, Estados Unidos, 1951). 20th Century Fox. Preto e Branco. Duração: 92 minutos. Direção de Robert Wise. Roteiro de Edmund H. North, baseado na história “Adeus ao Mestre”, de Harry Bates. Produção de Julian Blaustein. Música de Bernard Herrmann. Fotografia de Leo Tover. Edição de William Reynolds. Direção de Arte de Addison Hehr e Lyle Wheeler. Maquiagem de Ben Nye. Efeitos Especiais de Fred Sersen. Elenco: Michael Rennie (Klaatu / Sr. Carpenter), Patricia Neal (Helen Benson), Hugh Marlowe (Tom Stevens), Sam Jaffe (Prof. Jacob Barnhardt), Billy Gray (Bobby Benson), Frances Bavier (Sra. Barley), Lock Martin (Gort), H. V. Kaltenborn, Elmer Davis, Drew Pearson, Gabriel Heatter, Holly Bane, Marshall Bradford, John Brown, John Burton, Wheaton Chambers, John Close, Frank Conroy, Eric Corrie, John Costello, James Craven, Marjorie Crossland.
(Texto escrito em 2005)
Editor do fanzine de horror “Juvenatrix”, publicado desde 1991. Colaborador com textos sobre cinema de horror e ficção científica nos sites “Boca do Inferno” e “Gore Boulevard”.
Contatos: renatorosatti@yahoo.com.br