06 Perguntas para: Rodrigo “Fuhrer” Magalhães (TORMENTADOR, ex-HOLOCAUSTO)

A voz dos primórdios do War Metal ecoa novamente

Entrevista

Ele esteve lá desde o início. Bebeu da mesma água que lendas como os irmãos Cavalera, Wagner Antichrist, Zhema Rodero, Carlos “Vândalo” Lopes, entre outros. Aliás, justiça seja feita, ele é uma das lendas do Underground nacional, tendo passado por bandas como o HOLOCAUSTO – um dos fundadores – IMPURITY, MUTILATOR, BODE PRETO, CERTO PORCOS! e, atualmente, faz parte da Máquina de Guerra chamada TORMENTADOR. Com vocês, “06 perguntas para” Rodrigo Magalhães, o “Fuhrer“!

 

1 – Salve Comando! Enorme satisfação falar com você! Gostaria de começar nossa entrevista falando sobre os novos lançamentos do TORMENTADOR. Parece que vem um split, um “live” e um novo álbum por aí, certo? O que você pode adiantar, com relação a previsão de lançamentos, selos, formatos e etc?

Rodrigo Fuhrer: Salve camarada! Primeiramente gostaria de agradecer mais uma vez a oportunidade. Sim, 2023 foi um ano difícil e de muito trabalho pra nós. Embora não tenhamos tocado muito, foi um ano bem produtivo em relação a composições e parcerias. Em 2024 lançaremos três splits. Um 7”ep (compacto) com os amigos do SEX MESSIAH do Japão, que contará com uma música de cada banda e será lançado pelo selo japonês SEX DESIRE RECORDS.

Gravamos também um 12”lp (vinil) com os hermanos peruanos do GOAT SEMEN, contando com quatro músicas do TORMENTADOR, com lançamento em lp pela NUCLEAR WAR NOW! PRODUCTIONS e em cd pela AUSTRAL HOLOCAUST PRODUCTIONS.

Pra finalizar lançaremos um split cd contendo os shows do TORMENTADOR e do BODE PRETO realizados no BRAZILIAN RITUAL FINAL ATTACK! Este lançamento será, é claro, pela BRAZILIAN RITUAL RECORDS, do nosso irmão de guerra, Eduardo Beherit. Também já estamos trabalhando nas composições das músicas do nosso segundo full-lenght.

2 – Ainda falando sobre o TORMENTADOR, até o momento a única apresentação da banda foi no derradeiro Brazilian Ritual Festival. Qual o motivo disto? Com certeza não foi por falta de oportunidades, certo? E como está a previsão da agenda para 2024?

Rodrigo Fuhrer: Essa questão dos shows é complicada, primeiramente por sermos uma dupla, sendo que para viabilizar uma apresentação ao vivo é necessária uma nova composição da banda, preferencialmente em quarteto, para que realmente a banda soe brutal como no disco. Contamos com a colaboração de alguns parceiros como o Torvatus que mora na Islãndia, o Josh que mora em Teresina no Piauí e do Ron Seth aqui de BH, o que torna esta logística de tocar ao vivo complicada.

Outra questão que tem nos afligido foram alguns percalços em relação a shows fora do país. Fomos convidados para tocar em um festival no Estados Unidos e outro no México, sendo que em ambos não conseguimos viabilizar porque não conseguimos os vistos necessários. Fomos convidados também para uma apresentação em um festival na Europa só que fomos impedidos de tocar no país por questão de censura a nossa música! Por enquanto, tocaremos em São Paulo em 19/10 no Bellvm Deorvm Fest II, juntamente com SEX MESSIAH, NECROGOSTO e FORCE OF DARKNESS.

3 – Aliás, a respeito deste evento, Brazilian Ritual Festival, o line-up da banda foi completado pelo grande Ron Seth, do não menos lendário IMPURITY que, até onde eu sei, agora é membro efetivo do TORMENTADOR. Você foi membro efetivo do IMPURITY também, inclusive tendo gravado com a banda. Pra quem olha de fora, parece que esse tipo de participação é meio comum entre as bandas mais antigas de BH, como todo mundo “completando o time” um do outro, quando necessário. Eu gostaria de saber como se dá esse contexto de cooperação, sem competição ou disputas de ego e, também, quem compõe esse, digamos, círculo mais próximo.

Rodrigo Fuhrer: Estes anos que me juntei ao IMPURITY dos meus irmãos de guerra Ron Seth e Ram Priest foram muito importantes pra mim, pois ali me reconectei ao verdadeiro underground. Aliás já vinha colaborando com o IMPURITY desde 2006, quando fiz a foto da capa do Necro Infamists of Tumulus Return. Então após minha saída do HOLOCAUSTO por motivos pessoais em 2009, assumi a bateria do IMPURITY onde gravamos o álbum Bonfim Moritvri Mortivis em 2012, que no seu lado A contém a regravação da clássica demo-tape de 1989, The Impurity Temple e no lado B, novas composições.

Neste mesmo ano gravamos um split LP com a banda finlandesa BLACK FEAST. Fizemos vários shows undergrounds onde realmente percebi a dimensão e força da música extrema e obscura brasileira oriunda da primeira leva do metal de Belo Horizonte da década de oitenta. Creio que essas colaborações só são possíveis quando pessoas do mesmo círculo e com afinidades e principalmente com respeito e amizade se encontram.

4 – Falando sobre um subgênero que você ajudou a criar agora, o War Metal. Eu vejo a seguinte situação: O Black Metal, no início, era mais relativo à temática do que ao estilo musical- sendo representado por nomes como Venom, Mercyful Fate, Bathory, etc . Já na chamada “segunda onda”, o estilo sonoro se tornou a característica do Black Metal – de nomes como Darkthrone, Mayhem, Emperor. Você acredita que se deu a mesma coisa com o War Metal? De existir uma primeira onda, de bandas como At War, Sodom, Holocausto e uma segunda onda, caracterizada por bandas como Blasphemy, Conqueror, Goatpenis, etc? Qual a sua visão sobre isso e como você definiria o TORMENTADOR?

Rodrigo Fuhrer: Perfeita a sua avaliação. Creio que realmente é isso. A música sempre está em movimento e em constante mudança. Vale destacar que temas relacionados a guerras sempre estiveram presentes no Rock e no Heavy Metal. War Pigs do BLACK SABBATH, Bomber do MOTORHEAD, Invasion e Run to the Hills do IRON MAIDEN. Depois Fight till Death e The Final Command do SLAYER, The Blood Runs Red do DISCHARGE, War and Pain do VOIVOD, Botas, Fuzis e Capacetes do OLHO SECO, War do BATHORY, além do DORSAL, ANTI CIMEX, BRIGADA DO ÓDIO, MUTILATOR, etc. A partir daí a escalada de brutalidade foi levada a um nível cada vez mais extremo dentro do subgênero designado como War Metal. Certamente podemos definir o TORMENTADOR como Bestial War Black Metal!

5 – Uma curiosidade pessoal: Todas as bandas de BH, do início, eram muito extremas e também muito originais. Porém, depois do primeiro álbum, quase todas – ou todas – mudaram muito o seu som. Você acredita que essas mudanças foram uma evolução natural – afinal, nos primeiros álbuns praticamente todo mundo era adolescente – ou foi reflexo do sucesso do Sepultura, que teria aberto uma perspectiva de profissionalização para todos vocês? E que análise você faz disso hoje?

Rodrigo Fuhrer: Realmente eram outros tempos. Tempos difíceis! O mundo naquela época nos parecia um local extremamente hostil! Um mundo em plena guerra fria sem perspectivas de um amanhã, um país subdesenvolvido do terceiro mundo, em plena crise socioeconômica. Éramos jovens massacrados pelos resquícios da ditadura, censurados pela igreja católica, trabalhando em subempregos fodidos, sem nenhuma esperança e nenhum medo também.

Era o ambiente perfeito para o ódio! Nesse contexto, e sem condições de aparelhagem e técnicas musicais desenvolvemos essa forma primitiva e brutal de tocar. Eu acho que o principal fator para as bandas terem mudado tanto o som após os primeiros discos, foram as mudanças nas formações, digo isso principalmente em relação ao SARCÓFAGO e ao HOLOCAUSTO, pois perderam seus guitarristas e bateristas. Fico imaginado como seriam os discos posteriores ao INRI e ao Campo de Extermínio se as formações originais fossem mantidas.

6 – Eu costumo encerrar as entrevistas com uma pergunta que padrão, onde peço que entrevistado faça sua reflexão sobre a sua trajetória no underground. Rodrigo, qual sua reflexão sobre esses 40 anos no metal extremo? Quais suas memórias mais fortes? E que pontos – trabalhos, pessoas, acontecimentos, etc – você destacaria? Aproveito para agradecer pelo tempo dispensado para responder essas questões e agradecer pelo serviço prestado ao underground durante esses 40 anos e deixar o espaço aberto para o que mais quiser acrescentar. Hail Rodrigo!

Rodrigo Fuhrer: Primeiramente gostaria mais uma vez de agradecer a você M. Prophanator pelas perguntas pertinentes e pelo apoio de sempre e ao LUCIFER REX MAGAZINE pelo espaço cedido e pelo grande trabalho que vem sendo realizado no Underground brasileiro. Bom, refletir sobre todos esses anos acho que precisaríamos de mais algumas laudas, talvez até de alguns capítulos dentro de um livro. O que posso dizer é que o Metal Extremo é compromisso. Primeiramente compromisso com sua arte e sua música. Se você não se der o respeito nem respeitar a sua música, deixar a música em segundo plano em detrimento a imagem, marketing, notoriedade, dinheiro, ela realmente vai te cobrar um preço muito alto. Depois compromisso com seus parceiros de caminhada e amigos. Seguimos juntos mantendo a chama acesa. A vitória será nossa! Na guerra…se eu morrer, me vinguem! Se eu fugir, me matem!