BALADA PARA SATÃ – Filme

1971 ‧ Terror / Mistério ‧ 1h 55m

Cinema

“Nada tenho que não venha de ti, meu mestre, meu príncipe bem amado, meu pai demônio. Não terei outros deuses diante de ti, e devo tudo ao demônio, e ao espírito mal que és tu. Vem, vem, vem,… vem o antecessor, vem demônio, vem príncipe e pai, vem Deus, vem teu nome senhor, vem meu príncipe, vem, vem o antecessor, vem demônio, vem príncipe e pai, vem Deus, vem teu nome senhor, vem, não terei outros deuses diante de ti, e devo todos os dias ao demônio e ao espírito mal que és tu. Vem, vem, meu pai, meu mestre…” 

– Duncan Ely, à beira da morte.

Dentro do gênero horror, riquíssimo em ideias e estilos, um dos tipos de cinema que mais incomoda e interage com o público é inevitavelmente aquele inspirado em histórias satânicas. O horror aos demônios e tudo aquilo que envolve o Mal absoluto sempre afetou o ser humano, que historicamente é influenciado por crenças e religiões. E nada mais agressivo e repulsivo ao Homem do que o temido Diabo e sua imagem encarnada de tudo que é ruim, como o sofrimento, dor, doenças e morte.

Um dos maiores exemplos é o clássico O Exorcista (1973), de William Friedkin, com sua história de possessão demoníaca em uma pobre garota de apenas 12 anos, e que causou imenso choque e um impacto fulminante no ponto fraco do público: o próprio demônio encarnado na pele de uma inocente criança. Não houve um só espectador que não tenha se sentido atingido ou incomodado em cenas como a sangrenta masturbação da criança possuída com um crucifixo, ou os nojentos vômitos expelidos por ela na forma de jatos gosmentos de bílis esverdeadas.

Esse é o caso do também demoníaco, porém bem menos agressivo, Balada para Satã (1971), que investe no clima de horror psicológico, sem deixar, contudo, de envolver e incomodar o público.

(Atenção: o texto a seguir contém spoilers)

Um famoso pianista já idoso e doente terminal com câncer, Duncan Ely, interpretado por Curt Jurgens, faz um pacto com o demônio para voltar à vida no corpo de um jovem jornalista e também pianista sem sucesso chamado Myles Clarkson, interpretado por Alan Alda. O Sr. Duncan na verdade é um adorador do diabo e apaixonado por sua filha Roxanne, interpretada por Barbara Parkins, a ponto de proporcionar a morte de sua própria esposa através de um ataque violento de um cão negro e feroz da família (que lembra muito a fera de “Zoltan, o Cão Vampiro de Drácula”, 1977). Após conhecer e seduzir Myles, tornando-o amigo pessoal de sua família, o Sr. Duncan tem uma forte crise de leucemia e morre, onde num ritual satânico assume o corpo do jovem pianista, ajudado por sua filha Roxanne. A esposa de Myles, interpretada por Jacqueline Bisset, desconfiada dessa conspiração demoníaca, passa a ter terríveis pesadelos onde é envolvida pelos adoradores do diabo, que acabam matando sua filha para entregarem a alma à Satã, e cujas imagens de seus sonhos sempre acabavam tornando uma macabra realidade. Sabendo depois que seu marido agora na verdade está possuído pela alma do Sr. Duncan, ela torna-se perturbada pelos fatos diabólicos ao seu redor e acaba pactuando também com o demônio, suicidando-se numa banheira e num ritual diabólico transporta-se para o corpo de Roxanne, a filha e amante de Duncan, para ficar próxima ao corpo do marido.

Um filme muito interessante, sem a presença do característico final feliz, o que já o torna especial, pois os personagens são envolvidos numa trama demoníaca e onde o próprio Satã, oculto em seus subconscientes, é o mestre de cerimônias e senhor absoluto de suas almas, arrebanhando todos para sua legião macabra no inferno. No melhor estilo de thriller psicológico que lembra o clássico O Bebê de Rosemary (1968), de Roman Polanski, a história se desenvolve num clima gótico do mais puro horror sobrenatural, com altas doses de suspense e erotismo, graças às participações das lindíssimas Jacqueline Bisset e Barbara Parkins. A fotografia sombria e por vezes nublada e envolta numa densa atmosfera de ocultismo, enfatiza os momentos de medo, onde não há a violência explícita, e sim somente o horror sugerido e sufocante, acompanhado pela fantástica trilha sonora do mestre Jerry Goldsmith, responsável por acordes musicais que objetivam gelar a alma do espectador em meio ao crescente suspense.

É uma típica produção para a televisão, baseada na história The Mephisto Waltz, de Fred Mustard Stewart, produzida pelo mesmo criador de consagradas séries de TV dos anos 60, como Os Invasores e O Fugitivo, de Quinn Martin, e dirigida por um especialista da telinha, Paul Wendkos, responsável por inúmeros episódios de Os Invasores e telefilmes como Fugitivos de Alcatraz (1987) e Nos Braços da Morte (1989). Os atores coadjuvantes participaram como convidados em diversas produções para a televisão como a presença de William Windom em Os Invasores e Bradford Dillman em Galeria do Terror, de Rod Serling (Dillman também teve participação importante no cinema como em A Fuga do Planeta dos Macacos – 1971). Alan Alda e Jacqueline Bisset são os astros maiores desse filme, os quais tiveram inúmeras participações em outras produções de Hollywood. Alda, entre outros, fez Crimes e Pecados (89), A Ilha Sinistra (83) e As Quatro Estações do Ano (81, nesse foi também o diretor e roteirista), e Bisset estrelou À Sombra do Vulcão (84), Assassinato no Expresso Oriente (74) e Cassino Royale (67).

Felizmente para os fãs do cinema de horror, ainda podemos acompanhar bons filmes despretensiosos como Balada para Satã, que foi lançado no Brasil na época do vídeo VHS e também depois em DVD (pela “Fox”). Podendo ser considerado um grande entretenimento, garantindo bons momentos de suspense, onde somos envolvidos em tramas demoníacas que inevitavelmente afetam a imparcialidade do espectador, convidando-o a participar da história.

Balada Para Satã (The Mephisto Waltz, Estados Unidos, 1971). 20th Century Fox. Duração: 109 minutos. Lançado em vídeo VHS pela Abril Vídeo. Direção de Paul Wendkos. Produção de Quinn Martin. Roteiro de Ben Maddow, baseado em obra homônima de Fred Mustard Stewart. Fotografia de William W. Spencer. Direção de Arte de Richard Haman. Efeitos Especiais por The Howard A. Anderson Company. Música de Jerry Goldsmith. Piano por Jakob Gimpel. Com Alan Alda, Jacqueline Bisset, Curt Jurgens, Barbara Parkins, Bradford Dillman, William Windom, Kathleen Widdoes.

(Texto escrito originalmente em 2005)

Por: Renato Rosatti.

Editor do fanzine de horror “Juvenatrix”, publicado desde 1991. Colaborador com textos sobre cinema de horror e ficção científica nos sites “Boca do Inferno” e “Gore Boulevard”.

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