BENEMMERINNEN – A bruxa resurge numa nova aliança demoníaca!

"Abordamos aquilo que a humanidade despreza e ama ao mesmo tempo."

Entrevista

Surgida na cena do Metal Extremo de Salvador, numa  época em  que  violência,  radicalismo e superações eram características marcantes, a BENEMMERINNEN percorre três décadas profanando e violando as regras da nossa sociedade judaico-cristã.  Conversamos com Paganus, guitarrista e membro fundador. Confiram!

Após  8 anos a entidade maléfica BENEMMERINNEN surge com um novo trabalho: “Demonic Alliance”.  Apresente ao nossos leitores.

Inicialmente gostaria muito de agradecer a ti Giovan e Lúcifer Rex por nos oportunizar cedendo este espaço. Muito Obrigado! Cara, este artefato custou muito para se concretizar, sua materialização foi toda desenvolvida no auge da Pandemia. Na verdade estas composições estavam feitas desde 2019, mas fomos impossibilitados de entrar em estúdio para ensaiar então o desenvolvimento real do disco foi todo feito a distância. Vou aproveitar a oportunidade para agradecer também publicamente ao Michael Lunatic e ao Lunatic Home Studio, peças fundamentais no que diz respeito à engenharia de som, além de ser nosso baterista o Michael foi responsável pela gravação, mixagem e toda parte de sonorização. De fato este EP foi realizado com muito suor, sangue e lágrimas, espero que todos curtam o álbum.

Fale-nos um pouco sobre a arte  e concepção da capa, inclusive na escolha das cores.  Algo que me chamou atenção foi a exclusão do logotipo da banda e título do álbum na capa deste EP.

Toda a concepção artística visual do disco foi idealizada por mim, sou artista visual e professor de História da Arte e tentei usar isso a nosso favor. Analisando a parte cromática da capa, escolhi o tom amarelo/amarronzado envelhecido, este aspecto na cor nos remete a um documento antigo, usei também mais uma vez a imagem de um bode; que dependendo da concepção cultural religiosa pode ser a representação do Diabo ou de um animal sagrado trouxe elementos do Neossurrealismo como; bode alado com calda de peixe e partes dos pêlos do animal parece estar em chamas e a presença de muitas linhas na composição. Este hibridismo predominante na imagem é uma das minhas características como artista, mas também uma metáfora que fala dos elementos que regem a natureza.

Resumidamente significa;

Asas no animal= Elemento Ar.

Calda marinha= Elemento Água.

Pêlos em chamas= Elemento Fogo.

Linhas na composição= Elemento Terra.

Enquanto ao logotipo da banda e o título do álbum, eu quis realmente fugir do tradicional e resolvi bani-los da capa, pois tinha a intenção de dá ênfase ao desenho, ele é a figura central a ser contemplada, não quis tornar a capa uma poluição visual.

A BENEMMERINNEN lançou este material através de dois selos de Salvador consideravelmente novos: No Salvation  Records e Abismo Metal Store. Como surgiu essa parceria?

Sim! São dois grandes Brothers… Na verdade conheço a Anderson (Abismo Metal Store) desde a fundação do seu selo, sempre adquirir material com ele e recordo que há um tempo o mesmo já mostrava uma vontade de apoiar o underground soteropolitano com ideias de não só ser um distribuidor, mas também ser um produtor e gravadora. Enquanto ao Fernando (No Salvation) nosso contato se deu a partir também das compras de CDs, ele sempre me forneceu excelentes materiais. Sempre admirei a postura discreta e reservada desses caras, acho que nos identificamos e a partir daí naturalmente se forjou uma aliança, foi tudo muito natural. Fico muito feliz em saber  existem pessoas na cena que tem a real intenção e manifestação de ajudar o underground. Vida longa ao ABISMO e o NO SALVATION!

Este EP contém  5 faixas. O que mudou sonoricamente  desde o último CD de 2015? Novas inspirações?

.. Acredito que a maturidade, não só sonora como intelectual. Acho que é muito evidente no nosso som que somos apreciadores da velha escola do Metal. É natural que lapidamos muita coisa, mas apesar da mudança nossa essência permanece.

Em termos líricos, o que iremos encontrar em “Demonic Alliance”?

Temas polêmicos como Obsessão sexual, relações interpessoais desastrosas, o Diabo que existe dentro de cada um de nós, o ser humano falido. Abordamos aquilo que a humanidade despreza e ama ao mesmo tempo.

Notamos também a participação do baterista Lunatic da Morbid Perversion. Como a banda estava já há algum tempo sem baterista,  podemos considerá-lo um novo integrante?

Sim! Este cara surgiu para agregar. Admiro nele a vontade de fazer, realizar… Lunatic é um cara que tem sangue nervoso correndo nas veias, ele contribui muito com o avanço da banda, trouxe ideias e muita criatividade. Este tem meu respeito e gratidão!

Ano que vem a BENEMMERINNEN celebra 30 anos de depravação. Já estão pensando em algo pata celebrar essa data? O que podemos esperar até o ano que vem?

Verdade mano! São 30 longos anos de estrada… Cara o futuro é muito imprevisível, lógico que fazemos planos, mas tudo pode acontecer ou não. Ainda não surgiu o momento oportuno para sentar com a banda e tratar deste assunto, vamos falar a respeito e brevemente anunciaremos algo.

Ainda falando sobre essa trajetória de três décadas, a BENEMMERINNEN fez parte de um círculo de Black Metal local, que embora nunca oficializado, movimentou a violenta cena de Salvador na década de 90.  Quais principais mudanças você percebeu de lá pra cá? 

A mudança é uma constante, essa é uma certeza que temos. Viemos de uma época de muitas dificuldades e inacessibilidades; mas considero tudo que vivemos durante aqueles períodos árduos, sobretudo aprendemos a ser resistentes. Atualmente é o oposto, vivemos na era das facilidades, temos a tecnologia a nosso favor, praticamente tudo é acessível hoje em dia. Mas considero que vivemos uma crise que sempre nos assolou “As relações interpessoais”. De nada adianta as novas tecnologias, as ferramentas modernas que possuímos se o material humano for podre.

Paganus, você atualmente além da BENEMMERINNEN vem ocupando seu tempo com um “inferno que habita em mim”  chamado HUMUBOROS. Do que se trata ?

Interessante você perguntar isso… Cara, Humuboros é meu novo projeto onde faço um Metal Visceral.  Foi fundado em 2020 no ápice também da Pandemia, este foi um período que produzir bastante. Gravei no ano passado o primeiro álbum, deve sair ainda neste segundo semestre, desta vez será lançado por uma trindade mórbida, uma necroparceiria entre a ABISMO METAL STORE (Ba), NO SALVATION (Ba) e SANGUE UNDERGROUND (SP) .

O arquétipo masculino é enraizado no Metal Extremo. Na primeira metade da década de 90 a banda surge com um  nome “diferente e estranho” , voltado para o arquétipo feminino: As bruxas, mulheres assim denominadas, que por motivos diversos foram perseguidas pela religião judaico cristã. Na época vocês tinham essa visão do quanto estavam indo na contramão de uma cultura até hoje machista e misógina?

Foto por: Isabele da Costa

Honestamente não! Eu tinha outra forma de pensar. Naquele período eu visava apenas o Ocultismo. Hoje, revisitando estas memórias vejo que tenho outra visão de mundo e me sinto sempre aberto para aprender mais. Historicamente sabemos que as mulheres sempre foram perseguidas e injustiçadas. Antes mesmo do surgimento dos movimentos feministas sempre houve resistência feminina e com as Benemmerinnen´s  não foi diferente. O que não é dito na História Tradicional é que durante vários períodos e ainda hoje as mulheres sempre buscaram um espaço social de equidade. No caso das Benemmerinnen´s estas mulheres não se enquadravam num determinado padrão regido pela igreja , então elas fugiam para as florestas distantes; isso nada mais era do que a busca da independência, estas mulheres não seguiam as tradições, muitas queriam viver só, se casar com outras mulheres e estas atitudes foram consideradas rebeldes e incompreendidas, por conviverem nas florestas com diversos tipos de ervas muitas delas tinham conhecimentos medicinais, muitas eram donas de propriedades e dotes, além de serem transgressoras e inteligentes, foi um grande negocio para a igreja matar mulheres e todo essa história que sabemos…. O que quero dizer é que lá atrás eu não tinha tamanha percepção, hoje entendo que esse patriarcado doentio também me consumiu. A misoginia e o machismo são frutos de uma sociedade forjada em seus alicerces a cultura que o homem é o núcleo de todas as questões, desse modo acabamos naturalizando e reproduzindo essa cultura cancerígena, enfim hoje busco desconstruir esse mal que foi projetado em mim e em todos nós.

Agradeço ter atendido nosso chamado.  Deixe aqui suas considerações finais.

Agradeço Imensamente a Lucifer Rex , sabiam do meu respeito e consideração a vocês. Muito obrigado pelo espaço e oportunidade. O pior erro da Humanidade é o ser Humano.