Tudo começou em 2008, quando Danilo Coimbra, na época e até hoje, guitarrista da Malefactor, resolveu criar um projeto one-man-band para fazer algo que está enraizado em suas entranhas metálicas, o Real Death Metal. Muitas águas passaram, o que era projeto virou banda, e depois de um EP e um full, num hiato de mais de 10 anos, DIVINE PAIN ressurge reformulado e com mais fúria, apresentando aos deathmaníacos o álbum “Destructive Measures”.
Gravado em 2023, ainda com Daniel Beans ( Headhunter D.C., Malefactor e Vermis Mortem) na bateria (substituido em 2024 pelo dinossauro Yaçanã Lima (ex-Headunter D.C., Zona Abissal, Thrash Massacre) e Rodrigo Nunes (Drowened) no baixo (substituido por Luiz Magrão do Convulsive) , o álbum acaba de ter sua versão física lançada pela trinca de selos Abismo Metal Store, Misanthropic Records e Mutilation Records.
Com arte de capa assinada pelo já reconhecido Alcides Burn e logotipo sob responsabilidade de Sérgio Baloff, “Destrutive Measures” contém uma inteo e nove faixas do mais puro Death Metal num entrelaçado de agressividade, técnica, peso e criatividade.
Após a intro, um prelúdio para o apocalipse que surge em nossa frente, o caos realmente se inicia com ‘Flesh-Eating Protocols’. O ouvido já começa a doer nos primeiros segundos com a pancadaria que se sucede, através das violentas baquetas e bumbos de Beans, somadas a riffs fudidos que surgem da guitarra da Danilo Coimbra e o grotesco vocal do veterano Fábio Brayner (As the Shadows Fall, Hellspawn, Sanctifier, Decomposed God), que retorna como front-man de uma banda. A faixa já demonstra o potencial deste trabalho com melodia, variações de tempo, solos, sem perder a belicosidade. Em ‘Violence as Prevention‘ a sensação inicial é quem um rolo compressor está chegando e destruindo tudo pela frente. Brayner parece um monstro acuado e furioso, vociferando uma ira descomunal. As bases ficam bem trabalhadas com umas cavalgadas foda! O baixo de Rodrigo tem seu destaque fazendo uma “cozinha” de alta qualidade com Beans. A composição tem suas diversas variações, numa mistura de técnica e agressividade, além do comum.
Seguimos com a faixa com o curioso título ‘731‘, que possivelmente, se refere a unidade secreta japonesa de pesquisas macabras para desenvolvimento de armas químicas e biológicas. Numa sonoridade rápida, com passagens tipo bate estaca alternando com o tempo mais cadenciado, a música se torna uma das melhores do álbum. Bumbo marcante, riffs bem construídos fazendo um Death Metal pra bater cabeça. Os solos constantemente presentes nas faixas são mais um destaque, sempre bem encaixados nas melodias. ‘The God’s Funeral‘ é a próxima com mais um riff que exalta o Metal da Morte e que demonstra perfeitamente como os integrantes da banda estão familiarizados com o estilo, tudo na medida certa e com precisão. Um clima “old” em alguns momentos enriquece a composição com um tempo quebrado, e por que não dizer, místico, entre solos e bases cadenciadas.
‘Gospels of Damnation‘ é simplesmente foda!!! Aquela base pra bater cabeça até o pescoço não aguentar mais. Ela vai tomando forma numa brutalidade descomunal. Muito peso e agressividade. Uma composição feita com ira e uns riffs “nervosos”, junto com baquetas tecnicamente agressivas e os solos característicos deste álbum.
A música sempre nos traz referências que muitas vezes é particular e vai de opinião própria. O DIVINE PAIN me remete algumas vezes ao Incantation, porém em ‘Dead Man’s Walking‘ foi algo de Suffocation que me veio à mente. Pesado pra caralho, denso e feroz. Um Brutal Death Metal intercalando passagens rápidas e cadenciadas. ‘Six Feet Under‘ aparece com seu riff técnico, abrindo as portas para uma fúria deathmetálica invadir o lar doce lar dos menos avisados. Quem ainda está com o pescoço no lugar, finalmente perde, depois dessa faixa. Apesar de momentos mais lentos e mórbidos, sua característica marcante é o peso e fúria.
Chegamos em ‘Deus Mortuus Est’ consumando a declaração de Nietzsche e exaltando o Metal Nacional representado por este excelente trabalho. Grandes músicos fazendo grandes músicas. Uma faixa que navega por todas as características já citadas, com muita harmonia e presteza.
Somos por fim convidados, entre dedilhados, a seguir um vazio, possivelmente existencial, onde a esperança é nula. ‘A Path into the Void‘ traz tristeza e desilusão nas guitarras de Danilo e no vocal de Fábio Brayner. O baixo também faz sua parte, lúgubre e sombrio. Um solo triste e melancólico anuncia um fim. Um melódico Death Doom Metal certeiro, que afeta o âmago, a essência da almas corrompidas pela desilusão. O DIVINE PAIN crava a dor no peito e fecha este trabalho com profunda melancolia.
“A morte é o fim de tudo. Não existe céu ou inferno, nenhum paraíso a se esperar. Há apenas o vazio, a não-existência real baseada em memórias que se justificam para manter aquilo que não mais existe.”