Capítulo 02
SURGE O WAR METAL – OS PRIMEIROS RUIDOS DE GUERRILHA
Continuando com Rodrigo, a história dos termos HOLOCAUSTO e WAR METAL surgiu da seguinte maneira: Como é notório para todo mundo que acompanha o metal extremo nacional, a temática da grande maioria das bandas nacionais eram assuntos como o satanismo, ocultismo. Para diferenciar-se disso, Rodrigo, que era aficionado por temas de guerra, orientou a banda a escrever as letras sobre… a Guerra.
Desse ponto surgiram duas consequências: A primeira foi que Igor Cavalera, observando a temática da banda, sugeriu a mudança do nome da banda para HOLOCAUSTO, tendo o nome ASMODEU durado apenas poucos meses do ano de 1985. E a segunda aconteceu bem por acaso: Mark, guitarrista da banda CHAKAL, ao ver os temas do HOLOCAUSTO, perguntou se o estilo que a banda tocava seria “War Metal”. A banda, ao ouvir o termo, assentiu e, a partir daí, passou a se denominar como uma banda de WAR METAL.
Sobre esse ponto, é interessante um esclarecimento. Na chamada primeira onda do metal extremo, os gêneros que as denominavam ainda não estavam perfeitamente definidos e, muitas vezes, uma banda era definida pela temática e não pela sonoridade, como ficou consolidado pelas segundas ondas. É dessa maneira que bandas como o VENOM e o MERCYFUL FATE são definidas como Black Metal da primeira onda.
Na primeira metade de 1986, logo em seguida à época em que o SEPULTURA lança o seu primeiro material, o split Bestial Devastation/Séc XX, o HOLOCAUSTO grava a sua primeira demo tape, com a já citada faixa “Massacre“. A faixa já é um prenúncio completo do som do HOLOCAUSTO. A letra, porém, ainda segue o padrão satânico e anticristão vigente na maioria das bandas da época.
Aproveito esse gancho para comentar a respeito do HOLOCAUSTO que, diferente da maioria das bandas de Metal da época, optou por escrever suas letras em português. Segundo várias entrevistas, antigas e recentes, a banda tinha muita influência do hardcore nacional, de bandas como OLHO SECO, RATOS DE PORÃO, CÓLERA, bandas que compunham em português. Seria esse o motivo do HOLOCAUSTO escrever em português, além do fato da falta de fluência em inglês, bem como a intenção de que os ouvintes conterrâneos pudessem entender o que estava sendo dito, a mensagem que a banda passava, ou seja, uniram o útil ao agradável.
Claro que também tinham influências do metal nacional em português, de bandas como o STRESS, a DORSAL ATLÂNTICA e, principalmente, o VULCANO, que alternava entre os português e o inglês. Segundo Rodrigo, o vocal de Angel teria sido sua principal influência.
Essa demo é marcada pelo fato de a música gravada ser a única participação do baixista Marco Antônio – enquanto um dos compositores -,um dos membros originais do HOLOCAUSTO e que morreu tragicamente, no início do ano de 1986, afogado em um acampamento, na presença dos seus amigos e companheiros de banda. Todos eles foram passar o carnaval na cidade de Jaboticatubas, acampando por dias, em uma fazenda.
Até que um dia, no meio da tarde, Marco e a namorada, Adriana, brincavam no rio, e, pouco depois, segundo depoimento de Valério, Adriana começava a gritar desesperada, alegando haver algo de errado com o Marco.
Rodrigo, que do alto de uma pedra observava, também começou a gritar, mas foi Valério, que os observava de cima de uma rampa, quem desceu e entrou na água, nadando até o Marco para socorrê-lo, porém, sem sucesso, pois havia uma correnteza que atrapalhava a tentativa de puxá-lo para a parte rasa, tendo Marco sumido na água. A turma ficava cada vez mais aflita. Somente tarde da noite foi que o Corpo de Bombeiros resgatou o corpo de Marco Antônio, alegando sua morte em causa não de afogamento, mas de parada cardíaca. Marco tinha apenas 17 anos, mas seu nome ficou gravado na história do metal extremo mundial como um dos membros originais do HOLOCAUSTO e por ter participado do processo de composição da música “Massacre“.
Mesmo profundamente afetados pela tragédia, a banda não parou. O substituto de Marco foi encontrado no amigo Anderson, membro do MASSACRE, a banda esta que ensaiava no mesmo local que o HOLOCAUSTO: a casa de Marco. O MASSACRE praticava um som na mesma linha e Anderson foi convidado a integrar a banda. E assim estava completa a formação que veio a gravar as duas músicas presentes na lendária coletânea WARFARE NOISE: “Destruição Nuclear” e “Escarro Napalm”. Essas músicas foram compostas logo depois da “Massacre”, pelo quarteto, pouco antes do convite para o Split.
No próximo capítulo: O REGIMENTO DA MORTE RUMA PARA O CAMPO DE BATALHA