ECOS DA GUERRA – Os primórdios da HOLOCAUSTO – 1984-1987 Parte IV

Dark Reflections

Capítulo 04

4 – O PÓS GUERRA

E chegou a hora de falar da polêmica da temática nazista. Se formos fazer uma análise de conteúdo lírico, seria até perda de tempo, apresentarmos argumentos, haja vista que de todas as 12 músicas da fase que vai da demo “Massacre” até o álbum “Campo de Extermínio”, apenas as músicas “Campo de Extermínio” e “III Reich”, referem-se ao nazismo.

E tanto uma quanto a outra, em termos de condenação e assombro com a barbárie da guerra. Frase como “nazistas sádicos exterminam a sangue frio, ditadores loucos sentem prazer em torturar” e “os mandamentos da humanidade foram derrubados, as leis da vida, cuspidas e açoitada” deixam claro que, em nenhum momento, o regime nazista foi exaltado. As demais músicas, em sua quase totalidade, tratavam da guerra nuclear que, aliás, era um tema atualíssimo nos anos 80. Lembrem-se que o Muro de Berlim caiu em 1989 e a URSS acabou em 1991.

Mas a polêmica veio, e forte, principalmente do exterior, onde o álbum foi barrado e censurado em vários países, como Alemanha. Aqui também tivemos polêmicas, como o convite, via carta, que a banda recebeu para integrar uma facção nazista carioca. O fato é que a polêmica se deu mais pelo visual, adornado de suásticas, indumentária nazista e de guerra e pela capa do álbum. Devidamente contextualizado, o que se depreende são jovens e adolescentes querendo chocar, causar horror ao mundo adulto.

E podemos dizer que eles conseguiram, já que até hoje existe polêmica em cima da banda. A polêmica é tão forte que, quando fui – M.Prophanator – fazer uma música em homenagem à banda, em um projeto que desenvolvi, saudando o metal extremo nacional dos anos 80, fiz questão de explicitar “homenagem à banda HOLOCAUSTO”, pra não dar margem a interpretações rasas de homenagem ao fato histórico. Em todas as outras homenagens, citava simplesmente, “homenagem ao VULCANO”, “homenagem ao DORSAL ATLÂNTICA”, e por aí vai.

Só para citar mais um fato, uma foto do ex-baterista do SEPULTURA, Igor Cavalera, com um capacete de guerra e suásticas, reverbera até hoje, com o mesmo tendo que dar explicações, independente de o seu primeiro casamento ter sidocelebrado de acordo com as tradições judaicas e com uma filha da comunidade judaica. Independente de tudo, dentro do metal, o álbum repercutiu bem. Várias outras bandas com temas ou pelo menos o nome correlato à guerra surgiram. Podemos citar bandas como ANSCHLUSS, ESCOLA ALEMÃ, AUSCHWITZ, entre outras.

E logo após o lançamento do álbum… A banda mudou de formação, e, inevitável e consequentemente, de rumo. Não saberia precisar se por causa das polêmicas ou simplesmente pelo fato de alguns membros estarem entrando na idade adulta e assumindo compromissos ou outros comportamentos, pois, logo após o “Campo de Extermínio”, primeiro Armando “Nuclear Soldier” e depois Valério “Exterminator”, deixam a banda. Segundo o próprio Valério, ele foi expulso da banda por não querer mais ensaiar aos sábados, já que “ensaiavam diariamente, e, sendo assim, não haveria necessidade, pois aos sábados havia eventos de Rock na cidade para frequentar” .

Já segundo relatos de demais membros, Valério saiu por conta própria, pois queria seguir um outro estilo de vida e não queria ficar condicionado ao protocolo diário de ensaios da banda. Armando, por sua vez, sempre teve interesse em desenvolver suas habilidades enquanto baterista e saiu para integrar o MUTILATOR que estaria seguindo por uma via mais técnica do metal. Uma curiosidade a respeito da sua entrada no MUTILATOR foi que, antes de ser efetivado como membro, Armando costumava ensaiar covers de Thrash Metal como Slayer, Metallica e Anthrax com o Magoo, exímio guitarrista do MUTILATOR, que o convidou após a saída dos irmãos Neves (Rodrigo e Ricardo, baterista e baixista, respectivamente).

Existem também referências a um segundo álbum composto ainda no estilo War Metal com uma demo de ensaio gravado numa fita K-7, e que teria se perdido. Uma das músicas se chamava “Reatores Nucleares”, em referência ao acidente de Chernobyl. Segundo Valério, após sair (ou ter sido retirado) do HOLOCAUSTO, ele levou essa fita até o Silvio “Bibika” (ex-MUTILATOR), com a intenção de formar uma nova banda com o ele e mais alguns membros da cena local. Mas, com o passar dos anos, eles perderam contato, e a tal fita jamais foi vista novamente, pois, ao encontrar com o Silvio recentemente, ele sequer lembrava que essa fita existiu, tampouco ter chegado a ele.

O fato é que, para o segundo álbum, Rodrigo “Führer” e Anderson “Guerrilheiro” se viram sozinhos e com um projeto musical muito diferente, muito em função da ausência do guitarrista original, que possuía uma forma muito peculiar de compor e tocar, sendo praticamente impossível de ser substituído para fazer War Metal. Segundo declarações de Rodrigo “Führer”, ele teria consciência de que o segundo álbum não era um álbum de War Metal. Ainda assim, por obrigações contratuais com a gravadora Cogumelo, o material foi lançado sob esse nome.

E dessa maneira se encerrou a primeira fase do War Metal. Não sem deixar marcas profundas no metal extremo mundial, haja visto que a brutalidade sonora de bandas como BLASPHEMY, BEHERIT e BLACK WITCHERY, logo em seguida; e bandas como GOATPENIS, CONQUEROR, DIOCLETIAN e BESTIALGOAT, mais atualmente, ainda traz medo e angústia ao mundo, sob a bandeira do War Metal.

SEMANA QUE VEM, O ULTIMO CAPÍTULO: MEMÓRIAS DO COMBATE