O ETERNAL SACRIFICE, em se tratando de uma banda brasileira, é o que poderíamos chamar de “sui generis”. Acabo de ouvir o novo single da banda “Offertorivm Altaris” e, assim como com o single anterior “Aihah Gibor Leohlam Satan”, fiquei muito impressionado! A capacidade que a banda tem de transformar sua música em imagens é absurda!
Deixa eu explicar melhor o que eu quero dizer com isso: Quando você se dá ao trabalho de acompanhar as letras do ETERNAL SACRIFICE, o que você percebe é um conto. Uma história completa, com começo, meio e fim. Então vamos tratar esse single como um conto.
O gênero que eu associo a esse conto – ou, quem sabe, parábola – é o terror. E a narrativa se desenvolve, alternando momentos de aparente tranquilidade e de tensão, momentos de expectativa e pavor…Envolve soberba, luxúria, devoção…pavor.
Nietzsche dizia que a música consegue transmitir emoções e sentimentos mesmo sem palavras. A função de uma trilha sonora, em uma obra cinematográfica, é essa, enfim: Exacerbar o sentimento que a narrativa enseja. Porra, é impossível ouvir este single e não ser tomado por imagens, tocado por sensações da mesma maneira que somos em um bom filme.
Trata-se de uma faixa com pouco mais de 07 minutos e eu diria que é composta por “atos”, como em uma peça de teatro ou ópera. E, descrevendo um ritual de sacrifício, eu identifiquei 06 atos:
O “primeiro ato” – ou a intro – de cerca de um minuto, com uma atmosfera composta por teclados, coros, sinos e um primeiro narrador, repleto de embriaguês e sarcasmo no tom da voz, passa uma sensação de expectativa, num crescendo que culmina com o titulo da música, seguido de uma explosão do mais puro Black Metal, indicando o início do “segundo ato”.
A característica marcante deste ato, de andamento majoritariamente mid-temple, culminando com um blasbeat é a progressão dos acordes, que consegue transmitir com precisão o sentimento descritivo do ambiente e dos personagens envolvidos, que a letra enseja para essa parte.
Então, em uma diminuição da velocidade, inicia-se o “terceiro ato”, todo tomado por um tom dramático e ritualistico e em primeira pessoa. Inicia-se a invocação: Incrível a desenvoltura do vocalista Magister Templi Lhorde Haadaas Naberius em incorporar um novo personagem na narrativa.
O entrelaçamento das narrativas, tons vocais e idiomas distintos – português e inglês – só faz exacerbar a sensação teatral ou cinematográfica da obra. E com ele se estabelece a ligação mística e o “quarto ato”. Corais líricos com vocal feminino, atmosfera de teclados e vocalizações angustiantes complementam o cenário.
O “quinto ato” começa brutamente energético, mudando o andamento emocional da obra. O ritual surte efeito. A energia se manifesta e muda toda atmosfera da cena. Pra criar uma imagem de senso comum pra vocês me compreenderem, é quase como a mudança de perspectiva que se vê em “Rime of the Ancient Mariner” do Iron Maiden. Quando vocês estivem ouvindo e incorporarem sensação e imagem, vocês vão me entender!
Com a entrada do solo de guitarra consubstancia-se o ultimo e derradeiro ato. Consumou-se o sacrifício. As “cinco glorias” se encontram saciadas e a natureza, apodrecendo e decompondo os restos, segue seu curso.
Epilogo – O ciclo se completou. Atmosfera, letra, andamento, ritual. A energia foi criada. É impressionante e não tenho como não repetir o que já disse em resenhas passadas: O nível de complexidade das composições do ETERNAL SACRIFICE, seja no aspecto literário ou musical não é pra ser apreciado sem uma compreensão de todo o arcabouço envolvido. Nada que um pouco de interesse e estudo não resolva. Fica a sugestão.