FERNANDO ISER – A dedicação de uma vida no Underground.

“Atingi uma velocidade de palhetadas até então inimaginável, os dedos sangraram literalmente!"

Entrevista

Fernando iser é uma figura muito importante dentro da cena underground, além de um músico muito versátil onde todos os seus projeto é feito com dedicação e amor naquilo que faz, é com essa versdatilifdade que fernando toca em várias bandas, entre elas: Morte Negra, Meledction 666, Mávra, Iron Woods, Herege… e por aí segue a lista… vamos conversar com essa lenda dentro do nosso Underground.

A paixão pela música extrema, o underground, o que vem em primeiro lugar em sua vida até chegar à paixão pelo underground?
ISER – Acredito que tudo que se faz com paixão ocupa um lugar de destaque na vida. Desde a primeira vez que eu tive contato com a música extrema quis fazer parte deste universo, seja como público ou músico. E assim sigo após 30 anos. “O amor e o desejo são as asas do espírito das grandes façanhas.” – Johann Goethe

Pode se dizer que você é o musico a tocar em mais bandas, pelo menos aqui em nosso país, já recebeu convite para algum projeto de banda internacional?
ISER – Não sei responder com precisão sobre essa afirmação, mas minha trajetória é realmente extensa! Quanto à projetos internacionais, sim, já foram feitos alguns convites e alguns planos estão em andamento.
Mas o único que se concretizou na prática foi quando eu atuei como baixista do Nebiros da Colômbia na primeira vez que vieram ao Brasil em 2013 e tocamos em São Paulo, Piraju/SP e Campina Grande/PB. Momentos inesquecíveis tocando músicas as quais considero Hinos no Underground sul-americano! Arriba Los Aceros ⸸

Um trabalho que curto muito, o álbum “Que a desgraça caia sobre a humanidade” do Morte Negra, a banda está por voltar aos trabalhos? conte-me sobre as novidades?
ISER – Sim. O Morte Negra está voltando aos ensaios após alguns anos parado. Decidi seguir em frente após aguardar respostas que não foram dadas e atitudes que não foram tomadas. Então teremos uma apresentação no segundo semestre de 2023 e um lançamento oficial com uma nova formação que será divulgada no devido tempo.

Muitas bandas que cantam em português, acabam deixando o vocal caricato por não saberem fazer colocações em suas letras, nesse álbum do Morte Negra isso não acontece, é tudo muito bem composto, me conte sobre essas criações musicais e temáticas desse álbum?
ISER – Foi um processo simples e extremamente prazeroso, na verdade. Pois tudo sempre esteve sob meu controle desde o início, desde a ideia de concepção da banda até a criação dos temas e gravação. Compus todas as músicas e letras, gravei todos os instrumentos, cuidei da mixagem e masterização. Na parte gráfica do álbum contei com o irmão Necrovisceral da horda Torqverem. O álbum ficou exatamente como eu havia desenhado na minha mente, e isso se repetiu com o We, Demons do Malediction 666 e os álbuns do Lalssu. Fico muito feliz em saber que o português está bem perceptível pois foi uma das minhas maiores preocupações ao produzir este trabalho.

Em 2021 Lalssu gravou um excelente split com Excisio, conte-nos como foi a ideia desse split e como foi a aceitação do mesmo?
ISER – Esta foi uma oportunidade oferecida pelo selo Black Hearts Records em relançar o primeiro trabalho do Lalssu (o ep ΣΚΈΨΕΙΣ de 2011), que até então não estava mais disponível em formato físico devido ter sido lançado em poucas cópias na época, 66. Então para complementar este lançamento eu decidi incluir uma demo do Excisio (projeto extinto de uma pessoa que não faz parte do Underground) onde gravei os vocais e guitarra. Foi muito interessante poder lançar dois trabalhos separados por dez anos, exatamente dez anos depois do último lançado. Um período de vinte anos desde o primeiro, que felizmente causou um bom impacto em quem ouviu.

O álbum “The Elements” do Lalssu é muito inspirador, uma verdadeira viagem, como foi o processo de criação e inspiração para esta obra?
ISER – Este álbum foi criado em um momento de intensa dor, desprezo e reavaliação dos meus valores como pessoa. Precisei me afastar de tudo e viajar por lugares inóspitos e longínquos para desta forma carregar energia, prosseguir e trazer inspirações para compor. Tais experiências me trouxeram o equilíbrio que eu buscava explorando os elementos da natureza, sentindo na pele e alma cada um deles e transformando em música cada insight durante um período em que a Pandemia estava em alta, e eu estava totalmente perdido emocionalmente. É um álbum retificador, na minha opinião.

De todos os trabalhos que criou, qual deles que mais te marcou de uma certa forma, seja ele por elogio, criação, motivo especial…
ISER – Cada trabalho tem sua história e cada um deles foram construídos através de muito suor e dedicação. Até este momento foram gravadas 92 músicas de minha autoria em 29 lançamentos, fora os covers que tive o prazer de gravar em tributos. Mas um muito marcante foi
“Sob o Julgo do Martelo da Morte” (2005) do Kaziklu Bey. Eu tinha um peso imenso nas costas por ter entrado numa banda já consagrada no Underground, e estava sozinho responsável pelas cordas em uma gravação iminente. Atingi uma velocidade de palhetadas até então inimaginável, os dedos sangraram literalmente! Todos esperavam um lançamento brutal, mas aquilo superou as expectativas dos mais radicais e senti que passei a ser encarado de forma diferente, pois até então estava mais envolvido com o Death Metal tradicional, e não com o Black Metal ríspido e cruel como era do estilo da banda.
Por fim, este foi um trabalho que elevou ainda mais o nome do Kaziklu Bey e é lembrado com muito respeito pelos headbangers que nos acompanharam.

Sabemos que muitas coisas em nossas vidas requer um sacrifício por nossas escolhas, já sacrificou algo por suas escolhas dentro do Underground?
ISER – Não encaro como sacrifício os atos cometidos sob minha vontade. O tempo que dedico ao que eu amo fazer molda minha personalidade, e quem entende e respeita isso sabe que terá minha fidelidade até a minha morte. Tento otimizar o tempo que tenho nesta vida, então se escolho estar em um lugar – realizando algum feito, trabalho ou com alguém – , me dôo mil por cento sem nenhum tipo de arrependimento. Mas é claro que eu não posso estar em todos os lugares que eu gostaria, e o avanço da idade está me tornando mais seletivo com relação a permanecer em lugares ou ter contato com pessoas que realmente trocam energias honestas comigo. Enfim, não é sacrifício nenhum estar envolvido no Underground, é sempre uma honra e prazer imenso fazer parte disso!

Conte-mos sobre o Mávra, uma banda com uma sonoridade mais voltada ao Doom, com uma certa pitada de Black Sabbath, algo diferente do que faz com outras bandas, o Mávra que recentemente lançou um material físico…
ISER – Desde adolescente eu sou fan de Black Sabbath, e sempre quis montar uma banda nesta linha. O Mávra veio décadas depois disso, e hoje posso dizer que as influências são bem mais extensas do que o Sabbath. Então me sinto à vontade para compor músicas baseadas nestas influências mais “mainstream” antigas, adicionando obviamente uma sonoridade mais pútrida underground. É uma banda com uma personalidade diferente, mas ainda assim, mais mergulhada nas profundezas do Inferno do que as outras em que faço parte. Lançamos nosso primeiro material físico de forma independente, e estamos felizes com o resultado.

Você tocou com o Morcrof no ” Ode To The Horrors”, como foi este convite?
ISER – O Morcrof sempre significou algo importante pra mim, desde o início da minha caminhada no Underground eu mantenho
contato com o Paullus. Eram muitas trocas de cartas no início dos anos 90, e ele foi um dos primeiros apoiadores do Malediction 666.
Esta admiração e respeito cresceu com o tempo mas eu não imaginava que poderia tocar na banda um dia. Ver o Morcrof nos palcos era receber uma aula de Metal Extremo, tamanha virtuosidade dos músicos. O tempo passou, recebi este convite e estar no palco ao lado do Paullus e de seu filho Lucas significou muito. Ainda mais com a presença dos irmãos Hertz e Prometeus do Primordial Idol, Luis Henrique do Endless Carnage e o baterista Bruno Mastemas (ex-Malediction 666), mantendo a tradição de deixar o público estupefato com a performance. Foi uma das experiências mais interessantes que eu tive como músico e headbanger.

Você já tocou com várias lendas do nosso underground e abriu vários shows de grande porte, qual a banda que foi uma realização pessoal ter aberto o show?
ISER – Eu sou um admirador imenso do Rotting Christ. Foi uma das primeiras bandas de Black Metal que ouvi na minha vida, e tocar duas vezes com eles foi algo além do que eu imaginava. Mas o mais foda dessa história é que nós não tocaríamos nesses eventos se não fosse pela indicação da própria banda. Isso mostra que apesar de serem gigantes mundo afora, se importam com as camadas mais profundas do Underground e confiaram em nós. Foram belíssimas e Obscuras noites, sem dúvida.

Uma decepção pra você dentro do underground….
ISER – Acredito que a grande decepção é perder alguns momentos importantes da história do Underground Brasileiro. Vejo a cena crescendo nos quatro cantos do país e me entristece o fato de eu não poder pegar um Ato Iconoclasta no Nordeste, um show do Atropina no Sul, algum evento espetacular (como sempre) em BH, ou outros acontecimentos no nosso país.
Reconheço o esforço daqueles que lutam para manter a chama do Subterrâneo acesa, e gostaria de poder apoiar mais. E para aqueles que atrasam o lado dos outros em busca de status, não crio decepção, apenas ignoro e não gasto sequer um minuto do meu tempo.

Uma pergunta que foge um pouco do nosso assunto…Sou um adimirador de futebol, e sei que você também gosta muito desse esporte, de sua opinião sobre nossa eliminada “seleção”.
ISER – Sim, o futebol é uma das únicas coisas que ainda despertam meu interesse e mexe com as minhas emoções desde a infância. Frequento estádios desde os oito anos de idade, e conheço isso de estar junto à milhares de pessoas unidas pelo mesmo sentimento. Fui da Torcida Independente do São Paulo Futebol Clube durante muito tempo. É entretenimento, ok, mas faz parte da nossa cultura e o esporte em si é algo positivo, desde que não haja aquele fanatismo inconsequente que transforma adversários em inimigos. Posso dizer que assim
como no Metal, fiz muitas amizades com pessoas de outras cidades, estados e países através desse esporte.
Falando sobre a seleção, eu sinceramente não reconheço esses atletas como representantes do país. Acompanhei a seleção quando era mais jovem e os jogadores convocados atuavam pelos clubes brasileiros, daí sim eu torcia. Mas essas novas gerações não tem Amor pelo esporte. A grande maioria só pensa em dinheiro e obviamente o resultado não poderia ser outro: seleções que jogam com raça e sem frescuras, como Marrocos por exemplo, foram mais longe do que o Brasil e suas poses. Mas o mais importante de tudo é que o Palmeiras continua sem mundial HAHAHAH

O que podemos esperar para 2023 de Malediction 666 e Lalssu?
ISER – Estou trabalhando em novas composições para o Malediction 666, e 2023 será um ano de preparação da nova formação. Quanto ao Lalssu, anuncio em primeira mão
nesta entrevista o título do último álbum do projeto: Ο ΤΕΛΟΣ ( O Télos, significa O Fim em grego). Será o último álbum do projeto, que será lançado no dia 1 de maio em São Paulo no festival Thorhammerfest. A data da primeira e última apresentação do Lalssu para findar sua existência. O lançamento está a cargo novamente da Black Hearts Records, e trará uma sonoridade mais caótica em comparação aos outros álbuns. Um fim desolador e sem esperança de retorno.

Qual a sua maior conquista dentro do underground, e o que ainda pretende conquistar?

ISER – Sem dúvida minha maior conquista foi o respeito da Cena em geral. Vide a trajetória sem manchas ou hipocrisias, sempre seguindo em frente enfrentando as adversidades que fazem parte da vida. Discrepâncias e discordâncias são naturais nesse caminho da Mão Esquerda, mas o tempo se encarrega de derrubar as máscaras. E pretendo apenas continuar neste
caminho, com glórias ou fracassos, não me importo – desde que eu continue sendo fiel à minha própria Vontade.

Agradeço por aceitar o convite a esta entrevista Fernando Iser… deixe suas palavras finais para nossos leitores admiradores de seus trabalhos….
ISER – Alan, sou eu quem agradeço pela oportunidade e convite feito à minha pessoa!
Espero ver você e todos os leitores da Lucifer Rising nas celebrações do nosso Subterrâneo, e que jamais deixemos que a Negra Chama se apague.

SALVE AS ARTES NEGRAS

Iser.