HELLBOUND: HELLRAISER II – FILME

1988 – Terror/Slasher ‧ 1h 39m

Cinema

“Estou no inferno, ajude-me!”

Entre as várias franquias do cinema de horror que possuem uma enorme quantidade de filmes, “Hellraiser” é uma das principais, contando com nove produções até o momento (o último filme é “Hellraiser – Revelations”, 2010), e que pelo desgaste do tema, inevitavelmente vão perdendo a qualidade progressivamente. O filme original, “Hellraiser – Renascido do Inferno” (87) tem direção e roteiro de Clive Barker, baseado em seu conto “The Hellbound Heart” e é um dos mais importantes filmes de horror dos saudosos anos 80, apresentando-nos os misteriosos cenobitas, criaturas infernais habitantes de um universo paralelo onde é celebrada a dor e o sofrimento através de brutais torturas na carne. Os cenobitas são liderados por Pinhead e apenas aparecem quando ocorre uma comunicação entre o inferno e o mundo que conhecemos através da solução de um enigma para abrir uma caixa mágica, a “configuração dos lamentos”.

O sucesso comercial de “Hellraiser” impulsionou a criação de uma franquia, e apenas um ano depois foi lançada a continuação “Hellbound: Hellraiser II”, dessa vez com direção de Tony Randell e tendo Clive Barker apenas na produção. Bem mais sangrento que o anterior e tendo à disposição mais dinheiro para a criação dos efeitos especiais, agora os cenobitas aparecem mais tempo que o filme original, e quase toda a história é ambientada no inferno com a revelação de vários elementos para uma maior compreensão do universo ficcional de “Hellraiser”.

A história complementa os eventos ocorridos no primeiro filme, com Kirsty Cotton (Ashley Laurence) internada num hospital psiquiátrico, ainda atormentada pela experiência traumática com os cenobitas. O sanatório é dirigido pelo Dr. Philip Channard (Kenneth Cranham), que demonstra um interesse maior pela incrível história de Kirsty, cuja versão não é levada a sério pelo detetive da polícia Ronson (Angus McInnes). O assistente do Dr. Channard, Kyle MacRae (William Hope), acaba descobrindo que seu patrão é um estudioso da “configuração dos lamentos” e que tem como objetivo conhecer o mundo dos cenobitas ajudando Julia (Clare Higgins) a ressuscitar do inferno (visto no filme anterior), cedendo-lhe vítimas humanas para recuperar suas energias. Ele conta também com o auxílio de uma jovem adolescente internada na clínica, Tiffany (Imogen Boorman), que não falava por causa de um trauma envolvendo sua mãe, e que possuía um oportuno dom peculiar para a solução de enigmas com caixas e cubos.

O jovem Kyle decide então ajudar Kirsty a fugir do hospital e tentar resgatar do inferno seu pai que fora capturado pelos cenobitas, percorrendo um perturbador labirinto de corredores estreitos sob o domínio demoníaco de Leviathan. A partir daí, ela passa a enfrentar seus piores pesadelos, entre eles o traiçoeiro tio Frank (Sean Chapman), na forma de uma massa de carne sem pele, e os terríveis cenobitas comandados por Pinhead (Doug Bradley), que tem a cabeça coberta de pregos, além de Chatterer (Nicholas Vince), com seus dentes rangendo sem parar, Butterball (Simon Bamford), obeso e com um óculos cravado no rosto, e Female (Barbie Wilde), a única que também fala e que tem a garganta aberta, com todos eles apresentando cortes profundos no corpo e vestindo roupas de couro.

“Hellbound: Hellraiser II” possui duas diferenças significativas em relação ao filme original. Apresenta muito mais violência e cenas sangrentas, e é bem exagerado na fantasia de sua história, com a maior parte do roteiro sendo ambientada no inferno dos cenobitas. De uma forma geral, é um pouco inferior ao filme de Clive Barker, mas ainda assim bastante divertido, com algumas cenas bem perturbadoras, como a visita do Dr. Channard aos subterrâneos da clínica psiquiátrica, onde seus pacientes estão presos em celas individuais. Um deles em especial tem o insano hábito de mutilar o próprio corpo violentamente pensando estar sendo devorado vivo por vermes. Ou a sequência de transformação do próprio Dr. Channard num horrendo cenobita suspenso pela cabeça por um enorme tentáculo, apresentando uma infinidade de objetos cortantes em suas mãos, e que a toda hora faz comentários irônicos e trocadilhos médicos e cirúrgicos. Ou ainda a cena mostrando vários cadáveres decompostos pendurados por cordas no sótão da casa do Dr. Channard, os quais estavam apodrecendo lentamente em meio às moscas e vermes pestilentos depois de servirem de alimento para Julia recuperar a pele e forma física.

Tanto “Hellbound” quanto o terceiro filme da série, “Inferno na Terra” (92), foram lançados em DVD por aqui com um preço mais acessível em Outubro de 2004, recebendo os nomes “Hellraiser 2 – Renascido do Inferno” e “Hellraiser 3 – Inferno na Terra”. Ambos ocupando os dois lados de um mesmo disco, e trazendo como material extra apenas sinopses curtas e pequenas biografias de alguns dos atores. Aliás, em “Hellbound”, foi cometido um erro grotesco ao colocarem a foto da atriz Ashley Laurence na biografia de Clare Higgins.

Curiosamente, o ator inglês Doug Bradley encarnou o personagem Pinhead em oito filmes da franquia, ficando eternamente associado à imagem do principal cenobita de “Hellraiser”, num caso similar ao de Robert Englund, o homem por trás do psicopata assassino dos sonhos (ou pesadelos) Freddy Krueger na saga “A Hora do Pesadelo”. Já a cenobita Female foi a única das criaturas infernais que mudou de atriz, passando de Grace Kirby em “Hellraiser” para Barbie Wilde em “Hellbound”. E Ashley Laurence somente participou ativamente dos dois primeiros filmes da franquia, tendo depois pequenas e discretas aparições em “Hellraiser III – Inferno na Terra” e “Hellraiser VI – Hellseeker” (2002).

“Nós temos a eternidade para conhecer a sua carne”

– Do sádico Pinhead para a desesperada Kirsty

Hellbound: Hellraiser II (Inglaterra / EUA, 1988). Duração: 97 minutos. Direção de Tony Randel. Roteiro de Peter Atkins, baseado em história de Clive Barker. Produção de Clive Barker, David Barron, Christopher Figg e Christopher Webster. Fotografia de Robin Vidgeon. Música de Christopher Young. Edição de Richard Marden. Direção de Arte de Andy Harris. Efeitos Especiais de Jesse E. Johnson, Bob Keen e Graham Longhurst. Elenco: Clare Higgins (Julia Cotton), Ashley Laurence (Kirsty Cotton), Kenneth Cranham (Dr. Philip Channard / Cenobita Channard), Imogen Boorman (Tiffany), Sean Chapman (Frank Cotton), William Hope (Kyle MacRae), Doug Bradley (Pinhead / Capitão Elliot Spencer), Barbie Wilde (Cenobita Female), Simon Bamford (Cenobita Butterball), Nicholas Vince (Cenobita Chatterer), Oliver Smith (Browning / Frank, sem pele), Angus MacInnes (Detetive Ronson), Deborah Joel (Julia, sem pele), James Tillitt (Oficial Cortez), Bradley Lavelle (Oficial Kucich).

OBS.: Texto escrito originalmente em 2004.

Por: Renato Rosatti.

Editor do fanzine de horror “Juvenatrix”, publicado desde 1991. Colaborador com textos sobre cinema de horror e ficção científica nos sites “Boca do Inferno” e “Gore Boulevard”.

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