Quando falamos de resistência e perseverança em prol de um estilo, podemos citar a banda HellLight. Seguindo o caminho do Doom Metal, apresentando o estilo feito no Brasil ao mundo e batalhando sempre para que todos possam ouvir, conhecer e entender suas nuances, a banda já registra seu nome entre os destaques na cena nacional. Em parceria com o amigo Robson de Medeiros (Lugubres, In Lacrimae, Tristis Symphoniam, Blestemul Music Productions), outro grande divulgador do Doom Metal nacional, conversamos com Fábio de Paula que nos falou um pouco sobre o passado, presente e futuro da banda. Confiram!
Robson: A HellLight anunciou na redes sociais seu novo álbum com lançamento previsto para maio. O que podemos esperar desse novo trabalho?
Olá Robson, obrigado pela oportunidade… apesar de esse novo álbum ser uma continuação direta do álbum anterior, nós, a cada novo lançamento tentamos trazer novos elementos às composições e incorporamos algumas novas sonoridades. Esse álbum traz, em algumas faixas, uma sonoridade nova e diferente do que estamos acostumados a fazer… ele contém por exemplo, uma faixa somente de piano e voz, além de uma faixa muito emocionante com a participação da Heike Langhans (ex- Draconian, Soujorner, Remina). Resumindo, é um álbum bastante especial para nós!
Giovan: “Echoes of Eons”, single do novo álbum foi lançado recentemente, apresentando-nos o que está por vir. Fale sobre essa faixa, o lyric video e sua temática.
Esse novo single, “Echoes of Eons ” foi escolhido para lyric video pois ele, de alguma forma resume o conteúdo artístico do album… é uma musica forte, com elementos e passagens bastante melódicas e ainda assim com refrãos muito marcantes. a letra lida com a idéia da passagem de tempo, finitude e as marcas que deixamos durante a vida; dos arrependimentos e tristezas que carregamos conosco. Acredito que o artista Guilherme Wolff conseguiu traduzir perfeitamente as emoções da musica em imagens e animações… ele consegue captar a essência da música de uma forma muito particular e o resultado é sempre impressionante.
Robson: Nossa, fiquei ainda mais ansioso para ouvir na integra. Além dessas novidades percebi que vocês estão com um selo novo para a distribuição na Europa. Me fale um pouco disso quanto as expectativas junto a essa nova parceria.
Sim, assinamos com a Meuse Music Records da Bélgica. Eles são uma gravadora especializada em Doom metal e fazem um trabalho muito competente, tanto na distribuição quanto no tratamento com as bandas. Sinto que chegamos numa fase muito boa da história da banda com essa parceria. Ainda precisamos lembrar que no Brasil estamos com um combinado entre a Mutilation Records e a Cold Art industry, que juntas fazem um trabalho incrível por aqui…temos muita sorte de trabalhar com pessoas tão competentes e íntegras.
Robson: De fato, tanto o Tulula quanto o Douglas são pessoas que se dedicam muito ao underground. Falemos de shows. O Hellight também tem um show marcado aqui em São Paulo com a banda espanhola Evadne. Me fale um pouco sobre esse evento. O que podemos esperar?
Essa será uma noite muito especial…nós conhecemos o pessoal do Evadne na Bélgica, quando participamos do evento “Haunting the castle” como headliners.Fizemos uma otima amizade e assim que eles anunciaram que viriam para a América Latina, nos oferecemos para fazer um evento juntos. Eles são uma banda incrível, o show deles é fantastico e os fãs brasileiros irão adorar com certeza!
Robson: Como você avalia a cena Doom Metal no Brasil, em especial em São Paulo?
Infelizmente tenho a impressão de que a cena Doom no Brasil já foi mais ativa, especialmente em São Paulo, atualmente percebo um número menor de eventos incluindo bandas de Doom, o que é uma pena quando se leva em conta a qualidade das bandas nacionais. Nós seguimos com os shows, ainda que não sejam muitos (fazemos uma média de 6 shows por ano) fazemos questão de nos apresentar ao vivo. Somos uma banda feita para eventos ao vivo, gostamos de tocar e pretendemos fazer isso até o final. Vamos torcer para que mais produtores se animem a fazer eventos com bandas de Doom, e que as bandas se esforcem para ter cada vez mais qualidade.
Giovan: Quando você fala de eventos, acredito que não seja só aqueles menores com 3 ou 4 bandas, e sim, eventos de abrangência nacional com bandas gringas. Você acha que falta também apoio de produtores maiores ou será que o público Doom Metal não colabora indo aos eventos, chamando atenção desses produtores, mostrando que o estilo pode também trazer retorno financeiro, e não só bandas de Black, Death e Thrash Metal ?
Não vejo nenhuma intenção de produtores de grandes eventos em incluir bandas de Doom Metal nacionais nos casts, isso acaba formando um ciclo vicioso muito prejudicial em que o público passa a não conhecer as bandas de doom brasileiras pela ausência nos fests e, por sua vez não prestigiam os shows individuais, que faz com que as bandas não alcancem o público necessário para participar dos fests… infelizmente o doom é um estilo que tem que correr sozinho, sem contar com o “apoio” do mainstream, com seus pequenos festivais e crescimento bem mais lento que o normal.
Giovan: O HellLight foi formada em 1996. Quak a principal diferença de fazer Doom Metal na década de 90 e nos dias atuais? O que mudou no estilo durante esses anos?
Quando começamos, a impressão que eu tinha era que a grande maioria do público não conhecia o estilo.. era muito comum escutarmos “ Por que vocês não tocam mais rápido?” ...isso foi mudando com o tempo, conforme as bandas de fora iam tendo mais projeção o estilo foi ficando mais conhecido por aqui.. gosto de acreditar que o HellLight (juntamente de outras bandas de doom contemporâneas) teve uma participação importante na divulgação do estilo, embora ainda seja o estilo de metal menos popular no planeta.
Giovan: Há possibilidade de citar algo mais marcante no estilo nessas três décadas ? O que de melhor aconteceu e o que de pior?
Certamente o que houve de melhor foi o reconhecimento que a banda conseguiu durante todos os anos.. não foi fácil e sei que ainda temos muito a percorrer, mas nos traz uma satisfação muito grande quando vemos onde chegamos, recebemos mensagens de fãs do mundo todo e é muito importante pra nós termos a sensação de estarmos representando o metal underground brasileiro ..fazemos o nosso melhor e espero estar no caminho certo… o que houve de pior (dentre muitos e muitos momentos difíceis ) é, na minha opinião a forma como já fomos tratados pelos produtores durante algumas aberturas de shows de brandas gringas…não foram todas, mas foram o suficiente para que não termos mais a intenção de fazermos nenhuma delas.. hoje tenho total convicção de que é muito, mas muito melhor para a banda (e para o doom metal brasileiro) que façamos os eventos independentes, com 150 pessoas que realmente gostam do estilo e da banda à fazer uma abertura de show para uma banda com um público de milhares de pessoas que no final das contas, não dá a mínima para o estilo.. o público que curte Doom metal de verdade não é muito grande, mas é o público mais fiel que existe…são os melhores, sem dúvida.
Robson: Excelente. Queria agradecer você por ter dedicado esse tempo para esse bate papo. Deixe uma mensagem final para nossos leitores.
Sou eu que agradeço pela oportunidade! voce faz um grande trabalho divulgando (e produzindo) Doom de qualidade no nosso país e isso é de extrema importância à todos nós…espero podermos contribuir cada vez mais com a cena local …e em breve nos encontramos nos palcos! doom on!
Confiram abaixo o vídeo de “Echoes of Eon”, bem como, “As Daylight Fades” (participação de Heike Langhans, ex- Draconian), lançada em 12 de abril, após essa entrevista: