HELLRAISER III: INFERNO NA TERRA – FILME

1993 – Terror/Slasher ‧ 1h 33m

Cinema

“O sofrimento de estranhos. A agonia dos amigos. Há uma música secreta no centro do mundo. Seu som é como o de uma lâmina atravessando a carne.”

– Pinhead, durante o massacre no bar “The Boiler Room”

“Pinhead”, o líder dos cenobitas, criaturas infernais que habitam uma dimensão paralela onde a dor, o sofrimento e os prazeres da carne são eternamente celebrados, está de volta para recuperar o seu poder e instaurar o Inferno na Terra no terceiro filme da franquia “Hellraiser”, iniciada em 1987 pelo clássico homônimo do moderno cinema de horror, através da mente genial do escritor Clive Barker. Pois, conforme diz uma das taglines oficiais de divulgação, “O que começou no Inferno, terminará na Terra”.

Em “Hellraiser III – Inferno na Terra” (Hellraiser III – Hell on Earth), dirigido por Anthony Hickox em 1992, Pinhead (Doug Bradley) está preso numa escultura macabra comprada em um antiquário por um jovem empresário da noite, J. P. Monroe (Kevin Bernhardt), que guarda a obra bizarra em seu bar noturno, “The Boiler Room”. Quando num acidente um pouco de sangue espirra na escultura, Pinhead inicia seu processo de libertação e vem à Terra para alimentar-se dos prazeres da carne, começando por um massacre sangrento dos frequentadores da boate, justificando no melhor estilo um de seus lemas, “Apetite saciado, desejo satisfeito”.

Enquanto isso, uma jovem repórter decadente em busca de uma boa matéria jornalística para levantar sua carreira em crise, Joey Summerskill (Terry Farrell, a Tenente Comandante Jadzia Dax da série de TV “Star Trek: Deep Space Nine”), presencia uma cena bizarra num hospital, onde um homem tem sua cabeça explodida e vários ganchos e correntes cravados em seu corpo. Ela decide então investigar a ocorrência, com a ajuda do fotógrafo Daniel Fisher (Ken Carpenter), apelidado de “Doc”, e entra em contato com Terri (Paula Marshall), ex-namorada do dono do clube noturno, que lhe fornece informações importantes sobre o caso, como uma série de materiais pertencentes anteriormente à Clínica Psiquiátrica Channard (de “Hellbound”), com desenhos de caixas mágicas que permitem uma passagem para o inferno, e fotos de Kirsty Cotton (Ashley Laurence), além de um depoimento dela gravado em vídeo, onde revela a existência dos cenobitas e o perigo que eles representam para a humanidade.

Joey tem constantes pesadelos onde ela aparece num campo de batalha nas selvas do Vietnã, e vê seu pai sendo morto pelo fogo inimigo, além de visões perturbadoras onde se encontra numa espécie de limbo, uma região entre o paraíso e o inferno, andando sobre os escombros e cadáveres em decomposição de soldados abatidos na guerra, entrando em contato com um misterioso homem, Capitão Elliot Spencer (Doug Bradley), que pede sua ajuda num confronto com Pinhead.

A partir daí, Joey passa a enfrentar a fúria de novos cenobitas, criados para aumentar a legião de Pinhead, tentando desvendar os segredos da “configuração dos lamentos”, e travando uma luta incansável para evitar que o Inferno venha definitivamente à Terra.

Eu tive o privilégio de assistir “Hellraiser III – Inferno na Terra” nos cinemas em 1992, um fato significativo uma vez que todos os outros filmes da série não foram exibidos na tela grande, sendo lançados diretamente no mercado de vídeo VHS e DVD. Nesse terceiro filme da saga dos cenobitas, existem várias similaridades e relações com elementos do filme anterior, “Hellbound – Hellraiser II”, filmado quatro anos antes por Tony Randel, inclusive na intensidade de violência, onde temos desde cabeças estouradas (no melhor estilo de “Scanners – Sua Mente Pode Destruir”), passando por peles arrancadas, vísceras extraídas, até ganchos afiados e correntes pesadas rasgando e mutilando a carne, espalhando sangue para todos os lados.

Entre as curiosidades interessantes de “Hellraiser III”, em uma tomada noturna rápida da cidade de New York, podemos ver as imponentes torres gêmeas do World Trade Center, sendo que ninguém imaginaria que seriam alvos de um ataque terrorista quase dez anos depois que causou suas quedas e a morte para milhares de pessoas. Tem também uma cena onde o fotógrafo Daniel Fisher, que tem um destino cruel ao se transformar num cenobita com uma câmera de vídeo no lugar de um dos olhos, está dormindo quando é interrompido no meio da noite por um telefonema da repórter Joey Summerskill, que lhe pede ajuda para investigar um massacre de jovens ocorrido momentos antes num clube noturno. Ela pede a ele para ligar a televisão e procurar pelo noticiário, e quando o fotógrafo pega o controle remoto e passa aleatoriamente pelos canais, aparece uma imagem super-rápida do próprio diretor do filme, Anthony Hickox. Aliás, o cineasta, assim como o produtor Lawrence Mortorff, o roteirista Peter Atkins e o editor James D. R. Hickox aparecem em pontas no filme. Outro detalhe interessante é a presença da banda de Heavy Metal “Armored Saint”, interpretando a si mesma num show no mesmo clube noturno do massacre, com a música “Hanging Judge”. Uma das músicas que faz parte da trilha sonora é chamada de “Hellraiser”, escrita por Ozzy Osbourne e Lemmy Kilmister, e tocada pela lendária banda de metal “Motorhead”.

“Hellraiser III” é bastante intenso em violência, apresentando cinco novos cenobitas depois que os anteriores Chatterer, Butterball e Female foram destruídos no filme anterior. As novas criaturas infernais são três homens, um com vários CD´s cravados na cabeça, outro com um câmera de vídeo servindo de olho, e o último com um aparelho mecânico em constante movimento no interior do cérebro, além de duas mulheres, sendo uma com arames farpados cobrindo-lhe o rosto e que solta fogo pela boca como se fosse um daqueles dragões mitológicos, e outra com um cigarro aceso pendurado por uma abertura exposta na garganta.

Uma cena em especial é digna de registro por sua extrema ousadia. Ambientada no interior de uma igreja católica, a sequência é bastante ofensiva aos princípios religiosos cristãos, com Pinhead derretendo um crucifixo na mão de um padre (Clayton Hill), e simulando a sua própria crucificação retirando pregos da cabeça e cravando-os nas palmas das mãos, vociferando com a voz gutural e em tom de deboche: “Eu sou o caminho!”.

Aliás, nesse mesmo momento, existe ainda um diálogo hilariante entre a repórter Joey e o padre.

Ela grita em desespero: “Eles continuam vindo! Os demônios!

E vem a resposta calma do padre: “Demônios não são reais, são apenas metáforas, parábolas…”.

A repórter então retruca em tom de ironia: “Então que porra é aquela?”, apontando para a entrada da igreja, onde aparece na porta, de forma imponente e ameaçadora, a figura de Pinhead.

“Não existe o Bem nem o Mal. Existe só a carne” – Pinhead

Hellraiser III – Inferno na Terra (Hellraiser III – Hell on Earth, Inglaterra / EUA, 1992). Dimension. Duração: 92 minutos.

Direção de Anthony Hickox. Roteiro de Peter Atkins, baseado em sua história em parceria com Tony Randell, inspirados em personagens criados por Clive Barker. Produção de Christopher Figg e Lawrence Mortorff. Produção Executiva de Clive Barker. Fotografia de Gerry Lively. Música de Randy Miller. Edição de Christopher Cibelli e James D. R. Hickox. Direção de Arte de Tim Eckel. Desenho de Produção de Steve Hardie. Elenco: Doug Bradley (Pinhead / Capitão Elliot Spencer), Kevin Bernhardt (J. P. Monroe), Terry Farrell (Joey Summerskill), Ken Carpenter (Daniel Fisher / Cenobita Camerahead), Paula Marshall (Terri), Ashley Laurence (Kirsty Cotton), Brent Bolthouse (Blake Regan / Cenobita CD the DJ), Peter Atkins, Sharon Hill, Lawrence Mortorff, James D. R. Hickox,  Peter G. Boynton, Robert C. Treveiler, Chris Frederick, Lawrence Kuppin, Clayton Hill.

OBS.: Texto escrito originalmente em 2004.

Por: Renato Rosatti.

Editor do fanzine de horror “Juvenatrix”, publicado desde 1991. Colaborador com textos sobre cinema de horror e ficção científica nos sites “Boca do Inferno” e “Gore Boulevard”.

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