Aqueles três enormes sóis castigam nossos corpos já em combustão, deitados na areia preta. Aqui não existe amanhecer porque não existe poente. Aquelas gigantescas bolas de gás são eternas… Estáticas.
A luz que emanam é cegante. É difícil inclusive observar o horizonte sem se ofuscar, onde se fundem o céu vermelho e o mar de lava fervente. Estamos em chamas. Sentimos o ardor a cada respiração, mas já estamos aqui desde o início dos tempos… Não nos decompomos de uma vez e eu desconheço a razão disso. Nós apenas vagamos… Às vezes nos deitamos. Observamos e sangramos. Não conversamos visto que não há o que ser dito. Estamos sofrendo com o calor infinito. Dor para sempre.
Ardência… Nossa carne se recompõe de tempos em tempos para queimar e se desfazer até que viremos esqueletos novamente. Esta é a praia da desgraça, onde névoa espessa sequer nos deixa respirar, e o cheiro forte exalado da crosta machuca os olhos e nauseia. Nós aspiramos até mesmo quando não possuímos narinas e vemos inclusive quando não temos olhos.
Somos muitos. Estamos esquecidos neste limbo calorento milênios a fio sem sequer escutar uma voz, seja de consolo ou de opressão. O silêncio apenas é quebrado pelo som preguiçoso de nossa carne ao fogo e o lento estourar das bolhas do magma em ebulição. Pisamos em areia negra e brasa. Nossos pés atolam pelas poças de metal derretido e cada passo é um imenso fardo seguido de um gemido cansado. Descansamos deitados por entre os gêiseres que emanam da terra o gás sufocante que se fragmenta no ar, formando uma espessa camada de fumaça escura que se assemelha a monóxido de carbono.
Vago por este local de dor e esquecimento há tanto tempo que sequer me lembro, sempre à procura de uma porta… Uma saída… Uma bênção. Mas o que encontro diariamente em minha jornada é a mesma paisagem. Sigo sempre em linha reta. A praia não faz contornos e não estou andando em círculos. Este local arde no fogo. Madeira já não existe, pois se transmudara em carvão e este em brasa fumegante.
Seria este o eterno castigo bíblico? A morada de Satanás? Não… Este não é o inferno e demônio algum aqui habita dado que o cristianismo não passa de uma farsa. Este lugar existe porque sinto e causa uma dor tão tremenda que apesar de tanto tempo nenhum de nós se acostumou. Muitas faces sem nenhum sorriso. Apenas feições de dor e questionamento. Interrogações e dúvidas… Ódio. Raiva. Ira completa e total sobre nosso esquecimento por Deus e o Filho. Somos nós, as silhuetas da noite umbralina, que queimamos desde sempre, para sempre.
Por: Infragalaxia