HORROR TALES – Conto XVII: PROJETO GENOX21

Por Rodrigo Leonardi

Horror Tales

Uma semana antes:

Alguns noticiários avisam sobre um vírus que dizimaria os seres humanos. Muitos governantes não levaram a sério, banalizando as notícias e taxando como matérias sensacionalistas a fim de ganhar ibope.

Começou no oriente, devido a um desastroso descuido de alguns cientistas em um laboratório. Pequenos tabloides, avisavam também de uma nave não identificada sobre o oceano pacifico, em alto mar, poucos metros sobre a água. Ninguém dá importância às notícias. Todos apenas acreditam em um guru que lhes acalma com palavras religiosas. Alguns videntes no passado já avisaram sobre essas coisas, mas, como eles não creem na divindade que o guru acredita, foi dado como falso, charlatões.

Passam-se os dias e as notícias apenas aumentam sobre um risco iminente contra a humanidade. Um vírus mortal, alienígenas estão planejando tomar o planeta.

Novamente, líderes de estado e poderosos líderes religiosos balbuciam erroneamente e sarcasticamente sobre essas notícias e previsões.

– Não temam! Esses veículos são obras do demônio para desestruturar uma sociedade. – disse um dos líderes.

Dois dias antes do contágio:

A força aérea da maior nação do mundo envia tropas aéreas para o local onde uma nave alienígena estaria atracada.

Seguindo as coordenadas de um dos jornais, avistam de longe a nave. Gigante, assim por olho, chegam à conclusão que o tamanho estimado é do tamanho de dez campos de futebol. Descomunal.

Arredondada, e com luzes lembrando neon na parte inferior do casco, brilhava tanto a ponto de um olhar direto, cegá-los.

Com um certo arrependimento em não ter ido vasculhar tal notícia antes, o capitão, com um olhar incrédulo, liga para a central de inteligência avisando sobre o que estava vendo.

A agência comunica uma ordem de manter isso ultra confidencial. O capitão entende as ordens. Sobrevoam durante horas em volta da nave, não muito perto, com cautela, não sabendo o que poderia acontecer. A nave não parece ter tripulação. Sem janelas, apenas as luzes neon, brilhando, mesmo de dia, enxergava-se muito forte elas.

Mas nenhum movimento podia se observar lá de dentro.

No dia do contágio.

Meia noite. Alguns fãs da teoria da conspiração estavam preparados para o fatídico dia. Com máscaras de gás, e suprimentos nos porões de suas casas. A maioria estava na rua, nem sequer ligando para isso, como era um fim de semana, os bares e lanchonetes, danceterias estavam lotados de pessoas. Até alguns memes já circulavam na internet, nas redes sociais, ironizando todas as notícias e glorificando alguns líderes que esnobaram toda essa conversa.

Eu estava com a galera que acreditava nas notícias.

Ansioso, liguei a tevê, esperando algo. Esperando alguma notícia.

Meia noite e três.

A transmissão da tevê é cortada. Tela fica azul por alguns minutos.

O frio na barriga, o embrulho no estômago e o nó na garganta me acertaram em cheio naquele momento.

“É tudo verdade” pensara eu.

Uma mistura de medo e curiosidade paira sobre mim.

A programação volta.

Mas o que vi na tevê não foi nenhum líder religioso ou político se desculpando, ou mesmo algum humano dando um pronunciamento.

Era um humanóide, por assim dizer. Alta estatura, cor esverdeada, grandes olhos sem pálpebras. Apenas criando uma forma de grunhido comparado com nada que já tenha ouvido.

Era um extraterrestre. Definitivamente era.

De repente fico hipnotizado com a tevê. Entro em transe e começo a entender tudo que o extraterrestre fala.

“Em certa parte do mundo, um vírus já está matando os humanos. Não há para onde correr. Máscaras de gás, de nada adiantarão. Ele se manifesta em todos os cinco sentidos do corpo humano, pelo toque, pelo ar (cheiro), pelo barulho (audição), pela visão e por via oral. Não adianta se esconder, por onde ele passar, ele destruirá tudo e todos. Nós somos a única chance de resgatar alguns de vocês.” – alertou o extraterrestre.

01h A.M

Objetos voadores não identificados estão cobrindo os céus de todo o planeta, segundo a fonte de inteligência, os objetos saíram da grande nave que paira no oceano. Será o nosso fim. – Alerta um comunicado do telejornal.

02h A.M

Sem saber o que fazer, fico na porta de minha casa vendo tudo aquilo, já sem esperança de viver.

Ouço todo tipo de barulhos, são distantes, som de vidros se quebrando, alarmes de carros, uma gritaria, era como se todos ao mesmo tempo gritassem, fazendo com que, o barulho se estendesse por quilômetros. Uma histeria coletiva se instala em meu bairro. Famílias pegando o que podem e entrando em seus carros às pressas tentando se enganar, se refugiar, sem ao mesmo saber para onde ir.

Penso na minha vida pacata, penso em tudo que deixara de fazer, em tudo que não pude ou não me importei sobre a vida. Penso naquela linda jovem que poderia ter namorado, em todas as viagens que não quis me arriscar.

A única salvação que consigo imaginar era que um desses seres extraterrestres me salvasse daquele caos. Mas mesmo assim, se ele me salvasse, onde viveria? Talvez viveria na escassez do que sobraria do nosso planeta. Talvez em outro planeta.

4h A.M

As horas vão passando e continuava observando as pessoas em um modo automático empacotando coisas aleatórias e fugindo, entro numa paranoia que talvez eu devesse estar fazendo o mesmo, me pego questionando o porquê de eu não me importar com o que está por vir… talvez tenha a ver com o modo que eu enxergo o mundo hoje em dia, inconscientemente eu me sentia preparado para esse momento, estava alerta, mas me sentia seguro.

Restam apenas algumas famílias dentro de suas casas apavoradas, algumas senhoras passam pela minha calçada e consigo escutar um tipo de cântico religioso, elas pareciam estar de mãos dadas e segurando uma estatueta

    “Vem de a nós ó senhor, perdoe-vos pela nossa ignorância, somos fiéis a ti, estende seu manto sagrado e prepare nosso caminho…”

Pelo jeito não era o único a aceitar o destino que estava posto diante de todos, as senhorinhas estavam apenas aguardando suas horas finais.

Na tevê apenas uma gravação com um âncora na bancada repetindo as mesmas informações a cada trinta minutos.

5h48m A.M

A ansiedade e a adrenalina não me deixaram pregar o olho, continuo no sofá esperando por novas notícias, a internet estava fora do ar desde o início da madrugada, redes de telefonia, nada funcionava. A tevê era o único refúgio da massa.

Já estava quase amanhecendo, os postes começavam a desligar suas luzes quando de repente um clarão e em seguida uma onda de choque que estraçalhou todas as vidraças e arrebentou as portas. Caio no chão, atordoado, som de alarmes disparados ao redor, por todo o bairro… me levanto ainda com dificuldade.

Lá estava aquele ser novamente na tevê, havia agora mais deles ao seu redor, fico assistindo até conseguir entender o pronunciamento:

– Aqueles que sobreviveram à varredura total serão resgatados, repetindo, aqueles que sobreviveram, não se escondam, é inútil, apenas fiquem onde estão e iremos até vocês. Daremos mais informações após o resgate.

Parecia um sonho, surreal, inexplicável… Eu estava fisicamente bem, não sofri sequer um ferimento. Esperei, afinal era o que restava naquele momento.

Chegam alguns humanóides paramentados, a porta já estava arrombada, me pegam pelos braços e me colocam num veículo junto a outras pessoas, todas sem entender, algumas chorando, uma situação ímpar.

Percebo que estamos indo para a estrada em direção ao mar. Uma tela no fundo do veículo liga e um deles começa a dar explicações ao vivo.

– Vocês fazem parte de um projeto secreto desenvolvido nos anos 80 entre o seu governo e nosso povo, o projeto GENOX 21 não se preocupem, as estatísticas e os testes que realizamos em laboratório em microescala tiveram bons resultados. Vocês não são cobaias, se é isso que estão pensando agora… considerem-se os salvadores de seu povo, vocês serão a primeira raça híbrida introduzida em nosso planeta. Animem-se o melhor está por vir.

Olhares de desaprovação, negação, mais gritos… Eu não via a hora de sair daquele veículo… Nesse meio tempo comecei a aceitar o meu destino, qualquer lugar que fosse estaria melhor do que estava até agora… Meu desapego geral com a vida tornou mais fácil de engolir aquele contexto bizarro ao qual fui lançado.

07:35h A.M

Embarcamos.

(Publicado originalmente na Antologia, Extinção Contos, pelo Coletivo de Escritores Fantásticos e Malditos Maldohorror. Organizador da antologia: Todos os escritores participantes. 2022).

Rodrigo Leonardi.

Escritor, músico e entusiasta do cinema.

Como escritor, tenho 5 livros publicados, participação em diversas antologias.

Como músico, fui baixista e vocalista da banda Abuso Verbal e atualmente vocalista da banda de Metal Punk “Roto”.

No cinema, já escrevi críticas para o site Cineset, diversos fanzines como, Sindicato dos Assassinos e também divulgo análises no feed do meu instagram.

@rodrigoal81/