HORROR TALES – Conto XX: A LENDA DA ILHA DE ASTAROTH – Capítulo 1: A Ideia, a Obsessão e a Viagem

Por Alexandre Chakal

Horror Tales

Em uma parte da baía de Ilha Grande, localizada na região da Costa Verde Carioca, existe uma ilha oculta por uma névoa obscura e tempestades constantes. No entorno da ilha, avistam-se grandes rochas que dificultam a navegação e assustam pescadores. Além disso, o oceano que cerca o local tem águas escuras e densas, onde habitam cardumes de tubarões de espécies jamais vistas. Nessa ilha, conhecida pelos habitantes vizinhos como Ilha de Astaroth, dizem que, apesar de ser batizada com o nome de um demônio, é certo que se trata de uma lenda. Rumores apontam para habitantes sombrios, com hábitos primitivos e sedentos de sangue. Canibais! Em pleno Rio de Janeiro, após o ano 2000. Canibais? Os pescadores, habitantes de Angra dos Reis e outras partes do arquipélago, têm fé que se trata apenas de uma lenda, talvez criada por pescadores ambiciosos em busca de grandes cardumes e desejando exclusividade na pesca. Mas, mesmo assim, acreditam e não arriscam se adentrar no mar além da sombria névoa. O fato de embarcações e turistas desavisados terem desaparecido após tentar explorar o oceano além da tal névoa reforça o medo de todos e torna a lenda urbana um alerta muito real. No entanto, isso só aparece nas conversas quando alguém procura por essa lenda e prontamente é desencorajado.

O desaparecimento mais recente na região foi de uma bióloga chamada Marta, que estava reunindo informações para seu mestrado em biologia marinha. Ela foi para a região, alugou uma lancha pequena e, apesar dos alertas, seguiu viagem além da névoa. A lancha e sua tripulante jamais voltaram.

Já na capital, na vastidão tumultuada da vida urbana, destinos estavam prestes a se entrelaçar em um emaranhado de desejos obscuros recheados de segredos sombrios. Clara, uma professora trintona do ensino fundamental, carregava o peso de um casamento desgastado com Mario, um biólogo aposentado e depressivo. Em uma busca desesperada de reacender a chama do amor já quase extinto na relação, Clara e Mario pensavam em passar as férias em uma pousada na paradisíaca Angra dos Reis. Pensaram na famosa Ilha Grande, mas Mario, com suas ideias de biólogo, havia escutado rumores sobre a misteriosa Ilha de Astaroth e convenceu Clara de que seria uma aventura interessante, pois a ilha não passava de uma lenda. Mas, se houvesse uma ilha deserta, seria o local ideal para viverem um flashback do amor. Clara concorda com Mario e iniciam os planos sem imaginar que encontrarão algo que colocará qualquer amor à prova.

No centro do Rio, Clarice, uma jovem linda e bronzeada, apaixonada por malhação, academia, praia, trilhas e aventuras com a natureza, e que eventualmente era a amante do depressivo Mario, encontra os amigos Denis e Juca, dois jovens enredados em pequenos crimes, amantes de aventuras e trilhas também, maconheiros e aficionados por magias proibidas. Os três se conheceram nas portas da UERJ em um sarau de poesia marginal e combinaram se encontrar para pegar uma praia no final de semana seguinte. O dia combinado era esse. Foram para Copacabana e, no famoso posto 8, após algumas cervejas e uns baseados que Juca plantava em sua estufa artesanal, devidamente escondida no quarto de empregada da casa de sua avó, conversaram sobre lendas urbanas. Juca jurava que a Ilha de Astaroth era real, mas Clarice e Denis debochavam dele, dizendo que estava chapado. Juca então apostou com os dois que podia provar, bastava eles aceitarem ir no final de semana para Angra, que de lá ele tinha um amigo mergulhador que poderia levar eles até a lendária ilha.

Clarice, Juca e Denis formavam um trio inusitado, mas com sede de aventuras e conversas que combinavam. Acertaram os detalhes, o que levar, data e hora para se encontrar. Coincidentemente, no mesmo dia que o casal Mario e Clara estavam com suas reservas na pousada agendadas.

No entanto, o destino reservava mais do que simples traições conjugais ou combinados de amigos aventureiros curtindo uma praia e fumando um beck.

Lendas nem sempre são lendas. Mas sempre são eternas.

**Continua…**

Alexandre Chakal é carioca, pai, publicitário, designer, músico, escritor, poeta, locutor, zineiro e editor do blog Metal Reunion Zine há mais de 15 anos.

Aqui, Alexandre Chakal se arrisca pela terceira vez construindo um conto de horror distópico, mesclando ambientes urbanos e lugares fictícios. O conto será dividido em três capítulos. Aguarde o capítulo 2 – A Ilha.