HORROR TALES – Conto XII: Lindíssima Putrefação da Carne e da Alma

Horror Tales

Havia algo de errado naquela manhã… Era uma manhã de sol e o orvalho cobria as folhas, verdes como esmeraldas. A primavera brotava violentamente em vida e esperança, mas havia algo incorreto. Não havia ninguém além de nós dois. Nossa casa é a única neste vasto e exuberante bosque. O riacho corria lento e transparente como sempre, mas algo não se encaixava. O céu estava claro e existiam nuvens branquíssimas espaçadas ao horizonte, e ao centro, o sol brilhava em amarelo. O dia começava belo como qualquer outro, mas meu coração estava apertado. O vento soprava leve, curvando a grama e sussurrando em meus ouvidos que aquela seria a última vez.

Foi a última e a primeira. A última em que te vi saindo pela porta e a primeira de tantas que sequer lembro que chorei e rezei com toda a fé para que voltasse. Ainda sonho com o dia em que virá pela trilha de terra, e estarei a te esperar com lágrimas de saudade e amor. Ainda acordo à noite com um ruído, sempre na esperança de ser você a voltar para mim. Nestas noites sozinhas ainda aguardo até o sono tornar-se insuportável na sacada de nossa casa. Ainda vejo você. Seria o seu espírito? O seu fantasma? Uma ilusão criada pela imensa vontade que tenho de lhe ver novamente? De te amar…

Tenho plena ciência da magnitude destes sentimentos que tanto me afligem. São sinceros e de ampla proporção. São da necessidade do corpo e da vontade da alma. Estes sentimentos são muito dolorosos, mas admiráveis. São frutos de esperança e de conformidade ao mesmo tempo. É a belíssima putrefação de minha carne exausta e a tortura completa e total de minha alma. Meu corpo está cansado. Minha mente nunca mais se ocupou com outra coisa. Você é o maior de tantos amores gravados em meu espírito, mas é também o chicote que assola e amedronta. A agonia. O medo e o choro. Amargura. A angústia e a melancolia que o vento trás quando bate forte no final de tarde, trazendo as nuvens escuras e tapando os últimos raios de sol, como agora, escondendo de uma só vez o dia, e apenas abrindo novamente pela minha gigantesca vontade de contemplar a lua e os caminhos do céu sob a luz do luar… Identificar maravilhada o mistério das constelações, mas sempre negando que tenha se transformado em uma gota no imenso mar de estrelas.

O dia está a acabar. Mas o círculo continuará eternamente até o teu regresso ou a minha morte. Amanhã o dia vai raiar lindo como aquele em que tu partiste e novamente me ajoelharei. Novamente rogarei em desespero com a fé católica. Suplicarei para que volte. Talvez seja amanhã o fim da minha espera. Talvez.

Por: Infragalaxia