Infernal XI – somos um inferno atrás do outro inexoravelmente profundo!

"Se você não é a musica que toca e canta desista você é apenas uma repetição de outras coisas!"

Entrevista

Eis aqui uma das bandas mais fechadas da cena nacional, obviamente que estou levando em consideração minha percepção sobre os mesmo, apesar dos seus integrantes declararem que esse “hermetismo” é relativo, considero a Infernal XI uma das chamas mais ardentes do que poderiamos preservar na senda da via negativa em que o Metal Negro no passado já ensejou, ainda que em muitos casos houvesse uma coreografia marcada e propositalmente planejada, havia algo de “puro” em toda aquela atitude que consigo enxergar no caminho e no discurso dos asseclas da Infernal XI. É sob essa marca que buscamos por esse depoimento em nossas páginas para conhecer um pouco mais da filosofia que permeia essa trilha tomada por esta entidade e como seus pensamentos são difundidos, muito esclarecedora, por sinal, principalmente no que diz respeito a certos rumores e ataques ocorridos há algum tempo atrás.

  1. Saudações meus nobres, é com muita satisfação que vos trago as páginas sangrentas deste pergaminho sob a nomenclatura Lucifer Rex. Vou pedir que inicie nos apresentando esta entidade maligna, aproveitando o ensejo para você nos contar como se deu a mudança do nome de Infernal Inquisition para Infernal XI?

Infernal XI surge com o nome de Infernal Inquisition na cidade de Campina Grande na Paraíba. A ideia sempre foi não ser “igual”, mas seria redundante dizer isso porque me parece que existem um milhão de bordões repetitivos sobre “fazer a diferença” no mundo do metal de forma geral e no Black Metal isso ainda é mais forte, falsas ideias de superioridade que não refletem a realidade sobre a vida das pessoas. Superioridade em relação a que? Tocar um instrumento musical, falar que não é cristão por que não vai à igreja, mas está impregnado de valores e da moral cristã ou por que sua musica tem mais visualizações no spotify?

Para ser superior, diferente, ou seja lá o que for que muitas pessoas no black metal querem dizer que são, é preciso em primeira instancia ter controle sobre a sua vida, é preciso ter discernimento sobre o que e quem você é ante o mundo e não viver como um alienado entre em uma disputas de bandas ou de quem compra mais materiais ou estar em mais shows, isso pra mim é completamente insignificante hoje.

Buscamos ao longo do tempo nos desenvolver, em termos de ideias o que fazia com que as musicas e a expressão musical e visual da horda de modificasse também, acompanhando em certa medida tudo que era realizado no C.H.P.V

Em dado momento eu particularmente já me sentia exausto de toda miséria intelectual e espiritual de muita coisa que estava ao meu redor na chamada “cena”. Sempre tive uma postura considera radical, mas acho mais interessante dizer que sempre o Infernal Inquisition sempre foi muito expressivo, pois a palavra radical também foi enlameada por uma dúzia de débeis vestidos de preto. Assim, a mudança do nome significava colocar no fogo em uma identidade, fazer com que ela se tornasse ainda mais visceral e particular, todas as pessoas nos conheciam e nos seguiam de certo modo como INFERNAL INQUISITION, mas não somos uma banda, não somos pessoas ou um nome, somos como o fogo em forma de musica, somos um espirito que queima e quem nos tocar ira se queimar, quem desejar pode jogar suas oferendas e sacrifícios, não precisamos de uma identidade ou forma. Assim 11 vezes descemos ao Infra-mundo, assim traduzimos 11 letras em um numero e assim somos um inferno atrás do outro inexoravelmente profundo!

  1. Vocês possuem uma passagem obscura, no sentido de poucas aparições na tradução literal da palavra, nos palcos e até mesmo em registros sonoros, a que se deve esse hermetismo, é proposital ou tem haver com oportunidades ou a construção ideológica da entidade está ligada a esta forma de se expressar?

Não diria que isso seria uma forma de hermetismo pois alimentaria o ego de muita banda medíocre que não toca por que não tem estrutura para tocar e fala que o motivo é por que é muito obscuro ou seleto, quando a verdade não é essa. Eu particularmente tenho um apreço particular em produzir as músicas, eu gosto de ver a arte tomar forma, o canto ecoar e as palavras se fundirem ao mantra, o imaterial criar sensações, isso é sem sombra de dúvidas uma forma de ato cerimonial, aí sim entramos no fato do por que não tocamos constantemente.

Para que possamos subir ao palco precisamos nos preparar materialmente e espiritualmente. Em termos materiais estão postos os ensaios, equipamentos necessários e etc. Em termos espirituais estamos falando sobre quem serão os membros que farão parte da apresentação, pois quando necessário estes membros podem mudar, além do que será preciso ser estruturado no palco em termos de altares e outros detalhes.

Um fator importante também é o fato de existir um convite que nos interesse em termos das outras bandas que irão tocar no show, estrutura, datas e condições de locomoção e recepção. Como todas essas coisas raramente estão no mesmo lugar simplesmente preferimos evitar o desgaste, nossa última apresentação foi o banho de sangue do PVTRIDVS VOX RITUAL no ano de 2019 na polêmica loja da HAMMER OF DAMINATION.

 

  1. Durante algum tempo a banda trabalhou com alguns materiais lançados, sendo que estes materiais me parecem, hoje, bem raros. Nos fale sobre essa discografia, qual na sua maioria ainda era sob a égide de Infernal Inquisition e se ainda existem cópias destes materiais disponíveis?

Nossa concepção sobre materiais também mudou ao longo tempo. Nossa primeira demo se chama ANTE O PALÁCIO NEGRO, foi lançada por nós mesmos, gravada na forma de demo ensaio em um Studio local. As musicas dessa demo já existam anos antes de sua gravação, mas não tínhamos intenção de gravar ou de tocar, então nos concentrávamos apenas nos ensaios, do mesmo modo que quando essa gravação aconteceu já tínhamos alguns sons de SOB O OBSESSO OCASO LUNAR.

Na sequência gravamos nosso primeiro full, o S.O.O.L, esse trabalho foi gravado no nosso homestudio e mixado por nós mesmos e foi lançado com toda assistência da SULPHUR RECORDS que na época ofereceu tudo que precisávamos para esse lançamento inclusive fazendo a ponte para dois shows no sudeste, São Paulo e Belo Horizonte.

Foto de divulgação

Na sequencia tivemos o AD VVLTVS INFERNA SERPENTIS, um split com a horda Uraeus. Foi um material em VINIL que levou muito tempo para ficar pronto, porém, tenho um apreço particular por esta manifestação, creio que demos um salto em termos de musicalidade e abrangência lírica.

O material seguinte foi um EP, chamado APSU INFRA DOMINUS lançado pela Wolfmond Production na Alemanha, no formato digibook em 333 cópias, hoje esgotadas.

Depois disso chegamos a uma nova fase de composição musical e processos de gravação que já anunciava a mudança para o nome INFERNAL XI.  Passamos a gravar no Studio Thoth com a produção de João Felipe Santiago que acabou por trabalhar em todas as obras do C.H.P.V, a exemplo do U.N.C.U.L.T e VISCERAL MARTYR. Assim lançamos o trabalho que eu  considero mais expressivo em termos de dimensão do que somos, que é Lvcifer Lavss: Incipt Novus Evangelli Ex Qliphas Odium.

Por fim nosso ultimo single chamado DAEMONICVS CONSANGUINEVS PAEDOPHILIA que estará presente em nosso próximo full e cujo os instrumentos e vocais foram gravados nos Estados Unidos no ano de 2022.

  1. Alcançando seus quinze anos de existência, quais as principais lições que vocês tiraram durante essa existência?

Seja como o inferno, como o fogo, queime as mãos, inflame os olhos!

Seja sua própria cena!

Aqueles que você chama hoje de irmão irão lhe trair em algum momento!

Se você não é a musica que toca e canta desista você é apenas uma repetição de outras coisas!

Não siga tendencias!

 

  1. É notório que a Infernal XI integra um círculo e uma ordem ocultista, como foi a chegada dessa ordem na existência na Infernal XI? Esse aporte espiritual mudou os rumos sonoros e líricos da banda ou foi um fator agregador?

Algumas pessoas podem confundir quando nos referirmos ao Coven e quando falamos sobre o C.H.P.V pensando que tudo é a mesma coisa, mas não é.

O C.H.P.V surge antes mesmo do INFERNAL INQUISITION é um bloco de ação, um coletivo ao qual estão englobadas varias coisas, produção musical, produção de shows, produção e distribuição de materiais que vão desde camisas das hordas ate livros esotéricos por exemplo. O C.H.P.V como parte visível do que nós somos, mas não é o todo, mudou ao longo dos anos suas chaves de atuação em termos de alianças e critérios. Hoje as bandas que fazem parte do C.H.P.V expressam exclusivamente formas diferentes do S.A.A (Satanismo Adramaliko Antimatéria) e em termos de eventos, cujo a produção principal é o P.V.R (Pvtridvs Vox Ritual) mantemos como tema geral ao que tenha afinidade com a nossa fé e convidamos bandas com formas diferentes de expressão musical e espiritual.

Já com relação ao Coven estamos falando de um grupo de pessoas cujo o objetivo exclusivo são as atividades espirituais, assim ocasionalmente elas podem estar ou não relacionadas as atividades do C.H.P.V.

Sobre o I.XI e seu aporte espiritual e sua cumulação com o Coven e o C.H.P.V isso induz ao fato de que nossas mensagens visuais, musicais e líricas tenham um compromisso com essa forma de vida.

 

  1. Algum tempo atrás, pouco antes da pandemia, creio que em 2018/19, houve o anuncio do chamado “Cartel Da Morte” em aliança com o selo Hammer of Damnation que daria um gatilho numa série de lançamentos em conjunto. Houve divulgação e propagação inclusive de alguns títulos, entre eles um single da Infernal XI. O que aconteceu neste percurso para a dissolução da aliança e o perecimento daqueles planejados lançamentos?

 

Sim, o Cartel da Morte deveria traduzir todos os lançamentos das hordas do C.H.P.V pela mão da H.O.D, ou seja, seria o seguimento de lançamentos da H.O.D voltados para hordas com propostas esotéricas, este foi o acordo feito entre mim e o Luís Carlos, dono da H.O.D., mas nesse momento final de 2019 começo de 2020 um motim virtual encabeçado pelo Arildo, vocalista da banda Vobiscum Inferni, disparou uma serie de acusações contra o circulo e particularmente contra mim, uma crise emocional de uma pessoa visivelmente frustrada por não conseguir o que queria no meio musical com a suas próprias pernas.

Antes de continuar com esse assunto é preciso dizer que não gostamos de recados, indiretas ou acusações pela internet contra pessoas, pelo motivo de que gostamos de resolver nossas questões pessoalmente, então de fato deixo expresso aqui que quando o momento surgir isso deverá ser resolvido pessoalmente com esse parasita, porém como já se sabe a força ai é feita por fotos e textos de internet, pessoalmente a história é bem diferente, inclusive por eventos recentes onde o mesmo levou uma surra e correu pelo mesmo motivo, falar demais e achar que nunca vai ser visto. Dai as acusações particulares contra mim foram o de praxe, que tínhamos envolvimento com o cristianismo e que nossas propostas espirituais eram falsas.

Ante essa poeira virtual o Luís Carlos se afastou do nosso contato, creio eu que para preservar sua Loja, o que é natural pois o mesmo vive da H.O.D e dos seus empreendimentos, então abertamente falo que não tenho nenhum problema com essa atitude, ele buscou defender o que era dele e nunca nos ofendeu, não insistimos com o contato para o lançamento pois acreditamos que tudo deve ser feito de comum acordo e não por que estava escrito em um papel.

Ironicamente o único material em termos de CD que foi lançado desse contrato foi o do VOSBICUM INFERNI, que eu pedi que fosse o primeiro lançamento de todas as bandas que naquele momento estavam dentro do C.H.P.V o VOBISCUM INFERNI era uma delas.

  1. Algum tempo atrás fiz uma outra entrevista contigo e você tinha muitas ressalvas a respeito do conceito Metal Negro, ao passo que Infernal XI é uma banda que se enquadra esteticamente, liricamente e sonoramente neste mesmo nicho agregando assim a outras bandas que compartilham dessa mesma cultura, como se dá este pensamento de não pertencimento a partir da ideia de “cena/cenário” e a contracultura que tal manifestação deveria propor?

Ótima questão.

Não quero ser redundante em falar que não usamos rótulos, pois isso soa muito infantil e clichê. A questão é que quanto eu penso em “metal negro” vem a minha cabeça um conjunto de sensos em termos de estilo de vida que não são os meus. Por exemplo, “metal negro” na minha concepção não tem a ver apenas com aquilo que fazemos com a musica, mas também com relação a participação em um grupo maior chamado de cena e o pertencimento em um dado estilo de vida.

Em termos de musica a nossa inspiração é realmente o metal extremo, gosto muito de algumas bandas de black metal, brutal death metal, doom metal etc. Mas, não frequento os lugares da cena musical, raramente interajo com pessoas do meio de modo mais concreto. Maior parte da atenção da minha vida esta voltada para o Coven e para as poucas pessoas e coisas que estão ao meu redor, além disso existem uma serie de questões que alimentam a minha mente e o meu espirito que acaba com que eu tenha pouco espaço para conversas vazias, entretenimentos ou festas.

Sobre ser contracultural, de um ponto de vista mais “inocente” eu já pensei que isso seria possível, mas não é. Somos paridos dessa cultura e tudo que fazemos está nas cercas disso, quando não estamos entregues a cultura dominante criamos outras “subculturas” que também estão dentro deste escopo. Por outro lado, a cultura também se transforma, ser ou não ser cristão por exemplo vai ser algo que gera determinado impacto a depender do momento histórico em que vivemos. Nos últimos anos no Brasil me parece que ser contracultural era falar que você votava em partido A ou B, amanhã ou depois pode ser outra coisa.

Por fim a proposta do INFERNAL XI não é ser contracultural ou na maré da cultura dominante, nossas intenções são espirituais, estão por trás dos muros da cultura.

  1. As religiões são fatores muito controversos entre os seres humanos, em geral, as religiões são pautadas no temor a morte, ao inverso podemos dizer que as religiões (gnoses) da mão esquerda se declaram a essa morte tão temida. De que maneira você poderia discorrer essa dicotomia opositora sob as vistas ideológicas da corrente 67?

Eu diria que temer a morte não seria o fator primordial de diferença entre estas vias, por mais que pareça ser isso em determinados momentos. Também não creio que exista um conhecimento e uma vivencia real por maioria das pessoas que falam sobre “mão esquerda”, no metal extremo, ou que essas pessoas não temem pela sua morte ou de seus parentes, esse assunto é extremamente complexo. Se o movimento Black Metal fosse realmente algo em prol de uma emancipação ele não seria tão conflituoso entre si, as ideias naturalmente convergem mais, como acontece entre poucas bandas que mesmo tendo visões diferentes conseguem estabelecer um dialogo em prol de um objetivo comum.

Já com relação a nossa forma de crença a questão da morte não é o ponto por onde começamos, existe um caminho a ser percorrido e durante esta peregrinação espiritual o ente irá desconstruir certos conceitos e sensações e em meio a essa ideia antiga sobre a morte se transforma.

Não é uma questão de temer a morte, cultuar a morte para perecer muito desconstruído, é pura e simples transformação de um paradigma, e recorrentemente transvaloramos nossos paradigmas com novos conhecimentos e vivencias que nos proporcionamos.

  1. Recentemente a humanidade enfrentou uma proliferação de doença e morte aterradora, que, a meu ver foi um momento sublime para quem percebe a fraqueza e fragilidade de estar vivo. Como foi essa passagem de tempo para a entidade Infernal XI? Esse ensejo foi propício para inspirarem-se por exemplo?

Sem dúvidas todos os grandes eventos da humanidade e das formas da natureza nos inspiram eles são as formas e manifestações DELE no outro lado. Precisamos, porém, dar as devidas ressalvas as proporções que a mídia lança sobre todas as coisas, como por exemplo exprimem seus pontos de vistas falando sobre “terroristas” ou a ideia do estado moderno sobre “crime” por exemplo.

  1. No próximo mês de novembro acontecerá uma rara aparição da Infernal XI num festival idealizado por vocês mesmos através do Circulo Hemético Pvtrid Vox. Gostaria que você nos contasse sobre as expectativas e o que o público poderá esperar da atuação da entidade neste encontro com outras bandas?

Para nós tocar no P.V.R é a complementação da nossa alma musical. Ficamos extremamente satisfeitos com esso de informações deste porte para além das panelas e opiniões estupidas de surfistas da internet.a edição por se tratar de um momento em que varias obras musicais que temos o prazer em ouvir estarão reunidas.

  1. Além dessa apresentação, quais são os planos futuros para a entidade Infernal XI, já que estão há alguns anos sem lançar um material completo? (seu último lançamento foi o single – Daemonicvs Consanquinevs Paedophilia)

Estamos empenhados em gravar um novo FULL, além disso temos planos de pelo menos uma nova apresentação ao vivo no próximo ano, porem estes dois pontos vão depender de vários fatores, por tanto por hora são apenas planos.

  1. Por fim, deixo o espaço aberto para proclamar o que bem desejar, sinta-se livre para expressar o que quiser.

Gostaria de agradecer pelo espaço e parabenizar o trabalho em prol de explorar as ideias no âmbito da musica extrema, além de saudar as outras formas de mídia que no Brasil tem se empenhado para manter a circulaçã