Se eu tivesse ouvido “Cez Ostrie Skal”, terceiro álbum da banda de Pagan Black Metal eslovaca KRAJINY HMLY , a tempo com certeza ele teria entrado em meu top cinco melhores álbuns de 2022. Mas infelizmente a imensa quantidade de lançamentos com que somos bombardeados diariamente, aliado ao fato de que o álbum aqui resenhado tenha sido lançado na penúltima semana do ano passado me fizeram ter acesso a “Cez Oetrie Skal” apenas agora, alguns meses depois. Mas garanto que em minha lista de melhores álbuns de 2023 terei que fazer uma menção honrosa a essa obra , já que é um verdadeiro “pecado” que um trabalho tão sensacional não tenha tido a devida atenção . É curioso que, de vez em quando somos apresentados a alguns lançamentos e bandas que deveriam estar sendo ovacionados efusivamente pelo público e tendo seus nomes sendo repetidos em todos os cantos e por razões misteriosas e que escapam à nossa compreensão não o são; Esse com certeza é o caso tanto do álbum “Cez Ostrie Skal” quanto da banda KRAJINY HMLY Que banda perfeita, Pagan Black Metal melódico com um instrumental sensacional , linhas de guitarras que empolgam ,melodias esplendidas que grudam na mente logo na primeira audição , vocais ríspidos ,agressivos com um tom meio “rouco” muito particular, uma produção sonora magnífica e extremamente orgânica, principalmente nas linhas de bateria que ficaram arrebatadoras e uma produção gráfica que é um show à parte e que detalharemos melhor mais à frente. Mas se “Cez Oetrie Skal” é tudo isso, persiste a duvida; porque essa obra prima não está sendo aclamado mundialmente ? ? Eu ouvi tantas vezes esse álbum nas ultimas semanas e destrinchei tantas vezes seu encarte com essa pergunta em mente que acho que a única resposta possível e que me ocorreu seja a língua eslovaca usada no nome da banda (Que significa Terra da névoa na tradução), nos títulos das musicas e nas letras ; eu já vi a mesma coisa acontecer com algumas ótimas bandas polonesas e brasileiras que também usam de seus idiomas originais e isso talvez gere uma certa estranheza para aqueles que não estão habituados a algumas línguas pouco conhecidas , de certa forma “exóticas” e isso crie algum tipo de barreira para a apreensão e posterior propagação dessas bandas no meio. Só posso pensar que seja algo relacionado a isso… Curiosamente esse mesmo elemento do idioma e das letras cantadas em eslovaco com sua pronuncia agressiva e inflexões tão peculiares dão uma identidade muito própria e original à musica do KRAJINY HMLY e pra mim é um grande destaque e uma das melhores coisas em “Cez Oetrie Skal” . A introdução atmosférica em teclados que abre o álbum e inicia a faixa “Do Priepasti” de certa forma me lembra muito algumas coisas feitas nos anos 90 , algo que a meu parecer é muito positivo, principalmente pelo contraste que se percebe quando os demais instrumentos explodem no auto falante nos revelando uma composição com melodias extremamente épicas e memoráveis e paisagens sonoras que evocam um sentimento bastante heroico; essa é minha composição favorita das oito faixam que compõem essa obra e tenho que destacar o brilhantismo e a interação entre os guitarristas Felgor e Namtar que conseguem extrair puro feeling de seus respectivos instrumentos musicais dando à composição exatamente aquilo que isso precisa. Na sequencia temos a faixa titulo e tanto essa composição quanto a posterior “Legenda O Sitne” possuem riffs principais daquele tipo que penetram no amago de seu cérebro e ficam tocando em loop na sua cabeça por dias após você ouvir. “Na kriznych cestách” é a próxima e aqui temos alguns vocais limpos que são cirurgicamente encaixados na música e conseguem adicionar uma dose extra à carga épica que a musica da banda possui , elevando a composição a um patamar acima. “Lesovik” começa com uma introdução com sons de lobos e dão a ambiência perfeita para a faixa que é mais direta, agressiva, rápida mas que ainda consegue manter as melodias características e que com certeza são a marca registrada da banda; melodias essas que na faixa seguinte “Z tisícich trónov” conseguem atingir um nível ainda mais profundo, ouçam o ultimo riff dessa musica e me digam que isso não é algo sensacional… sublime. As duas ultimas musicas “Pustina II’ e “Plameň už tíchne II” são releituras de duas faixas antigas da banda, a primeira composição originalmente nos foi apresentada no primeiro álbum da banda “Na konci Ciest” de 2016 e a ultima no primeiro lançamento oficial da banda, o split álbum “Ked padnú hmly” de 2012. Essa faixa que fecha o álbum ganhou uma nova introdução acústica e é dedicada à memória de Samuel “Wolkogniv” Samos, primeiro vocalista da banda, que lamentavelmente faleceu em 2017. Os novos arranjos e a melhor produção sonora valorizou muito alguns detalhes dessas duas ultimas faixas que não são muito perceptíveis nas versões originais e eu pessoalmente não acharia uma má idéia se, no futuro, a banda revisitasse algumas outras composições mais antigas. A arte da capa e as ilustrações do encarte são criações de Svjatogor e deram toda uma identidade visual que consegue traduzir graficamente com maestria os elementos épicos e heroicos presentes na sonoridade da banda e que já foram mencionados. Sobre a parte gráfica tem um ponto interessante que eu gostaria de comentar… Quando vi os anúncios desse álbum vi que a arte da capa aparentemente seria feita em preto e branco e logo imaginei que se tratasse de um subterfugio que já vi muitos selos fazerem em que usam de uma pretensa desculpa de manter tudo old school e na verdade estão economizando e com isso muitas vezes entregam lançamentos mal feitos com resultados vergonhosos. Esse com certeza NÂO é o caso de “Cez Oetrie Skal” pois a banda me enviou uma cópia física do álbum e a WEREWOLF PRODUCTION não mediu esforços pra entregar um lançamento digno da excelência que a musica do KRAJINY HMLY e seu publico merecem. A parte branca na verdade se aproxima mais de um bege criando um efeito envelhecido e o papel é de altíssima qualidade se tornando um item obrigatório de ser adquirido em formato físico. Eu pretendo muito em breve trazer uma entrevista com a banda pois é um nome que merece muito ser melhor conhecido por todos os cultuadores de música extrema. Se recomendo ? ? Óbvio, repetidas vezes. Totalmente obrigatório !!!
9,5\10