LIMBONIC ART – “A satisfação plena na solidão”

Entrevista

Com trinta anos de estrada e oito álbuns de estúdio lançados a banda norueguesa Limbonic Art quebrou as fronteiras da experimentação ao adicionar em seus primeiros álbuns, doses massivas de orquestrações e elementos sinfônicos trazendo em suas composições  uma sonoridade ao mesmo tempo agressiva e atmosférica criando em alguns momentos verdadeiras ambiências  cósmicas graças a alguns timbres de teclados usados que não eram muito comuns à época em questão. O tempo passou e alguns dos elementos presentes nos teclados e sintetizadores nos primeiros dias migraram pras guitarras sem nunca porém descaracterizar a música da banda. Conheci a banda de uma forma um tanto quanto inusitada. Nos anos 90 ,um amigo de São Carlos e eu resolvemos criar um fanzine, o ” Crypt of Eternity” e uma das primeiras bandas que eu escrevi tentando uma entrevista foi o Norueguês  Emperor. Como era uma época um pouco mais lenta que hoje, alguns meses depois recebi uma carta do lendário Samoth e no pacote que ele me enviou estava o segundo álbum do Limbonic Art “In Abhorrence Dementia” e a sonoridade daquele álbum realmente explodiu minha cabeça. Tentei por anos entrevistar a banda mas Daemon, o guitarrista, vocalista e atualmente faz tudo na banda sempre se mostrou um cara muito reservado. Há alguns meses atrás entrei mais uma vez em contato por outros motivos; uma conversa levou a outra e o que vocês tem abaixo foi uma longa, profunda e em minha opinião pessoal, uma das melhores entrevistas que eu já fiz nessa vida  em que Daemon fala mais sobre ele mesmo, sobre alguns de seus projetos e sobre o próprio Limbonic Art que estará lançando o novo álbum em breve e que provavelmente você estará sabendo em primeira mão se acompanha a LUCIFER REX…

 

A sonoridade do Limbonic Art nunca foi estática, vocês sempre tiveram uma constante evolução e com o passar dos anos a musica de vocês foi se tornando cada vez mais orientada pelas guitarras, algo que já havia se tornado bem perceptível à época do álbum “Legacy of Evil”. Em sua opinião esse afastamento das orquestrações e teclados atmosféricos e consequente protagonismo das guitarras foi uma evolução natural ou foi algo pensado ?

Acho que foi parte de um desenvolvimento natural, e devido ao fato de que não queríamos nos repetir a cada álbum. Mesmo com algumas sugestões dos fãs e ouvintes de que deveríamos permanecer mais fiéis aos primeiros dias, preferimos continuar experimentando nossa música. Artisticamente, era mais desejável para nós implementar guitarras mais dominantes e deixar os teclados/sintetizadores permanecerem mais em segundo plano apenas para preencher a atmosfera, em comparação com os primeiros dias em que eles eram bastante diretos e predominantes. Outro fato importante é que desde que assumi a criação musical do Limbonic Art por conta própria, preferi ter uma quantidade reduzida de teclados/sintetizadores e trazer a ferocidade do metal puro. Também cheguei a um ponto em que me cansei do metal extremo sinfônico em geral. Recentemente gravei novas músicas para o Limbonic Art e elas são completamente despojadas de todos os elementos como orquestração por sintetizadores.

Sério? o que mais você poderia nos adiantar sobre essas novas músicas ? Um novo álbum está vindo por aí ? Já tem algum titulo em vista?

Após o álbum anterior intitulado “Spectre Abysm”, fiz uma longa pausa na música para contemplar outras coisas. Eu tinha algumas ideias girando dentro da minha cabeça, mas nunca parecia encontrar tempo nem inspiração para trabalhar mais com elas. Isso até que enfrentei uma adversidade na vida que me fez me mudar para o local de ensaio de um amigo com home-studio por dois meses, em março e abril de 2021. Eu passava o dia inteiro trabalhando em novas ideias e dormia no carro à noite. , porque nesse período era o ensaio da banda do dono do estúdio. Lembro que era muito frio lá fora e estava longe de ser agradável. Pela manhã,logo cedo, eu continuava trabalhando, e isso durou, como já mencionei, dois meses. Então eu tinha a base para 10 novas músicas prontas. Passei a maior parte desse tempo programando a bateria para que soasse grandiosa e poderosa, e também algumas faixas de guitarra foram gravadas. Infelizmente, o prédio do estúdio sofreu um grande vazamento de água do telhado, por isso teve que ser fechado por algum tempo, e todo o equipamento teve que ser empacotado e removido para que a reforma pudesse ocorrer. Como era impossível estimar quanto tempo levaria para consertar o prédio, acabei decidindo marcar um horário em um estúdio mais profissional e continuar trabalhando lá. Mas como este estúdio usava um tipo diferente de configuração de computador, concordei com o proprietário em instalar o programa de bateria correto para salvar todas as baterias, mas as guitarras foram refeitas novamente do início. Então eu gravei o baixo e, claro, todos os vocais, e foram muitas faixas de vocais desta vez. Vocais principais, backing vocals e muitos coros adicionais, algo que na minha opinião soa muito majestoso. Selecionei 7 das 10 músicas que considero as melhores e trabalhei apenas nelas. Demorou muito, pois tive que aprender um sistema de computador completamente novo, mas finalmente terminei de gravar tudo sozinho. O dono do estúdio ajudou apenas com o material mais técnico, mas foi uma experiência muito emocionante. Até agora o processo de gravação está finalizado, mas tudo precisa ser devidamente mixado e masterizado. Então, é incerto quando será a data de lançamento. Os títulos das músicas já estão decididos, assim como essencialmente o título do álbum, mas tudo permanecerá em segredo por enquanto.

Outra coisa que percebi foi que a parte lírica de sua música se tornou mais direta nos últimos álbuns e ,ainda que mantenham a veia poética, vocês perderam um pouco do floreio dos dias antigos. Concorda?Porque?

Não tenho certeza se concordo totalmente com essa afirmação. Sempre tentei ser fiel ao que escrevo, e nunca me desviei do tema principal pelo qual comecei. As letras são sobre os mistérios da vida e da morte, e o espírito interminável de investigação do desconhecido, do oculto, do cosmos etc. As maneiras de como revelar as palavras sobre o que eu contemplo podem ter mudado ligeiramente através dos anos assim como a própria música. Mas ainda me esforço para manter as partes poéticas ainda discerníveis nas letras. Se aquele “floreio de antigamente”, como você diz, se perdeu durante as eras de progressão, certamente não foi intencional.

Bem, as letras do Limbonic Art são muito bem escritas e polidas com muita atenção. Geralmente as pessoas que têm esse nível de intimidade com as palavras como você tendem a ser leitores ávidos. Você tem ou já teve em algum momento da sua vida o hábito da leitura?

Não, não sou um ávido leitor de livros. Nunca tenho paciência para sentar e ler porque minha mente sempre vagueia por outro lugar. Mas, ao escrever letras, muitas vezes utilizo um dicionário avançado para enriquecer o meu inglês e tenho um certo estilo de mesclar palavras. Nos primeiros anos do Limbonic Art, as letras eram basicamente pequenos segmentos de poemas reunidos em um texto todo manuscrito. Lembro-me de sentar-me à fogueira ou à luz de velas rodeado pela escuridão, escrevendo todos os tipos de odes às estrelas e à lua e à hipnotizante atmosfera noturna que constantemente me visitava na solidão. Ainda trabalho assim, mas como você mencionou anteriormente, talvez  eu tenha progredido até um ponto em que elas se apresentem de uma forma diferente.

De certa forma a música e a arte em geral tende a ser uma parte do seu criador e representar uma necessidade de expressão da alma do mesmo. O que você busca expressar com a música do Limbonic Art nos dias de hoje e esse objeto de expressão é o mesmo do inicio da banda ou mudou de alguma forma?

Eu pessoalmente quero revelar aspectos do lado mais sombrio da psiquê humana, e isso nunca mudou ao longo dos anos. Recebo muita inspiração quando me isolo desse tedioso mundo social e vago sozinho nas florestas mais escuras, longe dos domínios do homem, contemplando a cúpula do céu noturno, as estrelas e a lua, enquanto ouço e absorvo a paisagem sonora noturna. Minhas letras são, até certo ponto, revelações de minhas jornadas corporais e espirituais.

Existe um elemento cósmico que é bastante peculiar na música e nas letras do Limbonic Art . De onde vem esse fascínio com a vastidão universal ?  Existe alguma conexão em sua abordagem  com o cosmicismo Lovecraftiano que enxerga na imensidão do universo um lugar cheio de horrores inomináveis ou seria mais um tipo de deslumbramento reverente com os mistérios dessa vastidão desconhecida?

Para mim, pessoalmente, a imensidão do espaço é um lugar onde deixo minha mente divagar sem restrições e me conecto com um nível superior de intelecto e criatividade. Isso evoca uma reação dentro de mim que se reflete em meus sonhos e fantasias, e que pode, é claro, abrir portais para domínios invisíveis de luz e escuridão extremas, onde entidades estão à espreita adormecidas. Existem poderes que podem curar ou destruir sua alma, forças que podem ser construtivas ou destrutivas, guiá-lo ao triunfo ou à ruína. Tudo depende de como você maneja o que aprende com suas explorações. Ou talvez sejam os sonhos e fantasias falando, talvez haja apenas um “nada” inspirador. Pelo menos para mim dá prazer me envolver em profunda ruminação e acessar esse intrincado labirinto de pensamentos.

Seus vocais conseguem transmitir várias camadas emocionais sendo bastante teatrais e interpretativos em alguns momentos. Quais são suas principais influências (King Diamond?) e é difícil encontrar os vocais certos ao compor/gravar?

King Diamond tem sido uma grande fonte de inspiração desde os primeiros anos do Mercyful Fate. Não que eu chegue perto de alcançar seu nível artístico, mas a atmosfera que ele cria com sua voz tem sido uma “estrela-guia” para meus vocais também. Não apenas ele, Quorthon dos lendários primeiros anos do Bathory, Mille Petrozza do Kreator e Attila do Tormentor/Mayhem só para mencionar alguns, também causaram impacto no meu uso da voz. Quando escrevo a música e as letras para o Limbonic Art, nem sempre tenho um plano definido para o tipo de vocal a ser usado. Muitas dessas coisas saem de improviso durante as sessões de estúdio. A própria música emana e mostra o caminho e é bastante óbvio para mim sobre como proceder, então muitas vezes  as ideias surgem no calor do momento. Nos primeiros anos do Limbonic Art, tínhamos ensaios em que o material se desenvolvia lentamente ao longo do tempo, mas agora, como sou o único membro e ditador, muito é conduzido sem qualquer revisão.

Você mencionou Mille Petrozza do Kreator como uma inspiração para seus vocais e na minha percepção as influências do Thrash Metal na música do Limbonic Art ficaram mais aparentes ao longo dos anos, você concorda ?Você é um fã do estilo ? A propósito,  que tipo de música\bandas que você tem ouvido nas últimas semanas?

Sim, tive meu principal período de influência musical durante os anos 80 com heavy old school, speed, thrash e black metal. Eu adoro essas bandas até hoje, mas também o death metal dos anos 90 teve um grande impacto em mim. Sempre houve um fascínio secreto pelo thrash metal no Limbonic Art que se desenvolveu progressivamente desde o início, e mais acentuadamente depois que a devoção por guitarras mais dominantes veio à tona. Isso foi bem recebido por muitos de nossos seguidores mas frustrou alguns outros, mas foi um elemento que se tornou parte dessa expansão natural mencionada anteriormente, e o interesse genuíno de experimentar com a música em vez de se limitar aos esplendores anteriores. Embora eu seja um grande fã de metal, também posso ouvir os mestres da musica clássica, como Wagner, Mozart, Rachmaninov, Chopin, Orff. Eu também gosto de música alternativa como Ordo Equilibrio, In Slaughter Natives, Klaus Schulz etc. Também posso apenas me sentar em completo silêncio e contemplação, ouvindo o vento ou os sons da natureza. Em períodos em que eu mesmo crio música, geralmente é isso que faço, apenas mergulho em um transe que me torna consciente de minha própria existência. Ultimamente tem sido um pouco disso, mas também tenho apreciado a música do Deicide, que é uma das minhas favoritas absolutas quando se trata de death metal, também algum metal da velha escola com o qual cresci, como os dois primeiros álbuns com Iron Maiden, algum velho Hawkwind e Motorhead, Venom, Mercyful Fate, Bathory, Slayer, Exodus, Dark Angel, Sepultura, Sarcofago, Vulcano. Bem, a lista é tão longa, mas geralmente ouço apenas algumas músicas antes de pular para a próxima banda e álbum. Já não é tão frequente eu ouvir  um álbum inteiro repetidamente como nos velhos tempos. Também sempre reservo um tempo para explorar algumas das bandas mais novas, ou seja, tudo lançado após o ano 2000. Existem algumas extremamente boas, embora eu prefira as antigas. Em geral, eu adoro metal extremo e existem tantas bandas do estilo ao redor do mundo que se fizeram notar. Algumas delas têm minha devoção absoluta, mas já falei bastante!

Existem alguns pontos em comum nas artes das capas dos dois últimos álbuns da banda, como o Espectro encapuzado e as entidades que ele está conjurando. Você pretende deixar esses elementos se tornarem recorrentes nos próximos lançamentos da banda ? eles têm algum significado específico??

Achei a arte usada em “Phantasmagoria” por mera coincidência. Foi feito por um artista norueguês que parecia ser especialista em “Conan, o Bárbaro” e desenhos semelhantes. Muito talentoso mesmo, mas a maior parte de seu trabalho não se encaixava no universo Limbonic Art como eu queria que fosse. Exceto por este projeto com aquele espectro/feiticeiro conjurando suas visões necromânticas. Decidi imediatamente usá-lo e, quando chegou a hora de preparar o próximo álbum “Spectre Abysm”, entrei em contato com o artista e encomendei uma nova arte de capa usando o mesmo necromante icônico em um novo cenário que eu tinha visto em minha mente. Um portal que se abre para reinos além do mundo humano. Fiquei muito fascinado por ter uma ligação entre esses dois álbuns, pois mostravam um novo começo para o Limbonic Art, ou seja, a “Era Daemonica”. Mas é incerto ainda se essa conexão continuará no próximo álbum, já que o layout etc ainda não foi terminado.

Faz anos que o Limbonic Art se afastou dos palcos e não faz mais shows. Por que?? As apresentações ao vivo se tornaram desinteressantes para você ? Existe alguma possibilidade de que essa realidade possa mudar no futuro ?

Duvido muito. A certa altura me cansei de viajar em espaços confinados sempre rodeado de pessoas. Quase não há para onde fugir quando preciso, e isso me deixa muito infeliz e sem foco. Além disso, nunca foi a ideia que o Limbonic Art se apresentasse ao vivo. Foi apenas uma oportunidade que surgiu e nós a agarramos, além disso foi também uma forma proveitosa de divulgar a banda. É claro que há muitas boas lembranças daquele período, conhecendo fãs e vendo as fascinantes atrações de outros países. Mas, infelizmente, também existem algumas experiências bastante negativas, como longas e tediosas viagens de ônibus de um lugar para outro. Às vezes não chegávamos ao local a tempo, então tudo atrasava. Aconteceu também de shows que tiveram de ser cancelados porque a viagem até o local era muito longa e impossível de administrar no horário que tínhamos. E foi uma sensação realmente irritante decepcionar os fãs nesses episódios em particular. Também passamos algumas vezes pela experiência de ter o ônibus de nossa turnê quebrado e sermos obrigados a dormir em temperaturas extremamente baixas, levando as pessoas a adoecer. E uma coisa é você tocar guitarra quando está doente, mas depender de uma voz forte é outra coisa completamente diferente. E subir no palco nessas condições só prejudica a performance. Eu pessoalmente prefiro trabalhar com música em estúdio, e o palco não me dá mais nenhum prazer ou estímulo mental.

O Black Metal em sua origem tinha uma essência mais “espiritual”, por assim dizer. A ideia em termos gerais era combater a ignorância dos dogmas estabelecidos pelo status quo religioso e abraçar a escuridão interior e o pensamento individualista. Hoje, porém, o estilo, apesar de ter crescido muito, parece ter se afastado um pouco dessa essência, tornando-se em muitos casos algo meramente musical. Você concorda ou tem uma opinião diferente ?? Como você vê o Black Metal atualmente ?

Concordo sim com o que você diz, e essa é basicamente a minha impressão também. Mas como os outros querem se comportar através de sua música depende inteiramente deles. Ainda posso apreciar composições bem tocadas e admirar a arte técnica dos indivíduos, mesmo que suas letras em essência tratem de outros tópicos além das raízes do Black Metal. Nesses casos, ouço principalmente a música e me importo menos com o conteúdo das letras. Aprendi que existe mais de uma maneira de expressar o intelecto na música, e é por isso que às vezes escolho usar a expressão “Extreme Metal” em vez de rotulá-lo de Black/Death ou o que preferir. Além disso, antigamente era até certo ponto “proibido” usar implementos como teclados/sintetizadores. Lembro-me que a primeira vez que ouvi isso no Black Metal foi na agora lendária banda tcheca Master’s Hammer. O uso de teclados/sintetizadores trouxe uma atmosfera tão majestosa para o Metal que eles faziam, e eu sou um grande fã desde então. Especialmente aquele álbum intitulado “Ritual” de 1991 que é simplesmente incrível. Mas desde então, o chamado “Black Metal” tem se industrializado demais com atmosferas “circenses” quase absurdas. Não tenho certeza se gosto muito desse desenvolvimento, então tento simplesmente ignorar isso e continuo a adorar meus antigos ícones do verdadeiro metal.

Interessante você mencionar os elementos “proibidos” dos velhos tempos….

O primeiro álbum que eu ouvi do Limbonic Art foi o “In Abhorrence Dementia” no final de 1997 e este álbum tem alguns dos momentos mais “vanguardistas” e experimentais da banda, como as faixas “When Mind and Flesh Depart” e “Deathtrip to a Mirage Asylum”. De certa forma no início da banda vocês mostraram coragem em sua música em vários momentos ao ousar “ultrapassar as fronteiras do proibido”. Como vocês encararam os riscos e desafios dessas decisões na época?

Não nos importávamos com regras ou se as pessoas iriam gostar ou não. Criamos artes musicais que gostávamos e não tínhamos qualquer tipo de limitação. Se precisássemos adicionar alguns efeitos especiais extras para arrastar nossa música ainda mais para a escuridão enigmática do espaço, experimentávamos sons bizarros e, se fosse adequado para a faixa, acabávamos usando. Era simplesmente a forma como trabalhávamos, nunca discutimos se ousávamos ou não, se parecia certo naquele momento e se trazia aquela ambiência extra para a música. Como poderia estar errado…?! Eu, pessoalmente, ganhei bastante inspiração de antigas bandas de rock progressivo dos anos 70 como Hawkwind, Amon Duul II e artistas semelhantes, e também havia interesse em criar a mesmo atmosfera encontrado em filmes de terror e misturá-lo à nossa própria música.

Então você gosta de filmes de terror? Interessante. Você poderia nos citar alguns dos seus clássicos pessoais do estilo? Há algum titulo recente que chamou sua atenção?

Sim, gosto de filmes de terror. Além disso, também gosto de vários documentários da Segunda Guerra Mundial, Assassinos em série, Fenômenos paranormais, Demonologia, Arquitetura e civilizações antigas, O espaço, Planetas etc. Mas efeitos sonoros em geral são bastante uteis para se acrescentar à música e criar uma atmosfera totalmente diferente à paisagem sonora. Ainda sou um ávido fã dos antigos filmes Hellraiser / Clive Barker, Evil Dead também está no topo da lista de favoritos. O mesmo acontece com “A Nightmare on Elm Street/Freddy Krueger” e “Friday the 13th”, Drácula, O Exorcista, filmes antigos de Lucio Fulci só para citar alguns. Acho que, até certo ponto, prefiro os clássicos antigos do que os novos remakes. Uma série recente que me chamou a atenção foi “The Walking Dead”.

Em suas palavras você parece ser uma pessoa reservada e antissocial ¿ Geralmente as pessoas mais antissociais tendem a se conhecer melhor e os artistas misantrópicos tendem a se revelar muito em suas obras. Essa grandiosidade que vemos na música do Limbonic Art seria um retrato disso ?? É isso mesmo ou eu entendi tudo errado ??

De jeito nenhum, você é bastante observador. Por muitas décadas eu tive essa necessidade avassaladora e satisfação plena na solidão, como um lobo solitário, você pode dizer. Eu adoro a natureza selvagem e obtenho uma grande quantidade de energia e estímulo mental ao visitá-la sempre que possível. Considero uma exigência da minha arte manter essas caminhadas ritualísticas. Apenas caminhar de um lugar para outro e reunir impulsos dos pontos turísticos e dos locais de interesse. Isso tem sido a base da minha arte escrita, bem como das criações musicais. Mas mesmo lobos solitários procuram por seus próprios pares e eu também. Então, eventualmente, é bom se juntar a pessoas que pensam como você para um banquete e conversas intelectuais. É importante obter algumas novas informações de outras pessoas antes de entrar novamente em meu intrincado labirinto de pensamentos e vagar sozinho. Meus pontos de vista e visões são de fato refletidos em minha arte, e eu tenho essas tendências misantrópicas em relação à chamada sociedade comum. Isso muitas vezes me deixa à margem desta realidade à deriva em direção a outro lugar, um estado de espírito em que me sinto construtivo e criativo. “A escuridão sempre me acolhe, e conduz minha alma ao desconhecido”, e a todo momento volto iluminado!

Imagino que você seja o tipo de homem que contempla o céu noturno e tem verdadeiros momentos de epifania vislumbrando a imensidão do cosmos. Analisando a humanidade hoje que mesmo sendo composta por criaturas tão frágeis e delicadas ainda é capaz de detonar forças colossais na Terra, você acha que vamos conquistar as estrelas ou nos destruir antes que isso aconteça?

 Adoro cada momento em que posso ficar no topo de uma montanha e contemplar o infinito do espaço. Não que eu tenha a esperança de que um dia os humanos conquistem  as estrelas, antes disso eles muito provavelmente irão destruir o mundo como o conhecemos. Mas me dá momentos sublimes de profunda inspiração e criatividade. Algum tipo de emancipação necessária da realidade e sensação de “retorno à fantasia”. Encarar a realidade é frequentemente perceber cenários de pesadelo tais como por exemplo saber que por aqui existem armas de destruição em massa suficientes para destruir a terra várias vezes, ou que existem tantos venenos químicos produzidos pelo homem e instalações de lixo nuclear que vazam lentamente suas toxinas para o meio ambiente e que, em algum momento, causarão estragos a toda vida na Terra. Porque existem muitas corporações gananciosas por dinheiro e poder dirigidas por humanos estúpidos e ignorantes que, infelizmente, são os verdadeiros “arquitetos do desastre”. Procuro não me importar muito, porque política e também religião são meros venenos mentais. Mas não se pode deixar de ser arrastado para a “realidade” de vez em quando.

Os quatro primeiros álbuns da banda foram lançados com um intervalo de um ano entre eles, depois disso a frequência de lançamentos diminuiu. O que aconteceu ? O fogo interior da juventude perdeu um pouco de inspiração para queimar ou as responsabilidades que vêm com a maturidade obrigam esse fogo a queimar mais intensamente, mas com menos constância ?

Nos primeiros anos, lançamos absolutamente todas as nossas ideias sem hesitação e, ao que parece, acabou sendo um grande sucesso naquele momento. Mais tarde, porém, tornou-se mais importante não copiar muito a antiga glória, mas sim tentar evoluir como músicos. Assim, o foco tornou-se mais em como experimentar e progredir. Além disso, a própria vida é cheia de desafios que muitas vezes ditam o que é possível alcançar. Mesmo que o fogo continue queimando, é preciso ajustes. Também enfrentamos o fato de que o “trabalho em equipe mágico” que tínhamos no início de alguma forma se transformou em tensão e desacordo, o que acabou desencadeando a queda e a nossa separação.

O Limbonic Art tem em sua discografia 8 álbuns e quase setenta composições. Se você fosse escolher uma música que melhor representasse todo o conceito que a banda tem da maneira como você a vê pessoalmente, qual seria essa faixa e por quê?

Essa é uma pergunta muito difícil e desafiadora. Há destaques óbvios em cada álbum e não tenho certeza se posso escolher apenas uma música. Além disso, todo o conceito do Limbonic Art era criar arte musical que satisfizesse os desejos do arquiteto. No começo a idéia era misturar música sinfônica e clássica com metal. Com o tempo ficou mais interessante focar mais nas raízes do metal e menos nas orquestrações sinfônica,s mas ainda manter um pouco dela para expandir a atmosfera que envolve os sulcos metálicos. Como eu pessoalmente me cansei do metal extremo filarmônico em geral, queria voltar ainda mais às origens de onde vim. Tudo faz parte do desenvolvimento natural e da absoluta necessidade de experimentação. Em meu novo material, que esperançosamente verá a luz do dia em um futuro próximo, todos os teclados foram basicamente cortados, mas ainda é possível detectar a estrutura das sinfonias na música. Eu  acho que saiu um pouco fora da sua pergunta, mas eu realmente não posso escolher apenas um título, pois todas são canções preciosas e todas partes do universo Limbonic Art.

Acredito que como criador, você deve se orgulhar de toda a discografia da banda, mas se você fosse escolher o melhor dos oito álbuns e o álbum que, por algum motivo, o deixou menos satisfeito, quais álbuns seriam esses e por quê?

Bem, por algum motivo não estou totalmente satisfeito com as regravações das demos encontradas no álbum “Epitome of Illusions”. Quer dizer, as músicas são ótimas na origem, mas tem alguma coisa naquela produção que não soa bem. Durante essa época também gravamos uma música para a compilação “Tribute to Mayhem” que também não soa como eu gostaria. Mas, no geral, estou essencialmente satisfeito e, claro, orgulhoso de ter realizado obras tão boas. O álbum “Moon in the Scorpio” sempre terá um lugar especial no meu coração, e há muitas músicas ótimas no álbum seguinte “In Abhorrence Dementia”. Também “Ad Noctum/Dynasty of Death” e “The Ultimate Death Worship” têm ótimos conteúdos. Eu também gosto do álbum de retorno “Legacy of Evil”, sim, até o notório primeiro álbum solo da Era Daemonic “Phantasmagoria” tem muitos riffs legais, mas possivelmente eu gosto do próximo “Spectre Abysm” ainda mais. Atuaçmente, tornou-se o meu favorito. Em retrospecto, “Moon in the Scorpio” foi a realização final para mim, ou para nós dois, ouso dizer, como jovens artistas emergentes. Depois de anos lutando com vários projetos individuais de bandas cuja única conquista foi uma mera fita demo/ensaio, e inúmeras mudanças de formação que nunca pareciam funcionar adequadamente da maneira que deveriam, para não esquecer todas as dificuldades em encontrar e manter um local de ensaio. Finalmente, chegou o momento mágico. Primeiro por assinar um contrato com uma gravadora, no nosso caso a Nocturnal Art Productions (NAP) dirigida pelo eminente Samoth do Emperor. E também pelo fato de gravar um álbum e poder lança-lo em CD e LP. “Moon in the Scorpio” não apenas tem uma ótima configuração como álbum, mas também tem aquele sentimento especial de “sonho tornado realidade”. E aquela era inicial do Limbonic Art foi inegavelmente incrível. Hoje em dia, pareço prosperar na solidão, e isso também tem seu charme desejável.

Você acha que alcançou todos os objetivos que tinha quando formou o Limbonic Art? O que falta??

Quando formei o Limbonic Art, eramos uma banda completa, composta por quatro membros. Mas como o foco de cada membro era um pouco diferente, nos separamos após um tempo muito curto de existência. No entanto, gravamos uma demo e algumas apresentações ao vivo, nas quais Morfeus nos descobriu e me mostrou seu interesse, já que a formação antiga obviamente não funcionava como um time. Então, imediatamente após o colapso da primeira formação, eu e Morfeus começamos a trabalhar juntos e foi realmente incrível a rapidez com que conseguimos criar música, apesar do fato de que nenhum baterista qualificado, ou qualquer outro músico, estava disponível para nós. É por isso que começamos a usar bateria eletrônica e, em vez de baixo, desenvolvemos a ideia de orquestração sinfônica clássica. Depois de duas demos/ ensaio produzidas por nós mesmos, chamamos a atenção de uma gravadora por meio de uma crítica em uma revista norueguesa de metal. E a partir daí conseguimos um contrato com uma gravadora e lançamos o primeiro álbum. Apesar do fato de que o Limbonic Art não deveria tocar ao vivo, na verdade fizemos várias apresentações sem nenhum membro adicional no palco, apenas com a ajuda da tecnologia moderna. Depois de um tempo, tornou-se bastante cansativo para Morfeus fazer sua performance de guitarra e controlar o equipamento de computador, acabamos trazendo uma pessoa extra apenas para manter essa parte. E especialmente em turnês isso foi útil, porque precisávamos de algum tempo adicional na passagem de som e a maioria da equipe “local” não entendia bem nosso equipamento extra. Portanto, no geral, acredito que tudo superou nossas expectativas quando começamos e, pessoalmente, estou muito satisfeito. Não tenho certeza do que mais esperar ou realizar. O único arrependimento é que nunca tivemos a chance de visitar a América do Sul e nos apresentar para nossos fãs lá. Tocamos em um festival em Milwaukee, EUA, mas foi uma longa viagem e tínhamos muito equipamento para carregar conosco, e naquela época fazíamos tudo sozinhos. Aliás meu sincero respeito vai para um amigo de longa data desde então, chamado Carlos Montes, também conhecido como Zolrak (Sacrocurse), que pegou nosso equipamento após o show e o carregou conosco por todo o caminho de volta ao hotel quando todos os transportes nos deixaram para trás. Esse tipo de atitude é raro!

Sobre seu projeto solo  paralelo “Revolt” que estava engavetado há vários anos, foi bom saber que  ainda há chance dele ver a luz do dia…

Meu projeto paralelo Revolt foi criado principalmente para exercitar alguns demônios internos, todas as letras são em norueguês e não é realmente um conteúdo típico, então eu queria preferencialmente uma gravadora norueguesa para lançá-lo. Tanto as gravadoras norueguesas quanto as estrangeiras demonstraram interesse ao longo dos anos, mas como nada aconteceu, decidi trabalhar em outras coisas. Ultimamente, o interesse dos fãs despertou novamente e pedidos para o lançamento desse material foram feitos. Então, novamente, tentei entrar em contato com as gravadoras. Uma gravadora norueguesa mostrou interesse, mas tudo deu em nada novamente. Não tenho certeza do motivo, talvez o material do Revolt seja muito antigo. Mas mantenho minha mente aberta neste caso, teria sido legal finalmente lançá-lo depois de todos esses anos.

Eu realmente não consigo entender como esse projeto ainda não foi lançado. Quando eu ouvi essas músicas anos atrás, minha mente explodiu, então talvez eu esteja um pouco velho também.

Bem, honestamente, estou bastante surpreso por você ter ouvido falar do Revolt e ainda se lembrar desse projeto. A produção é tão primitiva e o fato de ter essa vibe meio punk-thrash torna a sonoridade menos interessante para a maioria das pessoas. Também o fato de ter letras norueguesas que são muito sarcásticas e tão cheias de indiferença para com a sociedade e tudo incluído as torna bem, digamos, estranhas. É preciso realmente entender o idioma norueguês para pegar a idéia, pois brinco com palavras e frases que realmente não podem ser traduzidas para outro idioma sem perder o “fluxo genial” e o significado!

Uma gravadora canadense me ligou naquela época e queria assinar o Revolt, mas eles queriam incluir uma tradução em inglês das letras. Eu tentei, mas desisti rapidamente, descobrindo que era quase impossível. Também nunca mais ouvi falar deles. Essa é basicamente a história em todo esse tempo. Algumas pequenas gravadoras independentes mostraram interesse, mas nada aconteceu.

Cara, sobre o Revolt vou confessar uma coisa que não me orgulho. Quando você disponibilizou essas músicas no Myspace anos atrás, usei um recurso em um site para fazer o download. Assim, durante anos tive à minha disposição uma cópia clandestina com qualidade de áudio ruim e sem sequer os títulos das músicas até que finalmente o CD ficou ilegível. Desculpe por isso, mas eu me lembro bem das músicas porque as ouvi inumeras vezes.

Tudo bem, presumi que, ao colocar as faixas do Revolt na web, seria muito fácil para alguém fazer o download. Desde que seja para uso pessoal, não vejo mal nisso. Mas algumas pessoas são como abutres e roubam música com a intenção de ganhar dinheiro com isso, e isso é algo completamente diferente.

Lembro-me de uma ocasião com minha antiga banda Sarcoma Inc. Fizemos um show de abertura para o Mayhem na Noruega e um cara filmou partes de nossa apresentação e vendeu cópias em VHS incluindo títulos completamente errados etc. Foi um verdadeiro desastre e repercutiu muito mal para nós . Eu li artigos e resenhas depois, onde o jornalista pensou que nós mesmos tínhamos colocado esse material no mercado e nos massacrou na mídia. Porra, isso foi embaraçoso.

Eu entendo perfeitamente. Não é só a questão do dinheiro, tem a questão da qualidade e até a visão artística da banda que acaba sendo mutilada por pessoas que se aproveitam do fã sabendo que pagariam muito dinheiro por isso. Desonesto tanto para a banda quanto para o fã. A propósito, já que você mencionou o Sarcoma Inc, a banda realmente se separou?

Sim, em algum momento o foco do baterista se desviou para outras coisas. Na verdade, tínhamos material para um quarto álbum ensaiado, mas esse baterista era muito popular entre as bandas locais que precisavam de um baterista de qualidade e ele foi facilmente persuadido a se juntar a elas em shows, turnês, etc., então em algum momento eu simplesmente o deixei ir e fazer suas coisas. Tivemos um fantástico período de 5 anos juntos, onde gravamos 3 álbuns. E foi isso.

Também começou a haver alguma confusão na cena, pois havia outra banda de metal chamada Sarkom que também se tornou conhecida. E as pessoas pareciam nos confundir com eles de alguma forma. Então eu achei que era melhor deixar meu Sarcoma Inc simplesmente desaparecer e se tornar história.

Caramba, esse material para um quarto álbum que você já tinha poderia ser usado de alguma forma em algum outro projeto ?

Não tenho certeza se me lembro de alguma coisa mais. Mas talvez se eu encontrasse algumas daquelas fitas de ensaio daquela época, talvez…!

Obrigado pelas respostas incríveis, deixe-nos suas últimas palavras

Obrigado pelo seu interesse no Limbonic Art, e por me dar a oportunidade de falar com todos os fãs sul-americanos. Obrigado por seu apoio no passado, no presente e no futuro! Muchas Gracias Amigos/Muito Obrigado Amigos! Eu saúdo todos vocês!