MASTURBATOR – Veteranos no underground e seu primeiro álbum.

"Nossa existência foi sempre para afrontar esse povo, e o nome Masturbator surgiu por isso..."

Entrevista

O Masturbator foi formado em 1987 em Franca e é um patrimônio do nosso underground nacional, a banda sempre manteve aguerrido apesar das fases difíceis ao longo desse período e com alguns trabalho como splits e demos gravadas finalmente o Masturbator chega em seu primeiro full, o álbum “Hell Warriors”, vamos conversar com seu mentor Sidinei Slaughterman.

Fale um pouco do desenvolvimento musical da banda até os tempos atuais…

Sidinei Slaughterman – Bom primeiramente, vale lembrar que a Masturbator,  faz parte de uma história de pioneirismo  na nossa região  e no  interior do estado de São Paulo e sul de Minas, até porque   Franca SP / Passos-MG sempre foram uma cena unida desde o início dos anos 80s.  Tudo deu início em 85/86 com a Bestialwar, tudo era bem primitivo, a gente nunca tinha visto ninguém tocar esse estilo de som e a gente então  se reunia e ficava fazendo barulho mesmo, de qualquer jeito, fomos aprendendo a compor sozinhos  e deu super certo, pois conseguimos  fazer algo original, creio eu que servindo de referência e influência para muitas bandas underground na época , então o desenvolvimento musical veio natural com o tempo, assim que eu saí da Bestialwar para formar a Masturbator minha intenção era de fazer algo totalmente diferente em termo de letras e som,  fazer algo totalmente extremo com melodias, fui estudar violão clássico para pegar uma base pois afinal nunca fui músico e sim um eterno aprendiz  do Death Metal primitivo. O Que fazemos hoje é uma síntese de todo esse caminho trilhado pois não somos músicos e sim headbangers que batalham para fazer algo original e de qualidade dentro das nossas  capacidades e possibilidades.

Com mais de 30 anos de estrada o Masturbator é simplesmente um exemplo de banda a seguir pelo underground, qual o segredo dessa longevidade dentro dessa cena underground?

Sidinei Slaughterman – Creio que não tem segredo, a gente sempre gostou do que fazemos é somos amigos desde adolescência e do chão de fábrica  e os entretenimento  nos finais de semana, época que não haviam eventos com bandas tocando, era os sons de fitas e vinis, a gente batia cabeça todos fins de semana juntos.  A gente teve hiatos no decorrer  desse tempo mas nada abalou nossa irmandade pois o Masturbator é uma família  e a gente tem uma base fundamental que é realmente gostar do som que fazemos sem se importar muito com opiniões adversas.

O Masturbator sempre foi uma banda muito ativa, mas com poucos trabalhos lançados em todo esse tempo de existência, qual seria o motivo disso?

Sidinei Slaughterman – Nos somos de uma época bastante difícil, mais em se tratando de underground tivemos acesso e oportunidade de gravar no início dos anos 90s, tinha gravadoras interessadas em lançar a gente, mais infelizmente eram um momento muito difícil para todos  nós, ficamos sem lugar p/ ensaios, bebedeira demais, problemas com família pois somos proletariado é esteio de família, a gente tinha planos de se mudar para São Paulo mais não foi possível  devido a tantos problemas,  tudo isso foi nos dispersando dos nossos objetivos na época.  Os lançamentos mais relevantes na época foram o EP The Pornographyc Terror   totalmente independente gravado no Allyvox Studio em Bauru SP em 1993 e nossa participação na coletânea  ” The Wind of Millenium ” lançando pela Demise Records.

Ouvindo músicas mais recentes, percebi que musicalmente o Masturbator está seguindo um Death Metal com uma sonoridade mais limpa, esse direcionamento musical foi criado naturalmente?

Sidinei Slaughterman – Sim, desde o início a gente tem o objetivo de fazer um Death Metal que possa impor respeito em qualidade de som sem fugir das nossas origem underground, sempre fomos muito bem acolhido entre os irmãos que curtem várias vertentes do verdadeiro  metal e inclusive da cena grind noise, no início dos anos 90s a gente sempre participava e trocávamos nos eventos deles,  porque, fazendo um som  bruto com melodias  mesmo com poucas habilidades.

Os temas do Masturbator sempre abordaram o sexo, pornografia e perversão, você acha que atualmente letras como: “ Pleasure of Bitch” , “Sex Invasion”, “Pussy of Death”  não poderiam soar pra essa atual sociedade hipócrita e defensoras do falso moralismo como uma afronta a eles? fale a respeito…

Sidinei Slaughterman – Essas músicas citadas elas mostram só verdades sem fazer apologia e sim mostrar brutalidade contida na mente humana, Sadic Manifestation of Pleasure, pessoas que fazem maldade por um ato sexual,  Puzzy of Death  essa relata sobre pessoa que só tem prazer se a parceira estiver morta, é tudo brutal mais infelizmente existe,  por ironia do destino a maioria desses  atos são cometidos pelos ditos conservadores hipócritas. Nossa existência foi sempre para afrontar esse povo, e o nome Masturbator surgiu por isso, para esse povo ter repulsa mesmo.

Como está sendo a repercussão do novo álbum “Hell Warrior”?

Sidinei Slaughterman – Excelente, acima do esperado,  estamos  surpresos com os resultados pois afinal temos uma convicção que somos uma banda antiga,  que teve repercussão no início dos anos 90s, isso pesou muito, trouxe muito sentimentos saudosistas, muitos relatos emocionantes de pessoas que conheceram a gente eles ainda eram adolescente e ficaram muito felizes, apesar de ser um trabalho simples, a gente quis  assim e estamos muito felizes  com a repercussão do álbum.

Foi uma grande festa o show de lançamento do novo material do Masturbator, conte como foi a emoção de um longo caminho trilhado e agora saindo o tão esperado álbum…

Sidinei Slaughterman – Foi surreal, realmente um momento muito especial pra  gente, em se tratando da Masturbator e minha pessoa é até difícil descrever, nossas apresentações são consideradas explosivas e cheia de muita emoção, nesse evento foi tudo muito elevado, bandas fodas , amigos que acompanham  a gente desde o início, pessoas que vieram  de tão longe para prestigiar o evento,  sem palavras um sentimento de dever cumprido.

Você que viveu uma saudosa época de ouro do underground nacional, como analisa o cenário do início dos anos 90 com esse atual em que vivemos?

Sidinei Slaughterman – Minhas maiores referências são os anos 80s  até por que  a gente vivia bem na inocência, mais éramos muito unidos  apesar de sermos ,  poucos em número, os eventos eram algo fora do comum, todos iam para bater cabeça mesmo, ninguém ficava de braços cruzados igual polícia, fiscalizando as bandas e o pessoal.  Nos anos 90s foi mágico mas infelizmente a magia da união já estava diminuindo, talvez pela ascensão das bandas chegou a inveja, começou chegar  um público um pouco diferente, mais elitizado , aquela simplicidade  e humildade já estava indo embora. Mas o metal é poderoso, por isso ele consegue sobreviver quantas febre já se passaram e ele  continua vivo. Nos dias atuais eu lamento que não estamos fazendo discípulos  ou seja o público está envelhecendo, são poucos jovens começando a curtir o estilo, nem na época que o radicalismo era mais extremo era assim, para quem acompanha a cena é um pouco preocupante. Hoje muitos ostentam o individualismo, antes a gente era mais o coletivo por isso mesmo com números maiores de pessoas e eventos de alta qualidade não lotam tanto, essa é minha  humilde opinião.  O importante é que o metal vive e o underground  resiste, um salve o metal brasileiro!

Como foi pra banda e principalmente para você o falecimento de Paulo Sadus (Baterista), já que era um integrante que sempre esteve ao lado da banda?

Sidinei Slaughterman – O Paulinho Sadus, era um pessoa boa, ele começou a passar por momentos muito críticos, bebidas alcoólicas em excesso  e a depressão infelizmente desencadeou vários problemas para ele. Pra gente foi um momento muito difícil mas infelizmente não tinha como a gente  fazer nada. Muito triste, teve momentos que ele vivia mais na minha casa que na casa dele.

Quais são as suas principais influências como músico?

Sidinei Slaughterman – Apesar de eu não saber tocar eu  sou fascinado por Morbid Angel  que uma banda que eu conheço desde o início, Death, Possessed,   Nihilist, violão clássico, heavy metal…..

Nos anos 90 tinham muitas bandas underground de destaque como Expulser, MX, Loucyfer e o próprio Masturbator, que bandas na atualidade você daria um destaque no atual cenário underground?

Sidinei Slaughterman – Bom da nova safra eu creio que o Rebaellun, Disgrace In Terror,  Necrohunter, Disruption Path, Pesticide, Funeratus, Valhalla, Cadaverizer, Descelebration,  Black Smith, Nervo Chaos, Madness, Queiron… apesar que algumas dessas bandas citadas tenham longos anos na atividade, mais são excelentes bandas que vem sempre atualizando e representando nossa underground atual pelo Brasil e  mundo afora com lançamentos e turnês, nos representando e mostrando o poder e a força do metal brasileiro.

Lembro que no início dos anos 90 tínhamos um zine chamado “Revelation zine” e peguei a demo “Pornographic Terror” das mãos do Paulo Nekros, é pra gente era uma puta satisfação, hoje em dia com tudo globalizado e de fácil aquisição por meios de internet , você acha que a essência de nosso underground se perdeu? de sua opinião?

Sidinei Slaughterman – Bom, quando eu comecei  a curtir não havia muitos  zines no Brasil. Comecei no inicio dos anos 80s , existiam muitos  fã clubes,  (inclusive eu tive um o Necromacy Fã Clube em 1985) onde a gente  se intercambiam. A gente  colocava anúncios na revista somtrês,  uma revista de entretenimento  e propagandas de aparelhos de áudio e acessórios. Fui sócio da Rock Brigade  e  Heavy Metal Maniac,  ambos  eram fã clubes e posteriormente viram revistas. Fui ter acesso a zines em 85/86, Blair Thor da Dinamarca,  Slayer Magazine  da Noruega,  Morbid Magazine  Noruega…. No Brasil o zine mais importante era o Black Hole de Joinville  SC.
Os zines me influenciaram muito,  através deles conheci bandas e pessoas em várias partes do mundo.
Morbid Angel por exemplo  foi uma banda underground que conheci desde o início,  a gente troca  cartas e conheci várias bandas através do TreyAzagtoth,  Napalm Death,  Terrorizer, Executioner(Obituary ) Necrovore….entre outras.  A importância dos zines foi crucial para a cena underground  através deles conhecemos várias bandas e  headbangers e eram os únicos mecanismos  para divulgar nossas bandas também. Minha primeira banda,  foi o Bestialwar no início dos anos 80s,  creio que fomos pioneiros no estilo Death/ Black Metal radical, algo bem primitivo mesmo.
Em 87  formei a Masturbator como já mencionei ,   Death Metal  com temas pornôs( lembrando que o nome da banda não foi com objetivo de conotação de temas somente  sobre sexo e luxúria, a gente queria mesmo é chocar a sociedade já vivíamos numa época após ditadura que a opressão e o conservadorismo era muito forte), tivemos um hiato de alguns anos  e agora estamos na ativa novamente com nosso álbum Hell Warrior uma parceria com diversos selos Impaled Records,  Woodstock discos,  Sacramental Records,  Master Records,  Sangue Underground Records,  Extreme Sond Records e Necronausea Records do Peru. Sem sombra de dúvidas, creio que a essência se perdeu um pouco sim, antigamente a gente era mais apegado a coletividade ou seja mais unidos, compartilhava sons, instrumentos musicais, hoje em dia eu sinto que o pessoal são mais individualistas.

Bom Sidinei… foi uma puta honra entrevistar meu amigo de longa data, muito grato por aceitar esse convite, deixe suas palavras finais aos leitores da Lucifer Rex.

Sidinei Slaughterman – primeiramente a honra é toda minha por essa excelentíssima e nobre oportunidade de expressar minhas humildes palavras, nessa grande instituição de informação do underground brasileiro. Muitíssimo obrigado a Lucifer Rex e todos irmãos(as) headbangers que ao longo tantos anos sempre tem nos dado suporte indo aos shows e adquirindo nosso material,  confesso que não existem palavras que possa expressar a tamanha  gratidão, vocês são foda! Banger til Death, Masturbator to kill!