Morrigan – Anwynn

Werewolf Records - 2022 CD

Chegou Essa Semana

Chegou essa semana “Anwynn”, oitavo álbum da banda alemã Morrygan que, em outros tempos, já se chamou Mayhemic Truth. Trata-se de uma das bandas que mais me cativou nas últimas décadas, apresentando uma musicalidade muito calcada na fase viking do Bathory, sobretudo na era do “Hammerheart” de 1990 e “Twilight of the Gods” de 1991. De fato, essa banda é formada por uma dupla e tem um poder sonoro muito grande.

É fato que o legado do Bathory está completamente encarnado na música que o Morrigan pratica, tendo em si sua carreira irrefutável. Possuo todos os álbuns da carreira do Morrígan, assim como o único material completo lançado na época do Mayhemic Truth “In Memorian” lançado em 1999.

Esse álbum, especificamente, foi lançado no ano passado, através da gravadora Werewolf, mostrando uma fase mais robusta da banda, mais próxima de uma sonoridade menos crua e gritada de discos como “Headcult” de 2005 e “Welcome to Samhain” de 2006, aliás excelentes discos e uma das fases que mais gosto de sua discografia. Trabalho aqui apresentado traz o Morrigan um tanto quanto depressivo, logo em sua segunda faixa “Herald of the Sleep”, sua letra é uma narrativa bem pessimista, que poeticamente traz o lamento de um homem que está à beira da morte e lamenta a decadência de sua cultura religiosa que está sendo engolida pelo cristianismo… a narrativa permeia muito entre descrições do cenário gelado, das montanhas cobertas de neve e gelo, das arvores, da noite sem estrelas e tudo isso em volta de um lamento, uma dor e ao mesmo tempo saudade do que já foi aquela cultura perdida.

Essa música, especificamente, me remeteu imediatamente as referencias que usei do Bathory, apesar de achar o vocal aqui nessa música um pouco mais melódico, até diferente do Morrigan de álbuns anteriores. Uma voz quase juvenil, porém, fraca, interpretando as passagens que são contadas pelo poema.

Confesso que eu deixei um pouco de acompanhar a carreira da banda e até fiquei sabendo da existência desse álbum meio que por acaso, tamanha a falta de acompanhamento que fiquei da carreira deles estes últimos anos, aliás, eles tocaram em São Paulo no ano passado (salvo engano), e por diversos motivos, não pude comparecer, gostaria muito de ter visto ao vivo a performance deles. O registro desse show foi feito através de um álbum ao vivo lançado pelo selo brasileiro Hammer of Damnation em CD split entre Morrigan e Mayhemic Truth (saiu também em LP), o fato mais intrigante e curioso é que o título deste álbum ao vivo é em português “A Ascensão do Fogo e do Aço”, bela homenagem.

A tradição das músicas longas também está mantida e a mescla com os vocais rasgados, muito Black Metal raiz anos 1990 e algum vocal gutural flutuando em uma música e outra. Uma curiosidade sobre o álbum é seu título que parece algo conectado com a cultura Celta, aliás é algo já abordado outras vezes pela banda, inclusive já foi título de álbum do Morrigan, seu terceiro álbum chamou-se simplesmente “Celts”. Na mitologia galesa, ou seja, Celta, Anwynn significa o outro mundo, o mundo dos mortos ou dos espíritos e orna perfeitamente com a narrativa da música “Herald of the Sleep”.

Morrigan lida com a poesia, ela é bem melancólica e usa muitos símbolos ligados a natureza, a espiritualidade traduzindo meio que uma evocação ao passado. Claro que tudo isso também está recheado de figuras aterrorizantes, ou espíritos da floresta e a melancolia se apresenta na terceira faixa “White as Snow”. Para alguém que goste das teorias da conspiração, talvez seja possível detectar alguma exaltação étnica, o que não é muito difícil de acontecer, vide de onde surge as principais inspirações da banda, se não na cultura europeia e nos rastros do que Quorton fez com suas obras consideradas peças artísticas dedicadas a cultura viking.

“Anwynn” é um álbum bem dedicado a cultura galesa, assim como, ao que já mencionei, natureza das regiões mais geladas da Europa, provavelmente pela abrangência da antiga Galia que alcançava países como França, Bélgica, Suíça, Países Baixos, parte da Alemanha e Norte da Itália. Apesar de toda essa abordagem sobre um cenário coberto de gelo, a capa do álbum não tem essa concepção, mostra sim as montanhas e um sol se pondo no horizonte em tons de vermelho em meio a escuridão que dão tons de finitude. O encarte possui as letras escritas em dourado, não tem foto dos integrantes e mostra-se eficiente e direto nos seus objetivos. Vale ressaltar que a poesia escrita pela banda é completamente metafórica e por isso fiz minhas interpretações livremente tentando, obviamente, conectar com a cultura que dão origem as palavras, as descrições das vegetações e a determinadas citações que fazem parte da religião Celta.

Em cômputo geral, “Anwynn” não é o melhor álbum que a banda já lançou, mas não deixa de ser um bom álbum, talvez pouco inspirado, com uma narrativa repetitiva e excesso de montanhas geladas. Não amigos, não é nada diferente demais do que eles fizeram antes, mas ainda gosto das vísceras expostas em discos anteriores como os que citei acima, soam mais furiosos ainda que atmosféricos.

Track list:

1. Anwynn (Intro)
2. Herald of the Sleep
3. White as Snow
4. Blind Witch
5. Feoladaire
6. Taech Duinn
7. Rome
8. Ivy
9. Arawn (Outro)

Tempo total: 52:11

Beliar: Vocals, Guitars, Keyboards
Impudicus: Drums, Percussion, Vocals

Convidados:

Blackvenom Guitars (solos) (Flames, ex-Urn)

Chimera: backing vocals