Um dos assuntos que eu mais tenho debatido em rodas de amigos é a “pasteurização” do mundo atual. Tudo hoje parece produção em massa, algoritimizada. Desde os automóveis, que perderam sua individualidade e cores pra um padrão aerodinâmico e pouco cromático, até a beleza humana, com sua “harmonização facial” que deixa todo mundo com a mesma cara, passando pela produção acadêmica, que se preocupa em levar citações de autores consagrados à exaustão, sem evoluir ou apresentar novas teorias, tudo parece muito “de plástico.”
A música não foge a regra. Nem o metal extremo ou o punk que, por sua natureza, sempre foram mais sentimento do que métrica tem escapado da bateria trigada, do metrônomo, da correção do tom pelo software. Se você quiser fazer um teste, pega QUALQUER software de IA, joga uma letra qualquer e pede um estilo: Ele vai te dar o padrão de riff, de solo, de vocal e de produção, que o algoritmo já provou que representa um “padrão”.
Enfim, tudo muito igual, muito chato e, em 90% das vezes, embalado em textos de IA, que as assessorias mandam, apresentando aquele “mais do mesmo” como se fosse a “salvação da musica”, esperado por milhões de fãs.
E eis que cai na minha mão o – finalmente lançado – debut de uma banda lendária no underground brasileiro, mais especificamente no paulista, “From the Ashes”, do MORTAL PROFECIA.
Mano, na boa…Que prazer me dá ouvir esse álbum! Música orgânica!! Plantada no quintal de casa, lá nos anos 90, ainda! Como é bom ouvir um vocal de verdade…Como é bom ouvir aquelas influencias de DEATH, OBITUARY, do punk hardcore antigo, do thrash metal raiz…Que saudade que eu tava desses riffs de guitarra dobrada, sem cobertura de açúcar de confeiteiro.
Porra, MORTAL PROFECIA…Obrigado, obrigado por dar aquela levantada na moral desse velho cansado. Obrigado por mostrar um Death Thrash Metal feito daquela maneira que, parece, os músicos fazem porque é o que ELES gostariam de ouvir!!”Já que não tem mais, a gente mesmo faz, ué!”
Mas enfim, eu tenho que dar algumas características do álbum. Tentar fazer, de alguma maneira, esse trabalho chegar um pouco mais longe e mostrar pra galera do IA, do algoritmo, que música não tem que ser um produto, tem que ser uma expressão…
Começo então falando um pouco sobre a produção de arte. O álbum vem num slipcase em preto e branco, com aqueles desenhos em nanquin – ou caneta bic preta – tão comuns nos anos 80 e noventa, apresentando os 04 profetas da morte, voltando das cinzas.
Ao tirar o jewel case, temos a capa, em uma imagem que parece uma pintura a óleo e que remete á capa do clássico EP “Mortal Profecia”, de 1994, com mais um “undead” voltando para espalhar o caos.
Dentro as letras, que seguem o padrão temático da banda e descrevem um mundo pós-apocalíptico e caótico, sendo – pelo menos pra mim – o destaque a letra de “Morbid Fellings” que é bem reflexiva e, por que não, profética, descrevendo o sentimento do indivíduo no pós-caos…
E não posso deixar de citar a homenagem a um dos membros fundadores da banda e figura emblemática do underground do interior paulista: J.A. Bernardelli, vulgo “Painha”. Esse tipo de atitude me representa. Parabéns.
Pra seguir o meu padrão e citar 03 musicas de referencia, a faixa titulo e musica que abre o trabalho “From the Ashes”, a quinta faixa “Cancer”, com sua batida hardcore e a melhor do álbum todo, “Rotten Intestines on the Table”.
Se não for suficiente, aproveita pra ver os vídeos de “From the Ashes” e “Your Last Day (In Death Row”.
MORTAL PROFECIA, vindo de Porto Feliz, ainda nos anos 80 e que só agora lança seu debut – depois de 06 demos e um EP – como eu já disse em um chat do programa “Na Lamina da Foice”, tenho orgulho de vocês!