Obituary – Dying of Everything

CD 2023 – Relapse Records

Álbum

“De tanto acumular mistérios nulos e monopolizar o sem-sentido, a vida inspira mais pavor do que a morte: é ela a grande Desconhecida” Emil Cioran

Lançado em janeiro de 2023, o décimo primeiro álbum de estúdio do Obituary, Dying of Everything, infelizmente não foi lançado em mídia física no Brasil, assim como também não foram lançados seus álbuns anteriores, “Inked in Blood” (2014) e “Obituary” (2017). Uma pena, pois assim, boa parte do público que escuta metal extremo em geral e o Death Metal em particular acaba prestando menos atenção à produção recente desta que é uma das mais lendárias bandas do gênero. É verdade que boa parte desse mesmo público consome muito mais música pelo Streaming ou por outro meio mais descartável, mas com isso a possibilidade da experiência estética se perde em meio a uma enxurrada de conteúdos oferecidos incessantemente pela inesgotável indústria cultural. E assim se perde a chance de uma verdadeira experiência estética, aquela que passa pelos sentidos, atravessa a reflexão e volta para seu ponto de partida ainda como um mistério indecifrável.

Surgida em meados dos anos oitenta na Flórida, inicialmente com os nomes Executioner e depois Xecutioner até fixar sua identidade como “Obituary” em 1988 sob a liderança dos irmãos John Tardy (vocais) e Donald Tardy (bateria), a banda é uma das mais importantes do Death Metal e particularmente a minha favorita, o que me obrigou a desembolsar uma moeda para adquirir o CD físico importado. Sem esse pequeno investimento, contudo, a chance de vivenciar a referida experiência teria se perdido irremediavelmente.

Composto por dez faixas, “Dying of Everything” oferece 44 minutos e 57 segundos de um Death Metal da velha guarda, que apesar de tradicional não tem nada de banal. Apesar da simplicidade dos arranjos musicais em riffs cuja inspiração em Hellhammer e Celtic Frost é indisfarçável, o resultado é o melhor possível dentro do gênero que a banda se propõe a praticar. Riffs infecciosos, vocais guturais, levadas de baterias cavernosas, linhas de baixo de um peso colossal e temas mórbidos são os ingredientes que compõem mais uma obra prima desses mestres estadunidenses do metal da morte. Muitas das principais obras artísticas são capazes de nos oferecer verdadeira satisfação estética com elementos tão básicos que o crítico simplesmente não encontra palavras para descrever como tal experiência é meramente possível.

Certamente não é um álbum que se pretenda surpreendente. Pelo contrário, desde o título o que se anuncia é o que de mais evidente se pode esperar dessa banda. “Dying of Everything” é uma espécie de resumo de tudo o que o Obituary vocifera desde o primeiro disco, o debut “Slowly we rot” de 1989, passando por “Cause of Death” de 1990 até o autointitulado simplesmente “Obituary” de 2017, para mencionar apenas alguns álbuns de um catálogo impecável. “Morrer de tudo” ou “morrer de qualquer coisa”, duas traduções possíveis para um título tão simples quanto intrigante, ou tão frio quanto a própria morte. Capaz de silenciar e reduzir a nada toda e qualquer atividade, a morte se apresenta como o único horizonte e o limite absoluto, por isso também o único sentido para o qual desaguam todos os nossos esforços e expectativas. Para nós, redatores desse portal, a “ineludível” apareceu súbita e repentinamente nos levando um dos nossos principais colaboradores, Juliano Bonaccini, que até o meio do dia em que partiu se comunicava conosco sem saber que seriam suas últimas palavras em nosso grupo de WhatsApp. A notícia de seu falecimento naquele mesmo dia 15 de dezembro deste ano que se encerra hoje, nos deixou tão perplexos como se as verdades aparentemente óbvias e banais repisadas e reiteradas pelo Death Metal simplesmente não fossem possíveis. Mesmo que estejamos “morrendo para que nossas almas aprendam” nunca estaremos verdadeiramente prontos para encarar o fato de que “só a morte é real”.