É bem difícil resenhar um fanzine dos moldes que costumo fazer, página por página, banda por banda, matéria por matéria. Difícil não, trabalhoso. E isso fica ainda mais complicado quando o compêndio em questão tem mais de 150 páginas. Estamos falando da edição comemorativa do SEPULCHRAL VOICE ZINE que chegou esse ano, 2023, na sua décima edição numa estrada seguida há 16 anos.
Como nas três últimas, esta edição vem no formato de livro, contendo um total de 156 páginas, dedicadas ao cenário do Metal underground! Uma arte de capa aterradora com crédito para Wagner de Matos (@demonart.artwork).
André Chaves dá a real em seu editorial. Espaço importantíssimo para que os zineiros, que tanto abrem oportunidade para outras vozes, tenham espaço para expor suas opiniões e mandar o recado direto e sem firulas.
Seu conteúdo transita pela América, desde os EUA com a lendária DERKÉTA até o Chile com FROZEN BLOOD e ROTTEN TOMB. E é com essa última que se inicia as entrevistas dessa edição. Em atividade desde 2016, oriunda da cidade de Iquique, fazem um Death Metal da velha escola, tendo seu debut “Vision Of Dismal Fate” lançado em 2022. Já no Brasil, a primeira banda que surge é a DREADFUL DEATHREIGN, tendo três dos seus integrantes da formação da finada Catacumba. Com um split tape lançado com a Harmony Hate, falam da sua trajetória, lançamentos futuros entre outros. Subimos para terra do Tio Sam e conferimos uma boa entrevista feita por Sérgio W. Vilhena, colaborador, com Sharon Bascovsky, fundadora da banda DERKÉTA, que fala de toda trajetória da banda além das previsões para 2024.
Outro colaborador se faz presente, um cara que conheci décadas atrás e tem seu nome marcado em vários trabalhos de divulgação underground. Jayme Amorim faz uma entrevista com a banda piauiense MEGAHERTZ surgida nos longiquos anos 80. Entrevista caracterizada por colocar o dedo em certas feridas e assuntos delicados, carateristica do “velho” Jaime Kbrunco. Depois, o Jayme acompanha a banda de crossover JACAU soltando o verbo contra a onda neofacista que assola o Brasil. Bate papo inteligente, corajoso e sem papa na língua. Após, somos surpreendidos, como bem dito, com uma longa e exaustiva entrevista com a banda MORDEATH. Não deixa de ser interessante com diversos assuntos, entre eles a aventura que foi tocar no Egito tendo o azar de iniciar um conflito político social no mesmo período. ECHOS OF DEATH do Ceará também se faz presente , “uma banda nova cuja sonoridade bolorenta do Death Metal deriva da escola da década de 90”. Passando as páginas encontramos TORMENTADOR, duo erguido das ruínas da banda Holocausto por Rodrigo Führer e por Armando Nuclear Soldier. Uma boa entrevista falando das atividades da banda e sobre o passado da cena mineira na época do clássico “Campo de Extermínio”.
Seguimos com a colaboração de Yan Ricci do Umbra Sinistra Zine numa entrevista com a banda de Death Metal ROTTEN ENTRAILS, vinda do lodo rançoso da Várzea Paulista. Indiscutivelmente vale destacar, a excelente entrevista intitulada MEMÓRIA DOS FANZINES, com o músico (Thashera) e escritor Alexandre Chakal e o zineiro “das antigas” Renato Rosatti (Juvenatriz Zine). Pra quem acha que essa arte está findada a apenas lembranças, é só ler essa entrevista e perceber que ainda existem aqueles que não deixam esta arte, alicerce do nosso underground, morrer.
Estamos ainda na metade da edição para conferir uma entrevista com os chilenos do FROZEN BLOOD. Duo que vem chamando atenção com seu Death Metal putrido e nojento mesclando com teclados e violões. Depois de bandas e fanzines, nada mais justo que um bate papo com um selo. BLACK HOLE PRODUCTIONS que originalmente teve suas atividades como um fanzine no longiquo ano de 1985!!! Outro colaborador surge para contribuir nessa edição. Walter Bacckus do Maléfica Existência Zine bate um papo com mais uma promessa do Death Metal baiano, a banda TÖHIL que tem sua temática focada nos povos maias e mesoamericanos.
A depravação em forma de música é representada pela banda SADE. Uma das bandas mais malditas dos últimos anos que fez muito “banger” conservador ficar horrorizado. A sessão TOUR REPORT descreve a aventura do colaborador Valdecir “Morte Pacífica” Andrade, viajando e divulgando o Sepulchral Voice Fanzine em lojas e eventos entre cidades como São José do Rio Preto, Campo Grande, Corumbá e Santa Cruz de La Sierra (Bolívia).
As tradicionais resenhas não podiam faltar, além de CDs, algumas resenhas de livros, HQs e zines. Por fim, ainda conferimos na sessão Buried, but not forgotten uma matéria por Guilherme Gonçalves do Morbus Zine sobre a banda chilena SADISM e seu álbum “Tribulated Bells” de 1992 e outra com Ricardo Neves, baixista da lendária banda MUTILATOR conversando com o colaborador Lúcio Medeiros sobre o clássico “Immortal Force”, finalizando com um excelente texto ainda sobre a banda e o álbum. A sessão FANZINE-SE com nomes e contatos de diversos zines não podia faltar.
Parabéns ao André Chaves e todos colaboradores por essa edição e pela dedicação em manter a tradição dos zines impressos.
Contatos:
www.sepulchralvoicefanzone.com
