SETH – La France des Maudits

2024 - Season of Mist - Advanced

Álbum

Foi no longíquo ano de 1997 que recebi uma fita casssete, através das saudosas trocas de tapes pelo mundo afora. Naquela fita, além da gravção do “Diabolic Serenades” do Ancient Rites, havia uma EP, ” By Fire, Power Shall Be..”,  de uma banda francesa desconhecida para mim até aquele momento, chamada SETH. Com o passar dos anos, fui conhecendo profudamente o trabalho desses malditos, como na participação do tributo ao Mayhem, com bandas já em destaque como Absu, Immortal, Emperior, Vader  e no álbum “The Excellence” com a participação de Fenriz do Dark Throne como compositor de uma das letras, até seu suposto término em 2005, uma ano após o lançamento do álbum “Era-Decay”.

Grata surpresa foi o retorno da banda em 2011, quando Alsvid (bateria) e Heimoth (guitarra), membros originais, dão vida novamente a entidade SETH, culminando em dois álbuns, onde destaco o impiedoso “La Morsure du Christ” de 2021.

Não se passaram mais que 3 anos para banda surgir com mais um trabalho devastador e de grande destaque. Cantado mais uma vez em sua lingua mãe, o francês, “La France des Maudits” traz a banda SETH mais estruturada e com um poder de destruição sonora maior. Os hinos são inspirados pelas ruas francesas ensanguentadas pelo sangue das guilhotinas durante a Revolução Francesa , que clamam para que nunca nos curvemos perante a opressão social e divina.

A arte de capa, é um trabalho à parte, muita bem feita, desde a escolha de suas cores, como nos pequenos detalhes. A foice que remonta o período da revolução, simbolizada pelos insurgentes em Paris e citada por Robespierre em discursso: ““Chegou a hora de a igualdade passar a foice por todas as cabeças. Portanto, legisladores, vamos colocar o terror na ordem do dia!”.  As sessões de foto, também tem seu destaque, através da lente da fotógrafa Andy Julia, que assina também por toda arte do álbum.

Os sussuros de uma era revolucionaria são substituidos por um sonoridade possante e vigorosa, através da primeira faixa, ‘Paris des maléfices’. Rápida, ríspida,  com riffs melodiosos, alternando para trechos mais cadenciados  sobre teclados,  que dão um clima sinfônico  na composição.  Assim como a primeira, a próxima faixa surge rápida e direta, convidando os insurgentes, seguidores de Robespierre, Danton e Marat para a batalha. ‘Et que vive le diable!’ com bela harmonia e passagens de teclados, nos envolve entre vocais gritantes e ritualísticos, vociferados pelo front-man Saint Vicent e as baquetas com tempos variados do velho Alsvid. As variações e nuances de tempo nos envolve e nos convida à usufruir da liberdade,  à renunciar perante todos juramentos e se deleitar com o diabo!

 ‘La destruction des reliques‘ nos convida a aniquliar os simbólos religiosos ornamentados de ouro,  as relíquias que cobiçam a ambição em nome de uma falsa fé. Os músicos do SETH trazem uma composição bem estruturada, flutuando em eventos diversos, ora mais harmônicos ora mais visceral, chegando a me lembrar em algum momento por um som já feito pelos americanos do Uada.  A próxima música, ‘Dans le cœur un poignard’, é a mais experimental de todo álbum. Passagens acústicas, piano, vocal enfurecido e dedillhados são elementos predominantes numa atmosfera regular, nos levando ao um ambiente inóspito e viajante, assim como em ‘Ivre du sang des saints’, onde os revoltosos se embriagam no sangue dos falsos moralistas e representantes de um deus falido. As variações são latentes, criando uma harmonia, uma música diferente, desconstruindo a cada momento o que foi criado segundos antes.  A instrumental  “Marriane” se incorpora no estrutura conceital do álbum, fazendo uma alusão a alegoria feminina criada  para simbolizar os lemas liberdade, igualdade, fraternidade.

As blasfêmias continuam em Insurrection’, tambores intercedem riffs cortantes que se entrelaçam sobre uma bateria raivosa, impregnada de ira e agressividade, representando a fúria dos revoltados para chegarmos em sua faixa final, ‘Le vin du condamné’,  a mais longa de “La France des Maudits”, com seus mais de oito minutos numa criação forte e marcante, típica de todo álbum.

Se algum dia a banda foi subestimada, a resposta para os íncrédulos está nesse álbum.

Confiram três faixas: