THE BLACK VOMIT – OS PRIMÓDIOS DO SARCOFÁGO (1982-1987)

PARTE 03

Dark Reflections

PARTE 3

RUIDOS DE GUERRILHA, SOAM OS PRIMEIROS ALARMES:

E foi nessa época que as coisas começaram, realmente, a tomar forma: Segundo o guitarrista Zéder BUTCHER, Wladimir KORG, que veio a ser conhecido por ser o vocalista da banda CHAKAL, foi quem intermediou, junto aos proprietários da gravadora COGUMELO, a participação do SARCÓFAGO na lendária coletânea WARFARE NOISE.

Fizeram parte desta coletânea as bandas SARCÓFAGO, HOLOCAUSTO, MUTILATOR e CHAKAL e, para o mesmo Zéder BUTCHER, essa coletânea inclusive seria MELHOR que o debut da banda, o aclamado INRI.

Quatro curiosidades a respeito da coletânea WARFARE NOISE seriam:

A primeira era de que o contrato com a COGUMELO previa que a banda tivesse 03 sessões de estúdio: Duas para gravar as músicas e uma para mixar. Como o tempo não foi suficiente, a banda resolveu fazer um show – No lendário GARAGE, no Rio de Janeiro – para bancar as sessões que faltaram. Ainda assim, a canção “THE BLACK VOMIT” só ficou a contento no último minuto, do último take de gravação!

A segunda, referente aos vocais insanos e brutais de Wagner ANTICHRIST é que, à frente de seu tempo, o vocalista adquiriu e utilizou nas gravações, um pedal “Delay, criando assim aquela atmosfera totalmente demoníaca e sobrenatural que os seus vocais apresentaram ao mundo do metal extremo.

A terceira seria que a “Era INRI”, contou com 10 composições. Destas, as faixas SATANAS, NIGHTMARE e THIRD SLAUGHTER, aparentam terem sido compostas pela formação da clássica da banda, ainda em 1985 e as faixas INRI e THE BLACK VOMIT, compostas pela formação da banda que gravou a coletânea WARFARE NOISE. Das demais faixas que compõem o repertório desta época, encontramos registros demo de CHRIST’S DEATH, DESECRATION OF MARY e SATANIC LUST, que podem ter sido compostas tanto pela formação clássica como pela da WARFARE NOISE, e DEATHRASH e READY TO FUCK que, aparentemente, foram escritas para compor o álbum INRI.

Fato é que só encontramos registros ao vivo contando com as faixas INRI e THE BLACK VOMIT após a entrada de Armando LEPROUS.

Pra fechar as curiosidades, Gerald INCUBUS, em uma de suas inúmeras entrevistas nos dá a informação de que, quando gravaram a WARFARE NOISE, todo o set list do INRI ja existia. Inclusive este veio a ser lançado a apenas 09 meses depois da coletânea.

INRI – O EVANGELHO SEGUNDO O SARCÓFAGO

É certo que o SARCÓFAGO, do período abordado, influenciou toda o futuro cenário BLACK e WAR METAL mundial, seja pela sua timbragem, visual, atmosfera, velocidade ou letras. Mas é muito mais do que isso: Sem os blastbeats criados por D.D, a atmosfera lo-fi da gravação e o extremismo das letras, esses estilos jamais seriam o que são.

Mas para a banda o objetivo era mais simples: Embora eles se propusessem a ser “a banda mais bastarda do mundo”, a mais rápida e a mais brutal, o objetivo final resumia-se, simplesmente, a gravar um álbum. Mal sabiam eles que gravariam um dos maiores clássicos do metal extremo mundial. Esse clássico foi o debut da banda, lançado em agosto do ano de 1987 5: O aclamadíssimo, INRI.

A falta de recursos e de pessoas com conhecimento para gravar esse tipo de som, acabou sendo um fator primordial para a atmosfera do álbum. O álbum foi gravado – com exceção da bateria, da marca Ludwig – com instrumentos extremamente precários, como uma guitarra Redson “Flying V” e um Baixo Gianini. Tudo num período de apenas duas semanas, num estúdio de 08 canais – o JG – com produtores locais – Tarso Senra, João Guimarães e Gauguin – no mês de julho do ano em que o álbum foi lançado6.

A icônica capa, no tumulo mais famoso do metal mundial, foi fotografada no tradicional cemitério do Bonfim. O fotografo, já conhecido dos proprietários da COGUMELO, foi o Borges. E as sugestões quanto aos filtros amarelos e roxos – aliás, analógicos – foram da própria banda.

Uma curiosidade com relação à capa, e que chamou muito a atenção na época, foi o moicano, do baterista D.D. CRAZY. Gerald INCUBUS conta que o visual de praxe do metal, com os cabelos longos, só tinha um representante no vocalista ANTICHRIST, sendo que ele mesmo e o guitarrista BUTCHER ainda deixavam seus cabelos crescerem. Foi aí que Eduardo, para se diferenciar, resolveu fazer um moicano, prontamente empinado com uso de sabonete, pelo vocalista ANTICHRIST. E foi assim: pregos, pinturas, filtros nas fotos, uma postura aterrorizante e um moicano de última hora, criou-se uma das capas e um dos locais mais cultuados da história do metal extremo!

Toda essa precariedade, ou melhor, dizendo, esse “Do it Yourself” pode ter uma explicação bem simples: Embora extremamente raivosos, revoltados e agressivos, ainda assim os membros do SARCÓFAGO eram ainda muito garotos. Diz a lenda que quando gravavam o INRI, BUTCHER levava linha para empinar pipa nos intervalos; tinham brincadeiras de esconderem as coisas um do outro e jogavam futebol.

Como o próprio Wagner ANTICHRIST dá a entender, em entrevista, embora vindos de um país pobre e desigual de terceiro mundo, as famílias dos membros do SARCÓFAGO eram de classe média, portanto sem dificuldades financeiras muito graves. Fato é que, jovens como eram e fazendo um tipo de música tão extrema e agressiva, era de se esperar que tivessem, somados à inexperiência, pouco apoio financeiro de pais, de empregos adolescentes ou da gravadora COGUMELO.

Outro fato importante da história do SARCÓFAGO da era INRI era a grande amizade com os membros da banda SEXTRASH. Oswaldo PUSSY RIPPER chegou a tocar com o SARCÓFAGO, Eduardo integrou posteriormente o SEXTRASH e Rodrigo DAMNED SENTRY, teve suas primeiras aulas de guitarra com Zéder BUTCHER. Segundo eles próprios, eles seriam a banda SEXFAGO!

Mas quis o destino que a banda, que tinha sido montada pelos 03 amigos de infância, Geraldo, Eduardo e Zéder, se separasse em 1987, pouco antes do lançamento do seu debut.