Thrash Metal 17

ódio, blasfêmia e heresia outros caminhos trilhados pelo Thrash Metal

Dark Reflections

O Thrash Metal, ainda nos anos 1980, iniciou um processo de tratar de temas voltados para o obscuro, sombrio, místico e também fantasioso regado a anticristianismo, satanismo e assuntos conectados com esse universo, logicamente que o Venom foi a principal referência para o Thrash Metal de bandas como Slayer, como já dito aqui algumas vezes, mas o que devemos perceber é como isso vai se expandir para outros tipos de mesclas de estilos, como  irão se desenvolver usando o Thrash como célula matriz.

Era muito fácil e possível perceber em bandas como Possessed e Hellhammer depois Celtic Frost uma forte mescla entre o Thrash Metal e uma música mais sombria, mais soturna ou mais violenta, mais pesada e caótica, ali estavam alicerçadas duas camadas muito profundas do Metal que iriam deslanchar nos anos 1990, tratavam-se do Death Metal a princípio e depois e principalmente, popularizado pela cena europeia, sobretudo a escandinava, o Black Metal. Assim foi possível perceber a confluência entre estes estilos tendo, como já dito acima, a célula do Thrash como principal matriz.

Foi com a mistura dessas identidades que bandas como Sodom, Kreator, Destruction, Dark Angel, Slayer e Exodus em seu primeiro álbum foram capazes de exercer uma influência seminal tanto no Death quanto no Black Metal, sem escquecer das bandas brasileiras que tinha uma selvageria ímpar em seu som e fez isso muito facilmente, ainda que muitos destes estilos tenham alterado verticalmente os timbres, as afinações e o uso da voz dando outras personalidades ao som e deixando as influencias do Thrash Metal um tanto quanto  mais  secundárias dentro das composições, houve bandas que fizeram a linha contrária, colocaram em evidencia a sonoridade do Thrash Metal conseguindo deixar destacado também as características sonoras do Death ou do Black e, por vezes, de ambas na sonoridade da mesma banda.

Uma coisa que ficou marcada de fato, foi a temática, essas bandas que incorporaram ao seu som essa mescla entre o Thrash, Death e o Black Metal trouxeram também as questões voltadas para o sobrenatural, seguindo, portanto, uma vertente do Thrash que sofreu aquela profunda influencia do Venom e bem menos do universo do Hardcore que tinha muito mais apelo político e ou filosófico social.

Claro que nessa possibilidade o Possessed foi a pioneira, diria sem medo de errar que foi a banda que conseguiu dar ao Thrash Metal uma tônica mesclada com a invenção recente que era o Death Metal, esse estilo sonoro, Death, estava muito novo e aqueles músicos ainda iam forjar a liga metálica que desse consistência aquele tipo de som novo, o Thrash Metal, aquela altura, era o que mais se conhecia como veloz e pesado, mas o Mantas (primeiro nome da banda Death) e o Possessed iriam dar a profundidade sonora que o estilo precisava para que fosse capaz de influir sobre uma tonelada de bandas ao redor do mundo dali pra frente. É, estou me referindo aos anos de 1985 nos Estados Unidos, quando alguns jovens começaram a tocar um estilo novo de Metal no auge do Thrash Metal, a febre do momento no mundo do Metal.

Falando em pioneirismo, podemos então dizer que Protector, banda alemã, ensaiou essa mescla entre Thrash e Death Metal desde os primórdios, quando ainda era uma presença marcante do Speed nas demais bandas de Thrash metal da época, numa demo chamada “Protector of Death” lançada em 1986. Na minha percepção, essa coisa de soar mais pesado e com som em uma afinação mais baixa, deixou o som com uma cara que os músicos não esperavam, mas deu certo, não acredito mesmo que eles queriam inaugurar uma ideia que viria a ser reconhecida como Death/Thrash, mas eles conseguiram e assim ficou marcado e assumido. Os integrantes do Protector se juntaram a partir de participações em outras bandas de Speed Metal.

A primeira formação do Protector foi Michael Hasse baterista / vocalista, Hansi Müller guitarrista e o baixista Michael Schnabel, que compuseram a primeira demo que continha apenas duas faixas, a faixa título “Protector of Death” e “Apocalyptic Revolution”. Algumas mudanças fizeram diferença na banda em 1987, a entrada de um novo baixista e de um vocalista independente foi crucial para a carreira do Protector naquela década. Ede Belichmeier substituiu Michael Schnabel no baixo, e algumas semanas mais tarde o vocalista Martin Missy assumiu o vocal do Protector, isso fez com que a banda compusesse novas músicas e integrasse aos seus próximos lançamentos, ainda no formato de demo. A repercussão das fitas cassete nessa época era fenomenal e isso aconteceu também com o Protector, que teve suas demos ensaio e ao vivo, muito bem repercutidas no cenário alemão, que passava a conhecer uma sonoridade ainda mais visceral que outras bandas, da mesma época, ainda não havia explorado.

Foi no mesmo ano de 1987, que a banda lançou seu primeiro registro oficial, o EP “Misanthropy” (Atom-H), que teve uma excelente repercussão, dando ênfase na sonoridade inusitada que a banda apresentava até então. Atom-H era um selo que já estava de olho na banda desde que pegou suas demos para distribuir e viu como a banda chamava atenção do público, dali para lançar um EP e experimentar a popularidade da banda na cena, foi um salto.

A partir do EP, a banda conseguiu fazer seus primeiros shows, assim como a figurar numa cena em que seus ídolos já eram vistos como pares, caso do Assassin, Sodom, Tankard, bandas que o Protector dividiu palco no início de sua carreira. Aliás, Ede Belichmeier tinha um fã clube do Sodom, para perceber como era imaginar tocar com seus ídolos e tê-los tão de perto em tão pouco tempo. É pela Atom-H que a banda alça seu primeiro voo alto, o lançamento do seu primeiro álbum “Golem” que, talvez, seja o clássico que define a mescla entre Death e Thrash Metal, agora consciente, que preconizou desde sua primeira demo, ademais, na Alemanha estava a principal escola para que o gênero se formatasse e ganhasse novos adeptos, e foi o que aconteceu, certamente que as principais bandas que conseguiram êxito com essammistura foram bandas alemãs, sem sombra de dúvidas. O que desejo, de fato, é trazer as principais bandas destas vertentes aqui nestes próximos capítulos.

Com o lançamento do álbum, Protector se firmou no status de banda pioneira (entre as primeiras, vide Possessed, Hellhammer e Celtic Frost) da cena Thrash/Death Metal e seguiu sua carreira fazendo shows e, contando vez ou outra com participação de Angel Ripper (Sodom) no palco tocando com eles. Em 1989, o excelente vocalista Martin Missy deixa a banda e é substituído por Oliver Wiebel, porém a permuta não dura muito tempo quanto Missy retorna para a banda e grava seu segundo álbum no Phoenix Studio, mesmo estúdio em que gravaram “Golem”.

“Urm the Mad” lançado em outubro de 1989, teve como inspiração um desenhista em quadrinhos, o francês Phillipe Druillet, especificamente sobre seu título “Urm Le Fou” que seria a tradução do título do quadrinho de Phillipe para o inglês. “Urm the Mad”, foi o segundo álbum que ratificou a carreira da banda. E mais uma vez Missy deixa a banda sendo substituído por Oliver Wiebel, dessa vez definitivamente.

Em 1990, Protector grava mais um EP: “Leviathan’s Desire”, com Oliver Wiebel escrevendo as letras e participando ativamente da banda. Em 1991, a banda lança seu terceiro álbum de estúdio e, a essa altura, é uma das bandas de primeiro escalão do Metal alemão, figurando os principais shows com as maiores bandas da época. Protector havia mudado de selo e agora com a C&C, lançam “A Shedding of Skin”, esse novo lançamento veio recheado de mudanças na formação da banda, com a saída de Hansi Müller, Oliver Wiebel assumiu a guitarra em seu lugar, Ede Belichmeier foi substituído por Matze Grün e a banda saiu em turnê de promoção do novo álbum.

A convivência e o ambiente hostil leva consigo seu membro original e fundador Michael Hasse, que deixou a banda e foi substituído por Marco Pape. A atmosfera da banda continua piorando e a convivência vai ficando insustentável, muitas desavenças! Assim mesmo, eles retornam ao estúdio para gravar seu quarto álbum, “The Heritage” 1993 (C&C Major Records). A banda ainda se sustentou bem como um trio durante o ano de 1994, contando com Oliver Wiebel, Matze Grün e Marco Pape. Nesse mesmo ano Hansi morre tragicamente e tem uma compilação lançada pela C&C Major Records em sua homenagem. Pape tenta manter viva e acesa a chama do Protector praticamente por toda a década de 1990, mas, infelizmente, o nome da banda entra no ostracismo, ainda que seus álbuns sejam incríveis, as forças como grupo estavam praticamente esgotadas.

A chegada dos anos 2000 representaram a decadência da banda, havendo apenas lembranças de seus feitos através de relançamentos compilados de seus EPs e álbuns, principalmente pelo selo sueco I Hate Records. Nestes anos houve uma aparição do ex-vocalista Martin Missy criando o que seria uma banda cover do Protector sob o nome: Martin Missy and the Protectors, além disso gravando uma música em tributo ao Sodom “In the Sign of Sodom” com a faixa “Sepulchral Voice” e fazendo shows com essa banda cover, aqui pra nós, que cara de pau!

Pois é senhores, Martin Missy não desistiu do Protector e por isso conseguiu remontar a banda em 2011 e, em 2013 lançou o que seria o quinto álbum da banda sob o título: “Reanimated Homunculus” (Righ Roller Records) e põe os pés de volta na cena. Protector com Martin está em atividade desde então, 2011, e já lançou quatro discos de lá pra cá. De fato, a intenção aqui era trazer essa banda para começar um processo de identificação de ramificações de sonoridade que mesclam o Thrash Metal e tem ele como principal célula. Protector também foi muito comparado com as bandas brasileiras daquela mesma época dos anos 80, as sonoridades eram muito próximas, o que podemos, portanto, definir como bandas que criaram o gênero Death Thrash.

Também na Alemanha, porém um pouco antes do Protector, despontava uma banda na cena underground que também ousou praticar um Thrash Metal mais soturno, mais sombrio, essa banda se chamava Poison e, apesar de bandas mais famosas com o mesmo nome em destaque no maistream da época, o que eles faziam com seus instrumentos era inconfundível, ou seja, a semelhança se limitava apenas ao nome.

Poison foi uma banda fundada em 1982, com toda aquela carga energética do Speed Metal alemão que já foi aqui amplamente discutida em capítulos anteriores. É nessa atmosfera que eles se desenvolvem, porém, assim como a maioria das bandas alemãs da época, eles possuíam a mesma intenção de trabalhar com temas sombrios e assim se deu.

A primeira demo do Poison foi lançada em 1984, sob o título “Sons of Evil” a tape continha treze faixas recheadas de maldade e escuridão, é dessa índole perversa que podemos atribuir ao Poison o título de pioneira banda que mesclou Thrash e Black Metal e mais aquele Speed Metal mais infame, mais perverso e odioso. O som desta banda era para atingir ouvidos preparados para um som daquela magnitude, e não podemos esquecer do quão precário era gravar metal naquele período, mesmo na Europa.

Poison lança uma demo tape de longa duração e isso vai além de uma simples demo, aquilo já era uma apresentação completa da música deles, com começo, meio e fim! A baixa capacidade de informações que podiam chegar do outro lado do atlântico transformou Poison numa das bandas mais misteriosas do Metal underground por esses lados, seu som nos fazia ficar hipnotizados e marcou demais minha adolescência.

Poison foi formada por dois adolescentes maníacos no sul da Alemanha em 1982 que se chavam: Angel of Death (guitarras) e Virgin Slaughter (vocais) e, em 1983 com a inserção de Incubus Demon no baixo estaria se formando uma das bandas mais infames do underground, aquela que faria uma mescla perfeita entre Speed, Thrash e o hoje reconhecido Black, porém, é criterioso e importante mencionar que Black Metal é uma rotulação que não existia na década de 1980, portanto Poison pode ser reconhecida como uma banda de Speed Death/Thrash Metal. Foi como um trio que a banda iniciou sua carreira, mas não foram tão notórios como muitas outras na sua época. O que guardo de interessante nessa aparição do Poison por aqui é justamente esse fator misterioso que encobria sua existência, os pseudônimos, os títulos das músicas e isso fez muita escola aqui na minha cidade, muitas bandas, inclusive a minha, teve muita referência do Poison em sua construção.

Poison tem uma descrição muito perfeita feita por um webzine que encontrei no meio das minhas pesquisas e isso que ele disse define muito o que eu acredito que seja o som do Poison, simplesmente foram as palavras mais assertivas que pude ler, não teria como utilizar de tais palavras para ser tão preciso:

“Uma história de punk rock, heavy metal e provavelmente muita cerveja levou a esse ponto e essa fita gravada ao vivo não poderia ser uma mistura mais irregular de interesse musical extremo na época, bem como uma incapacidade pronunciada de cantar uma música. Esses caras foram descritos como “death metal bestial” em fanzines por um bom motivo e para todos os efeitos, isso é uma porra de barulho horrível. Os vocais são altos na mistura, gritados e no pico, a bateria é impossivelmente distante e o tom da guitarra soa como um balde de água jogado em uma piscina cheia de óleo fervente. Parece que esse foi o precursor perfeito para o black/death metal da América do Sul que viria logo depois e para ter certeza de que o Sepultura já estava pelo menos três passos à frente com “Bestial Devastation”.” https://mystificationzine.com/2019/08/27/thrash-til-death-35-poison-germany-1982-1994/ consultado em 28/09/2024

Basta escutar a segunda demo do Poison e seremos capazes de entender o que realmente seria Black Metal de primeira onda, da primeira fase, é um som satânico demais, sombrio demais e perverso demais, que as pessoas não teriam a capacidade de absorver. Talvez seja por essa leitura que o Poison andou sobre a lama do underground, pois aquilo era aterrorizante demais, era um tipo de Thrash Metal ainda não visto, não tocado, não escutado e, sem sombra de dúvidas, Poison é até hoje essa banda obscura, pouco conhecida e cheia de dúvidas, não poderia ser diferente diante de uma carreira que não ultrapassou a década de 80.

A banda foi evoluindo massivamente lançando demos cada vez mais versadas na raiz do Death/Thrash Metal Satânico e sombrio, um tipo de música que daria margem para o surgimento de bandas como Messiah, Blasphemy, Vomitor, Beherit… é meus amigos, aqui está a raiz do que muita gente nem sabe de onde veio. 1987 e Poison grava seu primeiro álbum, mas ele fica parado no tempo por seis longos anos e só vê a luz em 1993 após receber uma masterização pífia e ser lançado em LP. Talvez esse material na altura em que ele foi lançado não fez jus ao legado da banda, mesmo que esse registro tenha o peso da história, quem o ouviu nos anos 90 não teria, ou melhor, não sofreria o mesmo impacto que seria ouvir Poison no auge das descobertas sobre o Thrash e o Death Metal. Por outro lado, tudo isso fez com que a banda se tornasse de fato uma das coisas mais raras do Metal extremo mundial, assim como sua peculiaridade sonora.

É no ano de gravação de seu álbum que a banda encerra suas atividades, mas o seu nome já havia sido forjado na liga do Extremo Metal mundial underground e tudo que veio depois foi história do legado dessa banda que teve sua suprema importância. O material do Poison é tão excepcional que ele não parou de ser relançado em vários formatos, em boxes, em LPs e fitas cassete por todas essas longas décadas da história do Metal, são versões matadoras e dignas de qualquer coleção, algo que eu lamento não possuir como colecionador de poucos recursos financeiros, mas tudo a seu tempo.

Da mesma tumba que sepultou o Poison, a terra deu conta de fazer brotar algumas bandas que poderiam ser filhos dele, filhos do Protector e isso não parou de brotar. Claro que não há como não citar outras bandas contemporâneas ao Protector e ao Poison e não me farei de rogado, e já começo saindo da Alemanha e indo parar na Suécia, lugar onde surge uma banda que faria muito barulho no underground com uma demo chamada “Behind the Black Door” lançada em 1987, Merciless é o nome de uma das bandas mais influentes da cena nesse momento, reflete o aspecto de renovação, da geração que vai apontar justamente num período em que o Thrash Metal vivia seu auge, era o período da explosão do estilo e as ramificações que o estilo preparou através daquelas bandas, todas já aqui citadas, refletiam nos trabalhos destas novas bandas da época.

Merciless surgiu ainda em 1986 depois que alguns amigos de encontros e bandas afins se reuniam para beber e ouvir Slayer, Sodom e Bathory… Fredik Karlén (baixo), Stefan “Stipen” Karlsson (bateria) e Erik Wallin (guitarra) do interior da Seúcia distantes 100 km da capital Estocolmo, Strängnäs. Os caras tinham afinidade também com o som punk, nada mais comum para aqueles que queriam tocar Thrash Metal, mas ainda lhe faltava um vocal e entra o Kåle que completa a formação. São esses caras que irão gravar a primeira demo do Merciless e impressionar muita gente na época com seu som incomum para o que vinha sendo feito até então.

A banda começou a perceber que Kåle não era um bom vocalista e que também não evoluía tecnicamente e foi retirado da banda. Em 1988, a banda já estava com novo vocalista, Rogga Pettersson, que passou a ser o vocalista definitivo da banda, foi também o lançamento da segunda demo “Realm of the Dark” que o Merciless mostrou um som bem mais sujo, agressivo, odioso, aquela chama do Thrash Metal mais violento e mais esporrento. A afinação dessas bandas, mais baixa é que dá a tônica do Death Metal nelas, assim como a abordagem lírica que tem toda aquela atmosfera que descrevi em parágrafos mais acima. Essa segunda demo é realmente muito cativante e vai repercutir muito bem na cena.

Merciless vai chamar atenção de um selo na Noruega, que vai entrar para história porque era o selo de um cara que vai ficar também muito famoso na cena Metal mundial, Euronimous… sim aquele fundador da banda Mayhem e que tinha uma loja e selo chamada: Deathlike Silence Productions. Merciless vai ser a primeira banda do underground a assinar um contrato com a Deathlike para lançar seu primeiro álbum “The Awakening”, 1990.

Curiosamente, Merciless nasceu no berço do Death Metal europeu, mas não tinha o mesmo DNA que dava identidade as demais bandas da cena da época, ela era muito diferente do que se fazia por lá, inclusive com aquelas características que bandas como Grave, Dismember, Entombed e Unelashed estavam fazendo, Merciless era diferente, aquele ar do Thrash Metal violento, rápido e mortal estava muito impregnado em sua sonoridade e, talvez, o apelo ao Thrash tenha descredenciado a banda como uma banda genuinamente ou  puramente Death Metal, ao passo que sua tendencia ao Death a colocaria a margem também da cena Thrash e talvez por isso, estar deslocado de um “nicho” poderia dar aquela sensação de não pertencimento.

De qualquer modo, “The Awakening” é um álbum bem pesado, bem profundo, mas como eu disse, ele não tem o DNA do Death Metal sueco praticado naquela época, ele lida muito bem com esse meio termo entre os dois estilos e trabalhou muito bem com essa identidade. Merciless tinha uma sonoridade muito norte-americana, muito mais que europeia e isso fazia muita diferença. Se por um lado o som soava norte-americano, as letras tinham toda uma carga maligna mais próxima das bandas europeias e ali estava a mescla do Thrash com o Death em doses cavalares que o Merciless teve seus métodos sórdidos de nos mostrar naquele tempo e era isso que fazia deles excepcionais.

Em 1992, sai o segundo álbum da Merciless já através de um novo selo inglês Active Records que tinha em seu cast bandas como Candlemass, Anacrusis e Therion. “The Treasures Within”, lançado em 1992 traz um Merciless extremamente furioso, os músicos estão muito entrosados e mostram total domínio sobre seu trabalho e como esse material vai soar ainda mais brutal que o álbum anterior. Esse álbum é realmente surpreendente e foi capaz de elevar o status do Merciless tecnicamente, porém, infelizmente foi uma banda muito festejada no underground e pouco vista pelo grande público do Metal, se comparada as demais bandas da época, Merciless tinha a fúria que não tinha em muitas outras bandas de Death e até mesmo de Thrash naquele período de inicio de década, ou as bandas de Death Metal Suecas estavam com tendencias mais próximas do NWOBHM ou baixando a velocidade e apostando mais nas afinações mais baixas, assim como nos timbres mais graves para soar mais sombrio e mortal, uma tendencia de muitas bandas do Death Metal da época e que durou por muito dali para a frente. Enquanto isso, Merciless fazia um som mais rápido, mas pra frente sem ter baixado tanto a afinação e tinha muito do que era feito por bandas de Thrash como Dark Angel, mas sem os famosos “screams” …

1994 foi a vez do lançamento do terceiro álbum: “Unbound” via No Fashion Records, selo da Suécia que vai se especializar em lançar bandas de Death, Black e Doom Metal oportunamente num período de grande desenvolvimento destes estilos e de subdivisões, aliás, diferente do que ocorreu com o Thrash Metal nos anos 1990, que não encontrou a fórmula adequada para se renovar, os outros estilos conseguiram fazer junções especiais com a musica clássica, o post punk, o gótico e o próprio Heavy Metal criando muitas possibilidades aos seus caminhos sonoros e ainda assim se mantiveram com muita fidelidade ao metal, a promoção de uma mentalidade inovadora, porém ainda underground, o Thrash Metal por sua vez teve a ambição de inovar trazendo referencias musicais do Mainstream tecnológico, modernóide (não confundir com moderno e sim uma alegoria do que seria o modernismo de fato!) o que fez o Thrash perder sua referencia essencial e estagnar ao invés de explorar novas possibilidades, isso é tão fato, tão verdade, que o Death e o Black souberam muito bem incorporar o Thrash Metal a sua sonoridade enquanto que as bandas tradicionais de Thrash Metal não conseguiram fazer o mesmo ou pior, tiveram olhos voltados para outros pontos.

“Unbound”, terceiro álbum de estúdio do Merciless com produção de Dan Swano (Unisound Studios), eu já não acho que tem a mesma fúria dos álbuns anteriores, tem uma incorporação mais tecnocrática ao som da banda, deixando-a mais polida e a técnica e entrosamento dos músicos mostra uma tendencia a baixar os bits da banda, fazendo o som soar mais cadenciado, é nesse ponto que Merciless mostra, de alguma forma, similaridade com as demais bandas de Death Metal suecas, ainda que seu som esteja com muito do Thrash Metal ali incarnados eu diria que o Merciless se tornaria a principal referencia para as bandas de Gotemburgo (Segunda maior cidade da Suécia que ficou famosa no meio metal na segunda metade da década de noventa por causa de uma série de bandas que despontaram com uma sonoridade nova dentro do Death Metal) que vai produzir um som que vai ser rotulado como Death Metal Melódico, penso que o Merciless foi muito responsável por influir esse nicho, primeiro pelo trato melódico que as guitarras assumem, um som marcado e a voz de Rogga neste álbum tem toda referencia que vai aparecer em bandas como In Flames, Dark Tranquility e outras.

Apesar de todo esforço, Merciless sofreu muito com o mercado do underground, se desiludiu com o trato que os selos davam as bandas, sobretudo os selos menos expressivos, que tinham baixos orçamentos e, praticamente não promoviam bem seus álbuns. É certo que conhecer bandas como o Merciless nos anos 1990 nos requisitava uma série de habilidades: contatos no exterior, a velha troca de tapes e dinheiro para poder importar estes lançamentos. Não eram materiais fáceis de circular em qualquer loja, a gente sempre precisa lembrar que o Metal não tem uma sonoridade popular, não é um tipo de música que cai no gosto de todos indiscriminadamente e isso pode parecer um dificultador de alto grau, não só parecer como era… e assim, acessar ao som do Merciless era uma verdadeira mão de obra, se tinha selo com pouco alcance, a banda teriam esse mesmo destino, pouco alcance!

Essas e outras questões fez o Merciless se dissolver em 1994, mesmo ano de lançamento do “Unbound” … se reuniram no ano seguinte para participar de um tributo ao Slayer e fim de papo. Mas, sempre tem um “mas”, em 1999 eles resolveram retomar a carreira e compuseram um disco com o simples título “Merciless”, 2002 (Black Lodge Records) e vai ser seu último álbum de estúdio, mas a banda continua em atividade. Quanto a este álbum? Bom, prefiro não comentar!

Outra banda do submundo do Death/Thrash que estava muito mais para o Black, mas sobre isso já trouxe aqui como era essa divisão de estilos na década de oitenta e é bom não ser tão repetitivo e redundante. Morbid, banda também da Suécia como o Merciless, mas que trilhou o caminho do underground e não durou muito, porém ficou de fato conhecida do grande público por causa da atuação do seu ex-vocalista na banda Mayhem, Dead foi um dos integrantes fundadores da banda Morbid e sua atuação na banda chamou muita atenção de Euronimous que o convidou para integrar o Mayhem e se mudar para a Noruega. Morbid foi formado em 1986 em Estocolmo, capital sueca e logo chamou a atenção do público local.

Final de 1987, com algumas alterações na formação original, os músicos gravam sua primeira e mais clássica demo “December Moon” em uma mescla de Thrash, Speed e Death Metal que atualmente seria facilmente classificado como Black Metal, mas não, na época não era bem assim. Dead (R.I.P. 1991) Vocal, Napolean Pukes  Guitara e backing vocais, Gehenna Guitara e backing vocais, Dr. Schitz Baixo, Drutten (R.I.P. 2021) Bateria e backing vocais foram os músicos que gravaram esse material que se tornou um marco histórico e que, assim como o Poison, se tornou artigo de relicário e que passou por diversos processos de relançamento, obviamente que o caso do Morbid foi bem diferente do Poison, o Morbid passou a ser notório por causa de Dead e a sucessão de eventos polêmicos que ele participou junto a cena norueguesa e a culminância de seu trágico suicídio, inclusive transformado em homenagens póstumas pela própria banda Mayhem e trechos contados desta história num livro que virou filme chamado “Lord of Chaos”.

“December Moon” foi o único registro que Dead fez no Morbid, pois, como já dito, mudou-se para Noruega e passou integrar o Mayhem e também sofreu com a saída do guitarrista Gehenna (John Hagström). Morbid encontrou algumas dificuldades para continuar sem seus principais membros, mas assim mesmo deu continuidade por algum tempo, eles procuraram novos integrantes que conseguissem dar conta de suas demandas e convidaram John Scarisbrick, um fotografo que enveredou pelas trincheiras do Metal underground em pleno 1988, John era praticamente vizinho de um dos estúdios da Suécia que vai se transformar, pouco tempo depois, num dos mais clássicos estúdios de gravação do Death Metal Sueco, o estudio Sunlight. Foi no Sunlight, que o Morbid gravou sua segunda e melhor produzida demo “Last Supper…” apresentando um som muito mais Thrash Metal que a demo anterior, que era muito sombria e mais cadenciada inclusive.

Morbid não foi uma banda que durou muito, nem foi uma banda determinante na sua época de existência, mas acabou se tornando uma lenda, não apenas por causa do Dead, mas principalmente por causa dele. Porém devemos lembrar que foi do Morbid que nasceu o Nihilist, banda de Death Metal fundada por dois ex-membros do Morbid: Napolean Pukes  (Uffe Cederlund – guitarrista) e Drutten (Lars-Goran Petrov – Baterista), que, por sua vez, vai ser a banda que vai dar origem simplesmente ao Entombed.

La para os lados de Toronto, no Canadá, também vai surgir uma banda com interesses escusos na sonoridade do Thrash e do Death Metal, não tem tanta coisa voltada ao obscuro como as bandas que já abordei aqui, mas o som sim, ele vai flertar fortemente com o Death Metal, sobretudo quanto ao peso das guitarras e o uso ininterrupto dos bumbos duplos nas músicas, isso era uma característica muito forte das bandas de death metal, os bumbos duplos.

Slaughter se formou em 1984 e, naquele momento, era uma banda puramente Thrash Metal, se é que me entendem…, mas as características Death Metal logo são incorporadas ao som, fato curioso é a rápida passagem do Chuck Schuldiner no Slaughter em 1986, certamente essa participação contribuiu para a construção do tipo de música que eles fizeram naquela década. Bom, antes dessa passagem do Chuck Schuldiner, Slaughter já tinha coisas circulando no underground, como sua primeira demo, lançada no mesmo ano de sua formação. “Meatcleaver” contou com Dave Hewson Vocal e Guitarra, Terry Sadler    Baixo e Vocal e Ron Sumners Bateria, mesma formação que vai gravar a segunda demo no mesmo ano de 1984 “Bloody Karnage”

Em 1985, eles retornam com dois materiais: um live lançado no formato de demo e um cassete de estúdio lançado por um selo chamado Diabolic Force. A banda nessa época costumava lançar demos longas, com muitas músicas 00e pareciam mesmo álbuns completos. Sabe-se pouco sobre o processo da carreira da banda, apesar deles terem lançado muitas demos e dois álbuns (segundo álbum do Slaughter só aconteceu recentemente com a retomada da banda), histórias que permearam os integrantes é um pouco difícil de achar, por outro lado a pesquisa deste que vos fala não foi tão aprofundada assim, até mesmo porque o Slaughter foi uma banda que não teve a grande influencia que o Protector ou Poison tiveram sobre o Death/Thrash, em muitos casos a banda foi rotulada como uma banda de Death Metal referencialmente, onde o Thrash parecia ser apenas um dos recursos sonoros usados pela banda.

“Strappado” foi lançado em 1987 pelo selo Diabolic Force, é daqueles discos de Thrash Metal muito bem-feito e bem-produzido, levando em consideração a época em que foi gravado e lançado, é nesse álbum que dá pra perceber a influência que a banda vai exercer sobre o Death Metal, a ponto de ser visto até mesmo como uma banda de Death e não de Thrash, bom fica elucidado que Slaughter praticava um Death/Thrash quando pouco gente podia atinar para isso. Aparentemente o mercado para o Metal mais underground estava com muitos problemas e o Slaughter passou por alguma crise com as gravadoras e resolveu mudar de nome, curiosamente a banda passou a se chamar Strappado, no me do álbum do Slaughter, gravou alguns materiais, entre eles uma demo como o nome “Not Dead Yet”, lançada oficialmente em 1991. Strappado vai manter a tradição do Slaughter, lançar demos de longa duração. No ano seguinte como Strappado, sai um novo material com rotulo de EP, porém com duração mais longa que o material anterior “Fatal Judgment” 1992, que traz 10 músicas em 44 minutos aproximadamente, enquanto que “Not Dead Yet” tinha 10 músicas em 34 minutos… vai entender essa classificação!

Com esses lançamentos, nenhum deles tiveram apoio de selos, a banda Slaughter retoma sua carreira, mas fica sem lançar materiais expressivos, passando por uma crise muito comum entre as bandas de Thrash Metal que sentem dificuldade de sustentar a carreira indo e voltando com a banda. Em 2021, através de solo High Roller Records, a banda lança seu segundo álbum “Not Dead Yet, que nada mais é que a demo que foi lançada em 1991 com o nome Strappado e poucas alterações, até a capa do material é a mesma, horrível, diga-se de passagem!

Creio que entre a maioria das bandas que citei aqui hoje, o Sadus seja a banda mais conhecida, principalmente pelo fato do seu terceiro álbum “A Vision of Misery” ter sido lançado por aqui em LP. Pois é amigos, Sadus é uma banda que faz parte deste celeto grupo de bandas que iniciaram um processo de mescla do Thrash com o Death, no caso do Sadus uma atuação muito específica, pois eles incrementaram bastante esses dois terrenos, criaram um estilo próprio sem perder as referências, mas tinham consigo uma fórmula de criar atmosferas densas e sombrias, assim como velocidade avassaladora e fúria sem perder a precisão em executar suas músicas, aliás esse terceiro álbum ao qual me referi pode ser considerado sua obra prima, o ápice de sua carreira.

Sadus foi fundada em 1985, curiosamente o nome da banda foi sugerido por um amigo que ficou encantado pelo nome e de como ele soava bem, o nome foi extraído do romance Duna escrito por Frank Herbert, no romance Sadus é o nome dado aos juízes que tem poderes sobrenaturais e são vistos como santos. Darren Travis Guitarra e Vocal, Steve DiGiorgio Baixo e Jon Allen Bateria mantiveram a banda como um trio depois que o guitarrista Rob Moore Guitarra saiu em 1994, atualmente a banda segue como uma dupla sem o DiGiorgio.

O primeiro material lançado pela banda foi a demo “D.P.T.” em 1987 contendo sete faixas, ah o título significa “Death To Posers” e gira muito em torno do que havia de rixa entre a cena thrash e o mainstream da época, também falei sobre isso em capítulos anteriores. O segundo registro da banda foi a participação em um split recheado de bandas que ficarão famosas no Futuro, como por exemplo R.E.V.E.N.G.E. que vai se tornar o Atheist e o Xecutioner que era um nome provisório do Obituary, o split se chamou “Raging Death” que foi lançado em 1988 pelo selo canadense Godly Records. Além de Sadus, R.E.V.E.N.G.E. e Xecutioner, fizeram parte do split a canadense Lethal Presence do Canadá, banda de Thrash Metal de curta carreira e alguns membros que fizeram parte do Slaughter; e o Betrayel, banda de Thrash Metal norte-americana que teve também uma curta carreira entre 1985 e 1990, encerrou e voltou em 2019 com álbum lançado em 2020.

“Raging Death” teve a participação de cada banda com duas faixas, Sadus participa com “Kill Team” e “Twisted Face” ambas retiradas do seu repertório registrado na primeira demo “D.P.T.” de 87. Sadus ainda gravaria uma segunda demo chamada “Certain Death” antes do primeiro álbum “Illusions” lançado em 1988 pelo selo da própria banda que tinha o nome sugestivo de Sadus Records. Esse foi o maior cartão de visitas da banda, um Death Thrash único, cheio de inovações, blastbeats misturados com uma voz inconfundível, extremamente aguda, mas vomitada e sem algumas variações que o Thrash tradicional tinha. “Illusions” foi um álbum autofinanciado e com a produção de John Marshall, guitarrista do Metal Church. A repercussão do material, tanto do split, quanto do álbum renderam ao Sadus um contrato com a então promissora Roadrunner Records que lhe rendeu o segundo álbum “Swellowed in Black”, lançado em 1990. Esse lançamento com selo de expressão, também lhes rendeu uma turnê com Obituary e Sepultura.

Em 1991, Steve DiGiorgio se envolveu com a banda Death que estava em produção do álbum “Human”, fazendo o Sadus entrar em off por aquele ano, mas o selo Roadrunner não perdeu tempo e relançou o álbum de estreia “illusions”, porém com outro título “Chemical Exposure” que também ganhou nova capa. Seu terceiro e fantástico álbum “A Visions of Misery” foi lançado, também pela Roadrunner em 1992, esse álbum deixou a banda muito conhecida e pela primeira vez eles tocaram numa turnê na Europa. A carreira do Sadus começou a apresentar problemas quando Steve DiGiorgio foi convidado mais uma vez para produzir um outro álbum com a banda Death o “Individual Thought Patterns”, além de gravar o álbum DiGiorgio saiu em turnê com o Death e o Sadus perdeu o contrato com a Roadrunner, rob Moore fica muito decepcionado e abandonou a banda que passou a ser um trio.

Bom, essas questões mais minuciosas do Sadus vão se dirimindo ao longo do tempo, a banda segue a carreira como um trio e lança seu disco mais robusto em 1997, com produção do já consagrado Scott Burns e contrato com o selo holandês Mascot Records é lançado “Elementes of Anger”. A carreira continuou com altos e baixos e a banda está em atividade até hoje, por sinal lançou um álbum excepcional, irretocável no ano passado, 2023 “The Shadow Inside” (Nuclear Blast). Os músicos do Sadus foram/são muito requisitados e participaram de outras bandas com muito êxito.

No próximo capítulo da série continuarei a saga de abordagem sobre bandas de Thrash Metal que incorporaram o Death e o Black Metal em suas carreiras apresentando bandas como Necrodeth da Itália, Massacra e Agressor da França, Messiah da suíça e, quiçá outras mais… sabidamente, não dá pra abraçar tudo num mesmo capítulo e aqui vai ficar minhas indicações desta parte:

Protector – “Misanthropy” 1987 EP (Atom-H)

Protector – “Golem” álbum 1988 (Atom-H)

Protector – “Umr the Mad” 1989 (Atom-H)

Protector – “A Shadding of Skin” 1991 (C&C Major Records)

Poison – “Further Down Into the Abyss” Compilação lançada em 2006 em vinil (Iron Pegasus Records)

Poison – “Into the Abyss” 1993 (Midian Creations)

Merciless – “The Awakening” 1990 (Deathlike Silence)

Merciless – “The Treasures Within” 1992 (Active Records)

Slaughter – “Strappado” 1987 (Diabolic Force)

Morbid – “December Moon” demo 1987

Morbid – “Last Supper…” demo 1988

Sadus – “Illusions” 1988 (Sadus Records)

Sadus – “Swallowed in Black” 1990 (Roadrunner Records)

Sadus – “A Vision of Misery” 1992 (Roadrunner Records)

Sadus/Lethal Presence/Xecutioner/Betrayel/R.A.V.A.G.E. – Raging Death compilation 1987 (Godly Records)