Depois de ter feito uma breve introdução sobre as principais bandas responsáveis pelo surgimento do Thrash Metal, entrarei num processo mais analítico e de registro de alguns fatos, antes de entrar na questão histórica do Thrash Metal brasileiro, por exemplo. Meu foco especial nesta quarta parte de artigos sobre o Thrash Metal será sobre a explosão de 1985, que considero o ano dourado do estilo, aquele ano de solidificação e do surgimento de bandas que farão, por muito tempo, parte do imaginário do Metal Extremo mundial.
Não tem como escapar de bandas como Dark Angel, Onslaught, Nuclear Assault, Overkill, Sacred Reich, Death Angel, Artillery e tantas outras que compuseram a cena Thrash Metal principalmente lançando seus principais registros iniciais em 1985. Foi exatamente o momento em que bandas como Slayer lança o “Hell Awaits” (Metal Blade Records), Anthrax “Spreading the Disease” (Music for Nations), Megadeth “Killing Is My Business… and Business Is Good!” (Combat Records), Kreator “Endless Pain” (Noise Records), Sodom “In the Sign f Evil” (Devil´s Game), Destruction “Infernal Overkill” (Steamhammer), Razor “Executioner´s Song” e “Evil Invaders” (Viper) ou seja, todos esses grandes álbuns só para citar as bandas que já trouxe seus históricos aqui antes.
Então vamos concretizar em nossas mentes que, em 1985, o Thrash Metal vai começar um processo massivo de crescimento exponencial que vai culminar numa explosão nuclear de bandas ao redor do mundo, sobretudo em países como: Alemanha, Suiça, Canadá e Brasil além dos Estados Unidos.
Começando por Dark Angel que lança, simplesmente, “We Have Arrived” (Azra Records) como um dos discos mais atormentadores do Thrash Metal na história, e olha que nem disse nada sobre o “Darkness Descends” ainda, porque, a essa altura, não havia sido lançado. Digo isso, pois o “We Have Arrived”, não é, nem de longe, o melhor registro da banda, mas deixa um recado muito interessante para aquela cena que ainda estava engatinhando, o Thrash Metal era um estilo muito novo e que ainda estava naquela fase de encantamento e descobertas sucessivas sem parar. Foi o momento em que o estilo maior, Heavy Metal, estava conhecendo sua parte mais selvagem, mais atroz, mais violenta e agressiva em forma de música e comportamento, certamente, os jovens da época estavam em êxtase de concretizar suas litanias juvenis canalizando todos seus excessos de testosterona, num estilo musical que estava o tempo todo buscando ratificar perfis de virilidade e, ao mesmo tempo, contestação ao sistema, a tudo que lhes parecesse politicamente correto.
“We Have Arrived” é o típico álbum de Thrash Metal que vai beber de fontes muito rasas, que estavam logo ali, como a NWOBHM e o escândalo que era o “Show no Mercy” do Slayer, é uma mistura bombástica destes elementos, onde é possível notar a falta de experiencia dos músicos, mas muita adrenalina e raiva impregnada em suas músicas, por isso eu digo que ainda não é o seu melhor registro, claro! Em verdade aqui, a ideia mesmo é mostrar o tamanho dos grandes álbuns e bandas que deram vazão para o crescimento vertiginoso do estilo naquele ano especificamente.
Provavelmente o maior legado do Dark Angel, sem dúvidas tenha sido o maravilhoso “Darkness Descends” 1986 (Combat Records) um dos álbuns mais completos e violentos do Thrash Metal até hoje, não tem como comparar a sensação de ouvir aquele disco na década de oitenta, sem se emocionar, o quanto aquilo era ensurdecedor, alto, barulhento e qualquer adjetivo que lhes pareça destrutivo. Duas coisas ficaram muito registradas em minha memória, além das que já citei, o vocal de Don Doty e a bateria do Gene Hoglan, certamente foi neste álbum que Dark Angel marcou seu nome na história, não só do Thrash, mas do metal de todos os tempos, porque foi um dos álbuns com maiores requintes de crueldade que tive oportunidade de ouvir na vida e isso repercute muito até hoje, aliás a tríade que já citei antes: Slayer “Reign in Blood”, Exodus “Bonded by Blood” e Dark Angel “Darkness Descends” são, em minha opinião, os principais discos de Thrash Metal de todos os tempos, e se alguém me perguntasse: “Quais discos de Thrash Metal você indicaria para um iniciante?” seriam esses três com certeza!
Foi também em 1985 que conhecemos o Nuclear Assault que, até então, era uma banda do universo underground que ainda estava na demo “Back with Vengeance” contendo, simplesmente, sete faixas… o que era praticamente um álbum completo. Nuclear Assault ainda levou algum tempo para lançar seu primeiro álbum, mas já era uma banda que estava fazendo algum burburinho na cena de Nova Iorque que tinha uma ligação muito maior com o hardcore, inclusive que transitava muito bem naquilo que vai passar a ser muito evidenciado com um subgênero entre o Thrash e o Hardcore que será o crossover, se o Thrash estava mais para o metal que para o punk o Crossover vai ser a balança contrária do Thrash, assim como, muitas bandas que antes eram mais identificadas pela cena hardcore/punk passarão a figurar, musicalmente, muito mais na cena metal.
Nuclear Assault foi uma banda que conseguiu explorar muito bem suas influências, inclusive imprimindo um ar de originalidade, aliás originalidade era algo que não faltava as bandas da época, de fato foi um momento de muitas descobertas e muitas formas de se mostrarem únicas num universo musical em pleno desenvolvimento, algo que se tornou muito difícil de acontecer passadas quatro décadas depois de tudo aquilo. Minha experiencia com o Nuclear Assault foi através do EP “Brain Death” 1986 (Combat Records), esse foi o meu LP de número um, o primeiro disco que comprei de Metal na minha vida e o tenho há quase 40 anos, um disco com apenas três músicas, que eu escutei tanto que não sei como não furou (risos), foi ali que passei a gostar da banda e me interessar por outras do gênero também.
Dois álbuns muito importantes na carreira do Nuclear Assault sem sombra de dúvidas são: “Game Over” 1986 (Combat Record) e o “Survive” 1988 (I.R.S. Records), traz aqueles requisitos que demonstram o quanto a banda investiu na sua maturação e como a sua abordagem lírica tem tanta proximidade com o que fez o Megadeth, por exemplo. Abordar política e um histórico de guerra através de sarcasmo e humor ácido é algo de uma inteligência muito sensível, que os anos 1980 passava em plena Guerra Fria e uma onda de rumores muito perniciosos sobre uma Terceira Guerra Mundial, além daquela frenética corrida armamentista, tudo isso fez com que o Thrash fosse um espaço de registro quase que jornalístico com críticas e visões apocalípticas sobre a humanidade, qual o próprio Nuclear Assault, soube muito bem trabalhar.
Death Angel foi outra banda que soltou sua demo “Kill as One” em 1985, marcando um processo que começou em 1983 dentro do estilo e dando vazão a todo um contexto um pouco diferente das demais bandas. A banda filipina, originalmente composta por primos adolescentes, o guitarrista Rob Cavestany, Dennis Pepa no baixo e Andy Galeon na bateria, marcou sua individualidade com um bom grau de técnica e logo conquistou um nicho de fãs na cena metal de São Francisco (EUA). Embora a banda tenha se formado em 1982 com outro nome Dark Theory, que durou pouco tempo após eles trocarem para o que seria o título Death Angel na capa de um livro, cinco anos se passariam antes de seu primeiro álbum, o amplamente admirado “The Ultra-Violence” 1987 (Enigma) um álbum rápido e técnico com boas doses de influência do Megadeth.
Death Angel era uma banda praticamente formada por crianças, onde um dos mais velhos tinha 15 anos, Andy Galeon tinha dez anos quando se juntou à banda em 1982 e Ted Aguilar é conhecido como “o menor samoano do mundo”. Outro fato curioso sobre o Death Angel é que a demo “Kill as One” foi produzida por Kirk Hammett (então guitarrista da já gigante Metallica) sendo que o próprio Kirk deu título a demo. O primeiro álbum do Death Angel foi muito impactante e impressionou muito a crítica, porque trazia uma técnica incrível, o que podemos entender como o início de um Thrash Metal mais técnico e progressivo que até mesmo o próprio Metallica vai aderir. Já o segundo álbum do Death Angel “Frolic Through the Park” 1988 (Enigma) foi menos celebrado pela crítica que dizia, entre outras coisas: “…a evolução nas letras e músicas. “Why You Do This,” “Devil’s Metal,” e “Confused” são exemplos do som complexo e intrigante da banda, que, infelizmente, sacrifica um pouco a consistência com um excesso de “ganchos” e melodias repetitivas. Uma estrutura de arranjos um pouco além do devido faz com que o álbum seja um pouco maçante para alguns. Outros acreditam, porém, que esse seja o melhor álbum da banda.”
Fato é que “Frolic Through the Park” foi um álbum que abriu portas para o Death Angel em sua carreira, inclusive lhes rendendo um grande contrato com a gravadora Geffen Records, que estava impressionada com a aparição deles e suas performances ao vivo. Geffen Records era considerada uma grande gravadora da época e Death Angel estava numa gravadora de peso, produzindo seu terceiro e melhor álbum “Act III” 1990 (Geffen Records), esse álbum desafia os limites do gênero criando algo verdadeiramente único, marcando o que seria algo que não poderia faltar na discografia básica para qualquer fã de metal. Em seguida a banda lançou dois vídeos na MTV, “Seemingly Endless Time” e a balada “Room With A View”.
A trajetória do sucesso do Death Angel se tornou trágica em 1990 em pleno auge da carreira e com contrato assinado com a Geffen, quando o ônibus que levava a banda sofreu um acidente. Nesse caso ninguém morreu, mas o baterista Andy Galeon ficou seriamente ferido, precisando de mais de um ano para se recuperar.
Durante esse tempo, após várias brigas na justiça contra a gravadora Enigma, que exigiu a mudança do nome da banda devido ao surgimento do estilo Death Metal (e a banda trocaria o nome por motivos estratégicos), o vocalista Mark Osegueda deixou a banda e se mudou para Nova Iorque seguindo outros caminhos pessoais além da música. O restante da banda formou a nova The Organization, e lançaram dois bons álbuns: “The Organization” e “Savor the Flavor”. A banda “O”, como ficaram conhecidos, fez vários concertos pelos Estados Unidos e pela Europa, incluindo duas aparições no famoso Dynamo Open Air Festival, como banda de abertura para o Fight de Rob Halford e também para o Motörhead.
Em 2001, Death Angel se reuniu após dez anos de silêncio, quando eles fizeram um show único no Thrash of the Titans Festival, realizado para Chuck Billy do Testament. Este festival foi realizado para arrecadar dinheiro para a batalha contínua de Chuck contra o câncer. Death Angel iria se reunir apenas uma vez, mas eles decidiram continuar a banda porque, segundo eles, sentiam falta da sensação de se divertir e o quanto adoravam fazer música juntos.
Em Fenix, Arizona, surge a Sacred Reich outra banda que vai ganhar espaço rapidamente na cena americana principalmente após a gravação de “Ignorance” para Metal Massacre VIII, sua demo “Draining You of Life”, 1986, foi uma das fitas underground mais procuradas do Thrash Metal fora da Bay Area. A banda assinou contrato com a Metal Blade Records e se tornou a primeira banda de Thrash na história da gravadora a receber distribuição pela Capitol Records.
Junto com Flotsam e Jetsam (logo já entro na sua história), Sacred Reich é uma das bandas de Thrash Metal de maior sucesso do estado do Arizona. As vendas brilhantes e a popularidade de seus primeiros álbuns, bem como o vídeo de “The American Way” sendo tocado brevemente no filme Encino Man de 1992, ajudaram a banda a performar em clubes e em arenas para multidões, assim como em teatros e festivais.
O primeiro álbum do Sacred Reich “Ignorance” 1987 (Metal Blade Records) é daqueles álbuns delirantes de estreia de uma banda formada nos guetos onde pulsava uma juventude cheia de indignação e revolta, onde imperava um turbilhão de movimentos e gangues que variavam o estilo musical, mas que se encontravam nos discursos o que dizia respeito a cena Punk e Thrash em comum, uma com uma abordagem mais profunda, filosófica, diria, a segunda no campo ideológico mais imediatista e jornalístico como ensejava o Thrash e assim veio o “Ignorance”, um dos discos mais aclamados por ambas as cenas, justamente num momento onde a palavra Crossover vai se tornar indício de meio termo entre ambos anunciado meses antes pela banda D.R.I. em seu disco homônimo (outra banda que terá sua abordagem específica em uma das partes deste extenso artigo).
O segundo álbum da Sacred Reich “The American Way”, só veio três anos depois, porém neste meio tempo, Sacred Reich lançou um famoso EP o “Surf Nicaragua” 1988 (Hollywood Records), onde a crítica dizia: “”Surf Nicaragua”, o EP com capa excepcional, foi publicado entre a estreia afiada e o morno “The American Way”. Isto é notável porque Sacred Reich explicou em um texto na capa interna do vinil que suas três composições representavam o passado, o presente e o futuro. Felizmente, em termos de qualidade, essas músicas tenderam para o alto nível de “Ignorance”. Como de costume, o foco principal foram as novas faixas do lado A. A letra da faixa-título de abertura tratava da política externa americana. Phil Rind criticou duramente suas tendências marciais. Nesse aspecto, Sacred Reich diferia da maioria das bandas de thrash que seguiam liricamente uma abordagem muito mais beligerante. A raiva do vocalista principal foi acompanhada por um riff rápido e afiado de Thrash. Um verso agressivo levou ao refrão muito cativante. A música seguinte mudou uma marcha mais lenta, oferecendo apenas uma parte extremamente curta e acelerada. Sacred Reich acertou em cheio com ambas as faixas, embora mostrassem uma inconfundível tendência à repetitividade.”
Certamente que a crítica aponta para uma significativa transição entre o primeiro álbum do Sacred Reich e o segundo, que já não tinha o mesmo brilho que seus primeiros registros, e posso concordar, mesmo não sendo a pessoa ideal para depor sobre o Sacred Reich não sendo um admirador de sua sonoridade, tão pouco de sua carreira o que não me exime de compreender seu importante papel na cena Thrash Metal, de sua história e de seu legado para o estilo e o Metal como um todo.
Também do Arizona vinha a Flotsam and Jetsam, banda que rapidamente vai ganhar status, mesmo porque foi a banda que cedeu seu baixista em pleno lançamento do primeiro álbum, Jason Newsted, não só por ter perdido seu baixista, mas por ter perdido seu letrista por tabela. “Doomsday for the Deceiver” 1986 (Metal Blade Records) era um álbum genial, Flotsam and Jetsam, assim como Sacred Reich, Death Angel eram o que se podia chamar de segunda onda do Thrash Metal, que mesmo tendo as influências das grandes bandas do estilo já instaurado três anos antes, vinham com novas ideias, mas ainda assim eram bandas de Thrash Metal e não se preocupavam em rotular sua música com subgêneros hoje tão comuns.
Se a saída de Newsted da banda foi uma perda difícil de superar, ao mesmo tempo os holofotes do mundo do Thrash Metal estavam mirando o “Doomsday for the Deceiver” e o Flotsam and Jetsam. Assim, a banda passou a figurar uma das mais brilhantes bandas da segunda onda se tornando muito notória, principalmente por sua competência musical que estava muito bem representada no álbum e em suas apresentações ao vivo. Claro que as letras das músicas não eram tão maravilhosas, mas davam o tom da adolescência/juventude muito comum aos músicos e integrantes do movimento Thrash Metal daquela época.
Newsted foi por um curto período substituído por Phil Rind, do Sacred Reich, em seguida contrataram Michael Spencer da banda Sentinel Beast de Sacramento. Flotsam e Jetsam fecharam um contrato com a então gravadora do Metallica, Elektra Records, antes de abrir para o Megadeth em 1987 na turnê Peace Sells na Europa e América. Após a turnê com o Megadeth, a banda fez shows selecionados na América com Slayer, Dark Angel , Possessed, Celtic Frost , Sacred Reich e Excel.
Na minha percepção, os anos noventa não foi uma boa década para o Thrash Metal, principalmente as grandes bandas, tanto da primeira, quanto da segunda onda, porque renderam álbuns muito ruins e aquém da capacidade criativa e do talento que essas bandas mostraram no início de suas carreiras, os anos noventa trouxeram uma série de informações fora do Metal tradicional e do que o Thrash tinha como fundamento para agregar valores de outros estilos, inclusive mais brandos e comerciais, deixando a música de muitas bandas mais acessíveis e até comerciais, o que não foi diferente com o Flotsam and Jetsam, que estava numa grande gravadora e os números deveriam falar mais que a ideologia ou um tradicionalismo irrepreensível musical. Certamente que até o “No Place for Disgrace” 1988 (Elektra), o Flotsam and Jetsam ainda estava trabalhando com suas ideias mais primordiais, na transição dos anos noventa, as coisas começaram a pender para o que, facilmente, reconheceríamos como o tal som mais acessível. Certamente que a banda, por não ter nem encerrado, tão pouco dado pausa na carreira, atualmente tem lançado álbuns muito mais robustos e consistentes no estilo que aqueles álbuns dos anos noventa.
Forbidden Evil era o nome da banda que surgiu em 1985 que tinha apenas uma música: “Egypt has Fallen”, depois desta demo eles lançaram mais seis até que Forbidden Evil mudou seu nome para Forbidden em 1987 para evitar ser rotulado como uma banda de Black Metal. Antes da banda mudar de nome, Robb Flynn foi substituído por Glen Alvelais, John Tegio por Matt Camacho e James Pittman por Paul Bostaph (ele mesmo, que entrou no Slayer para substituir Dave Lombardo 1992).
Forbidden então, só lança seu primeiro álbum em 1988 sob o sugestivo título: “Forbidden Evil” o que já parecia uma lenda das bandas de Thrash metal da Bay Area rotularem seus álbuns com o nome antigo de suas bandas. “Forbidden Evil” 1988 (Combat Records), aliás que disco, meus amigos! O que o Forbidden nos apresenta em seu álbum de estreia era digno da segunda onda do Thrash Metal àquela altura, mesmo sendo uma banda que já havia aparecido para a cena através de suas demos desde 1985, o vigor do seu álbum de estreia era exuberante, assim como eram as apresentações ao vivo da banda, uma verdadeira aula de performance genuinamente metal.
As composições da banda rivalizaram as opiniões sobre ela durante todo o tempo, era uma polemica principalmente sobre a voz de Russ Anderson, que soava muito melódica para uma banda de Thrash, mas muitos esquecem que Anthrax teve Neil Turbin e depois Joey Belladonna, que tinham essas características. Fato é que o Forbidden não era uma banda muito exaltada na cena Thrash da época e mesmo sendo uma banda que entregava uma performance tão completa, fosse em gravações de estúdio ou em apresentações ao vivo, sua visibilidade transitava entre as bandas de primeiro e segundo escalão, de forma indeterminada nunca poderíamos cravar qual era sua verdadeira posição.
Outra banda que merece ser citada nesta parte do artigo, sem sombra de dúvidas é o Vio-lence, formada sob o nome Death Penalty em 1985, que eles mudaram para Violence, e então o logotipo de duas camadas com hífen forçou a mudança do nome para sua forma permanente. Em 1986 eles lançaram sua primeira demo contendo quatro músicas e depois mais três até lançarem seu primeiro álbum em 1988 “Eternal Nightmare” (Mechanic Records). Um “bruta” álbum de Thrash Metal a moda americana, com muitos requisitos que se aproximam do Anthrax, mas que tem lá suas doses próprias de velocidade e brutalidade. Vio-lence é o que podemos chamar de elite da segunda onda do Thrash Metal Bay Area muito bem-feito, ainda que sua notoriedade fosse discutível.
Após ter lançado seu primeiro álbum, que por sinal trouxe músicas de suas primeiras demos, com alguns ajustes de arranjos e letras, a banda saiu em turnê com Testament e Sanctuary, e depois outra turnê com Voivod. Só lançando seu segundo álbum por volta de 1990 “Oppressing the Masses” pela já lendária, a essa altura, Megaforce Records (aos que não recordam, essa foi a primeira gravadora do Metallica). Vio-lence é o tipo de banda que agrada de forma certeira as pessoas que estão mais alinhadas com o som feito por Anthrax e Megadeth que o feito por Slayer ou Exodus em seu primeiro álbum, aliás essa divisão sonora acabou por criar uma rivalidade um pouco boba que acabou respingando no Death Metal e vice-versa, ambos os estilos entraram num duelo de rivalidade que não fazia muito sentido olhando daqui deste tempo, mas isso foi realmente muito inflamado deixando marcas em muitas pessoas até hoje.
Por problemas com a Megaforce, a faixa “Torture Tactics” foi retirada do segundo álbum: mais de 20 mil cópias do disco foram destruídas por conter a canção, censurada pela gravadora, visto que as letras tratavam de tortura e morte. Em 1991, já com outra gravadora, o grupo lançou o EP “Torture Tactics” 1991 (Caroline Records), que incluía a dita faixa com mais outras três músicas das sessões do álbum “Oppressing The Masses”.
Conflitos internos resultaram na saída de Robb Flynn da banda, que posteriormente formaria o Machine Head. Ainda em 1990, o Vio-lence gravou seu terceiro e último álbum chamado “Nothing to Gain” (Pony Canion), porém só foi lançado em 1993, um pouco antes da sua separação. Este disco não foi bem recebido como os dois primeiros, pois a banda parecia ter perdido a verdadeira pegada dos anteriores, por ser um álbum mais lento, abusando de grooves, aliás isso foi uma das pragas que contaminaram as bandas de Thrash na década de noventa, em momento mais oportuno irei tratar desse assunto, assim como a assimilação não apenas do groove como do RAP e do industrial, que veio a descaracterizar muito o estilo e impor que o novo era aquele tipo de sonoridade.
Onslaught, banda do Reino Unido, formada em 1982 como uma banda de Hardcore, mas transitando para o Speed Metal no meio do caminho, após lançar sete demos e um split, eles irão lançar seu álbum de estreia calcado basicamente no Speed Metal repleto de referências ao Venom, como a maioria das bandas que tinham inspiração naquele estilo tão único e original oferecido por eles. Não é segredo que o Hardcore foi a base musical usada pelas bandas americanas para iniciar o estilo Thrash Metal, porém o Onslaught não seguiu exatamente a mesma sequência que as bandas da sua época, já que estavam ligados a cena punk e não a cena metal fazendo esse caminho mudar.
Onslaught, claramente uma banda original e pioneira no estilo no seu país ao lado de bandas como Sabbat, Xentrix e Acid Reign, mesclou suas influências de hardcore e NWOBHM culminando no seu primeiro álbum “Power from Hell” 1985 (Children of the Revolution). Musicalmente ele era considerado fraco e chato pela crítica, mas que apontava momentos bons com relação alguns rifes e a ousadia de mesclar tudo aquilo com o Venom. “Power from Hell” é daqueles discos das bandas de Thrash alemãs que flertaram com o Speed Black Metal e serviram de influência direta para bandas do gênero ou mesmo bandas de Black Metal de Death Metal, principalmente durante a década de noventa que foi o ápice desses estilos enquanto o Thrash entrava em decadência e ostracismo criativo crítico.
Fica mais evidente sua adesão mais eficaz ao Thrash Metal a partir do seu segundo álbum “The Force” 1986 (Under One Flag), talvez seu melhor álbum lançado até hoje na história da banda, foi um álbum incrível, com rifes poderosos e uma voz muito mais ligada ao estilo inclusive com refrãos e gritos agudos durante as músicas. “The Force” entrega um genuíno disco de Thrash Metal que vai levar o Onslaught para um status muito importante dentro da história, principalmente em Bristol, Inglaterra, onde o guitarrista Nige Rockett e o baterista Steve Grice criaram a banda.
Depois do “The Force” a banda lançou seu terceiro álbum “In Search of Sanity” 1989 (London Records), que já apresenta um som mais polido e letras que não tratam mais de Satanismo como os dois primeiros, que não podemos esquecer das influências diretas do Venom. “In Search of Sanity” aparecem mais influências do Thrash norte-americano, além do som polido a London Records achava que o vocal de Sy Keeler não estava adequado, mesmo contrariando a banda, a gravadora optou por Steve Grimmett (ex-Grim Reaper) para gravar o álbum, essa mudança contribuiu para o atraso do lançamento que só aconteceu em 1989, três anos após o “The Force” ser lançado. As mudanças musicais da banda, as divergências com a gravadora e a insatisfação do público da banda, foi diluindo a carreira do Onslaught que, em muitas críticas, eram apontados como uma espécie de traidores, e que aquele disco representava a descaracterização da banda, em partes era verdade!
“In Search of Sanity” em contrapartida, foi um dos álbuns mais populares da banda, também o mais promovido pela gravadora. No início de 1990, Steve Grimmett decidiu deixar a banda por motivos internos e foi substituído por Tony O’Hora. A banda então começou a escrever e gravar um quarto álbum. A London Records decidiu não renovar o contrato com o Onslaught, deixando a banda sem contrato de gravação. Roadrunner ofereceu-lhes £ 50.000 (cinquenta mil libras), mas Rockett se recusou a assinar com uma gravadora independente, e eles decidiram se separar no início de 1991.
Pelo fato de o Artigo ficar deveras extenso, irei adiar algumas bandas para as próximas partes, caso do Artillery e Overkill, que merecem palavras específicas sobre suas histórias, e nesse capítulo eu enfatizei as bandas que deram maior significado ao estilo e sua expansão assim como o fenômeno da segunda onda do Thrash Metal. Tem sido muito instigante desbravar esse estilo e suas histórias, assim como visitar minhas próprias memórias, minha relação com essas bandas e perceber o quanto elas sempre estiveram e fizeram parte de minha existência. Teria a audácia de dizer que o Thrash Metal foi responsável por dar um contorno que o Metal precisava inclusive para abrir espaços para bandas ainda mais extremas como do Death e Black Metal. Como de costume, segue a lista de indicações para essa semana:
Dark Angel – “We Have Arrived” 1985 (Azra Records)
Dark Angel – “Darkness Descends” 1986 (Combat Records)
Nuclear Assault – “Brain Death” EP 1986 (Combat Records)
Nuclear Assault – “Game Over” 1986 (Combat Records)
Nuclear Assault – “Survive” 1988 (I.R.S. Records)
Death Angel – “The Ultra-violence” 1987 (Enigma)
Death Angel – “Frolic Through the Park” 1988 (Enigma)
Death Angel – “Act III” 1990 (Geffen Records)
Sacred Reich – “Ignorance” 1987 (Metal Blade Records)
Sacred Reich – “Surf Nicaragua” EP 1988 (Hollywood Records)
Flotsam and Jetsam – “Doomsday for the Deceiver” 1986 (Metal Blade Records)
Flotsam and Jetsam – “No Place for Disgrace” 1988 (Elektra Records)
Forbidden – “Forbidden Evil” 1988 (Combat Records)
Forbidden – “Twisted Into Form” 1990 (Combat Records)
Vio-Lence – “Eternal Nightmare” 1988 (Mechanic Records)
Vio-Lence – “Oppressing the Masses” 1990 (Megaforce Records)
Onslaught – “Power from Hell” 1985 (Children of the Revolution)
Onslaught – “The Force” 1986 (Under One Flag)
Referencias:
Wiederhorn, Jon. Barulho infernal: a história definitiva do heavy metal/ Jon Winderhorn & Katherine Turman; [tradução: Denise Chinem]. São Paulo Conrad Editora do Brasi, 2015
April 2010, Jon Wiederhorn 13. «Clash of the Titans Tour: Iron Giants». guitarworld (em inglês). Consultado em 29 de janeiro de 2024
Gilmore, Mikal; Gilmore, Mikal (11 de julho de 1991). «Heavy Metal Thunder: Slayer, Megadeth and Anthrax». Rolling Stone (em inglês). Consultado em 29 de janeiro de 2024
Gilmore, Mikal (28 de junho de 2012). Night Beat: A Shadow History of Rock & Roll (em inglês). [S.l.]: Pan Macmillan
www.metal-archives.com consultado em 29 de janeiro de 2024
Get Thrashed: a história do thrash metal (documentário) disponível em https://www.youtube.com/watch?v=JepHTgRiV7E consultado em 27 de janeiro de 2024