Thrash Metal parte 7

O fracasso do segundo pelotão de brigada do thrash metal

Dark Reflections

Olha, eu queria mesmo fazer disso aqui um baita de um livro, mas posso lamentar que temos algum tipo de insuficiência que invista em pesquisas ligados a contracultura e o Metal não está longe disso. Não conheço editoras que invistam em escritores brasileiros e que publique livros feitos por brasileiros ligados a cena Metal, apesar de notar que temos algumas editoras que estão conectadas com o Metal relançando livros traduzidos e isso é muito interessante, óbivo, quem sabe um dia os olhos se voltem para as pessoas que trabalham para essa cena e que desejam contribuir com as histórias que essa mesma cena tem pra contar e que não fique apenas em documentários mal produzidos ou com imagens precárias e roteiros duvidosos, ou mesmo em relatos curtos sem que se aprofunde totalmente nos assuntos.

Não quero aqui parecer prepotente, apenas estou desabafando também como consumidor dessa contracultura e sobre a dificuldade de fazer determinadas pesquisas porque a maioria dos materiais disponíveis, inclusive sobre bandas brasileiras não são em português e não estão disponíveis no Brasil. Eu tomei a iniciativa de escrever sobre o Thrash Metal, primeiro por apreciar uma série de bandas que me iniciaram no Metal e me deram muita possibilidade de me interessar mais pelo metal extremo, aprender muitas coisas e digo que graças ao metal eu descobri mundos, línguas, culturas que puderam me enriquecer intelectualmente e que, também, por causa do Metal fiz muitas escolhas sobre meu caminho pessoal.

Nesta parte da série de artigos sobre o Thrash eu quero aqui trazer algumas bandas que considero injustiçadas até hoje, bandas que talvez estejam no segundo ou até mesmo no terceiro escalão do gênero, quiçá por essa mesma injustiça, afinal o gosto é uma coisa totalmente imprevisível, e que bom que é! Mas muitas vezes a lógica não acompanha o gosto e posso perceber que muitas bandas vão perdendo terreno porque a falta de lógica na idolatria faz com que muitas dessas sumam na poeira deixada por aquelas que ganharam frente e dispararam no gosto do público.

De peso eu colocaria logo o Hirax, que surgiu em Cypress, California, em 1984 composta por Katon W. De Pena (vocal), Scott Owen (guitarra), Gary Monardo (baixo) e John Tabares (bateria) seu primeiro álbum “Raging Violence” 1985 (Metal Blade Records) é uma daquelas pérolas raras que surgiu bem no meio da explosão da Segunda Onda do Thrash Metal e seguia muito um som mais conectado com a NWOBHM, inclusive com aquela elegância que algumas bandas inglesas tinham.

No ano seguinte eles passaram por uma mudança na formação: o John Tabares deixou a banda e Eric Brecht (irmão do vocalista do DRI Kurt Brecht) entrou. Com essa nova formação eles gravaram o seu segundo álbum, que surpreendentemente contém apenas 16 minutos e oito músicas. “Hate, Fear and Power” 1986 (Metal Blade Records), marcando o fim da jornada da banda no selo Metal Blade, tirando a banda do que podemos chamar de mercado, forçando-os a voltarem aos status de demos até que eles decidem encerrar a carreira em 1989. Quando eu digo que o Hirax era uma banda de peso, tem tudo que ver com o período em que eles apareceram para a cena, terem assinado com uma gravadora também promissora que era a Metal Blade e não ter sido muito bem agenciada, já que eles tinham todos os requisitos que as demais bandas da época da segunda onda tinham, o que faltou ao Hirax? Sorte? Competência?

Assim como muitas bandas de Thrash Metal dos anos 80, Hirax retornou nos anos 2000, entusiasmados com a procura dos fãs e o encorajamento destes fãs para que a banda retornasse. De Pena reuniu a banda com a formação original de Scott Owen, Gary Monardo e John Tabares, lançando o EP “El Diablo Negro” em 2000 (Deep Six Records). Com o passar do tempo essa formação sofreu profundas alterações, mas não fez a Hirax parar e eles lançaram seu terceiro álbum “The New Age of Terror” em 2004 (Deep Six Records) recolocados na cena e fazendo grandes eventos. Hirax ainda não era aquela banda que poderia estar no mesmo patamar que Metallica, Anthrax, Slayer e Megadeth ou as alemãs Kreator, Destruction, Tankard e Sodom, mas era uma banda de respeito. A carreira da banda ainda segue, tendo em seu vocalista De Pena o único remanescente da formação original e mantendo a banda ativa, lançado álbuns (lançou mais dois álbuns depois do “The New Age of Terror”) splits e eps.

Seguindo a mesma ideia desta parte do artigo, eu vou trazer a Demolition Hammer, que banda meus amigos! confesso a vocês que é uma de minhas bandas de Thrash Metal preferida e sim, uma das bandas injustiçadas da história do estilo. Chegou à cena Thrash Metal da Costa Leste por volta de 1986. A formação original consistia em Steve Reynold (vocalista e baixo), James Reilly (guitarra) e John Salerno (bateria). Sua primeira fita demo “Skull Fracturing Nightmare”, foi lançada em 1988. Ela ganhou notoriedade entre fãs do gênero e gravadoras independentes. Derek Sykes foi contratado como segundo guitarrista e Vincent Civitano (também conhecido como Vinny Daze) substituiu Salerno. Sua segunda demo, “Necrology”, garantiu ao grupo um contrato de gravação com a Century Media Records e é daí que começam uma jornada de lançamentos insanos de um tipo de Thrash Metal cheio de vigor, na base do que poderíamos chamar de um som avassalador como o nome da banda supõe.

Em 1990, com a produção do já famoso Scott Burns, mas com um baixo orçamento, eles gravaram “Tortured Existence” (Century Media Records), álbum que marca a história da banda, mas que aparece num momento de transição do estilo e em que as grandes bandas do gênero estavam engolindo tudo e pouco restava para bandas relativamente novas e, pior ainda, tendo suas produções tão tímidas. Apesar do baixo orçamento, “Tortured…” é um excelente álbum com rifes robustos, peso, velocidade em boas doses e violência sonora de altíssima qualidade.

Em 1992 é lançado seu melhor trabalho, o magnífico álbum “Epidemic of Violence” (Century Media Records), traz um ar mais claro para sua música, deixando o som mais evidente, porém sem perder o peso a velocidade e a violência. As composições são muito bem-feitas, enxutas e sem exageros ou muitas firulas, mas é um dos melhores discos de Thrash Metal que já tive o prazer de ouvir reiteradas vezes e recomendo para aqueles que querem ter uma aula sobre Thrash Metal.

O Demolition Hammer, infelizmente, cai na armadilha do groove, a praga do Thrash Metal dos anos noventa e lança seu terceiro disco chamado “Time Bomb” 1994 (Century Media Records), esse é um disco que joga a carreira de uma banda no ralo, com toda certeza. Aos apreciadores do Sepultura na época de discos como “Chaos A.D.” 1993, é um disco que segue essa linha. Enfim, foi a pá de cal que a banda deu em sua carreira tão ruim que é esse disco e que estava muito evidente naquele momento essas tendencias ao groove, rap e industrial que acabou como muitas bandas tradicionais do Thrash Metal naquela década. Demolition Hammer encerrou a carreira sendo enterrado junto com esse álbum terrível, uma verdadeira bomba relógio, agravado pela morte do integrante Vinny Daze, envenenado pelo Baiacu (um peixe que é comestível, mas possui veneno e o preparo requer muita habilidade) em viagem ao continente africano. A banda anunciou retorno em 2016, porém ainda não lançou nenhum material novo.

Blood Feast

Blood Feast banda formada em 1985 (a explosão da segunda onda do Thrash Metal), na cidade de Bayonne, Nova Jersey, tinha outro nome: Blodlust. A formação era o baterista Kevin Kuzma, o baixista Louis Starita, o vocalista Gary Markovitch e o guitarrista Adam e lançou sua primeira demo em 1986 sob o título “The Suicidal Mission”. Após ter lançado sua primeira demo e integrado mais um guitarrista Michael Basden, a banda assina com a gravadora New Renaiscense Recods e grava o seu primeiro álbum, apesar da própria banda ter custeado toda a gravação, aliás, hoje isso é muito mais comum que naquela época.

“Kill for Pleasure” 1987, foi um álbum bombástico que infelizmente se tornou uma pérola perdida graças aos problemas enfrentados pelo selo e pela má promoção dele. “Kill for Pleasure” é um disco de Thrash Metal que já flertava com o Death Metal, estilo que estava em pleno desenvolvimento naquele período, mas ainda era muito obscuro e ainda mais underground que o Thrash. O disco é feroz e consegue facilmente unir a Bay Area e o Thrash alemão do Destruction, mas com um vocal bem peculiar. Após o lançamento do primeiro álbum a banda conseguiu fazer alguns shows e promover o álbum da maneira que deu.

Em 1987 eles lançaram um EP maravilhoso chamado “Face Fate” também pela New Renaiscence Records, por sinal tenho até um certo orgulho de possuir esse material em Picture LP e realmente é muito bonito o material. Neste mesmo período a banda gravou um demo contendo 10 faixas, que viria a ser um pré-produção do seu segundo álbum, como demo o material foi lançado com o título de “The Last Remains”, e em 1989 o mesmo material foi lançado como álbum com o título “Chopping Block Blues” (Colossal Records), a essa altura sem seu guitarrista Adam Tranquili. A banda finalizou atividades em 1991 sendo uma daquelas bandas fantásticas do gênero, mas que teve baixo alcance entre o grande público do Thrash Metal e, assim como boa parte das bandas que encerraram carreira entre o final dos anos 80 e incio dos anos 90 a banda também voltou as atividades duas vezes, sendo que da segunda vez chegou a lançar um terceiro álbum em 2017 chamado “The Future State of Wicked” (Hells Headbangers Records) e um EP “Chopped, Sliced and Diced” 2018 (Hells Headbangers Records).

Na trilha de bandas secundárias, que não ganharam o devido valor durante seus anos de existência, temos o Heathen, banda de São Francisco, Bay Area, que veio a tona exatamente no momento mais exuberante do estilo, mas não teve a mesma apoteose das bandas da época como Vio-Lence, Exodus, Testamen ou Dark Angel. Heathen foi formado em 1984 pelo guitarrista Lee Altus e pelo baterista Carl Sacco (ex- Metal Church), que mais tarde recrutou o vocalista Sam Kress e o guitarrista Jim Sanguinetti (que fundou a banda Mordred). Efetivamente a banda só incio sua jornada de ensaios e eventos após estabilizarem a formação que passou por algum tempo com problemas para se completar, ainda assim a banda tinha alguma proficiência na cena da Bay Area e eram relativamente, bem recepcionados pelo público. Seu som era uma boa mescla do que o Thrash seguia na linha do Metallica aliado a NWOBHM, solos nervosos e muita aposta em partes acústicas o que os colocavam bem próximos ao Testament, por exemplo.

Em 1986, a banda grava sua demo “Pray for Death” que vai lhe render um contrato com a Combat Records, que vai lançar seu primeiro álbum “Breaking the Silence” de 1987, por sinal um álbum muito bom, aliás melhor que muitos discos de Thrash de bandas gigantes na mesma época, por tanto incluindo o Heathen entre as bandas injustiçadas do gênero. A banda ainda sofreu com instabilidade de formação e conseguiu gravar seu segundo álbum já em outra gravadora a Roadracer Records e, em 1991, foi lançado o disco “Victims of Deception”, esse álbum sem sombra de dúvidas é um soco na cara do Metallica que, àquela altura, estava promovendo o fiasco “Black Album” enquanto o Heathen lançava um delírio do Thrash Metal com classe, identidade e uma qualidade de composição absurda, aliás, eles sempre tiveram essa característica apesar de muitas pessoas confundirem o som que a banda faz com Speed Metal, erroneamente! É recorrente uma frase que se usa no Metal para determinar quando uma banda toca um estilo da maneira mais natural e absolutamente correta que representa fielmente o estilo em todo seu esplendor: “como deve ser!” e, sim, o Heathen no álbum “Victims of Deceptions” gravaram um Thrash Metal como ele deveria ser. A banda se separou em 1993 e voltou em 2001, lançando um álbum fantástico em 2010 chamado “The Evolution of Chaos” (Mascot Records) ainda dando aulas de Thrash Metal, o álbum mais recente lançado por eles é o “Empire of the Blind” 2020 (Nuclear Blast) que acabou sendo lançado aqui no Brasil.

Uma banda especial do Thrash Metal norte-americano que também acabou ficando na margem do estilo foi o Whiplash, banda de Nova Jersey que chegou a ser mencionada como uma das principais bandas do estilo na Costa Leste dos Estados Unidos e, principalmente pelo pioneirismo. Outro fato curioso foi Whiplash ser notado por apresentar o baterista Tony Scaglione que foi uma substituição temporária de Dave Lombardo no Slayer na turnê do “Reign in Blood”.

Whiplash teve em sua formação original Tony Portaro, Tony Scaglione e Tony Bono que juntos gravaram seu álbum de estreia “Power and Pain” pela Roadrunner Records, em 1986. Esse álbum mostra um belo poderio sonoro, onde os músicos apresentam um grande entrosamento e criatividade, fazendo um disco cheio dos puros requisitos do genuíno Thrash Metal e se existe banda injustiçada no mundo da música pesada essa se chama “Whiplash”, apenas por dizer que integrantes dessa banda já foram cogitados por gigantes como Slayer e Kreator. Seus lançamentos, nesse período foram sucessivos, saindo um álbum por ano, praticamente.

Em 1987, sai o “Ticket to Mayhem” (Roadrunner Records), certamente o disco mais famoso deles para nós brasileiros, porque foi um álbum lançado por aqui já que o selo tinha representação por estes lados, do mesmo modo que por aqui a banda não foi uma das que mais fez sucesso, chegava a ver esse disco sendo promovido por preços módicos por muitos anos nas lojas aqui de minha cidade e creio que realmente, Whiplash foi uma banda que passou meio que despercebida pela cena. 1989 saiu o “Insult to Injury” (Roadracer Records) o disco mais maduro deles e o que apresenta um pouco mais de polidez, inclusive! A banda já demonstrava significante experiencia e estava na crista da onda do gênero, mas não conseguia a notoriedade que merecia, afinal o mainstream é um espaço bem restrito, convenhamos.

A banda passou por maus bocados, crises comerciais, certamente pela dificuldade de estar entre as grandes do estilo e, por outro lado, estar numa gravadora de grande expressão naquele momento, basta lembrarmos que a Roadrunner foi simplesmente a gravadora de bandas como Deicide, Sepultura, Obituary etc. em meio a toda essa crise a banda se dissolve, mas retorna em 1995 com uma nova formação contando com Portaro e Scaglione e saindo em turnê com M.O.D. que também estava voltando. Em 1996 eles lançam seu quarto álbum “Cult of One” (Massacre Records), bom, morrer e ressuscitar é uma tarefa árdua, mas como já ficou evidente aqui neste artigo foi a síndrome que assolou as bandas de Thrash Metal, principalmente as bandas que encerram a carreira que parecia não ter sucesso e essas mesmas carreiras discretas serem retomadas duas, três vezes na história. Esse quarto álbum do Whiplash nasce justamente quando o estilo está passando por uma transição que causa uma série de interferências no som das bandas e, já devo ter mencionado antes, o Grunge era o principal estilo do mainstream dessa época e o que vai acontecer com o Whiplash? Absorver a sonoridade do Grunge em seu estilo de som despejando para fora toda aquela aura fantástica que teve em seus três primeiros álbuns, entregando um som muito estranho e perdendo um pouco de sua identidade.

Já o “Sit Stand Kneel Pray” de 1997 (Massacre Records), já resgata a sonoridade do Thrash Bay Area, apesar do curto espaço de tempo de lançamento entre o quarto e o quinto álbum. Enfim, a banda lança mais um álbum o “Thashback” 1998 (Massacre Records) e termina mais uma vez para retornar em 2007 e lançar o “Unborn Again” (Pulverized Records) em 2009, a banda ainda se encontra em atividade após o segundo retorno, mas nunca foi a mesma desde que parou em 1990.

Chegamos à alemã Deathrow, que inicialmente tinha o nome de Samhain e chegou a lançar demos com o seu primeiro nome. Rapidamente a banda ganhou notoriedade na cena Thrash Metal alemã chamando atenção da gravadora Noise que, a essa altura, era uma das gigantes do estilo. Deathrow foi formado no ano de 1984 como Samhain e em 1986 que assumiu seu nome definitivamente como Deathrow, quando lançou seu primeiro álbum que teria o nome “Satan´s Gift”, mas por questões comerciais ou morais, vai saber! Eles foram obrigados a trocar o título do álbum para “Riders of Doom” (Noise Records), não apenas o título, mas a capa também teve de ser alterada.

Deathrow em seu primeiro registro seguia muito do que se fazia na Alemanha no início, muito próximo do Destruction e do Sodom, Deathrow tinha um som violento, veloz e muito bem-feito, mas não emplacou. Em 1987 eles lançam seu segundo álbum que, de forma surpreendente, entrega uma sonoridade nova, complexa e progressiva dentro do Thrash Metal o que seria de fato uma novidade, ainda não existiam bandas muito notórias fazendo aquele tipo de som e, provavelmente, Deathrow foi uma das pioneiras no subgênero. Ainda com as mudanças sonoras, a banda ainda era furiosa e requintada sobre o que faziam diante do Thrash Metal e estavam bem à frente do seu tempo. Certamente “Raging Steel” 1987 (Noise Records) é o disco mais bem elaborado da banda e inclusive chegou a ser lançado em vinil no Brasil, assim como alguns álbuns de bandas de Thrash do segundo escalão como Whiplash, Athrophy, Assassin etc. Deathrow chegou a ser comparado com as bandas Coroner, Watchtower e Mekong Delta, mas não eram tão parecidas assim, não!

A técnica e o ar progressivo do Deathrow ficaram muito evidentes mesmo no seu terceiro álbum “Deception Ignored” 1989 (Noise Records), seu disco mais complexo e menos conhecido por nós brasileiros, garanto. Anos mais tarde, em 1992, eles lançariam mais um trabalho por uma pequena gravadora, ”Life Beyond” (West Virginia Records), que tentou capturar elementos tanto de seus primeiros dias de fast thrash quanto de seu período tecnicamente elaborado, juntamente com elementos de groove metal americano (a praga) que se tornaram proeminente na cena metal no início dos anos 90. A banda finalmente acabou em 1994, deixando para trás um legado desconhecido que culmina com “Deception Ignored”, um lançamento venerável que estava na vanguarda da cena do metal progressivo em desenvolvimento.

Aproveitando que estou falando de bandas técnicas dentro do Thrash metal me veio a memória imediatamente a americana Toxik, aliás uma banda que gosto muito dos seus trabalhos e como apreciador, estudioso e professor de arte, sempre achei a logo da banda uma das mais bonitas já produzidas no universo metálico. A banda iniciou sua carreira em 1985 sob o nome Tokio, mas precisou mudar para não sofrer ação judicial por causa de outra banda que já existia e tinha o domínio sobre o nome. Ainda como Tokio a banda passou dificuldades com suas formações o que a impediu de progredir em seus projetos. Esses problemas eram de fato muito sérios, a ponto de um de seus integrantes, Lee Erwin, ter saído da banda por problemas de depressão. Em 1987, já como Toxik a banda assinou com a gigante Roadrunner e lançou seu primeiro e maravilhoso álbum “World Circus”, por sinal, mais um que foi lançado em terras Brasilis.

Esse álbum foi um dos mais espetaculares álbuns de Thrash Metal lançados em 87 e chegou a ser eleito como o melhor álbum do ano pelo Coullege Music Journal de Nova Iorque e entrou para lista de melhores álbuns no Metal Blade ficando em nono lugar. Tudo isso lhes rendeu uma participação na famosa coletânea Metal Massacre além de uma eficiente turnê de divulgação do álbum. Depois da turnê a banda perdeu seu vocalista que deixou a banda e não há informações sobre os motivos, aliás Mike Sanders se mostrou um excelente vocalista neste primeiro registro.

A banda estava num nível interessante de sucesso sob o lançamento de seu primeiro álbum, sendo assim, gravaram seu segundo álbum também pela Roadrunner chamado “Think This” em 1989. O sucesso de “World Circus” e o lançamento do novo álbum também lhes renderam uma série de turnês pelos Estados Unidos e Europa, também trouxe algumas trocas de integrantes. Esse período, onde eles ficaram em torno de três anos em turnê chegou a fim em 1992 com a separação da banda. Toxik também foi uma daquelas banda que acabaram e se reuniram novamente, neste caso eles encerraram atividade em 1992 e retornaram em 2007 e terminaram em 2010 que só lhes rendeu relançamentos e um ao vivo. Mais tarde, em 2013 eles se reuniram mais uma vez e lançaram dois álbuns “Kinetic Closure” 2020 (SubLevel Records) e “Dis Morta” 2022 (Massacre Records), mas como meu espírito é extremamente saudosista quanto ao Toxik eu fico com os dois primeiros álbuns lançados ainda na década de 80.

Essa parte da série de artigos sobre o Thrash, onde eu busquei trazer o que eu considero o segundo escalão das bandas do gênero, se tornou um apanhado de bandas que tiveram seus trabalhos frustrados pela relativa falta de sucesso, as bandas criavam grande expectativa sobre seu trabalho, seu talento e dedicação a arte musical, mas não recebiam a devida atenção do público ou mesmo o reconhecimento. Hoje, me parece, existe uma caça a estas relíquias do passado, mas quem lá esteve, no passado, sabe que essas bandas eram aquelas que ficavam encalhadas nas prateleiras das lojas de discos e, realmente, não chamavam a atenção do público como deveriam, a cena também era muito marcada por aquelas que empolgavam e muitas vezes existiam sentimentos mais estreitos que atraiam as pessoas para as bandas mais expressivas e que figuravam nos principais veículos de comunicação especializado da época, a velha influência da cultura de massa que ardia sobre as cabeças dos alienados. Por tanto, era deveras difícil que bandas como a maioria que aqui trouxe e ainda trarei, figurarem no que chamávamos de mainstrem do Thrash Metal.

Uma dessa bandas era a alemã S.D.I. que assim como as demais, tiveram um forte flerte com o Speed Metal sendo uma banda muito boa, por sinal, mas que morreu na praia como muitas outras. Claro que Satan´s Defloration Incorporated era uma banda que merecia muito mais visibilidade, mas não teve a sorte de iniciar sua carreira numa gravadora de peso, lançando seu primeiro álbum em 1986 pela pequena Scratchore (mesmo selo que lançou bandas como Vectom e Necronomicon). S.D.I. foi uma banda que transitou entre o Speed e o Thrash e creio que foi uma das primeiras bandas a investirem em balada em seus discos, o que não era tão comum as bandas de Speed Thrash alemãs naquela época, mas sim nas bandas americanas como o Metallica que emplacou uma balada nas rádios em seu segundo álbum “¨Ride the Lightining” com a música “Fade to Black”.

S.D.I. ainda gravou o segundo e o terceiro álbum: “Sign of the Wicked” em 1988 (Scratchore Records) e em 1989, “Mistreatment” (Hot Blood Records). O segundo álbum está muito mais próximo do Speed/Heavy Metal e traz algumas pitadas do Thrash, mas eu diria que o SDI está mais próximo de outro tipo de sonoridade em relação as bandas alemãs da mesmo época, já o terceiro é um álbum até mais elaborado e na minha escuta, muito mais Speed Metal que os demais e fica difícil identificar o Thrash Metal apesar da presença de uma sonoridade aqui ali, creio que o SDI tentou mesclar o Speed com NWOBHM e mais o Thrash norte-americano a medida em que eles se afastam muito do estilo praticado em seu país, ademais uma marca evidente do Thrash alemão é o sotaque carregado que o S.D.I. não aparentava tanto assim. Entre o segundo álbum e o terceiro a banda muda de guitarrista que entrega novas influencias e dá pra perceber por sua técnica que houve uma sensível mudança no som da banda. Reiner Rage, novo guitarrista, após o lançamento do terceiro álbum inicia um processo de composição do que seria o quarto álbum da banda, mas esbarra no fracasso de mercado da banda, ou seja, não deu certo, não obteve o sucesso esperado e a banda se desfez em 1992.

Como quase todas as bandas, S.D.I. se reuniu em 2014, e continua em atividade até hoje chegou a lançar o tal quarto álbum em 2020 “80s Metal Band” (MDD Records), álbum muito mal avaliado pela crítica que disse esperar mais de uma banda que retornou as atividades tantos anos depois chegando a dizer que o álbum é medíocre, sem empolgação, refrãos fracos e solos longos demais… melhor estivessem deixadas suas carreiras em 1992 mesmo.

Outra destas bandas do segundo escalão de brigada do Thrash metal é a Evildead, mais uma daquelas injustiçadas que tinha uma boa composição, mas sofria com as formações. A banda iniciou sua jornada composta por membros das bandas Agent Steel e Abattoir (Speed Metal). Suas intenções eram que o Evildead fosse um projeto paralelo que tivesse um pouco mais de ousadia que suas bandas convencionais. Em 1986 Evildead é formado pelo guitarrista do Agent Steel, Juan Garcia, e do baixista do Abattoir, Mel Sanchez, seguindo a linha de bandas como Testament, Vio-Lence, Sacred Reich e outras com letras explorando temas políticos e sociais misturados com humor e terror e tópicos de guerra nuclear. O nome da banda foi inspirado no filme de terror de Sam Raimi, The Evil Dead.

Em 1988, a banda assinou um contrato de gravação com o selo alemão Steamhammer Records e lançou “Rise Above” (um EP de três faixas com as músicas “Sloe-Death”, “Run Again” e a faixa-título que é uma versão cover de uma música do Black Flag) no ano seguinte. Em 1989, finalmente, eles lançaram seu primeiro álbum de estúdio “Annihilation of Civilization” (Steamhammer Records), certamente o disco de maior sucesso da banda, que tem de fato, uma pegada muito mais selvagem que as bandas de origem dos integrantes originais. O primeiro álbum rendeu uma série de críticas positivas que elevaram os interesses do underground sobre o trabalho, ainda que a banda não tivesse o mesmo alcance da própria Agent Steel, por exemplo. O trabalho é bem regado de brutalidade, selvageria e um ar sombrio que recobre as composições, com rifes muito eficientes e uma qualidade técnica muito boa, comparado com muitas bandas da sua época.

“The Underworld” 1990, foi o segundo álbum da banda, que não teve a mesma repercussão do primeiro, mas também se trata de um bom disco e, diria, faz com que a banda tenha recuado sua progressão e não conseguido escalar os degraus para o estrelado. Em 1992, a banda lançou um álbum ao vivo retirado da turnê, “Live…From The Depths of The Underworld” (Steamhammer Records), mas foi seu último lançamento devido ao movimento grunge que estava surgindo na época, que estava substituindo muitas formas do heavy metal dos anos 1980 e hard rock nos Estado Unidos, assim como uma dura transição das bandas que estavam assimilando o groove e o industrial, fato que já relatei aqui outras vezes… isso tornou a Evildead mais uma banda que foi frustrada pelo mercado e, em minha visão analítica de tudo isso, muitos destes músicos haviam crescido o olho sobre um estilo que havia ganhado um status monstruoso, colocando bandas de Metal vendendo números estratosféricos e criando no ego destes a ideia que eles possuíam a expertise perfeita para conquistar público e mídia, mas isso não era tão simples e na peneira do mainstream só ficam os mais graúdos, o que ainda não era o caso do Evildead.

Como se tornou natural, a banda tentou retornar as atividades por duas vezes, uma já no ano seguinte de sua dissolução tentando registrar novas composições para um terceiro álbum, mas a produção não se completou, em 1994 eles lançaram uma demo na tentativa de conseguir uma nova gravadora, mas não deu certo e em 1997 a banda se separou novamente. A banda entrou num hiato e em 2008 voltou a se reunir, em 2009 passou a fazer shows e turnês resgatando os velhos álbuns da década de oitenta, chegaram a anunciar que gravariam e lançariam o tão desejado terceiro álbum, mas em 2012, voltaram a se separar. Em 2016 a Evildead volta a se reunir para um show, mas acaba por anunciar que voltariam permanentemente e que lançariam o terceiro álbum, o que de fato aconteceu em 2020 sob o título “United $tate$ of Anarchy” pela sua antiga gravadora Steamhammer e continuam em atividade.

Mais uma das bandas do segundo escalão que também circula muito no underground e, percebi, que a cena Black Metal nutriu um interessante apreço por ela foi o Necronomicon, banda alemã, contemporânea de Kreator, Sodom e Destruction, mas que ao contrário destas iniciou sua carreira na cena Punk Rock em 1981, depois a banda passou a assumir uma sonoridade mais voltada ao Metal e, principalmente, após absorver influências do Motorhead, Metallica e Slayer.

Em 1983, efetivamente Necronomicon foi fundado pelo líder da banda Volker “Freddy” Fredrich, Axel Strickstrock, Glenn Shannon e Lars “Lala” Honeck, com esse quarteto a banda consegue um contrato com a gravadora GAMA Records. Seu primeiro álbum, autointitulado foi lançado em 1986 através do selo Wave, em que a banda ainda trazia referencias das suas origens do Punk, tanto nas composições, quanto no visual, apesar das suas letras versarem sobre ocultismo, satanismo, morte e assuntos mais próximos dos perfis de bandas como o próprio Slayer. Não na época, mas algumas décadas depois este primeiro álbum do Necronomicon acabou por se tornar um ícone do gênero que influenciou muito bandas de Thrash Black Metal (subdivisão que trarei em uma parte específica do artigo).

A fama do Necronomicon começou a crescer na parte Oriental da Europa em países como a Austria, Hungria, Polonia e antiga Tchecoslováquia após o lançamento do seu segundo álbum “Apocalyptic Nightmare” 1987 (GAMA Records). A banda sempre esteve, de fato, a margem, a sombra das grandes bandas alemãs da cena Thrash Metal, apesar do seu profissionalismo, boas composições, Necronomicon não conseguiu atingir as grandes massas e foi uma daquelas bandas de segundo escalão que não conseguiram ir muito longe. O som se aproxima muito da atmosfera criada por Sodom e Destruction na fase mais Thrash deles, inclusive o vocal é muito parecido com o do Schmier.

Necronomicon teve menos sucesso nesse aspecto devido a alguns contratempos importantes: depois de 1988, quando o terceiro álbum foi lançado pela “Escalation” (GAMA Records), surgiram inconsistências financeiras por parte da gravadora. Necronomicon então se separou da gestão. Como a gravadora ameaçou com uma disputa legal, a banda concordou em renunciar a todos os direitos sobre as músicas junto com o nome da banda por dez anos. Necronomicon também foi obrigado a não assinar outro contrato discográfico. Em 1993, o Necronomicon conseguiu assinar um novo contrato de gravação. O período de embargo de dez anos, aplicado pela GAMA Records, foi agora contestado com sucesso. Mas a alegria do novo contrato, agora com a D&S Records, durou pouco. Embora o álbum “Screams” ainda tenha sido mixado em 1994 sob novo gerenciamento, a D&S Records surpreendentemente relatou insolvência (dívida acima de seus rendimentos) no mesmo ano e rompeu todo contato com a banda. Além disso, um incêndio destruiu a sala de ensaios e parte do equipamento, azar? Será?

A verdade é que muitas bandas que não tinham o mesmo suporte e o aporte de grandes gravadoras, ou mesmo as bandas que não tinham um talento acima da média, sofreriam dos mesmos dilemas, ainda que um incêndio seja uma fatalidade pontual, uma casualidade que não onera meu comentário, da parte criativa até a parte administrativa destas carreiras aqui apresentadas, a maior parte destas bandas eram de fato de segundo escalão, e tinham lá seu charme, tinham algo especial que fizeram delas também componentes integrantes dessa cena e fizeram acontecer da mesma maneira que as consideradas grandes bandas, fossem as Big Four (Metallica, Megadeth, Slayer, Anthrax), Teutonic Four (Kreator, Destruction, Tankard, Sodom) ou ao “big four” of British Thrash Metal (Sabbat, Acid Reign, Onslaught, Xentrix).

A banda, após o lançamento do quarto álbum ainda se manteve em atividade, mas sem uma produção ou lançamentos, mas nos anos 2000, a cena Thrash voltou a se destacar, exatamente com a sonoridade original dos anos 1980, pois os anos 90 foram obscuros demais para o estilo… e o Necronomicon encontrou mais espaço para seu som, conseguindo novas turnês e em 2004 firma contrato para lançamento com o selo alemão Remedy Records e foi lançado o álbum “Construction of Evil”. A banda sustenta carreira até hoje, está com sua sonoridade extremamente atualizada, algo que pretendo comentar em parte específica da série, e lançaram mais seis álbuns após o “Construction…”, sendo o “Constante to Death” (El Puerto Records) lançado em 2023.

Outra banda alemã que merece menção como banda de segundo escalão é a Exumer, fundada em 1985 pelo vocalista/baixista Mem V. Stein e pelo guitarrista Ray Mensh, lançou sua demo “A Mortal in Black” no mesmo ano de formação da banda, mas é importante salientar que o grupo já existia anteriormente com outro nome, Tartaros, seu primeiro e fantástico álbum “Possessed by Fire” 1986 (Disaster Records) foi muito bem absorvido pelo público underground e ganhou boas críticas pela imprensa especializada. “Possessed by Fire” foi considerado um álbum que conseguia reunir o que havia de melhor entre o Thrahs da Bay Area e o tradicional Thrash Metal alemão e não deixava o repertório do disco com altos e baixos, eram um disco com uma incrível regularidade e mantinha bem técnico os requisitos básicos do estilo, isso foi surpreendente para a cena Thrash alemã, por outro lado Exumer não trazia nada de “novo” na sua música, era o continuísmo ou a manutenção de algo que já estava sendo feito e isso era um contributo para a cena, mas não era uma novidade de fato.

O segundo álbum “Rising from the Sea” 1987 (Disaster Records) também foi um disco que buscou seguir os passos das grandes bandas da época, desta feita a banda seguem um pouco mais a linha do Slayer, inclusive no tom de voz bem próximo ao de Tom Araya. Este álbum apresenta um pouco mais de solidez e coesão nas composições tornando o disco até um pouco mais técnico que o primeiro, porém ele não chega a ser tão cativante quanto “Possessed by Fire”. Após o lançamento a banda lança mais uma demo “Whips and Chains” e encerra suas atividades…, mas, ninguém contava com isso (contém ironia), eles retomam a carreira em 2008, após terem se reunido em 2001 para um show no Waken Open Air e lançam o seu terceiro álbum em 2012 “Fire & Damnation” (Metal Blade Records) colocando a banda novamente na cena. A banda continua em atividade e já lançou outros dois álbuns após o “Fire…”, sendo o “The Raging Tides” 2016 e o “Hostile Defience” 2019 (Metal Blade Records).

Tentando costurar essa colcha de retalhos eu rapidamente me recordo de uma banda que, também considero injustiçada tamanha sua qualidade musical e seu apuro artístico, inclusive na produção visual de seus álbuns, é a banda também Californiana, a Defiance. O som do Defiance era muito bem elaborado e, provavelmente junto com o Heathen, tenham sido as pioneiras no quesito Thrash Metal mais técnico e progressivo, ainda que encontremos fortes marcas de Metallica do “Ride the Lighting” e do “Master of Puppets”, Defiance tinha uma composição cheia de originalidade e entrega.

O Defiance foi formado em 1985 pelo guitarrista Brad Bowers, o baterista Matt Vander Ende e o baixista Mike Kaufmann, passou por algumas reformulações pontuais neste período inicial e lançou sua primeira demo “Hypothermia” em 1988, essa demo chamou a atenção do selo independente de metal Roadracer Records, que assinou com a banda naquele ano. Por insistência da Roadracer, a banda viajou para Vancouver, British Columbia, Canadá para gravar seu álbum de estreia com o guitarrista do Annihilator, Jeff Waters.

“Product of Society” foi lançado em 1989 (Roadrunner Records) e que disco, meus amigos? Um álbum de dar inveja a muitos músicos da cena Thrash Metal contemporâneo deles, mas há lago que tira todo o brilho da composição que é a produção, a qualidade de áudio desse disco é muito ruim, muito sofrível e diminui em algum percentual significativo o trabalho que eles realizaram. Até que nesse ponto, considerando uma série de fatores técnicos, é compreensível, apesar de várias outras produções do mesmo calibre e na mesma época serem infinitamente superiores. Lhes digo que tais problemas na produção de um álbum podem comprometê-lo eternamente, ainda que haja toda sorte de compreensão do ouvinte ou mesmo do crítico, isso é um fator problemático para um álbum que se agrava quando a banda tem tantas habilidades para mostrar.

No quesito produção, tão desejado pela gravadora, a banda criticou duramento o trabalho de Jeff Waters, que pediu para que os integrantes do Defiance reduzissem o volume das guitarras, deixando essas com um som “magro” e comprometendo o feeling do disco. O segundo álbum da banda “Void Terra Firma” 1990 (R/C Records), já se mostrou mais eficiente, porém não o suficiente para que a banda crescesse e seu som passasse do segundo para o primeiro escalão, além de outros quesitos como a clara percepção que se tinha sobre a similaridade entre Defiance e Testament. Assim como o público nota, a crítica visualiza mais longe, colocando a banda num status que não empolga, mesmo que com tudo que disse acima sobre a qualidade compositiva e a técnica da banda, era mais do mesmo como ditos sobre o Exumer. Bandas que não tinham histórias fortes de bastidores como os pioneiros do Thrash Metal, que fizeram muito sobre sua fama em sua atuação efetiva nesta cena, algumas bandas apenas integraram esse espaço como “músicos” do Thrash Metal e pouco como “militantes” do movimento e, a meu ver, isso conta bastante.

Após inda e vindas com o vocalista que passava por problemas sérios com as drogas Defiance lança seu terceiro álbum com algum atraso, “Beyond Recognition”, em 1992 (Roadracer Records). Afastando-se das armadilhas do Thrash originais da banda, Defiance explorou músicas extremamente técnicas com compassos estranhos e estruturas musicais fora do comum, até mesmo experimentando elementos de jazz fusion (experimentos comuns em bandas de Death Metal como Atheist, por exemplo), mas permanecendo fiel à fórmula do Thrash Metal. Isso, aliado à produção muito melhorada, fez com que fosse considerado o melhor trabalho de Defiance por muitos fãs. Foi de longe o álbum mais aclamado pela crítica da banda, mas devido à falta de apoio do Roadracer e a uma atmosfera musical em mudança, sofreu nas vendas, especialmente na América (embora as vendas na Europa e no Japão ainda fossem substanciais).

Nessa época, Roadracer aparentemente começou a tratar mal a banda. Foi negada à banda uma turnê pela Europa com o Sepultura, onde a banda ainda tinha um público substancial. Jim Adams e Matt Vander Ende deixaram a banda depois que o single provisório do álbum, “Inside Looking Out” (com participação vocal de David White do Heathen), teve seu lançamento negado como single ou vídeo. Por volta de 1995 a banda encerrou suas atividades e tentou retornar outras vezes, uma dessas vezes foi entre 2005 e 2012 que rendeu um quarto álbum o “The Prophecy” 2009 (Candlelight Records) e depois mais um retorno em 2019. Particularmente, não sou muito adepto destas voltas, mas são fatos e precisam de alguma atenção, porém ficam aqui os principais registros da banda entre 1986 e 1992.

Por aqui fico nesta parte da série de artigos sobre o Thrash Metal e preparando o terreno para as partes subsequentes em que começarei a fazer uma incursão na sonoridade do estilo, a cena dos anos noventa e tentar citar algumas bandas do baixo clero do Thrash Metal, sem deixar de dizer que ainda pretendo abordar a cena brasileira, os pioneiros, as bandas que mais se destacaram no decorrer dos anos e aquelas que mudaram de configuração ou estilo etc. fica aqui minha lista de recomendações das bandas citadas nesta parte e, mais uma vez, levando em consideração meu gosto pessoal ou mesmo o fator “importância histórica” do material.

Hirax – “Raging Violence” 1985 (Metal Blade Records)

Hirax – “Hate, Fear and Power” 1986 (Metal Blade Records)

Demolition Hammer – “Epidemic of Violence” 1992 (Century Media Records)

Blood Feast – “Kill for Pleasure” 1987 (Renaiscence Records)

Heathen – “Breaking the Silence” 1987 (Combat Records)

Heathen – “The Evolution of Chaos” 2010 (Mascot Records)

Whiplash – “Ticket to Mayhem” 1987 (Roadrunner Records)

Deathrow – “Raging Steel” 1987 (Noise Records)

Toxik – “World Circus” 1987 (Roadrunner Records)

S.D.I. – “Sign of the Wicked” 1988 (Scratchore Records)

Evildead – “Annihilation of Civilization” 1989 (Steamhammer Records)

Necronomicon – “Apocalyptic Nightmare” 1987 (GAMA Records)

Exumer – “Possessed by Fire” 1986 (Disaster Records)

Defiance – “Void Terra Firma” 1990 (R/C Records)

 

 

Referencias:

www.metal-archives.com

Former Sabbat Members Martin Walkyier and Andy Sneap Have A Very Public Row. Metaltalk.net. 26 March 2013. Consultado em 08/02/2024

Headbangers Ball- The Unofficial Tribute Site – Episode Database”. headbangersballunofficialtributesite.com. Consultado em 08/02/2024

Wiederhorn, Jon. Barulho infernal: a história definitiva do heavy metal/ Jon Winderhorn & Katherine Turman; [tradução: Denise Chinem]. São Paulo Conrad Editora do Brasi, 2015

April 2010, Jon Wiederhorn 13. «Clash of the Titans Tour: Iron Giants». guitarworld (em inglês). Consultado em 29 de janeiro de 2024

Gilmore, Mikal; Gilmore, Mikal (11 de julho de 1991). «Heavy Metal Thunder: Slayer, Megadeth and Anthrax». Rolling Stone (em inglês). Consultado em 29 de janeiro de 2024

Gilmore, Mikal (28 de junho de 2012). Night Beat: A Shadow History of Rock & Roll (em inglês). [S.l.]: Pan Macmillan

www.metal-archives.com consultado em 29 de janeiro de 2024

Get Thrashed: a história do thrash metal (documentário) disponível em https://www.youtube.com/watch?v=JepHTgRiV7E consultado em 27 de janeiro de 2024