O ano de 2024 marcou o vigésimo ano da morte de um dos principais nomes da história do Metal Extremo: Thomas Börje Forsberg, do Bathory, faleceu no dia 03/06/2004, para grande surpresa de todos que acompanhavam seu trabalho desde os anos oitenta. O músico contava então com apenas 38 anos de uma breve vida que rendeu, não obstante, um catálogo primoroso de álbuns clássicos e um legado incomparável em diversos ramos da música extrema.
No início, o jovem guitarrista adotou o pseudônimo “Ace” em referência ao guitarrista do Kiss, Ace Frehley. Depois adotou o nome Quorthon, e com apenas 18 anos lançou um dos mais importantes registros dos primórdios do Black Metal, o auto-intitulado “Bathory” em 1984. Apesar da baixa qualidade sonora do material, o álbum se tornou um marco, comparável a um outro trabalho lançado no mesmo ano e com o mesmo “padrão” sonoro: “Apocalyptic Raids” do Hellhammer. Além disso, com sua lendária capa, minimalista e maligna, tornou-se uma das referências visuais do gênero. Os álbuns seguintes, “The Return…” (1985) e “Under the Sign of the Black Mark” (1987) consolidaram o nome do Bathory como uma das grandes referências da “primeira onda” do Black Metal, ao lado do Venom, Mercyful Fate e Hellhammer/Celtic Frost. Todos esses álbuns, assim como os doze full-lenghts que completam a discografia oficial do Bathory foram lançados pela Black Mark, de propriedade do “Boss”, o pai de Thomas chamado Stig Börje Forsberg.
Todos esses fatos são bastante conhecidos por quem acompanha a cena do metal extremo há bastante tempo. Assim como eu, muitos são aqueles que tiveram a oportunidade de trocar correspondência com o finado Quorthon, que sempre atendeu com muita solicitude seus fãs que enviavam cartas de todas as partes do mundo. Em todas elas e nas entrevistas que deu ao longo de sua carreira, Quorthon reafirmava sua intenção de manter sua banda dentro dos limites do “underground” sem fazer questão de grande publicidade e recusando-se a apresentar-se ao vivo. Isso talvez tenha garantido a tranquilidade para a criação de uma obra impressionante entre os anos noventa e início dos anos 2000.
Em 1988, o Bathory lança “Blood Fire Death”, por muitos considerado seu melhor álbum, o qual já apresentava uma transição para o que se escutaria nos álbuns seguintes: canções épicas e mais trabalhadas, letras mais filosóficas e a tematização da cultura nórdica que lançará as bases do que vai se chamar “Viking Metal”. Desse período vieram: “Hammerheart” (1990), “Twilight of the Gods” (1991) e “Blood on Ice” (1996). Apesar de voltar a se aproximar do Thrash Metal nos álbuns Requiem (1994) e Octagon (1995), e um trabalho intermediário e misto chamado “Destroyer of Worlds” em 2001, o derradeiro legado de Quorthon foi Nordland I e II (lançados, respectivamente, em 2002 e 2003), nos quais atingiu a perfeição do gênero Viking Metal ao oferecer uma síntese de violência sonora e narrativas épicas.
Além desses doze trabalhos essenciais, Quorthon lançou dois álbuns com seu nome (“Album” em 1994 e “Purity of Essence” em 1997), além de três coletâneas do Bathory chamadas “Jubileum”. Se as obras do período Black Metal foram fundamentais para a chamada “segunda onda”, representada por bandas como Darkthrone, Mayhem, Immortal, e Gorgoroth, os trabalhos do período “Viking” moldaram o que se ouviria em bandas como Enslaved, Borknagar e Primordial. Da mesma forma, bandas como Emperor, Dissection, Dark Funeral e Watain não existiriam se antes Quorthon não houvesse criado a sonoridade ao mesmo tempo brutal e melódica de faixas como Enter the Eternal Fire e Call from the Grave.
Por tudo isso, vários tributos já foram lançados em honra ao legado do Bathory, como a coletânea “In Conspiracy with Satan”, produzida pelo também finado David Blackmoon Parland do Dark Funeral e lançado em 1998 pela Hellspawn Records, e o tributo nacional “Under the Sign of the Black Goat”, lançado em 2019 pela Hammer of Damnation com a participação de diversos nomes do underground brasileiro.
Na edição deste ano de 2024 do festival “Beyond the Gates” em Bergen, na Noruega, diversos nomes relevantes da cena do Black Metal nórdico se reuniram para uma apresentação de clássicos do Bathory, como aliás já fizeram em outras oportunidades. O line-up foi então formado por Ivar Bjørnson (Enslaved), e Rune “Blasphemer” Eriksen (Aura Noir) nas guitarras, Ole Jørgen, aka “Apollyon” (Aura Noir) no baixo e Bard “Faust” Eithun (Djevel, Emperor) na bateria, com a participação especial de nomes como Gaahl (Gaahl’s Wyrd, ex-Gorgoroth), Satyr (Satyricon) e Erik Danielsson (Watain), entre outros. Veja abaixo. Um tributo à altura da legendária banda.