UNFATHOMABLE – The Abyss Beckons

CD 2023 - Hammer of Damnation

Álbum

E  eis que de forma totalmente surpreendente e principalmente inesperada  nos chega o mais forte candidato a melhor álbum de Black Metal  brasileiro de 2023. Puta que pariu que álbum desgraçadamente avassalador, que experiência inominável. Estou falando de “The Abyss Beckons” do misterioso projeto secreto UNFATHOMABLE que chegou sabe-se lá de onde anunciando seu primeiro álbum que será lançado nos próximos dias pelo selo Hammer Of Damnation. A banda preferiu se esconder nas sombras e não se mostrar permitindo com isso que sua música fale por sí mesma. E se depender  das oito faixas que  compõem “The Abyss Beckons” o que a cena ouvirá será um alto e sonoro  grito de lamento invocado das mais negras profundezas  do báratro . Esqueça beleza estética, esqueça alívios melódicos, esqueça refinamentos na produção… A norma aqui é abraçar o caos, o tormento e a destruição  aludindo a um tempo mais simples onde as normas sociais eram mais brutas e sem frescuras asiim como o Black Metal executado  à época. A breve introdução de “Hellgate Vatican”  já nos mostra em poucos segundos todo o conceito  iconoclasta desse álbum e já escancara os portões do inferno nos apresentando um Black Metal  rápido, brutal e violento com vocais guturais cavernosos que parecem ecoar das profundezas de uma tumba há muito tempo perdida e esquecida, as linhas de bateria  parecem um tanque de guerra esmagando crânios e as linhas de guitarra buscam se manter no básico e se mostrarem com sucesso memoráveis. Toda a obliteração mostrada na primeira faixa é virada de cabeça pra baixo em “Abyssal Dominiom” que começa lenta, arrastada, plena de uma atmosfera mórbida  e desoladora, nos apresentando uma representação sonora de um verdadeiro mergulho nas profundezas sem fim do mais negro  abismo. Curioso como esses dois extremos da sonoridade da banda nos mostra paisagens sonoras ao mesmo tempo tão próximas e tão distantes e que em certa medida me fez lembrar em alguns momentos bandas como Archgoat e Beherit antigos, nomes esses que vale lembrar. foram fortemente influenciados pela cena brasileira  completando com isso um interessante ciclo.  “The Goat’s Revelation” vem na sequência  se iniciando com um riff mais arrastado mas rapidamente  evoluindo para um maelstron  caótico  arrebatador; interessante de se notar como a parte central dessa composição chega a um clímax, muda o andamento e nos leva a uma atmosfera sonora diferente antes de retornar à sua proposta inicial, como se a parte instrumental em sí nos contasse uma história ou como o titulo da faixa nos sugere, nos entregasse uma revelação … sensacional.  As próximas são “Gate to Darkness”  e “Mythos Unleashed”e nesse ponto você provavelmente já vai ter percebido que apesar da proposta da banda aparentemente ser manter a sonoridade crua e tosca, como algumas bandas de antigamente faziam , o que temos aqui são instrumentistas extraordinários que  conseguem  lapidar riffs a ponto dos mesmos aparentarem ser diamantes brutos ainda que mantenham sutilezas que não se mostrem em um primeiro momento a um  ouvinte menos atento. Observem algumas “soluções” pouco usuais nas viradas de bateria , algumas palhetadas nos riffs de guitarras  da primeira faixa citada e principalmente o ultimo riff de “Mythos Unleashed”  “Ashes of Dogma” é a próxima e já nos mostra a que veio logo em seu titulo; o inicio dessa composição é esplêndido , vai ficar grudado na sua cabeça por dias e no atual momento é minha faixa favorita de “The Abyss Beckons” mas isso pode mudar com o decorrer das semanas, como já aconteceu em semanas anteriores… algo a se esperar de um álbum com composições tão coesas e com uma qualidade tão excepcional.  “Inferno Crown” é a próxima alternando rápidos momentos pandemônicos  com  outros mais lentos e reflexivos  e é uma daquelas músicas que você deve ouvir várias vezes para  apreender os diversos detalhes que a permeiam . Não sei explicar ao certo o porque, porém essa faixa em alguns momentos me trouxe à lembrança o primeiro álbum da banda de Black Metal  francesa Arkhon Infaustus.  “Primordial Chaos”  irrompe na sequencia e já carrega em seu titulo a descrição dessa composição  que transita de momentos mais cadenciados a passagens ultra violentas repletas de blast beats. Uma musica caótica, aniquiladora, de explodir cabeças…  O álbum se encerra com “Malleus Maleficarum”  que mantém o mesmo direcionamento sonoro e a atmosfera obscura das faixas anteriores, mas que  porém  , do meu ponto de vista parece ser a composição mais elaborada de todo o álbum e ainda que não destoe em nada do restante do material que a banda nos apresentou nesse álbum tão único e avassalador , talvez seja um sinal do que o futuro nos reserve. A produção musical está extremamente orgânica e cheia de arestas  como todo álbum de Black Metal verdadeiro deveria soar, pelo menos para mim. A arte da capa é uma expressão visual perfeita da sonoridade apresentada em todo álbum; suja, blasfema, doentia, simples e crua.  Resta descobrir agora se a aura de mistério que  a banda criou vai se manter haja visto que uma apresentação ao vivo acontecerá nos próximos dias com o UNFATHOMABLE abrindo o show dos belgas ANCIENT RITES no próximo dia  14 de outubro , um show que promete abalar as estruturas da Necrópole Hall e que pode ou não revelar segredos da banda a quem estiver presente. Quanto a “The Abyss Beckons, só posso finalizar dizendo que é outro tiro de escopeta na testa que a Hammer of Damnation nos dispara a queima roupa. Obrigatório como já é de costume…