WOLF’S LEGACY – Egrégora fundada nos pilares da essência oculta

“Somos seguidores do caminho da mão esquerda, do ocultismo anticósmico, buscando a essência sombria do abismo”

Entrevista
foto de divulgação

Wolf´s Legacy é uma banda de Black Metal underground fundada por volta de 2013 e que já tem dois álbuns lançados e o seu mais recente lançado este ano “Hostes Ocultas do Lago Vermelho” é um maravilhoso trabalho digno da cena nacional. Tive uma rara oportunidade de conversar com o Itis Noturnus e podemos extrair muitos pensamentos sobre a existência da banda, suas questões ideológicas, pensamentos sobre diversos assuntos pertinentes ao undeground extremo e, principalmente, uma análise sobre sua carreira e seu legado do lobo.

Saudações meu nobre, é com muita satisfação que vos recebo nas páginas negras da Lucifer Rex, sejam bem-vindos para destilar todos seu veneno maligno. A Wolf´s Legacy é uma banda que vem se firmando na cena underground através de, principalmente, seus lançamentos. Pouco mais de dez anos que a banda se formou, qual a estrutura que sustenta a horda durante esses anos e qual o legado do lobo?

Itis Nocturnus: Salute 666… consideramos a horda, uma egrégora fundada nos pilares da essência oculta, sombria, um manifesto nefasto cuja dinas a exalta o legado luciferino que emana a liberdade espiritual, e a oposição e aversão contra qualquer doutrina medíocre escravizadora. Ostentamos o antagonismo ao asqueroso despotismo celestial e suas falácias. Somos como lobos à espreita dessa escória decadente e proliferamos através do extremo metal negro blasfêmias e o repudio a esse câncer imundo e hediondo que corroem as entranhas dessa terra.

O legado do lobo é uma analogia aos seres livres como o lobo, um ancestral mítico das eras que carrega a voracidade noturna como um cerne sombrio em sua jornada. Vivemos sob o signo do abismo e carregamos sua essência sinistra em nosso âmago, trilhamos os caminhos tortuosos em busca de liberdade, sabedoria e soberania, através da luz da estrela da manhã que brilha pela eternidade.

Essa guerra ainda que empírica ou não, que travamos contra o cristianismo é a nossa ação em vida através do oculto e todo esse conceito obscuro é a nossa chama que se alastra por este plano.

O primeiro material lançado pela banda foi um split 3way que saiu em 2014, de lá para cá vocês trabalharam em outros materiais importantes como o primeiro álbum, mas esse split ainda pode ser encontrado para aquisição? E quanto aos aspectos líricos e sonoros que permearam esse lançamento, como vocês o enxergam hoje?

Itis Nocturnus: Este foi o material de estreia da horda, uma espécie de demonstração, uma vez que sua gravação é considerada de tal forma, mas que trouxe uma boa repercussão nacional, visto a grandeza das bandas inseridas nessa investida e que já estavam sacramentadas na nossa cena underground nacional e para nós ele serviu de prévia, mas no sentido de um marco bastante representativo na trajetória da horda, pois evidenciou as conotações e tendências, tanto líricas como sonoras da horda, características estas galgadas no Black Metal tradicional e que ainda sem mantem vivas em nossas produções atuais, obviamente que as produções atuais estão mais amadurecidas e profissionais, mas sobretudo a essência denotada é a mesma de outrora. Este material se encontra disponível em algumas distribuidoras no Brasil, mas acredito que um tanto quanto reduzida já, como por exemplo na “Irmandade Hermé ca do Ódio” Facebook/I.H.O. Rec., “Aigan Produc ons” – https://pragah.loja2.com.br.

O Metal Negro Brasileiro sempre foi um celeiro muito producente para surgimento de grandes entidades, considero a Wolf´s Legacy dentro deste crivo de hordas producentes! Isso posto, qual a visão de vocês sobre a cena na atualidade? Que outras bandas vocês destacariam como pilares desta cena?

Itis Nocturnus: De fato, em um passado não muito distante, a cena se perdeu em alguns pontos. Desde tempos antigos pairam histórias acerca da cena, algumas verdadeiras outras não, mas o fato é que muito dessa essência necrounderground que um dia nos projetou para o que somos e representamos hoje parece que ficou adormecida. Aquela atmosfera que despertou nosso sentimento e entendimento há tempos começou a ser posta de lado por uma porção inserida no cenário underground, quando que na verdade ela deveria servir de fonte direta de inspiração. Em contrapartida julgo ser essencial o entendimento mais apurado (dos princípios ideológicos) que ocorre na atualidade, uma espécie de simbiose obscura por assim dizer. Hoje tem retornado um pouco, mas o que ainda falta na cena é o critério coerente de muitos para que possa ser ceifado dela os falsos, os impostores, os imundos, fracassados, prevaricadores e todos que sujam e deturpam a mesma. Contudo eu ainda considero que exista cena, a que eu vivo e apoio óbvio, pois existe dentro de mim o sentimento sombrio que me faz ser parte desse todo e este sentimento não está morto, nem mesmo anuncia o seu fim e enquanto isso não acontecer eu estarei de pé, lutando pelo cenário underground e pelo metal negro do submundo.

Ser underground para nós significa manter-se fiel ao ideal negro, ao princípio, ao propósito, seja ele nos âmbitos: espiritual, filosófico, intelectual, metafisico, honrando estes aspectos com a verdade, promovendo e contribuindo para a evolução do meio em que vivemos. Cultivar os pilares essenciais sem se prostituir e sucumbir a falsa luz. Produzir algo de ú l e que agregue valor ao objetivo fim de ser o que somos. Não se vender, não se entregar, não se corromper e nunca, jamais ser um servo ou ovelha das dementes e decadentes doutrinas escravizadoras, se tornando “presas” dos tentáculos do demiurgo enfadonho e mentiroso. Encaramos o underground dessa forma e procuramos sempre estar contribuindo para ele e consequentemente para o principal intuito do metal negro.

A ideologia é algo que deve ser levada a sério, dentro do que somos e vivemos. Não somos o que somos simplesmente por gostar de ser, existe uma essência maior em tudo o que circula a nossa existência. Alguns conceitos citados devem ser compreendidos, levando em conta o discernimento acerca de tudo que envolve. Não existe metal negro e nem mesmo underground sem radicalismo, anticristianismo, ocultismo, elementos estes essenciais por natureza, na composição do metal negro.

Aspiramos e respiramos essa essência em toda a jornada que estamos trilhando. Nós somos sementes do abismo e adeptos aos assédios sombrios, a escuridão nos enaltece e nos entorpece e se precisarmos lutar para defender nossos ideais ocultos assim o faremos, com uso de força física ou estratégica, com ou sem violência. O limite do radicalismo seria a ignorância, a cegueira e a incompreensão pela inobservância do discernimento.

Em nosso cenário ao longo das eras, temos muitas bandas de referência, que são fiéis, profissionais, sérias e que realmente fazem um trabalho notório, tanto musicalmente como ideologicamente, como: Difuntor, Aeternus Odium, Inciter, Blasphemaniac, Eternal Sacrifice, Laba’r Oculto, Pactum, Warforged, Hecate, Vox Satyr, Empire Night, Perpetos Perversus, Hinarivm, Sulfvr, Caoscultomorte, Pralaya, Perpetual Infernal Pain, Necropsalms, Vox Sathanas, Hardegon, entre outras, inclusive de outras vertentes como Heavy Metal e Death Metal por exemplo.

Aproveitando que estamos falando de cena e bandas, quais seriam as bandas que inspiraram a Wolf´s Legacy e iniciar sua trajetória e hoje, aquelas mesmas bandas do início ainda exercem alguma influência ou foram se diluindo com o tempo?

Itis Nocturnus: Tem muitas bandas que nos inspiram desde muitos anos e que já deixaram registradas grandes obras no cenário mundial. Obras tais quais até hoje nos fazem arrepiar, se fosse citar todas a lista seria extensa, mas exemplos como: “Towards Skulthrone of Satan” do Enthroned , “Anthems To Welking At Dusk” e “In The Nightside Eclipse” do Emperor, são obras já eternizadas, álbuns estes que até hoje são fontes de inspiração relevantes para nós, isso sem contar obras nacionais como Summa Imperi Satanae do Pactum, Wicca do Mystifier, embora não apoiamos as atitudes e posturas atuais dessa última, no entanto é uma obra relevante já cravada no nosso cenário.

Atualmente bandas como Behexen, Drowning The Light, Malum, Sarkrista, Funeral Winds, nos inspiram bastante, Cult of Fire e Embrace of Thorns também são grandes fontes e algumas mais recentes como Deus Mortem, Chaos Invoca on, Thy Darkened Shade, Darvaza. Fides Inversa, entre outras tantas.

Recentemente a Wolf´s Legacy lançou seu mais novo álbum através de Black Hearts Records. “Hostes Ocultas do Lago Vermelho” é um álbum muito bem elaborado e tem um cuidado muito especial com a estética visual, além carga energética sonora que ela nos entrega, qual a análise que vocês fazem sobre esse artefato e como vocês o comparariam com os materiais anteriores: “Voracidade Lupina e as Insígnias do Anticristo” primeiro álbum e “Lunae Lupus Satanae” ep?

Itis Nocturnus: Constatamos uma evolução musical gradativa desde o Voracidade, para o “Lunae Lupus Satanae” tanto da parte criativa como nas captações de gravação e uma evolução ainda maior de um todo nesse último lançamento com relação aos seus antecessores. O Lunae se trata de um infame EP que consideramos uma ponte de transição entre o nosso debut lançado e o último Full. Este último álbum foi projetado dessa forma, com um intervalo maior de tempo e totalmente pensado, no que se diz respeito a parte lírica, que não mudou sua essência ou rumo desde os primórdios, mas dessa vez de uma forma mais conceitual, por assim dizer, as criações que foram elaboradas e inspiradas neste mesmo contexto, sendo criadas com inspiração no conceito lírico acerca do álbum.

Eu particularmente vejo que essa receita agregou um valor intrínseco para o álbum, e posso te afirmar que os próximos lançamentos seguiram pelo mesmo caminho e é exatamente essa comparação a ser apontada neste lançamento que diferencia dos seus antecessores.

Ainda sobre “Hostes Ocultas do Lago Vermelho”, pude notar aspectos interessantes em seu conteúdo lírico como os hynnos divididos em chaves, uma mescla de tulos em Latim e Português, além de referências ao Goetia, Cabbalah e Luciferianismo, essas fontes de inspiração mística, sobretudo na Cabbalah e Luciferianismo, como se dão estes processos alquímicos, visto que, muitos destes temas, por muitas vezes divergem, porém vocês buscaram alianças intrincadas entre esses temas, revele-nos um pouco desta perspicácia.

Itis Nocturnus: Somos seguidores do caminho da mão esquerda, do ocultismo anticósmico, buscando a essência sombria do abismo e vivemos neste plano sentindo a morte caminhar ao nosso lado, até que possamos romper o véu. Aspiramos e respiramos a escuridão de Lucifer-Daath que nos envolve, a chama negra que queima, com veracidade, veemência e vontade.

Sobretudo as letras da Wolf’s Legacy são oriundas daquilo que nós sentimos em nosso âmago, e carregamos como partes de um todo, uma célula da ciência e alquimia negra que estudamos, conduzimos e exaltamos contra a demência celestial instaurada desde a primeira rebelião e seus tentáculos cancerígenos que escravizam os acéfalos humanos.

Corre em nossas veias essa essência sombria, uma a linguagem bestial que traduzimos suas evidências nesse plano através dessa malevolência. Uma abordagem que transcende a liberdade espiritual, e banha a terra com uma descarga de luz obscura, como um enxame de blasfêmias que oblitera as falácias do demiurgo. Intricamos essas alianças de maneira que consideramos como razão da nossa busca intelectual como forma de entendimento entre estes conceitos por muitas vezes abordados nas diversas referências e fontes, ou seja, fruto do que estudamos e buscamos intelectualmente em todos os âmbitos e concluímos como o pilar sombrio de nossa jornada nesse plano.

Incrivelmente a música tem a possibilidade de romper barreiras porque lida com emoções profundas no ouvinte, cantar em português, durante muitas décadas era um tabu na cena de Metal em geral e ainda mais estreito se tratando de bandas mais extremas. Claro que houve bandas que romperam essas barreiras, como vocês partiram para calcar suas palavras na língua portuguesa e, ainda assim, conseguir romper as barreiras de uma língua tão pouco falada mundo afora?

Itis Nocturnus: Desde a época em que eu fazia parte da horda Incredulus sempre optamos por romper essa barreira e cantar em nossa língua pátria. De fato, foi e ainda é algo desafiador, mas se torna bem original ao mesmo tempo. Embora a Wolf’s Legacy no que se refere ao seu tulo de batismo negro, o mesmo esteja cravado na língua universal, optamos por cantar as músicas em português, até devido a estética dos hinos, por assim dizer, acreditamos que soa mais original e traz a tona exatamente a abordagem que você se referiu, quando se trata de emoções profundas a quem se interesse por aquela música e assim iremos manter, pode ser que algum dia surja a necessidade de idealizar alguma música em outra língua a que não seja o português.

Na formação da Wolf´s Legacy é possível notar que seus músicos se dividem entre muitas bandas, como vocês conseguem conciliar tantas tarefas e “diversificar” os temas musicais e literários em tantas outras manifestações undergrounds?

Itis Nocturnus: Conseguimos conciliar pois, as diversas hordas em que os membros fazem parte, se respeitam, sem qualquer tipo de ego inflado e acima de tudo se apoiam mutuamente. Se você reparar, todas as hordas em que cada um faz parte, estão inseridas dentro do mesmo cunho negro e com a mesma ideologia, ainda que sejam de diferentes vertentes de estilo do metal, no entanto estão dentro daquilo que se possa considerar como metal sem invenção ou inovação fora de contexto desse es lo. Digo no sentido referente as variações musicais das outras hordas que fazemos parte, uma vez que estamos dentro do eixo tradicional do metal, variando entre o Heavy Metal, Death Metal e Black Metal. Quanto a diversificação literária essas são conotadas pela originalidade de cada um responsável dentro de determinada horda, mas que em um todo, não fogem dos conceitos e âmbitos propostos pelo metal negro extremo.

Fora desses parâmetros todos temos as tarefas cotidianas, profissionais, ainda assim conseguimos nos organizar para dar segmento em nossa arte obscura dentro da Wolf’s Legacy e nas outras hordas das quais fazemos parte.

A pira do Metal Negro Brasileiro tem se mantido acesa com algum brilho especial nos últimos tempos, isso tem se refle do nos lançamentos e no cuidado com que essas bandas/selos vem se dedicando a eles. No que cerne a imago das formações e construções sonoras do Metal Negro os adornos não são tão importantes quanto a essência que recobre esses adornos, como a Wolf´s Legacy se posiciona quanto ao aprofundamento dos saberes que o Metal Negro enseja?

Itis Nocturnus: Penso que o conceito lírico por trás dos hinos construídos na arte é tão importante quanto as próprias melodias compostas para os álbuns, é uma espécie de simbiose quando nos referimos a sonoridade ligada à sua representação, a melodia também expressa o que o lírico transmite naquele momento, é bem expressivo isso, é uma essência completa que adorna a construção no todo.

Partindo do pressuposto desse paralelo vejo uma preocupação maior das hordas hoje em dia, pelo menos daquelas que fazem parte do meu ciclo, nessa junção lírica/ideológica com a expressão da musicalidade, como parte da essência, do todo e de certa forma essa preocupação vem para agregar, tornando as canções mais ricas, elaboradas e profissionais. Claro não me refiro a firulas e frescuras, embelezamentos desnecessários e fora de contexto e nem por outro lado, ao contrário, algo feito sem qualquer valor expressivo e eu diria que hoje ainda mais que antes, não exista esse cuido tão somente com a melodia e o lírico por traz dela, mas também com a representação nas capas, nos layouts dos álbuns a serem lançados, nas formas de lançamento, onde se agrega outros valores e não tão somente o álbum em si. Esses pontos têm do mais atenção e hoje não estão sendo mais feitos com certa pressa ou desdém, ignorando pontos outrora deixados de lado. Eu considero isso uma evolução do metal nacional, uma profissionalização maior por assim dizer, o que dá a impressão de um cuidado maior com a arte.

Quando comparado a um lançamento de alguma horda gringa, percebe-se a mesma qualidade, tanto sonora, como lírica e com a sua representatividade bem definida, não deixando o metal nacional na prateleira de baixo, como já foi e é considerado por muitos.

Considero esse conjunto de elementos algo positivo e importante, o que tem feito com que ocorra esse brilho especial citado, acometendo a engrenagem como um todo no atual underground, mesmo se o lançamento for de forma independente ou por qualquer selo, a mentalidade e capacidade musical tem amadurecido e evoluído ao longo do tempo no que tangem as invés das hordas hoje em dia.

Muito grato por ter atendido ao nosso chamado, deixamos aqui um espaço livre para que vocês possam falar sobre o que desejarem e deixar uma mensagem aos adeptos do lobo.

Itis Nocturnus: Agradeço aos aliados envolvidos e idealizadores do Lucifer Rex Magazine em nome da Egrégora Wolf’s Legacy, a oportunidade cedida a horda para difundir nossa arte obscura e disseminar a ideologia sombria através deste pergaminho infame! Vida Longa ao Metal Negro e a este nefasto veículo de comunicação do submundo… “Dentre trevas e triunfos nessa jornada”